Rui Peralta,
Luanda
O delta do Níger está novamente em chamas. Sete anos após o fim de actividades
terroristas – que incluíram raptos de trabalhadores das petrolíferas e
obrigaram á redução da produção até 1/3 da capacidade – estas foram reiniciadas
através de um novo grupo denominado Vingadores do Delta do Níger (NDA), que
iniciou uma série de ataques na região. O NDA anunciou a sua formação em
Fevereiro com uma declaração de guerra á infra-estrutura petrolífera nigeriana.
O seu primeiro ataque foi a um pipeline da Chevron, no sul do país, seguido por
um outro ataque que inutilizou um pipeline da estatal Companhia de Petróleos da
Nigéria (NPC), perto de uma refinaria em Warri, a sudeste do Estado do Delta.
A Nigéria atravessa por uma dramática queda na produção petrolífera, o maior
produtor africano. O ministro nigeriano do petróleo, Emmanuel Ibe Kachikwu
afirmou, no passado mês de Maio que a produção de petróleo decaiu 800 mil
barris / dia (bpd), situando-se nos 1,4 milhões de bpd, o valor mais baixo na
última década. Temporariamente Angola ocupa agora a posição de maior produtor
africano, pelo menos até á Nigéria normalizar os seus níveis de produção.
O NDA segue o padrão de outros grupos, como o Movimento para a Emancipação do
Delta do Níger (MEND), que atingiu grande actividade no período 2000-2005 (um
dos seus lideres, conhecido por Tompolo, é acusado do crime de lavagem de
dinheiro, no montante de 46 mil milhões de nairas o equivalente a 231 milhões
de USD, aplicando os valores cambiais de 2014), embora o MEND, num recente
comunicado, se tenha dissociado do NDA. E existe uma boa razão para isso. Em
2009 um programa de amnistia presidencial, que incluía contractos de trabalho
no sector de segurança das instalações petrolíferas, subsídios e pensões de
reforma, abrangeu grande parte dos militantes do MEND (incluindo Tompolo, hoje
um dos maiores empresários no sector da segurança petrolífera). Os
ex-militantes do MEND que não foram beneficiados por essa amnistia incorporam,
hoje, o NDA.
O ataque efectuado pelo NDA ao pipeline submarino da Shell, em finais de
Fevereiro, forçou esta companhia a suspender, temporariamente, a produção do
terminal de Forcados, 250 mil bpd e chamou a atenção dos especialistas em
segurança de instalações petrolíferas para o elevado grau de sofisticação
aplicado pelo NDA. Um dos problemas causados por este grupo é o facto de alguns
dos seus militantes estarem a trabalhar nas companhias, em diversos níveis
profissionais. Isto permite ao NDA elaborar e executar operações sofisticadas,
por debaixo das barbas das companhias petrolíferas.
O NDA tem, também, ligações ao movimento pró-Biafra, no Sul da Nigéria (o
Biafra declarou a sua independência em 1967, mas foi reintegrado na Nigéria em
1970, após uma sangrenta guerra de secessão). O grupo solidarizou-se com Nmandi
Kanu - dirigente dos Povos Indígenas do Biafra (IPOB) uma organização
separatista – detido em Outubro de 2015 e acusado de traição, ainda a aguardar
julgamento. Por outro lado sabe-se que existem outros níveis de ligação entre
ambas as organizações. Uma aliança entre o movimento pró-Biafra e os grupos que
actuam no Delta seria politicamente problemático para o governo central.
Muhammadu Buhari, o presidente nigeriano e líder do APC (All Progressive
Congress, o partido maioritário), prometeu tomar duras acções contra o NDA, num
discurso efectuado em Abril. Ao mesmo tempo o presidente nigeriano cancelava os
subsídios e terminou com os contractos de trabalho concedidos pela amnistia,
mantendo apenas os postos de emprego anteriormente cedidos e as pensões de
reforma. Mas isso não augura nada de positivo para a situação do país, a braços
com uma grave crise económica, queda da moeda, inflação e aumento do
desemprego, adicionado ao terrorismo fascistóide do Boko Haram no Norte, com os
protestos pró-Biafra, e, agora, com a reactivação do petro-terrorismo no Delta
do Níger, no Sul, tudo isto num país que depende em 90% das exportações do
petróleo.
E como a Nigéria voou alto em 2014, apregoando a sua intenção de ser o próximo
BRIC…Afinal são coisas que acontecem às economias com pés de barro que
confundem euforia com desenvolvimento.
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