domingo, 22 de novembro de 2015

A GUILHOTINA E A FORCA: UMA CONTRADIÇÃO DA ATUAL ECONOMIA-MUNDO



Rui Peralta, Luanda

O actual panorama da economia-mundo assume as seguintes características: a) abrandamento do crescimento mundial, nomeadamente nas denominadas “economias emergentes” (excepto a India); b) queda dos preços das matérias-primas; c) abrandamento do comércio internacional; d) a “flexibilização monetária” alimenta a bolha de activos (em detrimento do investimento produtivo, que estancou á escala mundial). Debrucemo-nos um pouco sobre esta ultima característica (flexibilidade monetária).

A “flexibilização monetária” permite aos Bancos Centrais adquirirem títulos, criando moeda, que injectada na economia pode contribuir para esta “descolar”. No entanto estas medidas têm efeitos colaterais, responsáveis pela ineficácia a longo-prazo das políticas monetárias. A “injecção de dinheiro” não garante que a liquidez seja utilizada para favorecer os investimentos produtivos. Bem pelo contrário, a experiência demonstra que a “injecção” termina por alimentar a especulação e aumentar o preço dos activos, formando bolhas financeiras, enquanto em simultâneo, provoca uma redução do investimento. As empresas, devido á instabilidade sentida no mercado e á incerteza, não investem, preferindo restabelecer as suas margens, distribuírem dividendos, assistindo-se neste cenário á multiplicação de fusões e aquisições. Ao mesmo tempo a injecção de moeda conduz á inflação dos preços dos activos, mas não ao aumento de todos os preços.

Juros baixos, inflação débil, combinam-se e geram uma mistura explosiva. Os juros nominais adquirem o zero como base (zero lower bound). Este limite é o resultado da estagnação, caracterizada pelo aumento das taxas de poupança e pela aversão ao investimento de risco, além da fraca disponibilidade para o investimento produtivo, de uma forma geral. Para restabelecer a situação e relançar a actividade produtiva seriam necessários juros reais negativos, o que não acontece. A tendência para a recessão torna-se, assim, visível no horizonte, com a agravante que as autoridades monetárias não têm instrumentos para a resolução do problema. Aliás não será a política monetária a relançar o crescimento, uma vez que os bancos centrais tacteiam, tentando encontrar certezas na actual situação, perguntando-se se estarão perante uma débil recuperação pós-crise.

O resultado será, assim, uma enorme acumulação de dívidas privadas e públicas, que já representam cerca de 286% do PIB mundial (segundo um estudo recente do McKinsey Global Institute), contra os 269% de 2007. Esta tendência é reflectida na divida das empresas não-financeiras dos países “emergentes”, que quadruplicou entre 2004 e 2014.

Este panorama conduz a dois cenários: 1) a existência de bolhas financeiras em torno das dívidas públicas e dos mercados financeiros alienados pelos juros muito baixos levará a uma recessão profunda do sector bancário; 2) um aumento das taxas de juro da Reserva Federal dos USA, o que representará uma explosão das bolhas nas economias “emergentes”, com grandes repercussões na economia-mundo.

Qualquer um destes cenários evidencia o falhanço das políticas monetárias e a incapacidade das instituições internacionais em identificarem a actual situação. Desenrole-se a crise nas economias centrais (como em 1), ou inicie-se nas economias periféricas (como em 2), o resultado será o mesmo: recessão. No fundo é como escolher entre a guilhotina e a forca. Em ambos a morte é certa! Num caso perde-se a cabeça mas mantém-se o resto do corpo, intacto e sem marcas. No outro a cabeça fica no sítio, o corpo intacto, mas o pescoço marcado….

Guiné-Bissau. COM “DOIS JUSTOS” APENAS, NÃO SE PODE SALVAR UMA NAÇÃO



Alberto Luís Quematcha – O Democrata, opinião

Na nossa praça, nos últimos tempos, parece que a população está dividida em dois grupos: um grupo que pensa que o Presidente da República é a causa da crise actual e um outro grupo que julga que o culpado da situação que se vive é o ex-Primeiro Ministro.

Segundo a Bíblia, Deus condenou toda cidade de Sodoma porque não havia se quer 10 justos naquela cidade. No entanto, Deus salvou Lô e sua família que era justa. A cidade de Sodoma foi reduzida em cinzas por falta de 10 justos (Gênesis 18:20-28).

Se os justos fossem numerosos, um número significante, toda cidade seria perdoada incluindo próprio Lô e a família. Mas como a grande parte do povo era pecadora pereceu toda a cidade.

Este debate sobre o culpado da situação em que vivemos pode ser desenvolvido durante anos. As conclusões são e continuarão a ser diversificadas. A situação política actual gerou alguma polémica e opiniões várias.

Por isso, venho modestamente através deste texto apresentar o meu ponto de vista relativamente a este assunto. A meu ver,mesmo que o Presidente da República e Primeiro-ministro deposto fossem santos, mas se o povo não o for em vão a santidade destes dois homens em relação a salvação e progresso da nossa nação. O nosso país pode ser aquilo que ambicionamos se houver um bom número de cidadãos com sentido de responsabilidade nas suas acções.

Cada um de nós deve se colocar, entre várias questões, as seguintes: Como é que eu contribuo para o avanço do meu país? Que faço para o avanço da minha família, da minha comunidade, do meu trabalho. Qual é o grau da minha preocupação em relação a construção do meu próprio caracter? Pois o caracter é a marca da dignidade humana. O valor do Homem está na dimensão do seu caracter. Por isso, o caracter é capacidade permanente de agir e éa manifestação intrínseca de ser. Por conseguinte nunca devemos medir ou julgar uma pessoa pelo que tem mas pelo que ele é. Como resultado TER é coisa acidental e o essencial é o SER. A diferença entre TER e SER é que um é só quantidade, enquanto que o outro é ESSÊNCIA E QUALIDADE DE VIDA.

Muitas pessoas saem por aí, esbravejando contra os políticos e se sentindo vítima da corrupção que nós mesmos alimentamos por tentar sempre levar vantagens em tudo. A diferença entre nós e os nossos políticos é que nós temos menos poder, do contrário, seria mais um cometendo piores erros.

