quinta-feira, 21 de julho de 2016

São Tomé e Príncipe. Rir, para não chorar. PRESIDENTE ELEITO AFINAL NÃO FOI ELEITO



PROVÁVEL SEGUNDA VOLTA ELEITORAL

Dir-se-ia que o país é o da ficção e do “banho” (compra de votos). Pelo menos no dia seguinte às eleições presidenciais a Comissão Nacional de Eleições anunciou a eleição do candidato da família Trovoada, Evaristo Carvalho, por uma margem muitíssimo reduzida. Mesmo assim era o novo PR. Agora é a mesma CNE que vem desmentir e dizer que não, que Evaristo não atingiu os 50% dos votos e mais um. Que por esse motivo não foi eleito PR. Nem ele nem nenhum dos candidatos na contenda. A segunda volta das eleições presidenciais em São Tomé e Príncipe é mais que provável. Leia, inclusa a seguir, a notícia do Téla Nón, jornal santomense online, com os respetivos pormenores.

Não deixa de ser estranho esta gafe da CNE e a pressa com que anunciou o vencedor das eleições. No país da ficção, do “banho” e dos cambalachos, somado à gula pelo poder da família Trovoada. O recuo do anúncio apressado terá a ver com os protestos dos restantes candidatos? Poderia estar mais um cambalacho em curso? Alguma vez se saberá o que realmente aconteceu? Uma certeza existe: em sistemas e esquemas como o daquele país o melhor é nunca nos fiarmos. Ali, se for conveniente a uns quantos, parece que até o Pokemon pode vir a ser eleito. (PG)

CEN desmente eleição do novo Presidente da República nas eleições de 17 de Julho

Num comunicado distribuído esta tarde a imprensa, e devidamente assinado pelo Presidente da CEN Alberto Pereira (na foto), é anunciado que «provisoriamente nenhum candidato conseguiu obter mais de metade dos votos validamente expressos, estando assim aberta a hipótese para a realização de uma segunda volta das eleições presidenciais 2016», diz o comunicado de Alberto Pereira.

O Presidente da CEN desmente assim o anúncio feito por ele mesmo na madrugada de 18 de Julho, em que anunciou provisoriamente a eleição do candidato Evaristo Carvalho na primeira volta das eleições como novo Presidente da República, uma vez ter conquistado 50,1% dos votos expressos nas urnas de 17 de Julho.

Alberto Pereira e a Comissão Eleitoral Nacional, justificam o desmentido com base nos resultados das eleições realizadas no dia 20 de Julho na Roça Maria Luísa, em que Evaristo Carvalho conquistou 31 votos, Pinto da Costa 18 e Maria das Neves 14.

Segundo a CEN a recepção das actas das mesas de voto na diáspora veio confirmar que afinal de contas nenhum dos candidatos conseguiu mais de 50% dos votos expressos nas urnas no acto eleitoral de 17 de Julho.

Pela primeira vez na história da democracia são-tomense e da existência da Comissão Eleitoral Nacional, acontece anúncio de vitória eleitoral, que depois acaba por ser desmentido pela mesma instituição.

Abel Veiga - Téla Nón - Na foto: Evaristo Carvalho, o PR falsamente anunciado eleito pela CNE.

Angola. ESTABILIZADOR DA SOCIEDADE



Jornal de Angola, editorial

Numa altura em que um dos maiores desafios que a sociedade enfrenta consiste no resgate de valores morais e cívicos, urge repensarmos todos o papel da família de Cabinda ao Cunene.

Durante longos anos, a família angolana passou por sucessivas provas que, em grande medida, contribuíram para os níveis de desestruturação e problemas por que passou o principal núcleo da sociedade em Angola. 

O conflito armado terminou há já algum tempo e é verdade que, em muitos aspectos, vivemos e convivemos ainda com sequelas da fase trágica por que Angola passou.

