Rui Peralta, Luanda
O
actual panorama da economia-mundo assume as seguintes características: a)
abrandamento do crescimento mundial, nomeadamente nas denominadas “economias
emergentes” (excepto a India); b) queda dos preços das matérias-primas; c)
abrandamento do comércio internacional; d) a “flexibilização monetária”
alimenta a bolha de activos (em detrimento do investimento produtivo, que
estancou á escala mundial). Debrucemo-nos um pouco sobre esta ultima
característica (flexibilidade monetária).
A
“flexibilização monetária” permite aos Bancos Centrais adquirirem títulos,
criando moeda, que injectada na economia pode contribuir para esta “descolar”.
No entanto estas medidas têm efeitos colaterais, responsáveis pela ineficácia a
longo-prazo das políticas monetárias. A “injecção de dinheiro” não garante que
a liquidez seja utilizada para favorecer os investimentos produtivos. Bem pelo
contrário, a experiência demonstra que a “injecção” termina por alimentar a
especulação e aumentar o preço dos activos, formando bolhas financeiras,
enquanto em simultâneo, provoca uma redução do investimento. As empresas,
devido á instabilidade sentida no mercado e á incerteza, não investem,
preferindo restabelecer as suas margens, distribuírem dividendos, assistindo-se
neste cenário á multiplicação de fusões e aquisições. Ao mesmo tempo a injecção
de moeda conduz á inflação dos preços dos activos, mas não ao aumento de todos
os preços.
Juros
baixos, inflação débil, combinam-se e geram uma mistura explosiva. Os juros
nominais adquirem o zero como base (zero lower bound). Este limite é o
resultado da estagnação, caracterizada pelo aumento das taxas de poupança e
pela aversão ao investimento de risco, além da fraca disponibilidade para o
investimento produtivo, de uma forma geral. Para restabelecer a situação e
relançar a actividade produtiva seriam necessários juros reais negativos, o que
não acontece. A tendência para a recessão torna-se, assim, visível no
horizonte, com a agravante que as autoridades monetárias não têm instrumentos
para a resolução do problema. Aliás não será a política monetária a relançar o
crescimento, uma vez que os bancos centrais tacteiam, tentando encontrar
certezas na actual situação, perguntando-se se estarão perante uma débil
recuperação pós-crise.
O
resultado será, assim, uma enorme acumulação de dívidas privadas e públicas,
que já representam cerca de 286% do PIB mundial (segundo um estudo recente do
McKinsey Global Institute), contra os 269% de 2007. Esta tendência é reflectida
na divida das empresas não-financeiras dos países “emergentes”, que
quadruplicou entre 2004 e 2014.
Este
panorama conduz a dois cenários: 1) a existência de bolhas financeiras em torno
das dívidas públicas e dos mercados financeiros alienados pelos juros muito
baixos levará a uma recessão profunda do sector bancário; 2) um aumento das
taxas de juro da Reserva Federal dos USA, o que representará uma explosão das
bolhas nas economias “emergentes”, com grandes repercussões na economia-mundo.
Qualquer
um destes cenários evidencia o falhanço das políticas monetárias e a
incapacidade das instituições internacionais em identificarem a actual
situação. Desenrole-se a crise nas economias centrais (como em 1), ou inicie-se
nas economias periféricas (como em 2), o resultado será o mesmo: recessão. No
fundo é como escolher entre a guilhotina e a forca. Em ambos a morte é certa!
Num caso perde-se a cabeça mas mantém-se o resto do corpo, intacto e sem
marcas. No outro a cabeça fica no sítio, o corpo intacto, mas o pescoço
marcado….
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