Se uma pessoa se aproveita de todas as oportunidades, mesmo que incorretas, para se dar bem nas situações, é melhor que esta pessoa pense em suas atitudes antes de sair acusando por aí. Vamos aprimorar nosso próprio caráter para garantir melhores pessoas no poder, a começar por nós mesmos.

Não é difícil ver exemplos de pessoas que criticam abertamente as atitudes dos governantes, mas que agem de modo idêntico em situações comuns do seu quotidiano.

Um dos motivos que Deus destruiu o mundo no dilúvio foi a corrupção, violência, desmoralização, inverdades, etc. E hoje, quais são os principais problemas do nosso país, principalmente em Bissau? Os problemas são os mesmos. Por isso a preocupação deve centrar, em primeiro lugar, na atitude de cada um e depois na atitude colectiva.

Este artigo de opinião com “dois justos” apenas não se pode salvar uma nação é uma chamada de atenção para não passarmos tempo perdido em julgamentos e perder de vista a responsabilidade com os nossos actos quotidianos.

Sejamos um povo em que cada um assume as suas responsabilidades independentemente das funções que desempenha. Sejamos mais autênticos connosco. Assim teremos um país diferente caracterizado pela paz, harmonia e progresso.

Com “dois justos” apenas não se pode salvar uma nação…

Obrigado!

ENTRADA DA GUINÉ EQUATORIAL DESVIRTUOU CPLP



A escritora Inês Pedrosa classificou hoje como lamentável a entrada da Guiné Equatorial na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), porque "não favorece a própria imagem da instituição", ao não cumprir os direitos humanos mais básicos.

Em declarações à Lusa em Belmonte, onde debateu com a escritora brasileira Andréa Zamorano questões relacionadas com língua, geografia e identidade, no âmbito da segunda edição do Diáspora -- Festival Literário de Belmonte, Inês Pedrosa sustentou que uma instituição criada para promover a língua portuguesa "ir buscar um exemplo dos piores a nível de qualquer instância, qualquer medida de democracia, direitos humanos, por questões meramente de interesses económicos, é lamentável, porque desvirtua o que é a própria Comunidade dos Países de Língua Portuguesa".

"É lamentável, desde o início que o disse, e volto a dizê-lo agora, porque quando a Guiné Equatorial entrou, disse que se comprometia a fazer o ensino do português e a tornar o português, de facto, língua oficial -- e é claro que isso não se decide por decreto, uma língua não se torna oficial por decreto, mas parece que os esforços nesse sentido também não foram nenhuns", frisou.

Para a autora, "não faz qualquer sentido um país que não fala português estar nesta comunidade -- de mais a mais, um país que não cumpre os direitos humanos básicos", defendeu, embora acrescentando que "isso não quer dizer que todos os países da Comunidade de Língua Portuguesa os cumpram".

"Sabemos que não é assim, sabemos as questões que existem neste momento em Angola", precisou, referindo-se ao julgamento em curso em Luanda de 17 jovens angolanos acusados de tentativa de rebelião contra o regime angolano e conspiração para assassinar o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.

A escritora, cujo mais recente romance, "Desamparo" (D. Quixote) se passa no Brasil, e que costuma pedir conselho aos amigos brasileiros sobre a verosimilhança do que escreve na variante brasileira da língua, lamentou também "que a CPLP só tenha aparecido para fazer o Acordo Ortográfico que, na sua formulação, é desnecessário porque não unifica a língua -- até pelo contrário, há palavras que eram iguais e passaram a ser diferentes".

"É um acordo que não serve o princípio de que seria mais fácil o português tornar-se internacional através da sua unificação - esse princípio não é cumprido", insistiu.

"E a outra coisa em que a CPLP aparece é nesta questão da Guiné Equatorial, e isso não favorece a própria imagem da instituição, que deixa de ser uma coisa de que nos possamos definitivamente orgulhar, porque nós não temos nem a língua em comum, nem nada em comum com a Guiné Equatorial", argumentou, acrescentando: "Por isso, exorto as autoridades portuguesas, sejam elas quais forem -- neste momento, não sei quais são -- a que façam qualquer coisa, a que ajam de forma a acabar com essa nódoa, que acaba por ser uma nódoa na nossa língua também".

Por sua vez, Andréa Zamorano, que vive em Portugal há mais de 20 anos, tem também nacionalidade portuguesa e diz falar "um português transnacional", uma fusão das variantes da língua faladas em Portugal e no Brasil, disse à Lusa que também não poderia concordar com a entrada da Guiné Equatorial na CPLP.

"Antes de mais, porque não posso aceitar que a CPLP compactue com nenhum regime ditatorial, e acho que o trabalho da CPLP deve ser o de promoção da língua portuguesa, da cultura de língua portuguesa, mas não a todo o custo", vincou.
Segundo a autora, que publicou este ano o seu romance de estreia, "A Casa das Rosas" (Quetzal), "há valores que se sobrepõem: o valor da liberdade e o valor dos direitos individuais e os valores da democracia, que têm regido a CPLP, deveriam ser respeitados e mantidos".

Quanto ao Acordo Ortográfico de 1990, atualmente em vigor, Andréa Zamorano considerou que "não sendo esse acordo ainda o ideal - deverá ser revisto e deverá ser melhorado - faz sentido unificar a língua portuguesa do ponto de vista da escrita".

"Não entendo porque é que não podemos unificá-la, porque é que não podemos ser como o inglês, que tem só uma norma culta, porque é que não podemos ser como o espanhol - porque é que não podemos ser assim? Eu não tenho esse drama da identidade nacional ligada à escrita, porque acho que, no fundo, o grande problema de aceitação desse acordo é um problema de afetos", explicou.

Na sua opinião, o problema "não deve ser olhado por esse prisma, porque a língua escrita é uma formalidade, é uma convenção, uma arbitrariedade da oralidade".