Além da perda dos seus membros, muitas famílias foram forçadas à deslocação dentro e fora do país, com graves repercussões no processo de adaptação e recomeço. 

Não há dúvidas de que o principal segmento mais afectado, ao longo desse tempo, foi a família, cujos valores conheceram níveis acentuados de degradação. Trata-se de uma realidade que sucedeu em grande medida também por causa de factores externos com os quais estamos inevitavelmente confrontados. Num mundo globalizado em que se encurtaram consideravelmente as distâncias, em que os valores culturais são absorvidos com excessiva rapidez, o nosso país não esteve imune. E fruto dessa interacção, o processo de aculturação, em muitos aspectos, foi inevitável, uma realidade que serve hoje como desafio na medida em que urge resgatar  e preservar os valores e tradições que mais se identificam com os povos de Angola. 

Terminada a guerra, foi empreendido um grande esforço por parte das instituições do Estado, e com a reabilitação das infra-estruturas, com o processo de reencontro e reconciliação de numerosas famílias, numerosos desafios renovaram-se ao longo dos últimos anos. 

O processo de criação de condições para que as famílias realizem o seu sonho passou a ser um desafio imenso, razão pela qual as instituições do Estado contam com todas as organizações da sociedade civil. 

Mas tal como foi possível enfrentar e vencer a referida etapa, que contribuiu sobremaneira para a desestruturação de numerosas famílias, para a absorção de atitudes nem sempre consentâneas com a nossa cultura, podemos igualmente superar a fase actual. 

Trata-se de um exercício que deve engajar todos os sectores da sociedade e ser encarado como o ponto de partida para invertermos o actual curso dos acontecimentos e desafios junto das famílias. Para todos os efeitos, está em causa a recuperação do papel da família na sociedade enquanto núcleo por via do qual podemos criar novos alicerces em que se podem basear a vida familiar e individual. O Vice-Presidente da República renovou há dias o repto a todos os angolanos, a todas as famílias e a todas as instituições do país para repensarem o papel da família na sociedade.

“Em nosso entender, o Governo deve, juntamente com outros parceiros sociais, como a Igreja, estudar as formas de cooperação que garantam a manutenção do papel da família, como agente estruturante e estabilizador da sociedade”, disse Manuel Vicente em representação do Chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, na abertura da 17ª Assembleia Plenária dos Bispos do Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar.

O chamado principal núcleo da sociedade continua no centro das principais preocupações do Estado, tal como provam  sucessivas iniciativas da parte do Executivo. Desde a aprovação da Lei Contra a Violência Doméstica, adopção e ratificação de numerosas Convenções e Tratados Internacionais, grande parte com uma forte incidência sobre a família, vários passos positivos têm sido dados. Da parte das instituições, a julgar pela intervenção do Vice-Presidente, há um firme compromisso do Estado para que o problema da família não seja apenas encarado como um assunto do Estado para passar a ser um tema de todos. Cada membro de um agregado familiar, cada chefe de família, independentemente do género, cada instituição da sociedade como as igrejas, as associações profissionais, tem o dever de jogar o papel que dela se espera para bem da família. 

É preciso que a reflexão sobre o estado da família contribua também para a busca de melhores resultados no combate contra a violência doméstica, maus tratos contra crianças, idosos, vandalismo e outras práticas sociais reprováveis. Estamos certos de que todos os sectores da sociedade abraçam o repto do Vice-Presidente para que tenhamos como foco principal, neste processo de resgate de valores e avaliação do papel da família, o principal núcleo da sociedade para bem de todos os membros da família angolana. E nisto, vale a pena destacar o papel incansável das igrejas que, desde sempre, se mantiveram como parceiros do Estado, contribuindo para a construção de uma sociedade livre, justa, democrática, solidária, de paz, igualdade e progresso social. 

Mais do que apontar-se o dedo ou caminhar para um exercício de recriminações entre todos os membros da sociedade, vale a pena olharmos para a frente e termos a família como agente estruturante e estabilizador da sociedade.

