sexta-feira, 18 de março de 2016

Portugal. AS SEMENTES VOAM E CRESCEM, MAS É PRECISO CUIDÁ-LAS



Na Europa o processo de conscientização política se desenvolve tropeçando em contradições que uma história mal contada criou, baseada em antigos poderes e modernas exibições de riqueza. A Irlanda, amarrada ao império britânico claudica e recebe bonus para permanecer atada, a Grécia assusta-se com o peso da vontade popular e aceita novo empréstimo para manter a pobreza crescente, Portugal sai de uma eleição em que a direita teve mais votos mas foi formada no Parlamento uma maioria de esquerda que somada ao PS renovado impõe o novo governo. Foi com gentileza e sabedoria (herdada de Álvaro Cunhal), que se deu início ao pensamento político de uma união de esquerda, reconhecido com ar de espanto pela média reacionária e a velha
direita atónita.

Explica-se a partir das sementes deixadas pelo processo revolucionário do 25 de Abril plantadas na Constituição, nos conceitos de democracia que circulam no interior do sistema judiciário, na memória do povo, na formação de professores e do potente movimento sindical. Estas sementes, semeadas continuamente pelo PCP que vence as imensas dificuldades e prossegue a luta militante, a produção de uma literatura sobre a história de vida na clandestinidade e de conhecimento intelectual de nível universitário sobre as contradições do sistema dominante, a Festa do Avante que é um acontecimento nacional de cultura que atrai pessoas de todos os quadrantes políticos, e mantém viva a esquerda que atrai a atenção dos humanistas, especialmente os jovens, que querem um mundo melhor.

No interior dos partidos conservadores estas sementes valorizaram os princípios éticos de tradições religiosas ou familiares contrariando a modernidade ambiciosa e despudorada de uma direita comandada pelo imperialismo desumanizado e anti-ético. No seio do PS quando combateu as conquistas de Abril, perdendo antigos quadros que permaneceram com os princípios humanistas de origem, as contradições insuperáveis abalaram os seus jovens. A eleição de Sócrates como Primeiro Ministro pelo PS, (tendo ele sido dirigente da juventude do PSD e promovido pela média como comentador político, acentuava os compromissos dos socialistas sob o comando da direção da UE), acirrou também as contradições internas. Em um dos ùltimos Congressos, em 2013, um jovem deputado abriu os trabalhos e recomendou que "fosse feita uma auto-crítica do caminho seguido pelo PS", tendo sido muito aplaudido, enquanto que a direção da mesa tentava cortar-lhe a palavra O site do PS, que divulgou o Congresso, omitiu o discurso inicial, deixando aos observadores a visão do problema interno de luta ideológica entre gerações.

Mesmo nas hostes da velha direita a percepção de que para superar a crise financeira os centros de poder no mundo desligaram-se dos princípios humanitários, éticos e de honra - que se constata na tortura imposta aos que fogem à destruição dos seus países e são deixados à chuva cercados por arame farpado, sejam doentes, velhos ou bebês, para que morram e não criem problemas aos mais ricos. Os abusos de poder ditatorial da Troika com intervenções direta nas decisões de governos que se mostraram subservientes ao poder externo com total desrespeito pela autonomia das nações, também chamaram a atenção de alguns políticos conservadores que preservam a dignidade nacional e a coerência humanista. A crise ética da política dominante, sempre denunciada pela esquerda, impôs-se à crise financeira contrariando a unidade da direita.

O novo Presidente de Portugal, que já vinha anteriormente como comentador político da média televisiva apontando os erros mais graves da direita, elegeu-se com a imagem de humanista em busca da coesão nacional. As suas palavras, que a média divulga até à exaustão como se fosse da sua principal estrela, parecem saídas de um conto de fadas ou da visão idílica do Paraiso. E Portugal respira ao sol da primavera que se anuncia, animando o PR a distribuir afetos de forma populista e a assumir um papel de "governante".