"Deveríamos encontrar na língua escrita um facilitador do processo de unificação, e não as querelas que temos encontrado em relação ao acordo, que se situam muito mais num plano emocional do que num plano linguístico", rematou.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Angola. OS 40 ANOS DA DIPANDA: PERSISTIMOS A QUERER CONTINUAR A SONHAR…




Há 40 anos, Angola, numa difícil noite de 11 de Novembro de 1975, ascendia à sua independência como Estado e como uma República, embora politica e militarmente dividida, mas unida na mesma génese: a Liberdade.

Comemoremos pois mais um dia da Dipanda e esperemos – diria mais, desejamos –, que os nossos políticos meditem sobre o dia Nacional e se lembrem que os Angolanos só pensam numa única condição, por sinal a maior delas todas, como pessoas, como cidadãos e como Mulheres e Homens que se querem livres: ANGOLA.

Por isso, 40 anos depois continuamos a querer, exigir, uma Angola realmente livre, justa, fraterna e enorme, como os seus filhos só o sabem ser!

E nestes 40 anos que balanço podemos fazer?

Na realidade deverá ser mais elegante escrever “tentar fazer um balanceamento” do que avançarmos para afirmação de um balanço do que já aconteceu nestes 40 anos em que Angola leva de independência.

Estes 40 anos mostraram-nos um País onde houve 27 anos de conflitos fratricidas (1975-2002), intercaladas por um curto período de 1991-1992 (período das primeiras eleições multipartidárias) e de 1995-1998 (quando foi empossado o GURN – Governo de Unidade e Reconstrução nacional); na realidade o País ainda regista a existência de um conflito interno, devido à questão do Enclave de Cabinda que opõe as FAA aos secessionistas da FLEC. E enquanto esta questão não se resolver – e terá de ser pela via política e nunca militar – Angola nunca estará, realmente em paz militar; duas eleições legislativas e presidenciais (1992 e 2012), a primeira com resultados impossíveis de acolher porque julgávamos que tudo tinha acabado e, na realidade, degenerou num novo período de instabilidade político-militar – as próximas deverão ocorrer em 2017 e até lá continuamos a aguardar a realização de eleições provinciais e autárquicas, sempre prometidas e nunca vistas a sua realização;

Com a assinatura de Paz de Luena, em 4 de Abril de 2002, assinada entre duas personalidades castrenses (os generais Cruz Neto, por parte das FAA, e Kamurteiro, pela parte da UNITA) Angola entrou num período de desenvolvimento económico, chegando a registar crescimentos de cerca de 20% ao ano. O petróleo e os elevados preços que o crude registava no mercado internacional muito concorreram para este crescimento.

Para este crescimento muito amplamente contribuiu o apoio financeiro da China. Angola diplomaticamente abraçou a celebrada linha pragmática chinesa: não nos perguntem e nem nos critiquem pelas nossas actividades político-sociais que também não vos perguntamos para que querem o dinheiro e onde vão aplica-lo: era, estava e continua a estar em causa o problema dos Direitos Humanos (DH). Os chineses facultaram dinheiro em troca de crude angolano. Ainda que essa disponibilidade financeira nunca tenha sido cabalmente esclarecida quanto aos contornos que levaram à sua celebração e que agora, estão, uma vez mais, a ser postos que caso devido à recente detenção na China, de uma dos maiores intermediários que cooperou para a consolidação desses financiamentos: o senhor Sam Pa, chinês, igualmente com, também, nacionalidades angolana e britânica e é reconhecido nos meios internacionais por, entre outros nomes, António Sampo Menezes.

Ora, a questão da não evocação dos DH, verdadeiramente melindrosa, não deixou de ter sido pertinente nem foi a despropósito. A China além de ter fornecido fundos financeiros contribuiu para a produção nacional com a presença de inúmeras empresas e trabalhadores chineses. Foi um contrato inteligente por parte do governo chinês. Na prática, obtiveram o que precisavam e, na realidade, poder-se-á dizer, grátis: o crude; ou seja, pela entrega do petróleo, enviavam dinheiro e este volvia à China através das suas múltiplas empresas, a maioria de capital público.

Os chineses, tal como os judeus, sempre foram conhecidos por saberem fazer negócios frutuosos.

Uma excelente, e até agora, mina – a situação anteriormente descrita com a detenção de um dos principais intermediários financeiros entre a China e Angola, aliada à actual recessão chinesa, poderá provocar uma diminuição nesta relação financeira –, que não foi bem aproveitada por nós para melhorar as nossas qualificações técnico-profissionais, dado que, também, os chineses nunca se mostraram muito particularmente interessados em dar uma verdadeira e real formação aos nossos operários e técnicos. E o resultado parece ser algum desconforto, que se lê nas páginas sociais, por parte de compatriotas nossos.

E deste balanço bipartido de contributo para a nossa evolução económica ressalta, claramente, as infra-estruturas rodo e ferroviárias e, mais recentemente, na construção das novas centralidades (cidades-satélites) de que o município de Kilamba-Kiaxi é um dos casos mais paradigmáticos, vem como a quase conclusão no novo aeroporto internacional de Luanda a que se junta as requalificações dos aeroportos regionais e provinciais.

Mas se as infra-estruturas rodo e ferroviárias se tornaram no modelo de desenvolvimento económico, aliado à novas zonas económicas exclusivas que foram e estão a ser implementadas, já outras infra-estruturas fundamentais continuam por desenvolver: rede eléctrica, fornecimento adequado de água potável, saneamento básico com naturais consequências no deficiente desenvolvimento social do País, onde as taxas de mortalidade infantil e de mortalidade de parturientes ainda são demasiadas elevadas.

E se este é um balanço, ainda que pequeno do desenvolvimento social, económico e estrutural do país, nestes últimos 40 anos, há que já demarcar, diria mesmo, espaldear, uma perspectiva do que espera para os anos imediatamente futuros.

O que se deseja e espera é que os próximos anos venham permitir vir resolver rapidamente os ainda existentes problemas socais, agora que as disponibilidades financeiras se encontram em clara recessão, obrigando o Governo a divergir dos grandes empreendimentos “visuais” para um melhor e mais salutar desenvolvimento social.