Angola. “AMNISTIA É MERO EXPEDIENTE”



O activista e jornalista angolano Rafael Marques disse hoje que a amnistia para crimes com penas até 12 anos, aprovada pela Assembleia Nacional, é um “expediente político” para “aliviar a pressão” sobre o Presidente José Eduardo dos Santos.

A medida poderá ser aplicada já em Agosto a 8.000 condenados, por crimes cometidos até 11 de Novembro de 2015 – com excepção dos de sangue ou sexuais -, mas Rafael Marques diz que “serve também para tentar dar uma folga ao sistema judicial”, que ficou “totalmente exposto como um mero acessório político do Presidente e um antro de violação dos direitos humanos”, referindo-se nomeadamente ao caso dos 17 activistas angolanos.

A amnistia aprovada pelo Governo, e agora pelos deputados do MPLA, beneficiará igualmente os 17 activistas condenados pelo Tribunal de Luanda a penas de prisão de até oito anos e meio, por suposta e nunca provada rebelião e associação de malfeitores.

“Sempre foi um caso político e é com a política que ele [Presidente José Eduardo dos Santos] está a resolver. Se tivéssemos de aceitar, não o podíamos fazer porque não fizemos nada de mal”, apontou em Luaty Beirão, em liberdade, por decisão do Tribunal Supremo, depois de um ano entre prisão preventiva, domiciliária e cumprimento de pena após a condenação, a 28 de Março.

O ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Rui Mangueira, disse na quarta-feira, na apresentação da proposta de Lei de Amnistia na Assembleia Nacional – aprovada sem votos contra -, que há um trabalho a ser feito pelos Serviços Penitenciários, em coordenação com os tribunais, para se dar tratamento a todos os casos que sejam abrangidos por este diploma legal, de iniciativa do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.

Para o governante, esta é “uma medida de generosidade para os condenados”, cujo castigo se torna demasiado caro para o Estado angolano.

“Temos uma população prisional na ordem dos 23.000, não há neste momento a possibilidade de dar números precisos”, referiu o ministro, salientando que há ainda aspectos do ponto de vista técnico-jurídico a serem analisados para apurar o número de beneficiários desta medida.

“O Governo viola diariamente e de forma grosseira os direitos mais elementares do cidadão e o ministro fala em carácter humanista do regime que representa? Mais uma vez insulta os angolanos que sofrem”, criticou Rafael Marques.

Rafael Marques deu o exemplo de Dissengomoka William “Strong”, um angolano de 27 anos, que completará a 23 de Julho, afirma, oito anos de prisão preventiva.

“Foi detido porque a polícia o acusou de ter ‘o nome sujo’. Há dias, foi ao controlo penal da cadeia de Viana saber do seu caso e disseram-lhe que não têm o registo do seu processo, o sistema judicial quer mantê-lo como um preso privado”, acusou, questionando: “Vai ser amnistiado? Quem lhe pagará pelos oito anos de prisão”.

Rafael Marques diz que o que Angola precisa “é de uma mudança profunda”.

Folha 8 com Lusa

Leia mais em Folha 8

Moçambique. Nyusi aumenta despesa com a guerra e reduz na Educação, Saúde e Bombeiros



Adérito Caldeira - @Verdade

A guerra, apesar de todos os dias repetirem-se os apelos à paz, continua a ser uma prioridade do Governo do partido Frelimo como está patente no Orçamento de Estado rectificativo que semana finda foi entregue para aprovação da Assembleia da República. Ademais, e em clara contradição com a promessa de não cortar nos sectores sociais, os Ministérios da Educação e Saúde têm as suas verbas reduzidas assim como os Bombeiros.