Sejam benvindas as expressões de fraternidade e o reconhecimento de que a esquerda existe e tem força no Portugal democrático. Já tinha quando se organizou na clandestinidade sob a ditadura de Salazar e o Marcelo daquela época, tanto foi assim que construiu a Revolução dos Cravos detonada no 25 de Abril para derrubar a ditadura. Não nos esqueçamos dos sacrifícios imensos sofridos pelos combatentes da clandestinidade enquanto os conservadores gozavam a sua liberdade alheios à história de Portugal e do seu povo. A primavera é atraente deixando atrás o inverno que cruelmente mata os bebês das famîlias que fugiram às guerras na Síria, no Afganistão, no Iraque, na Líbia, e caem no mar gelado ou ficam nas praias gregas rechaçados pela Europa rica. Mas a causa de tantos sofrimentos não é o frio, mas as guerras promovidas por ambição de poder.

Os problemas deixados em Portugal pelo anterior governo submisso à Troika existem e são graves: desemprego, baixos salários, corte de pensões, serviços públicos sem recursos para atender na saúde, na educação, nos transportes, no desenvolvimento da produção. Portugal de Abril precisa ser reconstruído. Não há tempo para ficar ao sol primaveril como lagarto ouvindo os cantos de sereia do populismo. É preciso continuar a apontar as necessidades dos trabalhadores e a manifestar a exigência de um melhor governo à altura do povo que Portugal tem.

*Zillah Branco -  Cientista social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Brasil, Chile, Portugal e Cabo Verde.

Portugal. CGTP diz que democracia precisa da contratação coletiva para se afirmar



O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, disse hoje, em Lisboa, que a democracia precisa da contratação coletiva do trabalho, pois trata-se de "um instrumento determinante" para a sua afirmação.

Falando à agência Lusa à margem de uma concentração de dezenas de trabalhadores do setor do abate de aves, que hoje se manifestaram junto à sede da associação patronal do setor, a Associação Nacional dos Centros de Abate de Aves (ANCAVE), o líder sindical considerou que "a contratação coletiva é um instrumento determinante da afirmação da democracia portuguesa".

"Esta manifestação vem provar aquilo que a CGTP desde há muito tem vindo a denunciar, que são as estratégias de bloqueamento desenvolvidas pelas associações patronais com vista, não só a pôr em causa a atualização dos salários, mas também, por esta via, a impedirem a contratação coletiva do trabalho", salientou o dirigente sindical.

Neste sentido, Arménio Carlos realçou que os trabalhadores presentes na concentração, nomeadamente, os da empresa Avipronto, mostram "uma grande coragem e uma afirmação da dignidade".

Os trabalhadores querem ver atualizados "os seus baixos salários", disse ainda o líder sindical, esclarecendo que "é justo" que "seja assim", porque "produzem e criam riqueza", logo "devem ter acesso a parte da mesma".

"Eles estão [aqui] a dizer que defendem o seu contrato coletivo e não aceitam propostas que visam desregular os horários de trabalho e permitir que se continue a política de retribuição, através de propostas que visam reduzir, nomeadamente, o valor do trabalho extraordinário", salientou.

Para a CGTP, este é o "momento certo" para dizer que "o Governo, através do Ministério do Trabalho deve assumir o compromisso que o ministro do Trabalho, Vieira da Silva, de que todos os processos, nomeadamente de denúncia de convenções coletivas de trabalho, de acordos celebrados depois de 2003, não podiam ser aceites e como tal e tinham de ser revistas".

"É a altura de passar das palavras aos atos", enfatizou, adiantando que "é necessário distribuir a riqueza de outra forma" e que é preciso que impor a "estabilidade e a segurança do emprego e o combate ao desemprego e à precariedade" como elementos fundamentais do desenvolvimento económico e social.

A deputada do PCP, Rita Rato, também presente na concentração disse que o partido está solidário com a luta dos trabalhadores do setor do abate das aves.

"São milhares de trabalhadores no país ameaçados pela caducidade do contrato coletivo de trabalho, o que vai liquidar os seus direitos e colocar o conta-quilómetros a zero", afirmou à Lusa, realçando que o PCP "não pode aceitar esta postura por parte do patronato de recusar negociar com os trabalhadores os seus direitos" e a sua renovação.

Assim, o PCP vai continuar a intervir para "defender a contratação coletiva e o fim da sua caducidade" e apoiar os seus direitos na Assembleia da República.

