quarta-feira, 20 de abril de 2016

Refugiados: ONU admite que aconteceu mesmo “uma das piores tragédias dos últimos 12 meses”



As primeiras informações apontavam para centenas de mortes num naufrágio no Mediterrâneo. Em seguida, falou-se em mais de 400. As Nações Unidas não confirmaram o incidente. Após investigação, admitem agora que pelo menos 500 pessoas morreram no mar. Vinham em busca de uma vida melhor

Ninguém parecia saber ao certo o que aconteceu, aliás ainda restam algumas dúvidas. Depois de não confirmar a veracidade das notícias que deram conta da morte de 400 pessoas no Mediterrânico, na segunda-feira, o Alto Comissariado para os Refugiados das Nações Unidas (ACNUR) admitiu esta quarta, em comunicado, que o naufrágio pode ter acontecido. Os números apontam para pelo menos 500 refugiados mortos.

“Caso seja tudo confirmado, pelo menos 500 pessoas podem ter perdido a vida quando um grande barco naufragou no Mar Mediterrâneo, em lugar desconhecido, entre a Líbia e Itália”, lê-se no relatório diário do ACNUR. “A nossa equipa falou com os sobreviventes daquela que pode ser a pior tragédia dos últimos 12 meses.”

Depois das primeiras notícias na segunda-feira, a organização partiu em buscas de respostas. Na altura, a história foi divulgada em primeira mão pela BBC Arabic, após uma entrevista a um embaixador líbio no Egito. Depois surgiram alguns testemunhos de sobreviventes que falaram com o canal. Até esta quarta-feira, a ONU não tinha dado nada como certo.

Um grupo de 41 sobreviventes, que atualmente está abrigado num estádio em Calamata, na península grega de Peloponeso, é composto por 37 homens, três mulheres e uma criança com três anos. São maioritariamente somalis (23 pessoas) mas também há 11 etíopes, seis egípcios e um sudanês.

Contam que há uma semana partiram de uma pequena localidade junto a Tobruk, no norte da Líbia. Entraram num barco com cerca de 30 metros de comprimento. Parecia ser suficientemente grande mas não foi. Havia pessoas a mais. Os sobreviventes falam entre 100 a 200 pessoas a bordo.

Algures no meio da travessia e após várias horas no mar, os traficantes tentaram transferir os refugiados para uma embarcação maior, onde já estavam outros tantos refugiados. Esse segundo barco já estava sobrelotado. Foi durante esse transbordo que o barco maior virou e afundou.

Os 41 sobreviventes são as pessoas que ainda não tinham mudado de embarcação. Entre o grupo ainda existem alguns refugiados que quando caíram ao mar nadaram até ao barco mais pequeno. Depois ficaram à deriva. Durante três dias não tinham destino ou rumo.

A 16 de abril foram resgatados.

A confirma-se tudo isto, este poderá ser o incidente que mais vítimas causou nos ultimo ano. No entanto, apesar de menores dimensões, muitos outros naufrágios continuam a acontecer. Segundo dados da ONU, em 2016, entre mortos e desaparecidos no Mar Mediterrâneo, contam-se 1261 pessoas.

Este ano já chegaram à Europa, por mar, 179556 pessoas que fogem dos países de origem à procura de um destino melhor.

Marta Gonçalves - Expresso – Foto: OZAN KOSE/ GETTY IMAGES

Petrolífera timorense, Timor Gap, primeira organização com certificações internacionais ISO



Díli, 20 abr (Lusa) - A petrolífera timorense, Timor Gap, tornou-se a primeira organização do país a conseguir certificação nos três padrões da Organização Internacional para Padronização (ISSO) nas áreas de qualidade, saúde, segurança e ambiente.

A certificação nas quatro áreas, conhecida pela sigla inglesa QHSE, pretende comprovar a gestão empresarial responsável das empresas e parte do princípio que os acidentes de trabalho são provocados por erros humanos.

Na prática, a certificação QHSE abrange áreas como a promoção do bem-estar e qualidade de vida dos profissionais, a criação de um ambiente de trabalho seguro saúde, proporcionar formação continua, proteger o meio ambiente e otimizar a utilização dos recursos naturais.

Rony da Costa, diretor de QHSE da Timor Gap, explicou à Lusa que a certificação conclui um processo que durou cerca de um ano em que os cerca de 100 funcionários da petrolífera foram preparados.

"É um passo muito importante que afeta todos os sistemas e a forma como a Timor Gap vai trabalhar a partir de agora", disse.

Costa sublinhou que esta certificação é particularmente importante dado o risco inerente ao setor de petróleo e gás, e que permite que a Timor Gap passe a funcionar com um sistema integrado de gestão.

"É um sistema que aplicamos na gestão de todos os projetos", disse, dando como exemplo o grande projeto do desenvolvimento do sul de Timor, Tasi Mane, na área do petróleo e gás natural.

Algo significativo por ser conduzido por timorenses - 98% dos funcionários da Timor Gap são timorenses - e que ajuda a credibilizar a petrolífera timorense junto de investidores internacionais.

A certificação foi fornecida pela empresa DNV GL, empresa que opera em mais de 100 países e com mais de 16 mil profissionais dedicados a fornecer serviços de classificação, certificação, verificação e formação.

A cerimónia de certificação decorre na quinta-feira em Díli com a presença do presidente da Timor Gap, Francisco Monteiro e do primeiro-ministro Rui Maria de Araújo.

ASP // JPS

Tiago Guerra. PORTUGUÊS DETIDO EM TIMOR-LESTE AINDA SEM ACUSAÇÃO



Dezoito meses após ter sido detido em Timor-Leste, o português Tiago Guerra continua impossibilitado de sair do país e sem acusação formal, apesar de, garante, "todos os prazos" terem sido já ultrapassados.

Tiago Guerra, suspeito de branqueamento de capitais, foi detido para interrogatório a 18 de outubro de 2014, passou três dias na esquadra da polícia de Caicoli e a 21 do mesmo mês entrou na cadeia de Becora onde ficou preso preventivamente até 16 de junho do ano passado.

Mesmo considerando todas as extensões de prazos previstas na lei timorense, o período máximo para o inquérito ser concluído terá terminado na passada segunda-feira e até esta quarta-feira ainda não foi formalizada qualquer acusação.

"E isso é se considerássemos a data do início do inquérito a 18 de outubro, quando fui detido. Não quero imaginar, pois seria ilegal, que me detiveram sem a investigação ter sequer começado", disse à Lusa.

"Todos os prazos já foram ultrapassados e continuamos sem ser acusados. E sem saber quando esta saga termina. Porque a informação que temos é de que o calendário dos tribunais está muito cheio e mesmo que o julgamento seja marcado não sabemos quanto tempo pode demorar", explicou Guerra.

Tiago Guerra e a mulher, Chan Fon Fon, estão ambos sob termo de identidade e residência, com os documentos confiscados, impossibilitados de sair de Timor-Leste e têm de se apresentar semanalmente à polícia.