Na próxima vez que o leitor for vítima de um incêndio e reparar na falta de meios e de pessoal dos bombeiros não os culpe, o Serviço Nacional de Bombeiros que é uma das instituições públicas que menor verba tem direito vai ver esse exíguo orçamento reduzir em cerca de dez por cento, nas despesas com pessoal, e mais cerca de 30 por cento, nos bens e serviços previstos, previstos no OE rectificativo que o Executivo apresentou como solução para o buraco deixado pelos doadores internacionais que suspenderam o seu apoio directo à Moçambique em virtude dos empréstimos secretamente contraídos pelas empresas estatais Proindicus, MAM e EMATUM com Garantias ilegais do Estado.

Importa destacar que o orçamento anual dos Bombeiros ficou reduzido para pouco mais de 1,1 milhão de meticais enquanto, por exemplo, o Gabinete de Informação, que cujo trabalho é a propaganda governamental e do partido Frelimo, tem um orçamento dez vezes superior em salários e três vezes maior para bens de serviços.

Recordando que o Governo prometeu que os cortes no Orçamento rectificativo não iriam afectar os sectores de carácter social, “o aspecto mais importante é que nas áreas de educação, saúde, bem como no sector social não haverá cortes”, como afirmou o ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane, verifica-se na proposta submetida ao Parlamento que há cortes nos salários do Ministério da Educação e de Desenvolvimento Humano assim como no Ministério da Saúde.

Mais de 2,2 milhões de meticais foram cortados na rubrica de despesas com funcionários da Educação e mais 38 milhões de meticais foram cortados em bens e serviços que estavam previstos serem gastos pelo Ministério que tem a responsabilidade de formar e educar os moçambicanos.

Não está claro se o corte é nas remunerações dos professores no activo ou se está relacionada com a os mais de 8 mil novos docentes que se prevêem ser contratados em 2016. Também não foi possível apurar que bens e serviços não serão adquiridos para as escolas e se austeridade vai afectar a construção de novas escolas.

Na Saúde, considerado objectivo estratégico no plano quinquenal do Executivo, os cortes são de cerca de 4,3 milhões de meticais só nas despesas com os funcionários e mais de 602 milhões de meticais nos bens e serviços que o Ministério dirigido do Nazira Abdula tinha previstos para 2016.

Despesas com pessoal da Casa Militar, Forças Armadas e FIR vão aumentar

Mas se o Governo não tem problemas em cortar nos salários e bens e serviços dos Bombeiros, Educação e na Saúde já tem dificuldades em cortar nos sectores que mantêm a guerra contra o partido Renamo. As despesas com pessoal do exército estão previstas aumentar em mais de 8,2 milhões de meticais. Os salários da Casa Militar também tiveram um acréscimo de mais de 62 milhões de meticais assim como a Força de intervenção Rápida tem um agravamento de aproximadamente 70 por cento nas despesas com os seus funcionários.

Parece paradoxal que para num Governo que apregoa todos os dias a paz os salários só nas Forças Armadas, sem incluir as outras forças militares e paramilitares, sejam mais de cinco vezes superior às remunerações combinadas da Educação e Saúde.

O Conselho Constitucional, que tem legitimado as Eleições apesar das várias fraudes detectadas, vai receber um acréscimo de mais de 30 por cento no seu orçamento para salários.

Governo esconde mais de 10 mil milhões em “Demais Despesas Correntes”

Não se percebe porque razão o Gabinete do Provedor de Justiça cuja necessidade não se compara por exemplo com o Serviço Nacional de Bombeiros, mas tem um orçamento sete vezes superior ao do corpo de salvação, e tem previsto nesta proposta de revisão do Orçamento do Estado para 2016 um aumento de mais de 80 por cento da sua verba para remunerações.

De uma forma geral está evidente na proposta de Orçamento de Estado rectificativo que não há cortes nos salários dos funcionários públicos, embora o Executivo tenha-se comprometido com o Fundo Monetário Internacional em reduzir a massa salarial, que atingiu os onze por cento do Produto Interno Bruto(PIB), em 0,2 ponto percentual do PIB este ano.