Lusa, em Notícias ao Minuto (ontem)

Portugal. Deputados insurgem-se contra salário de 2,5 milhões de António Mexia



Rendimento anual de António Mexia gera polémica. Presidente da EDP vai ganhar até 2,5 milhões ao ano.

O presidente da EDP tem um salário anual que chega aos 2,5 milhões de euros, entre rendimento fixo e variável. A informação foi veiculada pelo Jornal de Negócios e causou surpresa entre os deputados da Esquerda.

A remuneração é 600 mil euros mais elevada do que a de 2015, com a empresa fornecedora de energia a explicar que o salário estava abaixo do fixado por empresas de semelhante dimensão.

Na sua página no Facebook, a bloquista Mariana Mortágua insurgiu-se contra os números agora revelados, escrevendo: “Tanta indignação porque o salário mínimo vai aumentar 25 euros, para 6.360 euros ao ano. E tão pouca indignação por isso ser o mesmo que Mexia ganha num dia (à custa das contas de eletricidade pagas por quem trabalha com o salário mínimo)”.

A mesma informação causou estranheza a Tiago Barbosa Ribeiro. “A imoralidade do rentismo. Vale a pena lembrar que o milionário Mexia queria pôr os contribuintes a pagar o alargamento da tarifa social de eletricidade que, entre outras coisas, pagariam parte do seu salário”, atira o deputado do PS.

Goreti Pera – Notícias ao Minuto

Portugal. Segurança Social deixa sem prestações de desemprego 363 mil pessoas



O Estado português atribuiu cerca de 256 mil prestações de desemprego em fevereiro, deixando sem estes apoios mais de 363 mil desempregados, segundo dados divulgados hoje pela Segurança Social.

De acordo com os últimos dados disponibilizados na página da Segurança Social na Internet (www.seg-social.pt), em fevereiro existiam 256.142 beneficiários de prestações de desemprego, menos 4.845 pessoas do que em janeiro e o equivalente a 41% do último número total de desempregados contabilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (estimativas provisórias de janeiro).

Os últimos dados divulgados pelo INE, relativos a janeiro, contabilizavam um total de 619,5 mil desempregados, com a taxa de desemprego a situar-se nos 12,2% (estável face aos dois meses anteriores).

Das prestações contabilizadas pela Segurança Social, 125.924 referem-se a mulheres e as restantes 130.188 dizem respeito a homens.

Os números da Segurança Social incluem o subsídio de desemprego, subsídio social de desemprego inicial, subsídio social de desemprego subsequente e prolongamento do subsídio social de desemprego, prestações que atingiram em fevereiro o valor médio de 455,86 euros, face aos 454,42 euros observados um ano antes.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Brasil. CONSTITUIÇÃO E DEMOCRACIA



Paulo Donizetti de Souza, editorial*

O Brasil saiu de uma ditadura e ingressou há apenas 30 anos num processo democrático com eleições gerais em todos os níveis. Há mais de 27 anos tem uma Constituição considerada "cidadã" e admirada em vários países. Vivemos dias que a democracia e a Constituição são postas em risco diariamente. Em 516 anos, uma minoria dominou os poderes, restringindo o acesso das maiorias aos avanços decorrentes da produção de riqueza, do crescimento tecnológico e científico.

O Brasil experimentou um avanço da democracia a partir de 2003 com programas sociais e políticas de inclusão. Dentro do capitalismo, fez a "lição de casa". Foram governos de coalizão e de conciliação de classes – o que levou a críticas de setores que esperavam mais ousadia –, com erros na condução da economia e a ausência de medidas estruturantes, sobretudo reformas do sistema político, tributária e de comunicações. Ainda assim, alcançou níveis de redução da pobreza, das desigualdades e de participação social nas decisões inéditos na história. Enfrentou uma crise mundial em 2008 com políticas anticíclicas e altivez, mas não conseguiu dar sustentabilidade ao crescimento.

Enfrenta também uma crise política, em parte decorrente da econômica, em parte do Congresso mais conservador da história saído das urnas em 2014. O que assanha essa maioria conservadora a tentar emplacar leis que retrocedam nos avanços sociais e na soberania. E mais: a tentar interromper ou inviabilizar o mandato de Dilma. Os meios de comunicação tradicionais jogam junto esse jogo sujo, em conluio com ­parte de Judiciário.