Sem documentos, o português não pode trabalhar e tem as suas contas confiscadas, vivendo de ajudas de familiares e amigos.

A única documentação relativa ao processo que possui, até ao momento, são as respostas a requerimentos apresentados pela sua defesa. O mais recente foi um pedido de alteração das medidas de coação, para poder viajar para o estrangeiro e ver a família.

Na resposta ao requerimento, e rejeitando a alteração, a procuradora Angelina Saldanha usou como argumentos "elementos do processo" aos quais a defesa não teve acesso porque, formalmente, "sem acusação não há processo".

"O tribunal sabe que não temos acesso ao processo mas apesar disso usa como justificação a página tal e tal do processo e com base nisso rejeitou o nosso requerimento. Como não envia os anexos, nós tivemos de recorrer para o Tribunal de Recurso sem conhecer os argumentos", disse Tiago Guerra.

"Pedimos os anexos da decisão do tribunal, para entender o argumento, e nem o Ministério Público nem o Tribunal nos respondeu", sublinhou.

Jornal de Notícias

Moçambique. Centenas de crianças privadas do direito à educação em Murrupula devido a guerra



Pelo menos 500 crianças matriculadas em diferentes escolas da Zona de Influência Pedagógica (ZIP) de Halaca, no distrito de Murrupula, província de Nampula, encontram-se privadas do direito à educação, devido às ofensivas militares das Forças de Defesa e Segurança (FDS) que procuram desarmar, e mesmo eliminar, os homens armados do partido Renamo que estão baseados naquela região.

Jorge Ferrão, ministro da Educação e Desenvolvimento Humano, disse, recentemente, que mais de 36 mil alunos, em 97 escolas, dei­xaram de estudar devido a confrontos militares nas províncias de Tete, Manica, Sofala, Zambézia e Nampula.

De acordo com Júlio Mendes, director provincial da Educação e Desenvolvimento Humano em Nampula, os alunos em alusão eram assistidos por oito professores que, igualmente, já não se fazem aos seus postos de trabalho.

As crianças foram forçadas a abandonar a escola porque os seus pais e encarregados de educação procuraram refúgios em locais aparentemente seguros. Falando à Imprensa, Mendes disse que neste momento o sector que dirige está a envidar esforços com vista a enquadrar os alunos noutros estabelecimentos de ensino, para que estes não percam o ano lectivo.

“Estamos a trabalhar no sentido de garantir que os professores continuem a trabalhar, para além dos alunos que não podem perder o ano lectivo de 2016”, disse Mendes.

Embora não existam cobertura regular na imprensa no distrito de Murrupula acontece há vários meses uma das frentes mais activas do conflito político-militar. Um membro das Forças Especiais moçambicanas relatou ao @Verdade e SAVANA que a sua unidade foi destaca para a região em Janeiro deste ano para eliminar cidadãos identificados como sendo membros e/ou simpatizantes do partido Renamo.

"Nós fomos lá e identificamos uma base da Renamo. Fizemos uma defesa circular, em que todos paramos e concentramos o fogo, mas sem esperar que eles pudessem responder, já que era de madrugada. Quando responderam fogo cada um correu à sua maneira e ele ficou, tinha uma metralhadora PK de 475 munições (é uma metralhadora Kalashnikov russa vulgarmente conhecida por PK), tinha dois carregadores", relatou o agente das Forças especiais que revelou que a sua unidade chega às residências onde recebem indicação de estarem membro e/ou simpatizantes do maior partido de oposição e "batemos a porta e levamos a pessoa".

O confronto militar mais recente que há registo aconteceu na primeira semana de Abril e culminou com a substituição do então Comandante provincial da província de Nampula.

Leonardo Gasolina - @Verdade

Justiça moçambicana acusa ex-embaixadora de desvio de mais de 438,6 mil euros



O Gabinete Central de Combate à Corrupção de Moçambique (GCCC) anunciou hoje ter deduzido acusação contra uma antiga embaixadora moçambicana num país da América por alegado desvio de 497 mil dólares, informa a Agência de Informação de Moçambique (AIM).

Um comunicado sobre o balanço quinzenal do GCCC, citado pela AIM, refere que a diplomata é também acusada de abuso de poder e lavagem de dinheiro, tendo servido num país do continente americano entre 2009 e 2015.

A ex-embaixadora terá desviado o dinheiro, equivalente a 438,6 mil euros, ordenando a emissão de cheques em seu nome, supostamente para a reabilitação da sua residência oficial e compra de bens para o funcionamento normal da embaixada.

Lusa

MOÇAMBIQUE ESTÁ A SER MAL VISTO DEVIDO ÀS DÍVIDAS ESCONDIDAS – Graça Machel



A presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC) de Moçambique, Graça Machel, afirmou hoje que o país está a ser mal visto, devido a revelações sobre dívidas escondidas, defendendo a necessidade do esclarecimento do escândalo.

"O país está a ser mal visto, ainda não sabemos a totalidade da dívida que nós temos, o primeiro passo é conhecer o volume da dívida, em que condições ela foi feita, para se saber decidir como é que se vai lidar com ela", afirmou Machel, falando hoje em Maputo, à margem de uma reunião internacional sobre Saúde.
Insistindo ser preocupante a situação de dívida de Moçambique, a presidente da FDC, que foi ministra da Saúde no primeiro Governo moçambicano pós-independência, lançou um apelo para que o país aposte na produção interna como forma de reduzir a dependência em relação ao financiamento externo, alertando para o risco de uma crise económica profunda.

Graça Machel recordou que ainda há um mês Moçambique era visto como um país exemplar e lamento que agora as notícias demonstrem o contrário.

"Agora as notícias para o mundo é dizer que Moçambique é o pior exemplo que se podia encontrar em matéria de contração e gestão de dívida", afirmou Graça Machel.

O primeiro-ministro moçambicano reconheceu na terça-feira à noite que o FMI não tinha sido informado sobre um valor superior a mil milhões de dólares da dívida externa de Moçambique, revelou o organismo, que vê nesta atitude um "primeiro passo importante".

Carlos Agostinho do Rosário reuniu-se com a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, na terça-feira, em Washington.

"O primeiro-ministro de Moçambique reconheceu que um montante superior a mil milhões de dólares de sua dívida externa garantida pelo Governo não havia sido anteriormente divulgado ao Fundo", informou o FMI, numa nota enviada à agência Lusa.

Segundo o Fundo, Christine Lagarde recebeu a divulgação destas informações por parte das autoridades moçambicanas como um "primeiro passo importante".
Moçambique vai fornecer mais informações e documentação de apoio ao longo dos próximos dias para se poderem "apurar os factos e permitir que o Fundo efetue uma avaliação completa", destacou o FMI.

"O Fundo e Moçambique vão trabalhar juntos de forma construtiva para avaliar as implicações macroeconómicas dessas informações e identificar passos para restaurar a confiança", lê-se ainda na nota enviada à Lusa.