Ironicamente até estão a haver promoções como aconteceu, a título ilustrativo, na semana finda no Ministério da Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico onde “17 trabalhadores foram nomeados para exercer diversas funções de direcção, chefia e confiança”.

As despesas de funcionamento distrital do Governo também vão aumentar em 2016, em mais de 277 milhões de meticais, ainda sem incluírem os novos distritos criados recentemente na província de Gaza que no próximo ano deverão custar mais de 144 milhões de meticais.

Mas o orçamento que propõe a ser de austeridade esconde mais de 9 mil milhões de meticais numa rubrica identificada como “Demais Despesas Correntes” de nível Central o que claramente não é uma medida de contenção ou de racionalização da Despesa Pública como de propõe no Plano Quinquenal do Governo de Filipe Nyusi.

“Ninguém sabe que despesas são essas” disse ao @Verdade Jorge Matine, do Centro de Integridade Pública, experiente a analisar as contas do Governo.

O @Verdade perguntou ao Ministério da Economia e Finanças que despesas são essas, que no Orçamento aprovado em Dezembro totalizavam pouco mais de mil milhões de meticais e agora somam mais de 10 mil milhões de meticais, mas não obteve resposta até ao fecho desta edição.

Cortes nos investimentos públicos de duvidosa viabilidade não há nesta proposta de revisão do Orçamento para 2016 que também não menciona qualquer redução no subsídio às gasolineiras, agora que o preço do petróleo caiu nos mercados internacionais nem mesmo refere que tipo de austeridade será aplicada nas empresas públicas e naquelas que são participadas pelo Estado.

DAVID GRAEBER E A FASE DO CAPITALISMO IMPOTENTE



Sistema afastou-se da criatividade e invenção. Avarento, conta tostões. Para enfrentá-lo, faltam movimentos também capazes de ir além dos velhos programas

Entrevista a Arthur DeGrave – Outras Palavras - Tradução: Cauê Ameni 

David Graeber é um antropólogo e anarquista renomado. Foi um dos criadores do Movimento Occupy em 2011. É o autor do livro Dívida: os primeiros 5000 anos, muito aclamado pela crítica. Encontrei-o em Paris, no lançamento do seu últimos livro “The Utopia of Rules: On Technology, Stupidity, and the “Secret Joys of Bureaucracy” [“A utopia das regras: Sobre tecnologia, estupidez e os brinquedos secretos da burocracia”].

Em 2011, você esteve entre os impulsionadores do Movimento Occupy. Desde então, muitos movimentos sociais similares apareceram, mas, aparentemente, nenhum teve folego suficiente para continuar vivo e atingir seu objetivo. Por que fracassaram?

Não acho que estes movimentos sociais tenham falhado. Tenho uma teoria sobre isso: “3,5 anos de atraso histórico”. Após o choque da crise financeira, em 2008, as forças de segurança começaram, no mundo inteiro, se armar para os inevitáveis protestos. No entanto, depois de dois ou três anos, parecia que nada iria acontecer. De repente, em 2011, começou – embora nenhum grande fato novo tenha se dado. Como em 1848 ou 1968, estes movimentos não buscam tomar o poder: almejam mudar a forma como pensamos política. E neste quesito, creio que tivemos uma mudança profunda. Muitos anseiam que o Occupy tome o caminho da política formal. Verdade, não aconteceu, mas veja onde estamos 3.5 anos depois: na maioria dos países onde ressurgiram movimentos sociais e populares, partidos de esquerda estão mudando para abraçar as sensibilidade desses movimentos (Grécia, Espanha, Estados Unidos e etc.). Talvez demore mais 3,5 anos para que eles tenham um impacto real sobre os projetos políticos, mas parece-me que é o caminho natural das coisas.