Assim se processa o sequestro da democracia com o objetivo de abrir o Brasil no mercado de petróleo, desregulamentar as leis trabalhistas, manter o modelo de arrecadação de impostos que privilegia os mais ricos, acabar com os programas sociais inclusivos e disputar o orçamento do Estado em benefício próprio (por exemplo, com a reforma da Previdência).

Felizmente, não são poucos os que sabem distinguir a crise conjuntural do projeto­ de nação e seguem com a Constituição e com a democracia. E prometem resistir ao retrocesso.

*Rede Brasil Atual

APÓS GRAMPOS, LULA PEDE “SIMPLESMENTE JUSTIÇA” EM CARTA ABERTA



"Não tive acesso a grandes estudos formais, como sabem os brasileiros. Não sou doutor, letrado, jurisconsulto. Mas sei, como todo ser humano, distinguir o certo do errado; o justo do injusto"

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou, por meio do Instituto Lula, na noite de hoje (17), carta aberta em que defende tratamento igual a ele e sua família por parte da Justiça: "Justiça, simplesmente justiça, é o que espero, para mim e para todos, na vigência plena do Estado de direito democrático."

Lula reage à divulgação de conversas grampeadas pelo juiz Sérgio Moro, na Operação Lava Jato, e divulgadas ontem à Rede Globo, medida que suscitou críticas dos mais variados juristas do país. Uma das gravações revela conversa do ex-presidente com a presidenta Dilma Rousseff referente à sua posse como ministro-chefe da Casa Civil. Nesta quinta-feira, Moro divulgou novas conversas.

Apesar de todos os fatos ocorridos desde o último dia 4, quando foi conduzido coercitivamente para prestar depoimento à Polícia Federal, o ex-presidente diz que reforça sua confiança no Judiciário: "Creio também nos critérios da impessoalidade, imparcialidade e equilíbrio que norteiam os magistrados incumbidos desta nobre missão".

Leia a íntegra da nota

"Creio nas instituições democráticas, na relação independente e harmônica entre os Poderes da República, conforme estabelecido na Constituição Federal.

Dos membros do Poder Judiciário espero, como todos os brasileiros, isenção e firmeza para distribuir a Justiça e garantir o cumprimento da lei  e o respeito inarredável ao estado de direito.

Creio também nos critérios da impessoalidade, imparcialidade e equilíbrio que norteiam os magistrados incumbidos desta nobre missão.

Por acreditar nas instituições e nas pessoas que as encarnam, recorri ao Supremo Tribunal Federal sempre que necessário, especialmente nestas últimas semanas, para garantir direitos e prerrogativas que não me  alcançam exclusivamente, mas a cada cidadão e a toda a sociedade.

Nos oito anos em que exerci a presidência da República, por decisão soberana do povo – fonte primeira e insubstituível do exercício do poder nas democracias – tive oportunidade de demonstrar apreço e respeito pelo Judiciário.

Não o fiz apenas por palavras, mas mantendo uma relação cotidiana de respeito, diálogo e cooperação; na prática, que é o critério mais justo da verdade.

Em meu governo, quando o Supremo Tribunal Federal considerou-se afrontado pela suspeita de que seu então presidente teria sido vítima de escuta telefônica, não me perdi em considerações sobre a origem ou a veracidade das evidências apresentadas.

Naquela ocasião, apresentei de pleno a resposta que me pareceu adequada para preservar a dignidade da Suprema Corte, e para que as suspeitas fossem livremente investigadase se chegasse, assim, à verdade dos fatos.

Agi daquela forma não apenas porque teriam sido expostas a intimidade e as opiniões dos interlocutores.

Agi por respeito à instituição do Judiciário e porque me pareceu também a atitude adequada diante das responsabilidades que me haviam sido confiadas pelo povo brasileiro.
Nas últimas semanas, como todos sabem, é a minha intimidade, de minha esposa e meus filhos, dos meus companheiros de trabalho que tem sido violentada por meio de vazamentos ilegais de informações que deveriam estar sob a guarda da Justiça.

Sob o manto de processos conhecidos primeiro pela imprensa e só depois pelos diretamente e legalmente interessados, foram praticados atos injustificáveis de violência contra minha pessoa e de minha família.