Segundo informações veiculadas pela imprensa internacional, o dinheiro resultante das dívidas que Maputo não declarou destinou-se à compra de equipamento de defesa marítima, incluindo 'drones' (aparelhos aéreos não tripulados) para a proteção da costa marítima, através da empresa Proindicus, participada pelos serviços secretos do país.

PMA // EL - Lusa

FEBRE AMARELA CAUSOU A MORTE DE 250 PESSOAS EM ANGOLA E EM QUATRO MESES


O surto de febre-amarela em Angola somou já 250 mortes em quatro meses de epidemia de um total de 1.975 casos, anunciou hoje o ministro da Saúde angolano

Luís Sambo, que procedia à abertura do Conselho Consultivo do Ministério da Saúde, disse que durante três dias os participantes vão aprofundar a análise da febre-amarela no país, e partilhar conhecimentos e experiências sobre as ações de combate à referida epidemia.

O governante sublinhou ainda que a reunião, que decorre em Luanda até sexta-feira com a presença de todos os diretores provinciais de Saúde, deverá proporcionar uma análise mais cuidada da situação epidemiológica e do nível de execução do plano de resposta formulado pelo Executivo, que visa terminar esta epidemia "tão cedo quanto possível".

O titular da pasta da Saúde frisou que atualmente existem casos confirmados em 12 das 18 províncias angolanas, mas casos suspeitos em todo o país e transmissão local em seis regiões.

Segundo Luís Sambo, o Governo angolano assumiu o compromisso de financiar os custos das vacinas, que permitiu vacinar até à presente data seis milhões de pessoas em Luanda, representando uma cobertura de 91%.

Nas províncias do Huambo estão já vacinadas 464.300 pessoas e em Benguela outras 627.000, informou o ministro.

"Temos enfrentado algumas limitações, nomeadamente a disponibilidade de vacina no mercado internacional e já fizemos diligências para que o processo de produção possa ser acelerado", referiu Luís Sambo.

Angola está a braços com uma epidemia de febre-amarela desde dezembro de 2015, iniciada no município de Viana, na província de Luanda.

NME // EL - Lusa

Angola. SILÊNCIOS DE SANGUE



O antigo secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, apelou hoje aos líderes africanos para que abandonem os cargos no final dos mandatos e para que evitem excluir a oposição nas eleições, contribuindo para diminuir os conflitos no continente. A Angola a mensagem nunca chegará.

Odiplomata ganês defendeu que, apesar de se terem reduzido alterações inconstitucionais na governação no continente africano, políticas exclusivistas ameaçam reverter os avanços registados.

“Eu penso que África se tem saído bem, de uma forma geral os golpes acabaram, os generais têm-se mantido nas suas casernas, mas estamos a criar situações que podem trazê-los de volta”, alertou o Nobel da Paz de 2001, numa entrevista a propósito do quinto Fórum de Alto Nível de Tana, dedicado ao tema da segurança em África, que decorreu nos últimos dias em Bahir Dar, polo turístico na Etiópia.

“Se um líder não quer abandonar o cargo, se permanecer por demasiado tempo, e se as eleições são vistas como viciadas para favorecerem um líder e ele se mantiver mandato após mandato após mandato, é possível que a única forma de o retirar seja através de um golpe ou o povo saindo à rua”, considerou, em declarações divulgadas pela Organização da Imprensa Africana.

Por mero acaso citem-se os exemplos de Angola e da Guiné Equatorial, onde os respectivos reis estão no poder desde 1979. Coisa pouca, obviamente.

“Nenhuma abordagem deve ser vista como uma alternativa à democracia, às eleições ou às regras parlamentares. As constituições e as regras do jogo devem ser respeitadas”, avisou Kofi Annan, mesmo sabendo que nada disso é praticado em muitos países, desde logo no do seu amigo José Eduardo dos Santos.

O antigo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), orador principal do fórum deste ano, disse que abordagens totalitárias às eleições no continente resultavam na exclusão de cidadãos opositores ao regime, aumentando tensões em redor dos actos eleitorais.

Pois. Palavras leva-as o vento. Aliás, sendo Angola prova disso tudo, a ONU deu-lhe assento no seu Conselho de Seurança.

Kofi Annan recordou ter sido o primeiro a defender, junto da União Africana, que não aceitasse, no seu seio, líderes que estivessem no poder graças a golpes.

O diplomata também sustentou que as soluções para os problemas do continente têm de vir do seu interior. No entanto, o continente deve trabalhar a sua capacidade para tal, incluindo o financiamento às suas instituições.

“Não podemos estar sempre de mão estendida e insistir que queremos ser soberanos e independentes. Devemos liderar e conseguir o apoio dos outros — esse apoio aparecerá muito mais quando virem quão sérios e empenhados nós estamos”, salientou.

Recordam-se, por exemplo, do relatório Africa Progress Report 2013, elaborado por um grupo de personalidades coordenada por Kofi Annan e do qual fez parte Graça Machel? Nele se dizia:

“Enquanto a elite angolana usa o rendimento do petróleo para comprar activos no estrangeiro, em Angola as crianças passam fome”.

Além disso a taxa de mortalidade infantil, até aos cinco anos, de Angola está no topo da lista: é a oitava maior do mundo, com 161 mortes em 1000 crianças por ano, o que representa 116 mil mortes todos os anos. A subnutrição explica um terço destes óbitos de crianças.

“Em nome do desenvolvimento económico, sob a égide do capitalismo, encontram-se justificações para a prática da corrupção, a falta de transparência nas contas do Estado e a falta de reconhecimento dos direitos de propriedade. A moral e a ética não fazem parte da cultura da ‘burguesia angolana emergente’, o que ‘legitima’ a coarctação da democracia em defesa do status quo da elite reinante”, afirma o economista José Dias Amaral.

“José Eduardo dos Santos está há tanto tempo no cargo que passou a governar o país como um autêntico monarca”, acusa por sua vez o cientista político Nelson Pestana, da Universidade Católica de Angola, e dirigente do Bloco Democrático.

Folha 8

Angola. BENTO BENTO PEDE ÀS IGREJAS PARA ORAREM PELO FIM DA CRISE


Segundo vice-presidente da assembleia afirma que os políticos sozinhos não têm capacidade para o fazer.

O segundo vice-presidente da Assembleia Nacional, Bento Sebastião Bento, apelou às igrejas para orarem a fim de que Deus auxilie o país a sair da crise económica devido à descida internacional do preço do barril petróleo.

“Os políticos por si só não têm capacidade de pôr fim a crise económica que o país atravessa, sendo necessário que as igrejas se unam e orem a Deus para pôr cobro a esta situação”, disse o parlamentar em declarações publicadas pela Angop.

Bento Bento fez a solicitação, no domingo, ao intervir no culto de acção de graças, que ocorreu na Assembleia Nacional, alusivo ao 81.º aniversário do “encontro” entre o profeta Simão Gonçalves Toco e Deus em Catete – líder fundador da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo, também conhecida como Igreja Tocoísta.