Que a paz militar, ainda que se pareça quase total – recordemos o problema de Cabinda –, que se a paz social poderá ser um bem a médio prazo – desde que seja essa a vontade e inteligência governativa, por causa de alguns recentes problemas –, já a paz política nos parece ainda muito longe de estar resolvida.

São vários os factores que nos leva a colocar alguma reticência na paz política e social; não só pelas questões políticas actuais com as diversas makas entre o partido maioritário no Poder e a Oposição, aliadas às questões jurídicas com o caso dos jovens detidos por assumirem posições politicamente divergentes com o status quo, como, também, e não deverá ser nunca esquecida, a questão do 27 de Maio de 1977, nunca cabalmente esclarecida pelos seus intervenientes – principalmente pelos “vencedores” – e quase sempre descartada como sendo um problema interno de um partido; conquanto se sabe que esse problema repercutiu-se – e espelha-se, ainda hoje – em muitos sectores da vida política e social de muitos angolanos. Muitos ainda hoje não sabem o que terá acontecido aos seus entes queridos vítimas da enorme rusticidade que se seguiu.

Esta é uma interessante perspectiva que se deseja venha a ocorrer usando como ensinamento o que os sul-africanos fizeram: criarmos uma Comissão da Verdade e Reconciliação onde se tenha, como os sul-africanos o conseguiram, por objectivo esclarecer a verdade e nunca procurar a mesquinha vingança. Foi assim, que Madiba e o ANC conseguiram perpetuar a Bandeira do Arco-íris.

Como também se deseja que, finalmente e sem mais desconfortantes atrasos as eleições regionais, provinciais e autárquicas seja uma realidade. Só ganha a governação do País!

Como angolano optimista, por natureza, feitio e “defeito” de nascença, acredito que Angola vai se tornar uma enorme potência económica e social onde a liberdade e uma salutar coexistência política tornará isso possível. Poderemos ser, realmente, um farol, um livro-aberto, em e para África.

Passados 40 anos de independência, com os naturais e juvenis altos e baixos que se digladiaram constantemente, tem-se a  perspectiva de um salutar desenvolvimento económico, social e político que possam ser optimizados pela boa vontade de todas as partes envolvidas. Sabemos que os angolanos são, por natureza, optimistas. Deixem-nos continuar a sê-lo!

Persistimos em continuar a sonhar com uma Angola que, como diz o slogan comemorativo da Dipanda, virada para a Independência, Paz, Unidade Nacional e Desenvolvimento.

Somos optimistas, somos sonhadores. Deixem-nos continuar a ser, persistimos em continuar sê-lo!

©Artigo de Opinião publicado no semanário angolano Novo Jornal, ed. 406 de 13-Outubro-2015, secção “1º Caderno”, páginas18 e 19. 

*Investigador do CEI-IUL e CINAMIL

**Eugénio Costa Almeida – Pululu - Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais -; nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa.

ATÉ ISTO A TAL INDEPENDENCIA TROUXE AOS ANGOLANOS!




1) Os que deveriam ser condenados por tantos crimes, muitos dos quais nunca mencionados, vão julgar jovens inocentes!

2) Uma Procuradoria da República, que nunca se mostrou competente para julgar e condenar um presidente da República - claramente ladrão, com contas e números em bancos estrangeiros provados publicamente - vai julgar e condenar inocentes!

3) Ladrões condenando inocentes. Mesmo assim se aguarda com grande expetactiva o fim da injustiça. Uma nação inteira se cala como se justiça tivesse sido feita!

Assim não vale! 

Não podemos continuar a assistir a esta humilhação e perversidade em que ladrões e assassinos estão livres e jovens inocentes são condenados todos os dias a morrem lentamente, quando não são mortos dentro das cadeias...  Precisamos de parar para pensar,  se é que o estar-se vivo em Angola  ainda tem algum sentido!

Se fizermos isto um dia  vamos perder o medo e eles não conseguirão travar a nossa fúria.


TRIBUNAL DE LISBOA MANDA DEVOLVER BENS DO GENERAL KANGAMBA



Tribunal Central de Instrução Criminal tinha ordenado o arresto de vários bens e dinheiro do general angolano a 7 de Outubro de 2014.

Coque Mukuta - Voz da América

O Tribunal de Relação de Lisboa mandou devolver os bens que oTribunal Central de Instrução Criminal mandou arrestar ao general angolano Bento dos Santos “Kangamba” em Lisboa.

No despacho, a que a VOA teve acesso, os juízes reiteraram que o tribunal apenas ouviu e constituiu arguidos Carlos Filomeno de Jesus Lima da Silva e Daniel de Andrade Moreira, “situação que não terá sofrido qualquer alteração, o que decorrido todo este tempo, e sem outros fundamentos, tem como consequência a peticionada nulidade do depacho que decreta os arrestos impugnados”.

O Tribunal Central de Instrução Criminal tinha ordenado o arresto de vários bens e dinheiro de Kangamba a 7 de Outubro de 2014.

Na altura, a imprensa portuguesa revelou terem sido apreendidos ao general cerca de 10 milhões de dólares, em euros, e três imóveis avaliados em mais de 16 milhões de dólares.

Em conversa com a VOA a 10 de Novembro do ano passado, Kangamba não negou nem aceitou se os bens apreendidos em Portugal são seus, mas disse que desde sempre foi uma personalidade com dinheiro, comprando o que quisesse e acrescentou que os portugueses têm nos últimos tempos perseguido angolanos ricos.

Contactado pela VOA, Bento dos Santos Kangaba recusou-se a pronunciar-se. 

Uma fonte próxima do general e membro do Comité Central do MPLA disse que, por agora, ele quer apenas receber os seus bens.

Angola. INFLAÇÃO PERTO DOS 14%



A inflação em Angola pode chegar aos 14% ainda este ano, segundo a análise dos técnicos do gabinete de estudos económicos do BPI, numa nota enviada aos investidores no seguimento de uma visita ao país, realizada este mês.