Nesta situação extrema, em que me foram subtraídos direitos fundamentais por agentes do estado, externei minha inconformidade em conversas pessoais, que jamais teriam ultrapassado os limites da confidencialidade, se não fossem expostas publicamente por uma decisão judicial que ofende a lei e o direito.

Não espero que ministros e ministras da Suprema Corte compartilhem minhas posições pessoais e políticas.

Mas não me conformo que, neste episódio, palavras extraídas ilegalmente de conversas pessoais, protegidas pelo Artigo 5o. da Constituição, tornem-se objeto de juízos derrogatórios sobre meu caráter.

Não me conformo que se palavras ditas em particular sejam tratadas como ofensa pública, antes de se proceder a um exame imparcial, isento e corajoso do levantamento ilegal do sigilo das informações.

Não me conformo que o juízo personalíssimo de valores se sobreponha ao direito.

Não tive acesso a grandes estudos formais, como sabem os brasileiros. Não sou doutor, letrado, jurisconsulto. Mas sei, como todo ser humano, distinguir o certo do errado; o justo do injusto.

Os tristes e vergonhosos episódios das últimas semanas não me farão descrer da instituição do Poder Judiciário. Nem me farão perder a esperança no discernimento, no equilíbrio e no senso de proporção de ministros e ministras da Suprema Corte.

Justiça, simplesmente justiça, é o que espero, para mim e para todos, na vigência plena do estado de direito democrático."

Rede Brasil Atual

SAMBA DA DESGRAÇA CONTINUA A SOAR NO BRASIL



Expresso Curto com Ricardo Marques nas teclas, nos instrumentos de sopro o tio Balsemão não toca (asma) e vai direto para a bateria, ao piano, de lacinho, o grande senhor, Nicolau Santos, à viola o Comendador lá da casa, no pífaro o novo diretor que nem lembramos o nome. Desculpem. E com tantos instrumentos vem aí o Samba da Desgraça, primo do fado da desgraçadinha em Portugal. O que é que está a acontecer no Brasil? Golpe! Golpe da direita que não vence em eleições há mais de uma década, quase duas. Acha que está na hora e vai ao golpe. E está a acelerar no modo de atuação. O povo, o povinho, vai atrás – manipulado pela Globo & Associados (com sede nos EUA).

Já ontem aqui no PG foi abordado o assunto. Estamos mais ou menos esclarecidos por via de quem no Brasil vive o momento desde que a direita deitou as garras de fora e as foi afiando. Agora começa a estraçalhar o que e quem se lhe opuser. Saiam da frente, vêm aí os novos donos do Brasil. Vem aí o aumento da pobreza, da exploração, do esclavagismo, do racismo, dos assassinatos, do crime que a direita tem colado em si contra os povos e contra os pobres ou mais ou menos remediados. As prisões vão encher ainda mais e as mortes por lá, entre grades, vão dar jeito para que haja mais espaço. É aquilo que os brasileiros que apoiam o golpe querem e pelo que se manifestam. Não é?

Não adianta pôr mais na escrita. Siga o que vem no Expresso Curto que se segue mas pense com a sua cabeça. Mesmo que seja verdade que Lula é corrupto e tenha de enfrentar a Justiça facto é que o golpe está em marcha e a própria Justiça está sendo o veículo da injustiça, do golpe, do atropelo à legalidade. Se não é golpe por que acontece assim tão nesse jeito de golpe? Ora, ora.

Sabemos. Isso sim. O Samba da Desgraça continua a soar no Brasil. Até quando? Não sabemos.

Bom dia. Bom fim-de-semana. Como diz o outro: porte-se mal.

Redação PG / CT

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Ricardo Marques - Expresso

Os que ficam para trás

"Os nossos amigos poderão não saber muita coisa, mas sabem sempre o que fariam no nosso lugar".

A frase é de Millor Fernandes, o jornalista que para sempre ficou sentado num banco virado para o mar do Rio de Janeiro, entre as praias do Diabo e do Arpoador, e de costas para o que vai sendo do seu Brasil.

Já aqui se escreveu ontem, mas não é inútil repeti-lo: a política brasileira está a atingir um nível de emoção e imprevisibilidade que nem a melhor novela das oito conseguiria.