O culto, segundo a agência, contou com as participações da ministra da Cultura, Carolina Cerqueira, dos deputados, membros do Governo Provincial de Luanda e líderes de diversas congregações religiosas.

Rede Angola – Foto: Ampe Rogério/RA

Angola. GENERAL NUNDA DESMENTE ATAQUES DA FLEC/FAC EM CABINDA



Chefe de Estado-Maior das FAA diz que os combates de que fala a organização não passam de um “sonho”.

O general Sachipengo Nunda desmentiu as notícias sobre um suposto ataque da FLEC/FAC a elementos das Forças Armadas Angolanas (FAA) na província de Cabinda.

“A informação veiculada no comunicado da FLEC [FLEC/FAC] é um sonho”, disse ontem o chefe de Estado-Maior das FAA, contrariando assim o último relatório publicado pelo braço armado da FLEC, dando conta da morte de 40 soldados angolanos este mês, vítimas de confrontos militares.

Em declarações à Rádio Nacional de Angola, Sachipengo Nunda referiu que a situação na província é “completamente estável, de dia e de noite”, garantia que estendeu ao resto do país.

“Da mesma forma que temos estabilidade no resto do país, temos também na província de Cabinda”, comentou.

O comunicado da FLEC/FAC, movimento que anunciou em Fevereiro o regresso à via armada, falava em confrontos nos dias 9, 12 e 14 de Abril na província de Cabinda, dos quais resultaram 40 mortos e a apreensão de material bélico.

Rede Angola – Foto: Arimateia Baptista/JAImagens

Brasil. A VIL APOLOGIA DA TORTURA



Aline Frazão*

“Tem dias que a gente se sente
como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
ou foi o mundo então que cresceu”

Chico Buarque, Roda Viva

Estava no Rio de Janeiro e, sentada em frente à televisão, decidi acompanhar em directo a votação da proposta de impeachment à presidenta Dilma Roussef. O primeiro voto foi “não” e na janela ouviu-se um eufórico e sonoro grito: “Gol!” Algum distraído improvável, deambulando pelas ruas do bairro do Catete, pensaria que se disputavam as grandes penalidades da final da Copa do Mundo. Só que não. O caso era bem mais sério e pode definir o futuro da democracia brasileira.

Assisti, boquiaberta, ao desfile de horrores que é a Câmara dos Deputados do Brasil, questionando-me sobre como foi possível a eleição daqueles homens brutos, imorais, populistas e reacciónários. Quem quisesse ler, podia. Estava ali reflectida, na composição daquela exaltada multidão, a História dos privilégios, a História da opressão, do classismo, do machismo, do aproveitamento religioso. Ali não estão, obviamente, representados os interesses das periferias, da população negra, das mulheres, dos povos indígenas, dos homossexuais.

Olhando casos assim, conseguimos compreender os episódios mais horrendos da História da humanidade. Olhando episódios assim, conseguimos dar o verdadeiro valor às conquistas democráticas do Estado de Direito. Olhando episódios como o de domingo, entendemos porquê que se teve que convencionar por escrito uma Carta Universal dos Direitos Humanos.

Para quem é de fora do Brasil e assistiu à transmissão das declarações prévias às votações, é gritante a pobreza de argumentos dos que votaram “sim” ao impeachment. Alguns nem justificam. Não precisam. Não precisaram. Rapidamente nos apercebemos de que o impeachment pouco ou nada tem a ver com a luta contra a corrupção no Brasil. Trata-se de um engenhoso plano político, construído por cima da lei e conduzido por alguns dos piores nomes da cena política brasileira: gente mergulhada até ao nariz em acusações de corrupção, inclusivamente no Lava Jato. Gente como Eduardo Cunha, nada mais do que o presidente da Câmara dos Deputados, deputado federal pelo partido PMDB, réu no Supremo Tribunal Federal pelo seu envolvimento no Lava Jato, o mesmo que pode perder o seu mandato no Conselho de Ética, pelo facto de ter negado ter contas no exterior, mentindo diante da Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras.

Ver Eduardo Cunha presidir friamente a votação do impeachment de Dilma é só uma entre as muitas razões para se pôr em causa a credibilidade deste processo, que se diz anti-corrupção. Ouvir a declaração de voto dos deputados é, efectivamente, o juízo final.

“Pelo aniversário da minha neta”, “pelos maçons do Brasil”, “em memória do meu pai”, “pela nação evangélica”, “pelos fundamentos do cristianismo”, “por Daiane, Mateus e Adriane”, “pela paz de Jerusalém”, “pelos militares de 64″. Estas foram algumas das razões dos deputados federais que votaram pelo impeachment.

Mas nada, nada de compara à perversa e criminosa declaração de Jair Bolsonaro, do PSC:
“Perderam em 64. Perderam agora em 2016. Pela família e a inocência das crianças, que o PT nunca teve, contra o comunismo, pela nossa liberdade, contra o Foro de São Paulo e em memória do coronel Ustra, o pavor de Dilma Roussef, pelas nossas Forças Armadas, pelo Brasil acima de tudo e por Deus acima de todos, o meu voto é sim!”

Quem foi o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra? Nada mais do que um dos mais temidos torturadores da Ditadura Militar, um dos responsáveis pela tortura da própria presidenta. Não há nada mais odioso do que a exaltação da ditadura, da tortura, da repressão, em plena Câmara dos Deputados, em directo para todo o país. Impune, vil, infame e sem vergonha.

É, de facto, preocupante o que pode acontecer no Brasil nos próximos meses. A sociedade brasileira encontra-se refém de uma perigosa polarização ideológica que pode pôr em risco as conquistas das últimas décadas. Independentemente da responsabilidade ou não de Dilma Rouseff, assistimos aqui a uma grave ameaça à democracia brasileira.

Desde o outro lado do Atlântico, esperamos que o povo brasileiro possua a lucidez e o bom senso para vencer esta crise, para que a História não se repita. Um retrocesso em solo brasileiro passaria uma factura alta não só no contexto sul-americano, mas também a todos os países ao sul do mundo, todos os que depositavam no Brasil a esperança de ser o farol da luta contra a pobreza e a exclusão social, pela democracia plena, aquela em que os interesses de todos têm o mesmo peso.

*Rede Angola

GUERRA HÍBRIDA DAS HIENAS DILACERA O BRASIL



Pepe Escobar [*]

A sombria e repulsiva noite em que a presidente da 7ª maior economia do mundo foi a vítima escolhida para um linchamento de hienas num insípido e provinciano Circo Máximo viverá para sempre na infâmia.

Por 367 votos a favor e 137 contra, o impeachment/ golpe/ mudança de regime contra Dilma Rousseff foi aprovado pelo circo parlamentar brasileiro e agora irá para o Senado, onde uma "comissão especial" será instituída. Se este for aprovado, Rousseff será então marginalizada durante 180 dias e um ordinário Brutus tropical, o vice-presidente Michel Temer, ascenderá ao poder até o veredicto final do Senado.