“De acordo com as nossas estimativas, a taxa de inflação pode acelerar nos próximos meses, devido aos efeitos relacionados com a desvalorização da taxa de câmbio, bem como devido à introdução de um novo imposto sobre o consumo, com as previsões a admitirem a possibilidade de que a taxa de inflação pode chegar aos 14% antes do final do ano”, lê-se no documento.

De acordo com o relatório “Breves Notas no Seguimento da Visita da Angola”, o BPI afirma que “dado o contexto de descida dos preços do petróleo nos mercados internacionais, bem como a queda nas entradas de divisas estrangeiras no país, o Banco Nacional de Angola procedeu a uma desvalorização gradual da moeda nacional, registando uma depreciação acumulada de 30% desde o princípio de 2015, um processo que pressionou a subida da inflação”.

No relatório, assinado pela analista Luísa Felino, lembra-se que a taxa de inflação anual “caiu consideravelmente durante os últimos anos”, passando de dois dígitos em 2012 para menos de 7% em Junho do ano passado, mas inverteu a tendência quando as condições económicas de Angola se alteraram.

“A taxa de inflação de Luanda, que serve de referência para as decisões de política monetária, aumentou de 7,4% anual no princípio do ano para 12,4% em Outubro, regressando aos dois dígitos depois de estar abaixo dessa linha desde Junho de 2014″, afirma-se no relatório, que faz uma análise geral da economia angolana e dos desafios que enfrenta.

“Apesar dos consideráveis esforços de diversificação, a economia angolana continua vulnerável aos desenvolvimentos no sector petrolífero, por isso, a persistência dos preços baixos nos mercados internacionais é um grande risco negativo”, diz o documento.

O cenário de preços baixos a médio prazo “continua a ser o mais razoável dado o contexto actual, com a oferta dos países fora da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) a manter-se expansionista, enquanto a procura global deverá continuar mais baixa, dado o efeito da desaceleração económica que a China enfrenta”, lê-se no documento.

Além dos riscos externos, Angola enfrenta também uma descida das receitas fiscais que impactam os planos do executivo para a despesa pública, que deve alargar-se a outros sectores da economia. Esta situação, de acordo com o BPI, “simplesmente sublinha a necessidade urgente de acelerar a sério o processo da diversificação da actividade económica”.

Apesar dos enormes desafios económicos que Angola tem pela frente, o BPI considera que o país está mais bem preparado do que na última crise petrolífera, que decorreu da recessão económica mundial no seguimento da crise financeira motivada pelo problema do ‘subprime’.

“As fundações macroeconómicas estão, hoje em dia, mais resistentes que durante o período a seguir à crise de 2008-2009″, diz o BPI, que cita como exemplos de boa gestão a rapidez com que o Executivo reagiu à descida dos preços, o montante considerável de reservas em moeda estrangeira acumuladas nos últimos anos e a adopção de “opções conservadores sobre a trajectória dos preços do petróleo nos orçamentos – 40 dólares por barril no Orçamento revisto de 2015 e 45 dólares no Orçamento para o próximo ano”.

Folha 8

A REPÚBLICA FRANCESA FEITA REFÉM



Thierry Meyssan*

A guerra que se estende a Paris é incompreensível para os Franceses que ignoram quase todas as actividades secretas do seu governo no mundo árabe, as suas alianças contra-natura com as ditaduras do Golfo, e a sua participação activa no terrorismo internacional. Jamais tal política foi debatida no Parlamento e os grandes média raramente ousaram interessar-se por ela.

Desde há cinco anos, os Franceses ouvem falar de guerras longínquas, sem perceber do que se trata. A imprensa informou-os do envolvimento do seu exército na Líbia, mas nunca da presença de soldados franceses em missão no Levante. Os meus artigos a este propósito são amplamente lidos, mas entendidos como bizarrias orientais. Apesar da minha história pessoal, é de bom tom qualificar-me de «extremista» ou de «conspiracionista» e de relevar que os meus artigos são reproduzidos por sítios internet de todas as tendências, aí incluídos autênticos extremistas ou conspiranóicos. No entanto, ninguém encontra nada que comentar sobre o que realmente escrevo. Apesar disso ninguém quer saber nada sobre os meus alertas a propósito das alianças que a França assumiu.

Subitamente, a verdade ignorada vem ao de cima.

A França foi atacada na noite de sexta-feira, 13 de novembro de 2015, por vários comandos que assassinaram pelo menos 130 pessoas, em cinco lugares diferentes de Paris. O estado de emergência foi decretado por 12 dias em todo o território e poderá ser prorrogado pelo Parlamento.

Sem ligação directa com o assunto Charlie Hebdo

A imprensa francesa interpreta este acto de guerra ligando-o ao atentado acontecido no Charlie Hebdo, muito embora as actuações operacionais sejam totalmente diferentes. Em janeiro, tratou-se de matar pessoas específicas, enquanto aqui trata-se de um ataque coordenado contra um grande número de pessoas, ao acaso.

Sabe-se agora que o redactor-chefe do Charlie Hebdo tinha acabado de receber um «donativo» de 200.000 euros do Próximo-Oriente para continuar a sua campanha anti-muçulmana [1]; que os assassinos estavam ligados aos serviços de inteligência franceses [2]; que a origem das suas armas está coberta pelo Segredo-de-Defesa [3]. Eu já havia demonstrado que este atentado não fora uma operação islamista [4], que ele havia sido alvo de uma recuperação estatal imediata [5], e que esta recuperação havia tido eco na população hostil à República [6] —uma ideia que foi brilhantemente desenvolvida, alguns meses mais tarde, pelo demógrafo Emmanuel Todd [7]—.

Se regressarmos à guerra que acaba de se estender a Paris, ela surpreende a Europa ocidental. Não se pode compará-la aos atentados de Madrid de 2004. Em Espanha, não houve nem atirador, nem “kamikaze”, mas, sim, 10 bombas colocadas em 4 lugares distintos [8]. O tipo de cena que acaba de ter lugar em França é o pão nosso de cada dia de numerosas populações do «Médio-Oriente Alargado» desde 2001. E, encontramos eventos comparáveis para além dele, tal como os três dias ataques em seis lugares diferentes, em Bombaim, em 2008 [9].