No episódio de ontem, a presidente, ameaçada de destituição,chamou o seu amigo ex-presidente, suspeito aos olhos das autoridades numa investigação chamada Lava Jato, e ofereceu-lhe um cargo que, na prática, faz dele presidente outra vez, ainda que a presidente seja ela. Mas um juiz chamado Itagiba Catta Preta Neto, que dias antes tinha estado numa manifestação contra a presidente e que já se tinha atirado ao ex-presidente no Facebook, impugnou a tomada de posse do ex-presidente amigo da presidente e o Brasil, que parecia estar a caminho de ter dois presidentes, ficou como se não tivesse presidente algum.

Itagiba, o juiz que estragou a cerimónia, tem o mesmo nome de um barco afundado por um submarino alemão a 17 de agosto de 1942. Cinco dias depois, pressionado pelas multidões na rua, o governo brasileiro declarou guerra à Alemanha.

E como quem assiste a uma peça de teatro, a um duelo imprevisível entre uma imparável máquina judicial, que libertaescutas telefónicas na praça pública como quem manda soldados para a frente de batalha, e uma classe política acossada, e que toca a reunircontra o que considera ser uma perseguição dos magistrados, um país inteiro sai outra vez para a rua e toma partido ao som de panelas e de gritos. Hoje, o inimigo está dentro e mesmo ali ao lado.

Os gigantes e os seus amigos enfrentam-se no grande teatro de Brasília com armas pesadas. As posições extremam-se, o discurso é cada vez mais radical e o ar endurece até ficar gelado como num daqueles momentos de tudo ou nada.

Quando o ar fica assim, tudo parece possível e normal e lógico e ontem, fardado e com a bandeira do estado de S. Paulo, um manifestante chamado William Mascarenhas, de 67 anos, neto do general Mascarenhas de Moraes, comandante das forças brasileiras que participaram na Segunda Guerra Mundial, disse aos jornalistas - e apareceu em vários jornais durante o dia - que a melhor forma de combater a corrupção no país é entregar o poder "a uma junta militar por um curto período de tempo".

Uns em nome disto, outros em nome daquilo. Há um país e milhões de pessoas que vão ficando para trás.

Millor gostava de ver por do sol junto ao mar e ainda lá está, sentado entre o Arpoador e o Diabo.

A noite brasileira está apenas a começar.

OUTRAS NOTÍCIAS

O Fenerbahçe de Vitor Pereira ficou para trás (4-1), o Braga está nosquartos-de-final da Liga Europa e, a par do Benfica na Liga dos Campeões, é um dos motivos para seguir em direto o sorteio, já daqui a pouco.

Lembra-se dos exames escolares? Aqueles que contavam para a nota, que iam ficar para trás e ser substituídos por outros, de aferição, ainda este ano? Pois, afinal parece que não é bem assim, ou na verdade é ou se calhar depende das escolas... A Isabel Leiria explica-lhe tudo.

Sobre esta "problemática" dos exames fica um desafio ao ministro da Educação, retirado do enunciado da Prova Escrita de Português do 12.º ano de 2015:

"Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras, defenda um ponto de vista pessoal sobre a problemática apresentada. Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo."

Talvez assim nos consigamos entender.

A Alexandra Simões de Abreu acompanhou o Presidente da República na primeira visita oficial, ao Vaticano, e contacomo foi o encontro entre Marcelo Rebelo de Sousa, o Rápido, e o Papa Francisco. Aproveite e veja o registo das viagens presidenciais.

Em Bruxelas, hoje é dia de cimeira entre a União Europeia e a Turquia sobre um dos assuntos mais complexos dos nossos dias. Diz oGuardian que os turcos se comprometem a aceitar de volta aquilo que a EU tem a mais. Em troca querem que a União Europeia lhes pague mais dinheiro, querem que os seus cidadãos possam viajar livremente no espaço europeu e querem que sejam retomadas as negociações para uma possível adesão da Turquia.

O problema é que "aquilo" são pessoas. Milhares e milhares de pessoas. E quando se põe um preço nas pessoas, quando as pessoas se tornam instrumentos de um negócio e deixam de ser pessoas, então lá vem aquele ar gelado que torna tudo, até o mais impesável, possível. Pode não valer de muito, mas vale a pena parar um instantee olhar, olhos nos olhos, para a cara de alguns dos que ficam para trás.