Esta farsa desprezível deveria servir como um alerta não só para os BRICS como também para todo o Sul Global. Quem é que precisa de NATO, R2P ("responsability to protect") ou"rebeldes moderados" quando pode obter a sua mudança de regime apenas com o ajustamento do sistema político/judicial de um país?

O Supremo Tribunal brasileiro não analisou o mérito da questão – pelo menos ainda não. Não há qualquer evidência sólida de que Rousseff tenha cometido um "crime de responsabilidade". Ela fez o que todo presidente americano desde Reagan tem feito – para não mencionar líderes de todo o mundo: juntamente com o seu vice-presidente, o desprezível Brutus, Rousseff foi ligeiramente criativa com os números do orçamento federal.

O golpe foi patrocinado por um vigarista certificado, o presidente da câmara baixa Eduardo Cunha, confirmadamente possuidor de várias contas ilegais na Suíça, listado nos Panama Papers e sob investigação pelo Supremo Tribunal. Ao invés de reger hienas quase analfabetas num circo racista, em grande medida cripto-fascista, ele deveria estar atrás das grades. Custa a crer que o Supremo Tribunal não tenha lançado acção legal contra Cunha. O segredo do seu poder sobre o circo é um gigantesco esquema de corrupção que perdura há muitos anos, caracterizado pelas contribuições corporativas para o financiamento das suas campanhas e de outros.

E aqui está a beleza de uma mudança de regime light, uma revolução colorida da Guerra Híbrida, quando encenada numa nação tão dinamicamente criativa como o Brasil. A galeria de espelhos produz um simulacro político que teria levado descontrucionistas como Jean Braudrillard e Umberto Eco, se vivos fossem, a ficarem verdes de inveja. Um Congresso atulhado com palhaços/tolos/traidores/vigaristas, alguns dos quais já estão a ser investigados por corrupção, conspirou para depor uma presidente que não está sob qualquer investigação formal de corrupção – e que não cometeu qualquer "crime de responsabilidade".

A restauração neoliberal 

Ainda assim, sem um voto popuplar, os maciçamente rejeitados gémeos Brutus tropicais, Temer e Cunha, descobrirão que é impossível governar, muito embora eles encarnassem perfeitamente o projecto das imensamente arrogantes e ignorantes elites brasileiras. Um triunfo neoliberal, com a "democracia" brasileira espezinhada abaixo do chão.

É impossível entender o que aconteceu no Circo Máximo neste domingo sem saber que há um rebanho de partidos políticos brasileiros que está gravemente ameaçado pelos vazamentos ininterruptos da investigação de corrupção Lava Jacto. Para assegurar a sua sobrevivência, a Lava Jacto deve ser "suspensa"; e isto será feito sob a falsa"unidade nacional" proposta pelo desprezível Brutus Temer.

Mas antes a Lava Jacto deve produzir um escalpe ostensivo. E este tem de ser Lula na prisão – comparado ao qual a crucificação de Rousseff é uma fábula de Esopo. Os media corporativos, conduzidos pelo venenoso império Globo, saudariam isto como a vitória final e ninguém se preocuparia com a aposentadoria da [investigação] Lava Jacto.

Os mais de 54 milhões que em 2014 votaram pela reeleição de Roussef votaram errado. O "projecto" global é um governo sem voto e sem povo; um sistema parlamentar de estilo brasileiro, sem aborrecimentos com "eleições"incómodas e, crucialmente, incluindo campanhas de financiamento muito "generosas" e flexibilidade que não obrigue a incriminar companhias/corporações poderosas.

Em resumo, o objectivo final é "alinhar" perfeitamente os interesses do Executivo, Legislativo, Judiciário e media corporativos. A democracia é para otários. As elites brasileiras que fazem o controle remoto das hienas sabem muito bem que se Lula concorrer outra vez em 2018 vencerá. E Lula já advertiu; ele não endossará qualquer "unidade nacional" sem sentido; estará de volta às ruas a combater qualquer governo ilegítimo que surja.

Agora estamos abertos à pilhagem 

No pé em que está, Rousseff corre o risco de se tornar a primeira grande baixa da investigação Lava Jacto, com origem na NSA , que perdura há dois anos. A presidente, reconhecidamente uma gestora económica incompetente e sem as qualificações de um político mestre, acreditou que a Lava Jacto – a qual praticamente impediu-a de governar – não a atingiria porque ela é pessoalmente honesta. Mas a agenda não tão oculta da Lava Jacto foi sempre a mudança de regime. Quem se importa se no processo o país for deixado à beira de ser controlado exactamente por muitos daqueles acusados pela iniciativa anti-corrupção?

O desprezível Brutus Temer – uma versão fútil de Macri da Argentina – é a conduta perfeita para a implementação da mudança de regime. Ele representa o poderoso lobby bancário, o poderoso lobby do agronegócio e a poderosa federação de indústrias do líder económico do Brasil, o estado de São Paulo.

O projecto neo-desenvolvimentista para a América Latina – pelo menos unindo algumas das elites locais, investindo no desenvolvimento de mercados internos, em associação com as classes trabalhadoras – agora está morto, porque o que pode ser definido como capitalismo sub-hegemónico, ou periférico, está atolado na crise após a derrocada de 2008 provocada pela Wall Street. O que resta é apenas restauração neoliberal, a TINA ("there is no alternative"). Isto implica, no caso brasileiro, a reversão selvagem do legado de Lula, políticas sociais, políticas tecnológicas, o impulso para expandir globalmente grandes companhias brasileiras competitivas, mais universidades públicas, melhores salários.

Numa mensagem à nação, Brutus Temer admitiu isto; a "esperança" de que o pós o impeachment será absolutamente excelente para o "investimento estrangeiro", pois lhe permitirá pilhar a colónia à vontade; um retorno à tradição histórica do Brasil desde 1500.

De modo que a Wall Street, o Big Oil dos EUA e os proverbiais "American interests" vencem este round no circo – graças às, mais uma vez proverbiais, elites vassalas/compradoras. Executivos da Chevron já estão a salivar com a perspectiva de porem as mãos nas reservas de petróleo do pré sal; que já foram prometidas por um vassalo confiável na oposição brasileira.

O golpe continua. As hienas reais ainda não atacaram. De modo que isto está longe de ter terminado. 

NR: Ao publicar um artigo resistir.info não está necessariamente a corroborar todo o seu conteúdo.

Ver também: 

[*] Autor de Globalistan (2007), Red Zone Blues (2007), Obama does Globalistan (2009) e Empire of Chaos(2014) e 2030 (2015).   Seu mais recente projecto editorial é http://newsbud.com .

O original encontra-se em www.rt.com/op-edge/340207-rousseff-brazil-impeachment-regime/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

Portugal. PANAMÁ PAPERS? ESQUERDA FALA EM PASSOS-MASSAMÁ PAPERS



O nome de Passos Coelho surge num texto do site Geringonça associado aos intitulados Massamá Papers.

Dos Panama Papers aos Massamá Papers. A famosa fuga de informação da empresa de advogados Mossack Fonseca levou à divulgação de centenas de nomes de políticos, celebridades e desportistas que usavam offshores através da empresa panamiana.