Mesmo que os atacantes fossem muçulmanos, e que alguns dentre eles tenham gritado «Alá Akbar» (!) ao matar transeuntes, não há nenhum laço entre estes ataques, o Islão e uma eventual «guerra de civilizações». Assim, estes comandos tinham instruções para matar ao acaso, sem se perguntarem, previamente, sobre a religião das suas vítimas.

Do mesmo modo, é absurdo valorizar ao máximo o móbil evocado pelo Daesh (Exército Islâmico- ndT) contra a França —embora não haja dúvida sobre o seu envolvimento neste ataque—. Com efeito, se a organização terrorista queria «vingar-se» era em Moscovo (Moscu-br) que deveria atacar.

A França é um Estado terrorista desde pelo menos 2011

A percepção destes eventos fica baralhada porque por trás dos grupos não-estatais se escondem sempre Estados que os patrocinam. Nos anos 70, o venezuelano Ilich Ramírez Sánchez dito «Carlos», ou «o Chacal», colocara-se por convicção ao serviço da causa palestina e da Revolução com o discreto apoio da URSS. Nos anos 80, o exemplo de Carlos foi retomado por mercenários, trabalhando para quem pagava mais, tal como Sabri al Banna, dito «Abu Nidal», o qual realizou atentados tanto por conta da Líbia e da Síria, como de Israel. Hoje em dia, existe uma nebulosa do terrorismo e da ação secreta implicando uma quantidade de Estados.

Em princípio, os Estados negam sempre o seu envolvimento com grupos terroristas. No entanto, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, declarou em dezembro de 2012, aquando da conferência dos «Amigos da Síria» em Marraquexe, que a al-Nusra, o ramo sírio da al-Qaida , «fazia um bom trabalho» [10].

Tendo em conta as suas funções, o Sr. Fabius sabia que não seria levado à justiça pelo seu apoio a uma organização classificada como terrorista pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, mas, ele assumiu um risco grave para o seu país que mergulhou, assim, no caldeirão do terrorismo.

Na realidade, a França estava implicada desde, pelo menos, o início de 2011 ao lado da al-Qaida. À época, o Reino Unido e a França tinham-se juntado ao projecto dos E.U. da «Primavera Árabe». Tratava-se de derrubar todos os regimes árabes laicos e de os substituir por ditaduras da Irmandade Muçulmana. Londres e Paris tinham descoberto esta operação, em curso de concretização, na Tunísia e no Egipto, enquanto tinham sido previamente solicitados a agir na Líbia e na Síria [11]. Na Líbia organizaram, com a ajuda da Forças especiais italianas, os massacres de Bengazi, depois com a ajuda da al-Qaida a tomada de arsenais. Eu posso atestar que, em agosto 2011, enquanto estava sob a protecção de Khamis el-Kadhafi na altura em que a Otan lançava o assalto da capital, o hotel Rixos, onde nós nos encontrávamos, foi cercado por uma unidade da al-Qaida, a Brigada de Tripoli, comandada por Mahdi al-Harati ao grito de «Alá Akbar!» e enquadrada por oficiais franceses em serviço. O mesmo Mahdi al-Harati foi com o seu chefe, Abdelhakim Belhaj, o fundador do pretenso Exército sírio livre, na realidade um grupo da al-Qaida portando a bandeira da colonização francesa.

Na Síria, a presença de oficiais franceses enquadrando grupos armados, enquanto perpetravam crimes contra a humanidade, está amplamente provada.

A França jogou em seguida um jogo extremamente complexo e perigoso. Assim, em janeiro de 2013, ou seja, um mês após o apoio público de Laurent Fabius à al-Qaida na Síria, lançou uma operação no Mali contra a mesma al-Qaida, provocando uma primeira descida de pau contra os seus agentes infiltrados na Síria.

De tudo isso, vocês nunca ouviram falar. Porque, embora a França tenha instituições democráticas, a sua política actual no mundo árabe nunca foi debatida publicamente. Quando muito, contentaram-se —em violação do artigo 35 da Constituição— em ter entrado em guerra contra a Líbia e contra a Síria após algumas horas de superficiais debates parlamentares, sem votação. Os parlamentares franceses renunciaram a exercer o seu mandato de contrôlo do Executivo em matéria de política estrangeira, pensando que se trata de um domínio reservado do presidente, sem consequências na vida quotidiana. Toda a gente pode constatar, ao contrário, hoje em dia que a paz e a segurança, um dos quatro «Direitos do Homem e do Cidadão» de 1789 (artigo 2º), dependem directamente dela. Aliás, o pior ainda está para vir.

No início de 2014, quando os falcões liberais americanos apuravam o seu plano de transformação do Emirado Islâmico no Iraque e no Cham naquilo em que se ia tornar o Daesh, a França e a Turquia encaminharam munições para a al-Qaida, para que ela combatesse o E.I. —este facto é atestado por um documento apresentado ao Conselho de Segurança a 14 de julho de 2014 [12]—. Ora, no entanto a França juntou-se, posteriormente, a esta operação secreta e participou na Coligação Internacional anti-Daesh, da qual todos sabem, agora, que contrariamente ao seu nome ela não bombardeava o Daesh, mas, na realidade, lhe lançou armas de pára-quedas durante um ano [13]. As coisas evoluíram, ainda mais, após a assinatura do acordo 5+1 com o Irão. Os Estados Unidos voltaram-se subitamente, no terreno, contra a organização terrorista e repeliram-na em Hassaka (Síria) [14]. Mas, só pelo meio de outubro de 2015, há um mês atrás, é que a França recomeçou a combater o Daesh. Não para parar os seus massacres, mas, sim, para conquistar uma parte do território que ocupa na Síria e no Iraque e aí instalar um novo Estado colonial que seria chamado de «Curdistão», mesmo que a sua população curda aí seja, à partida, largamente minoritária [15].