E o que está aqui, nestes poucos minutos filmados às escondidos por duas mulheres em Raqqa, é a vida que muitos deixaram para trás.

Hoje está nas bancas aquela que deve ser a última edição doDiário Económico em papel. Há meses que os jornalistas do DE são um exemplo de profissionalismo para todos.O projeto deve continuar na Internet, mas sempre que um jornal desaparece das bancas é um dia triste.

Nos EUA, está em curso a guerra pela nomeação do 113.º juiz do Supremo Tribunal. Obama escolheu Merrick B. Garland, mas alguns Republicanos já avisaram que a escolha devia ser feita pelo próximo presidente. O processo costuma ser longo e complexo - mas pode tirar as dúvidas aqui.

Neste capítulo, o número dos candidatos que ficaram para trás continua a crescer, como mostra este gráfico do The New York Times. Entre os que permanecem na corrida, tudo aponta para um duelo Clinton-Trump em novembro. Por falar em Trump, nada melhor do que ler o que o mordomo do candidato diz sobre ele.

Em França, há um escândalo de abusos sexuais cometidos por padres que faz lembrar o filme Spotlight.

Vale a pena ler este trabalho da Luciana Leiderfarb sobre o Arquivo Mitrokhin e as ligações a Portugal, que o Expresso divulgou na semana passada, por duas razões: desde logo porque lança um novo e interessante olhar sobre o caso; depois porque serve de ponto de partida para um novo capítulo da enorme investigação do Paulo Anunciação, cuja segunda parte, carregada de revelações, estará na edição de amanhã da E, a revista do Expresso.

Hoje, nas bancas, as manchetes são estas

Correio da Manhã: "145 suspeitos sob escuta do fisco"

Público: "Posse de Lula é suspensa e agrava crise política num Brasil radicalizado"

Diário de Notícias: "GNR vai ter generais e deixa de ser chefiada pelo Exército"

Jornal de Notícias: "Escolas públicas dão missa durante as aulas"

E uma frase

"Foi decidida uma operação para, de maneira arriscada, ameaçadora e perigosa, acabar com a liderança legítima, democrática, profundamente popular, destes dois dirigentes históricos da nova época latino-americana" - Nicolas Maduro, presidente da Venezuela

O QUE ANDO A LER

Chama-se "Conquistadores – como Portugal criou o primeiro império global", chegou-me há menos de uma semana e não podia ser mais oportuno. O trabalho de Roger Crowley, historiador inglês que há décadas se dedica à investigação sobre os grandes impérios marítimos europeus, analisa em detalhe as várias viagens quepermitiram a Portugal impor a sua presença no Índico, à custa de uma agressividade extrema (cidades destruídas, gente enforcada, raptos...)

Pedro Álvares Cabral deixou Lisboa a 9 de março de 1500, a caminho da Índia, à frente de uma frota com 13 navios e mais de 1200 homens.As viagens anteriores tinham mostrado que para dobrar o Cabo da Boa Esperança era necessário descrever um arco em pleno Atlântico, de modo a aproveitar os ventos favoráveis. Por erro de cálculo ou não, o arco foi demasiado e os mapas do mundo ganharam um novo continente.

Crowley faz este curto desvio ao Atlântico Sul para contar, com recurso a documentos da época, o que viram os marinheiros no dia 21 de abril de 1500. "Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos".

Os portugueses ficaram nove dias em Terra da Vera Cruz, assim a batizaram, onde encontraram papagaios do tamanho de galinhas e gente muito diferente da que conheciam da costa africana. "Têm cabelos compridos, e arrancam as barbas. E as pálpebras acima das sobrancelhas estão pintadas com figuras brancas e pretas e azuis e vermelhas."

A 2 de maio, reabastecidos de comida e de água, os navios de Pedro Álvares Cabral fizeram-se ao mar e houve lágrimas a bordo e em terra quando deixaram o que haveria de ser o Brasil. "Começaram a chorar, como se tivessem pena deles".

Nesse dia ficaram para trás dois condenados.

Há Diário às seis da tarde e Expresso amanhã.

Tenha um bom dia e um bom fim de semana.

Mais lidas da semana