Nesta senda, Luís Vargas, através do site Geringonça, escreveu um artigo que coloca em causa a posição de Pedro Passos Coelho enquanto governante e líder da oposição, sugerindo que há uma forma distinta de agir perante os dois cargos.

“Pedro Passos Coelho, na sua corporização recente como líder da oposição, vem defendendo nos últimos dias “uma resposta à escala europeia” para a questão das offshores e anuncia que o PSD pretende apresentar uma recomendação ao Governo para um “tratamento mais forte” contra paraísos fiscais”, esclarece, recuperando a posição mais recente do antigo primeiro-ministro.

Por outro lado, Luís Vargas questiona-se sobre qual a opinião de Passos Coelho quando era chefe de Executivo. “Mas onde estava Passos Coelho quando detinha de facto o poder para combater a evasão fiscal dos mais abastados?”

“Será possível que estivesse, sei lá, reunido com o presidente do Panamá? A assinar um acordo, imagine-se, para tratar de excluir esse país da lista oficial de paraísos fiscais do Governo português? Permitindo, vejam bem, que o Panamá passasse a ser considerado um país perfeitamente normal em termos tributários?”, insinua o autor, revelando que o social-democrata não tomou uma posição em relação ao combate à evasão fiscal.

“Será que Passos Coelho tem a memória de um passarinho? Ou será que não tem mesmo vergonha na cara?  Talvez a resposta esteja contida em ambas as hipóteses”, conclui. 

Inês Figueiredo - Notícias ao Minuto

Portugal. Banif: Comissão Europeia não tem "competências" para impor resolução



A comissária europeia responsável pela Concorrência, Margrethe Vestager, sublinhou hoje não ser competência de Bruxelas impor resoluções aos bancos, num comentário às afirmações do ministro das Finanças, Mário Centeno, sobre pressões europeias no caso Banif.

"Uma das razões pela qual não impusemos a resolução é porque isso não é o que fazemos, não é o nosso trabalho, nem a nossa competência. Pertence às autoridades de resolução fazê-lo em Portugal. Se o fizerem, é sua responsabilidade", afirmou a responsável.

Na sua segunda audição na comissão de inquérito sobre o processo Banif, na terça-feira, Mário Centeno afirmou: "Que não tenha havido uma forte imposição, e uma forte posição negocial da Direção-Geral da Concorrência nesta fase do processo, não posso corroborar".
Em conferência de imprensa hoje, em Bruxelas, Margrethe Vestager garantiu que a Comissão "não pode, não faz, nem o fará", em resposta à participação no processo de resolução, referindo ser competência comunitária avaliar quando estão em causa ajudas estatais.

"Temos responsabilidade, sobre o que é a nossa responsabilidade, que é controlar as ajudas estatais e garantir que os apoios são fornecidos a uma instituição que é viável. Mas não é nossa responsabilidade colocar uma instituição num processo de resolução ou escolher a quem deve ser vendida", argumentou.

Margrethe Vestager referiu que a Comissão Europeia tem sido mencionada várias vezes nas discussões em Portugal e recordou que será enviada a documentação requerida pela comissão de inquérito, assim como dará "respostas na substância" às perguntas que têm surgido.

Na terça-feira, o vice-presidente da Comissão Europeia responsável pelo Euro quis "clarificar" que o executivo comunitário "não impõe soluções aos Estados-membros" no que respeita a bancos em dificuldades, e garantiu que as regras europeias aplicam-se a todos de igual forma.

"A Comissão não impõe soluções aos Estados-membros no que respeita a bancos em dificuldades. Essa é uma escolha das autoridades relevantes e é regulada pela diretiva europeia sobre recuperação e resolução de bancos. No entanto, se uma operação envolve medidas de apoio estatais, a Comissão tem de fazer uma avaliação no quadro das regras sobre ajudas estatais, e determinadas condições podem ser aplicadas. Estas regras são aplicadas a todos os Estados-membros independentemente da nacionalidade dos bancos", declarou.

A 20 de dezembro, um domingo, o Governo e o Banco de Portugal anunciaram a resolução do Banif, com a venda de parte da atividade bancária ao Santander Totta, por 150 milhões de euros, e a transferência de outros ativos - incluindo 'tóxicos' - para a nova sociedade veículo.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. CIDADÃOS DE FRONTEIRA



Pedro Ivo Carvalho* Jornal de Notícias, opinião

O Governo que aumentou os impostos sobre os combustíveis e veio logo pedir pelas alminhas aos portugueses para não atestarem o carro em Espanha é o mesmo que agora quer criar um regime de exceção fiscal para as transportadoras abastecerem, em solo luso, os camiões aos preços de nuestros hermanos. Por isso, já sabe, caro camionista: esqueça Espanha. Pare a 500 metros da fronteira, onde encontrará offshores do gasóleo só para si.

As grandes transportadoras fizeram o que lhes competia: ameaçaram com boicotes. E desembainharam um estudo interno que diz que oito em cada dez camiões enchem o depósito do outro lado da fronteira. Logo, que há muito dinheiro que se perde. Como o Governo não precisa de um conflito com camionistas a abrir os telejornais, percebe-se a cedência política a um setor que tem a capacidade de parar o país. O que não se percebe nem se aceita é a grosseira injustiça que lhe está subjacente.

O desconto fiscal discrimina todo o território, com exceção de Bragança, Elvas e Almeida; discrimina as outras empresas que precisam de gasóleo para desenvolver a sua atividade; e discrimina o numeroso exército de cidadãos que não são empresas e gastam parte considerável do rendimento mensal em combustível. Convém ter presente que entre nós se vende, depois de impostos, a quinta gasolina mais cara da União Europeia e o sexto gasóleo mais alto entre 28 países.

A bem da equidade fiscal, não se pode aumentar os impostos para todos e criar exceções para um setor profissional porque a sua capacidade reivindicativa pesa 35 toneladas. Depois, sobra um tanque de dúvidas. A medida vai ser alargada aos transportadores de passageiros? Quais serão os critérios para escolher os concelhos e os postos de combustível a quem sairá o euromilhões? Que regras vão ser criadas para impedir que se institucionalize um negócio paralelo e informal de descontos para não camionistas? O que vai fazer o Governo se os postos em Espanha rapidamente chegarem à conclusão de que lhes basta reduzir um pouco à margem de lucro (uma vez que o acerto de preço terá como referência apenas o diferencial fiscal) para poderem voltar a ser atrativos? E, finalmente, qual é a base económica que sustenta esta decisão? A julgar pelo que diz o ministro-adjunto Eduardo Cabrita ("o que existir de perda de receita será compensado pelo aumento dos consumos"), não é nenhuma.

Eu não quero ser desmancha-prazeres, mas isto tem tudo para dar asneira. Oxalá me engane. Oxalá seja possível, como deseja o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, "arranjar uma solução para todos". Todos os camionistas, entenda-se.