Nesta perspectiva, a França enviou o seu porta-aviões —que ainda não está na zona— para apoiar os Marxistas-Leninistas do partido curdo YPG —bem o que é que interessa esta referência política quando se projecta criar um Estado colonial?— contra seu antigo aliado Daesh.

Assistimos, agora, ao segundo regresso do cacete. Não da parte da al-Qaida na Síria, mas da parte do Daesh em França, por ordens de inconfessáveis aliados da França.

Quem dirige o Daesh

O Daesh é uma criação artificial. É somente o instrumento da política de vários Estados e multinacionais.

Os seus principais recursos financeiros são o petróleo, as drogas afegãs —sobre as quais os franceses ainda não perceberam as implicações no seu território—, e as antiguidades levantinas. Toda a gente concorda que o petróleo roubado transita livremente pela da Turquia, antes de ser vendido na Europa Ocidental. Tendo em conta as quantidades, não há qualquer dúvida possível sobre o apoio do Estado turco ao Daesh [16].

Há três semanas, o porta-voz do Exército árabe da Síria revelava que 3 aviões fretados, respectivamente, pela Turquia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, acabavam de retirar combatentes do Daesh para fora da Síria e de os transportar para o Iémene. Uma vez mais, não há, pois, nenhuma dúvida sobre as ligações destes três estados com o Daesh, em violação das resoluções pertinentes do Conselho de Segurança.

Já expliquei, em pormenor, desde a primeira conferência em Genebra, em junho de 2012, que uma facção dentro do aparelho de Estado norte-americano conduzia a sua própria política contra a da Casa Branca. Inicialmente, este complô foi dirigido pelo director da CIA, e co-fundador do Daesh em 2007 (’The Surge’) [17], o general David Petraeus, até à sua detenção, algemas nos punhos, no dia seguinte à re-eleição de Barack Obama. Depois, foi a vez da secretária de Estado Hillary Clinton, impedida de terminar o seu mandato, durante o período de transição presidencial, por um infeliz «acidente». Finalmente, este combate foi prosseguido por Jeffrey Feltman, a partir dos escritórios da ONU, e pelo general John Allen, à cabeça da pretensa Coligação anti-Desh. Este grupo, parte do «Estado profundo» americano, que não cessa de se opôr ao acordo 5+1 com o Irão e de combater a República Árabe da Síria, conserva membros no seio da administração Obama. Acima de tudo, ele pode contar com a ajuda de empresas multinacionais, cujos orçamentos são maiores do que os de Estados, e que podem financiar as suas operações secretas. É, nomeadamente, o caso da petrolífera Exxon-Mobil (o verdadeiro dono do Catar), os fundos de investimento KKR, e o exército privado Academi (ex-Blackwater).

Foi por conta desses Estados e destas multinacionais que a França se tornou um país mercenário.

A França objecto de chantagem

A 11 de novembro de 2015, o Primeiro-ministro, Manuel Valls, assegurava que a França estava empenhada contra o terrorismo [18].

A 12 de novembro, o Observatoire national de la délinquance et des réponses pénales(Observatório nacional da delinquência e das respostas penais- ndT) —ligado ao ministério do Interior— publicava um relatório segundo o qual o terrorismo se tinha tornado a segunda preocupação das Franceses após o desemprego [19].

Na própria manhã de 13 de novembro, o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, apresentava em Nanterre um plano de vinte medidas para lutar contra o trafico de armas [20].

Claramente, o governo esperava o pior, o que implica que ele estava negociando com aqueles que o atacaram. A França assumiu compromissos que não manteve e é, claramente, vítima de uma chantagem por parte dos mestres que ela acaba de trair.

Um exercício simulando atentados foi realizado na própria manhã do ataque, pelos serviços de emergência hospitalares [21]. Uma coincidência que já se havia notado aquando dos ataques de 11 de setembro em Nova Iorque e Washington, dos de 11 de março em Madrid, ou ainda dos de 7 de julho de 2005 em Londres.

Conclusão provisória

Os sucessivos governos franceses forjaram alianças com Estados cujos valores são opostos aos da República. Assumiram progressivamente o compromisso de travar guerras secretas para eles, antes de se retractarem. O presidente Hollande, o seu chefe de estado-maior privado, o general Benoit Puga, o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, e o seu antecessor, Alain Juppé, são hoje em dia objecto de uma chantagem, da qual eles não poderão escapar senão revelando em que é que atolaram o país, mesmo se isso os expõe à pronúncia pelo Supremo Tribunal de Justiça.

A 28 de setembro, na tribuna das Nações Unidas, o presidente Putin dirigindo-se aos Estados Unidos e à França, exclamava: «Eu gostaria de perguntar aos responsáveis por esta situação: - “Têm vocês, pelo menos, a noção do que fizeram?” Mas, receio que esta questão fique abafada, porque esta gente não renunciou à sua política, baseada numa auto-confiança exagerada e na convicção da sua excepcionalidade e da sua impunidade» [22]. Nem os Norte-americanos, nem os Franceses o escutaram. Agora é demasiado tarde.

A reter 

- O governo francês afastou-se progressivamente da legalidade internacional. Ele comete assassínios políticos e enquadra acções terroristas pelo menos desde 2011. 

- O governo francês teceu alianças contra-natura com as ditaduras petrolíferas do Golfo Pérsico. Ele trabalha com um grupo de personalidades norte-americanas e de companhias multinacionais para sabotar a política de apaziguamento dos presidentes Obama e Putin. 

- O governo francês entrou em conflito com estes aliados pouco recomendáveis. Um de entre eles patrocinou os ataques de Paris.