*Editor executivo-adjunto

O SEXO DOS ANJOS DO BLOCO DE ESQUERDA E A ESTERILIDADE DA LÍNGUA ASSEXUADA



O BE traz à atualidade a discussão do coisa alguma. Cartão de cidadão, cartão de cidadania. O BE quer discutir o sexo dos anjos e esterilizar a língua portuguesa. Somos todos cidadãos… e nisso estão incluídas as mulheres, as cidadãs. La Palisse não diria melhor. O BE nem teve a imaginação de propor Cartão de Identidade. Assim tiravam-se as teimas e dava para todos sem diferenciações nem rudezas da língua, para o BE.

Luísa Meireles aborda o tema e as sensibilidades ao extremo do BE, que propõe a discussão do sexo dos anjos, ou será das anjas?

Cartão de Identidade está bem. Isto para não voltarmos ao Bilhete de Identidade. Afinal mais adequado e concordante com as sensibilidades bloquistas, porque seria o BI (era)… BI, dá para os dois lados. Perfeito.

De matéria de interesse a abordagem deste Expresso Curto são as notas verdes, aos montes, da Isabel da corrupção e gandaia angolana das elites lá do país. E os que miserabilizam que se lixem e morram aos milhares sem os serviços de saúde adequados. Cuba não ensinou? Ensinou. O que não ensinou foi a despertarem para a corrupção e os roubos aos angolanos. Desvios da lição cubana que se refletem na pobreza extrema do povo e no fosso que vai de uns poucos para os milhões... de carenciados.

Vamos nessa e em mais que o Expresso Curto nos traz à mistura com peixes verdes. (CT / PG)

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Luísa Meireles – Expresso

Um desabafo e… peixes verdes

Permitam-me primeiro um desabafo, à laia de confissão: não gosto da ditadura do “politicamente correto”, sobretudo quando aplicado às causas que não o merecem de todo. E acredito pouco numa linguagem neutra, pela simples razão que não o somos. Ninguém é. Acredito nas virtudes da aprendizagem, da educação e da evolução, mas francamente, não compreendo: como é que eu, mulher, trabalhadora, devedora e credora de direitos e deveres, me sinto mais incluída na sociedade se passar a ter um cartão de cidadania, em vez do atual cartão de cidadão? Atingirei o tal teto de vidro por causa disso? Tenho dúvidas. A discriminação sexista – e que existe, feia, forte e bruta - não passa por aqui, esconde-se em outros detalhes.

Espantado o leitor? Tem razão. Não é tema. Mas fiquei sobressaltada quando ontem li esta pequena noticia sobre a possibilidade do Governo admitir mudar o nome do dito. Com uma espécie de tempestade das grossas a gerar-se sobre as nossas cabeças, isto não é assunto e não acredito que a grande maioria dos portugueses o veja como tal. Sejamos sérios. Questionado sobre a proposta bloquista, o ministro-adjunto admite pensar para o futuro e sem encargos com a substituição dos cartões. Espero que haja bom senso. Há um bloco de medidas que o Governo pretende implantar em termos de igualdade e seguramente que esta não pode ser a principal.

Tema sim é o dos peixes verdes que habitam os olhos de Isabel dos Santos, para glosar o texto que o meu colega Nicolau Santos aqui escreveu ontem: o problema gigante que começa a esboçar-se depois do súbito anúncio, no sábado, de que, afinal, já não havia acordo entreIsabel dos Santos e o Caixabank no BPI, a OPA lançada por aquele sobre este, tudo agravado pela tomada de posição da filha do Presidente angolano sobre o “diploma BPI”, que considerou “sem precedentes e parcial”. “Uma lei à medida”, chamava-lhe Santana Lopes, “uma lei fotografia”, dizia por sua vez António Vitorino no programa de comentário de ambos ontem, na SIC. Os termos do comunicado são duríssimos (na íntegra aqui), o BPI não faz por menos, (e também aqui) acusando a empresária angolana de mentir. O Governo ainda não reagiu, mas o Público conta que o diploma causou tensão dentro do Executivo. Só pode estar preocupado, dado o historial das relações entre Portugal e Angola e a interligação profunda entre as duas sociedades, nomeadamente do ponto de vista económico. O João Vieira Pereira comenta.

Soluções? Por enquanto não há, embora haja muitas possibilidades, como reconhecia ainda ontem o Primeiro-ministro em conversa com os jornalistas na festa de aniversário do PS. Ainda há esperança. Consequências? Vamos aguardar. Retaliação à vista? Provavelmente. Dificuldades? Mais que certas. Sob que forma? Esperam-se várias e de vários lados. Vai ser mau para ambos os países? Com certeza. Lembre-se do Mantorras, titulava o Observador, o jogador angolano que foi apanhado a conduzir com uma carta de condução angolana, não válida em Portugal, e gerou uma vaga de detenções de portugueses em Angola pelo mesmo motivo. Não vai ser bonito de ver e não ser bom para nenhuma das partes. É a parte em que os políticos têm de agir com pinças e demonstrar todos os seus talentos.

OUTRAS NOTICIAS

São sempre na mesma onda. Quando o Governo de António Costa tomou posse, quis por a política à frente das finanças e inventou-se até uma palavra: a desfinanciarização do discurso. Tal como estão as coisas, não é possível tão cedo. A política regressou ao palco, é certo, mas é de finanças que se fala ainda e sempre.

Exemplos? Banif. A Comissão de Inquérito segue o seu curso mas não promete grandes resultados. Entre o que o ministro Mário Centeno e o governador do Banco de Portugal disseram ou terão dito e o que quiseram dizer, ficou o “jogo do entala”, como dizia Rui Tavares. Quem entala ou quer entalar quem? Certo é que, depois das inflamadas intervenções do BE e do secretário de Estado Mourinho Félix sobre a falha grave de Carlos Costa e interrogações sobre o que disse ou não disse o ministro, eis que, ontem, o tom baixou de intensidade, como aqui explicam a Alexandra Simões de Abreu e a Isabel Vicente ou o DN aqui e aqui.

Sobre o que verdadeiramente aconteceu com o banco-que-já-era há de ficar sempre uma nebulosa. Entre as regras da Comissão Europeia(leia-se interpretação livre da Direção Geral de Concorrência), o papel do BCE e do Banco de Portugal e ainda do ministro das Finanças (que ainda ontem reafirmou que não disse quaisquer falsidades, como lhe imputava o PSD) há atas barradas a preto, deveres de sigilo e escasso controlo. A seguir.

Depois, a Comissão Europeia veio, mais um vez (e ainda dizem que não há ideologia na Comissão!), colocar baias ao Governo: aumentar o salário mínimo não resulta. António Costa respondeu-lhe ontem: “não estamos condenados a viver num país de baixos salários”. É a resposta taco-a-taco, nas vésperas do Governo aprovar em Conselho de Ministros e apresentar o Programa de Estabilidade, que o Primeiro-ministro refere como um “anexo” ao que considera importante: o Programa Nacional de Reformas, onde se contêm as reformas que quer implantar e a propósito do qual prometeu também surpresas.

Quanto ao Programa de Estabilidade, houve reunião ontem entre os parceiros sobre o assunto. Não há sombra de plano B. Mas o ministro Centeno disse que vai haver abrandamento do crescimentoda economia: 1,8% para o ano. Será também amanhã que será aprovada a descida do IVA para restauração. O BE, entretanto, apresenta hoje um programa económico alternativo, em jeito de contributo... e pressão.

Também amanhã é dia da função pública: o Governo paga a segunda fatia de 25% da reposição dos cortes dos seus salários. EAntónio Mexia vai ganhar 2,6 milhões/ano.

Depois, quanto ao gasóleo, tão logo o Governo anunciou a redução dos preços do gasóleo e de portagens em ex-scuts para transportadores profissionais, veio logo o argumento dos restantes:então e eu? É o que diz o presidente do ACP, Carlos Barbosa, de quem se fala poder vir a ser candidato à Câmara de Lisboa. Quanto à guerrados suinicultores continua. Deu dois manifestantes detidos e um ferido.

E ainda há o aspeto social da crise: 82 pessoas por dia pedem ajuda à Deco por causa do sobre-endividamento. O gráfico é estarrecedor: a confirmar-se a tendência pode chegar-se ao fim do ano com quase 30 mil pedidos de ajuda, mais do que o registado em 2014 e 2015. Mas então a crise ainda não tinha acabado? Nãããão.

Virando a página do económico, aterramos em Lisboa. Atenção, lisboetas, preparem-se para um longo período de obras (vêm aí eleições, não se esqueçam): as da nova Feira Popular começam até ao fim do ano, as do chamado Eixo Central da cidade já esta semana. Mas a capital vai ficar mais bonita, haja paciência. O presidente da Câmara anunciou-o ontem.

Ah, e não perca esta deliciosa notícia sobre o comunista que o Bloco desviou para as negociações com o PS sobre a pobreza. Chamam-lhe o Chalana e sabe a potes do assunto. Apela à sublevação dos pobres.

Lá fora

Ainda o Brasil, que não nos cala o espanto. O Ricardo Costa acha que só quem não acompanha a política deste país se surpreende, mas eu, que não lhe perco o rasto, pasmo. Assombra-me mesmo a impunidade, o descaramento, a desfaçatez, a intolerância, o ódio. É o Brasil diante do abismo sem fundo, como se percebe nesta notícia: o corrupto Eduardo Cunha entregou o impeachment e deve receber a amnistia em troca. E o povão vai deixar?

E, claro, os Estados Unidos, cuja caminhada em direção às presidenciais se jogou ontem nas primárias de Nova Iorque. São as mais disputadas em décadas sem claros vencedores ainda nem entre Republicanos nem Democratas. Nova Iorque é o segundo estado com mais representantes depois da Califórnia, com 291 delegados, dos quais 44 são superdelegados. O Luís Faria explica o que está em causa. O El Mundo diz que para os republicanos ou é Trump ou uma guerra civil. Foi Trump e Hillary, sem margem para dúvidas, diz oNew York Times, que também mostra como está a corrida global. Se quiser ler em português, veja aqui.

Da Rússia, diz o Inteligência Económica que vem aí “Grande malandrice”: Putin anunciou a desclassificação de milhares de documentos entre 1930 e 1989 e parece que vão aparecer muitos "cadáveres políticos" (diz ele). Aguardemos.

Em Espanha, começou a contagem para as eleições do 26-J (26 de junho, à portuguesa), mas os socialistas não dão tudo como perdido e fazem fé ainda numa investidura. Em França, desde 31 de março que há manifestações na Praça da República todos os dias contra a alteração das leis do emprego.

Mais um toque de Europa: o desmantelamento de Schengen, de que tanto se tem falado por causa dos refugiados, custaria à Europa algo como 15 mil milhões de euros por ano. Com tantos problemas para resolver, ainda vamos comprar mais este? E um ultimato: o da Turquia, que promete fazer tábua rasa do acordo com a União Europeia se não forem levantadas as restrições aos vistos até junho.

O autoproclamado Estado Islâmico promete intensificar a estratégia de terror: agora diz que o alvo serão as praias de França, Itália e Espanha, alvos impossíveis de proteger. Um arrepio. A França anunciou o prolongamento do estado de emergência e o Governo português disse que quer tornar o Algarve "o destino turístico mais seguro da Europa". Espero que sim. Em nome de todos nós.

FRASES

"O ajustamento implicou a perda de muitos graus de liberdade no que diz respeito à capacidade de definirmos o caminho a seguir",Miguel Albuquerque, presidente do Governo regional da Madeira, ao Público.

"Se a senhora ministra da Administração Interna disser que a Caixa Geral de Aposentações está a aplicar bem o corte, teremos de partir para a luta", Peixoto Rodrigues, presidente do Sindicato Unificado da Polícia, ao I.

"Visto de Barcelona ou Madrid, o nosso terrritório é um espaço regional no contexto da Península Ibérica", Eduardo Catroga, ex-ministro das Finanças, ao I.

"Portugal não pode ser uma economia-filial", Sandro Mendonça, economista e professor no ISCTE

O QUE ANDO A LER

Dois pequenos livros, em tudo diversos. Explico. O poeta e embaixador Luís Filipe Castro Mendes, o novo ministro da Cultura, deveria reformar-se em breve e, nessa expectativa, escreveu um livro, de poesia, claro: “Outro Ulisses regressa a casa” (Assírio & Alvim). A vida trocou-lhe as voltas. Regressou a casa, sim, mas não para a reforma. Agora que está no cargo, tenho vontade de lhe perguntar: “Quem encontraste hoje que te oferecesse / o puro leite da ternura humana / e não o mel da lisonja ou a indiferença comum?” Chamou-lhe poema de Natal e eu, abusivamente, chamo-lhe de ministro.

O outro foi uma descoberta, um pequeno livro que não aspira a ser mais do que servir para recolha de fundos para uma das mais nobres e desconhecidas causas: o Resgate de crianças escravas no Gana, que a jornalista Alexandra Borges escreveu a meias com a sobrinha. O livro não é novo, mas veio-me parar às mãos por um acaso e lê-lo foi uma revelação. Na pátria de Kofi Anan, há crianças também chamadas kofies, não porque nasceram a uma sexta-feira, como o ex-secretário-geral da ONU, mas porque foram vendidas nesse dia da semana. Valeram 30 euros aos pais, tinham 3 ou 4 anos, não sabem o nome nem a idade. Trabalham para os pescadores do lago Volta 14h por dia, 7 dias por semana. E morrem. É um crime contra a Humanidade e a Alexandra teve a coragem e a persistência de lutar por elas. Fundou uma ONG, Filhos do Coração. Eu não sabia. E o leitor, sabe?

Ding-dong! Tempo de terminar! Tenho um bom dia! É Primavera e, por enquanto, há Sol.

Fique connosco ao longo do dia, no Expresso on-line e, depois, ao fim do dia, no Expresso Diário.


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