Thierry Meyssan* - Voltaire.net - Tradução Alva

* Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

Notas
[1] «Charlie Hebdo : les révélations de la dernière compagne de Charb», Thibault Raisse, Le Parisien, 18 octobre 2015.
[3] “Armas do ataque ao Charlie-Hebdo abrangidas pelo Segredo de Defesa”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 25 de Setembro de 2015.
[4] “Quem ordenou o ataque contra o Charlie Hebdo?”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 9 de Janeiro de 2015.
[5] “O Charlie Hebdo têm as costas largas”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 14 de Janeiro de 2015.
[6] “De que têm medo os políticos e jornalistas franceses?”, Rede Voltaire,Rede Voltaire, 28 de Janeiro de 2015.
[7Qui est Charlie ? : Sociologie d’une crise religieuse, Emmanuel Todd, Seuil, 5 mai 2015, 252 p.
[8] « 11 mars 2004 à Madrid : était-ce vraiment un attentat islamiste ? », «Attentats de Madrid : l’hypothèse atlantiste », par Mathieu Miquel, Réseau Voltaire, 11 octobre et 6 novembre 2009.
[9] The Siege, Adrian Levy & Cathy Scott-Clark, Penguin, 2013.
[10] « Pression militaire et succès diplomatique pour les rebelles syriens », par Isabelle Maudraud, Le Monde, 13 décembre 2012.
[11] Ver o testemunho do antigo presidente do Conselho constitucionalRoland Dumas sur LCP.
[12] Ler a intervenção do representante sírio « Résolution 2165 et débats (aide humanitaire en Syrie) », Réseau Voltaire, 14 juillet 2014.
[13] Este ponto é ignorado pela imprensa ocidental, mas foi largamente debatido durante um ano pela imprensa árabe e persa. A verdade explodiu à luz do dia quando cinquenta analistas do CentCom denunciaram as mentiras dos relatórios sobre a Coligação, que um inquérito interno desencadeou e em que, finalmente, o general John Allen foi forçado a demitir. Ver nomeadamente: “Stewart, Brennan e Cardillo denunciam as manipulações da Inteligência ao Pentágono” e “O general Allen apresenta a sua demissão (Bloomberg)”, Tradução Alva,Rede Voltaire, 16 e 24 de Setembro de 2015.
[14] “A França tenta travar a implementação militar russa na Síria”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 11 de Setembro de 2015.
[16] Para saber mais: “O papel da família Erdoğan no seio do Daesh”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 3 de Agosto de 2015.
[17] O Daesh foi inicialmente constituído no Iraque no quadro de um plano visando por fim à Resistência à ocupação norte-americana. Para conseguir isto, os E.U,A criaram milícias anti-xiitas —daí o Emirado islâmico no Iraque, futuro «Daesh»—, depois milícias anti-sunitas. Finalmente, os dois grupos da população esqueceram o exército de ocupação e se guerrearam entre si.
[18] «Valls: la France engagée contre le terrorisme», AFP et Le Figaro, 11 novembre 2015.
[19] «La grande peur du terrorisme», Timothée Boutry, Le Parisien-Aujourd’hui en France, 13 novembre 2015.
[21] Cf. Intervenção do Dr Patrice Pelloux, presidente da Associação de médicos emergêncistas de França, na France Info à 10h26 e no jornal da noite da France2, a 14 de novembro de 2015. «Comment le Samu s’est préparé aux attentats simultanés de Paris», Kira Mitrofanoff, Challenges, 15 novembre 2015.
[22] « Discours de Vladimir Poutine à la 70ème Assemblée générale de l’Onu », par Vladimir Poutine, Réseau Voltaire, 28 septembre 2015.

EUA, A CENTRAL DO TERRORISMO MUNDIAL QUE ESTÁ A FRAGILIZAR A EUROPA




Mário Motta, Lisboa

Reeditamos no Página Global uma das mostras do apoio dos EUA ao terrorismo protagonizado pelo ISIS, também auto-proclamado Estado Islâmico e definido por Daesh. Desta vez o vídeo, incluindo um heli Apache dos EUA cuja silhueta e som são inconfundíveis.

Já anteriormente publicámos a foto que aqui pode ver. Um Apache dos EUA a proteger uma coluna do EI-Daesh. Ou seja, apoio dos EUA aos terroristas que atacaram Paris e que neste fim-de-semana pôs a Bélgica a ferro-e-fogo numa grande operação de caça a terroristas. Tudo fruto do apoio dos EUA a terroristas que estão a pôr a Europa em estado de sítio para a fragilizar. 

O que se vê é Obama e os EUA a usarem toda a sua prosápia hipócrita a declararem o contrário das políticas que têm vindo a pôr em prática. Formando, instruindo, apoiando os terroristas. Os EUA são na realidade e na prática os inimigos da Europa e do mundo. São igualmente um Estado Terrorista de que o EI é o aterrorizante executor.

É urgente que a União Europeia, o mundo, se deixem de hipocrisias e façam notar aos EUA o que e quem são com estas suas políticas devastadoras que visam a sobrevivência do império mundial que têm por objetivo formar e dominar, devastando e subjugando países e povos com base no terror que causam. Que implementam e sustentam maquiavélicamente.

A UE e outros países do mundo têm de ter coragem de exigir que os EUA encerrem a caixa de Pândora que ousaram destapar para beneficio dos terroristas internos que têm por lá assentos nos lobies, na NSA, na CIA, na US Army, no Congresso, na Casa Branca. Enfim, nas mais altas instâncias e personalidades que têm tido a responsabilidade de causarem muitos milhares de mortes e destruição por todo o mundo. Com maior incidência ultimamente no Médio Oriente e em África. Agora também na Europa.

A UE não pode continuar a ser condescendente e cúmplice com os EUA nas políticas que têm em prática de ataque à UE para a fragilizar e semearem o terror. Muito menos podem continuar a pertencer à UE países que apoiam o terrorismo e, obviamente, as políticas dos EUA. Algo tem de ser feito urgentemente. Urge derrubar os que na União Europeia usam os mandatos eleitorais para conduzir a Europa à guerra do terror e ao declínio dos países e dos europeus, seus direitos, liberdades e garantias, assentes na justiça, humanismo e democracia. À entrega da União Europeia à subjugação dos EUA. (MM / PG)

Um helicóptero dos E.U.A. escolta um comboio do Daesh

Segundo uma reportagem da agência dos Emirados Árabes Unidos a ti Hour News, um helicóptero Apache dos Estados Unidos escoltou um comboio de cerca de 200 Toyota Hilux do Daesh na Síria.

Voltaire.net – Tradução: Alva


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