Vejam bem, vivemos numa sociedade de gratificação instantânea: esperamos que ao clicar em algo, alguma coisa vai acontecer. Essa não é a forma como os movimentos sociais trabalham. A mudança não aconteceu do dia para noite. Levou uma geração para os abolicionistas ou os movimentos feministas alcançarem seus objetivos, e ambos enfrentaram instituições que existiam há séculos!

Mas os movimentos de base poderiam se tornar organizações estruturais da política? O exemplo recente na Grécia não parece muito encorajador.

Em primeiro lugar, não vejo como o Syriza poderia ter ganho: eles estavam numa posição estratégica muito complicada. Se alguma coalizão política do mesmo tipo se formasse na Inglaterra, num instante, a história poderia ser completamente diferente. Neste exato momento, o mais importante para os movimentos horizontais e anti-autoritários é aprender como fazer alianças com aqueles dispostos a trabalhar com o atual sistema político sem comprometer sua própria integridade. Isso é algo que subestimamos com o Ocuppy. Acreditamos que nossos aliados do Partido Democratas e na esquerda institucional tivessem uma compreensão mais clara sobre seu interesse estratégico. Veja, precisamos ter nossos próprios radicais, para aparecermos como uma alternativa razoável. Isso é algo que a direita e o Partido Republicano compreendem bem. Se os democratas estivessem unidos na defesa da 1ª emenda [que assegura liberdade de expressão, manifestação e crença] assim como a direita está em relação a 2ª emenda [protege o direito do povo de portar armas], o Ocuppy estaria provavelmente, vivo, e não estaríamos discutindo sobre equilíbrios fiscais, mas sobre os problemas reais que afligem das pessoas.

Ainda assim, acredito que é necessária uma sinergia positiva entre a esquerda radical e a institucional. Não precisamos, necessariamente, gostar um do outro, mas devemos encontrar um caminho para nos reforçar reciprocamente. A esquerda radical deveria estar mais preocupada em ganhar, ao invés de brincar de superioridade moral.

Qual sua análise em relação aos últimos desenvolvimentos da crise na Grécia? A ideologia da dívida parece estar em alta na Europa

É sempre possível pegar o fenômeno mais repressivo e transformá-lo em sinais de esperança. Neste caso em particular, a crise europeia revela que a justificativa tradicional para a existência do capitalismo não funciona mais. Claro que o capitalismo sempre gerou desigualdades de forma maciça, mas havia três argumentos políticos cruciais que contrabalanceiam esse fato. Em primeiro lugar o suposto efeito econômico trickle-down [“escorrer para baixo”], a ideia de que se os ricos se tornarem mais ricos, a camada mais pobre da sociedade melhorá naturalmente. O que não acontece mais. Em segundo lugar: o capitalismo traz estabilidade. Novamente, não é mais o caso. Em terceiro lugar: o capitalismo aceleraria o caminho para a inovação tecnológica. Também não é mais o caso.

Então, o que sobrou para sustentar o capitalismo, agora que todos os argumentos práticos se foram? Eles não têm mais escolha exceto recorrer a argumentos puramente morais, à ideologia da dívida (“as pessoas que não pagam sua dívida são más”), e à ideia de que se você não trabalhar ainda mais intensamente, mesmo naquilo de que não gosta,, você é uma pessoa má.

Em seu último livro, você sustenta que o capitalismo não é capaz de gerar novos desenvolvimentos tecnológicos. No entanto, o que o dogma contemporâneo tenta fazer crer é que vivemos numa época de grande inovação. Quem está certo?

Me parece óbvio: entre 1750 e 1950, tivemos grandes descobertas científicas, novas formas de energia foram descobertas, num caminho rápido para inovação. Não me parece que aconteça novamente. O capitalismo tornou-se uma espécie de força reacionária, freando o desenvolvimento tecnológico. O que aconteceu com os carros voadores? A viagem ao espaço? Hoje, as universidades, abarrotadas burocraticamente, são incapazes de reunir gente comprometida com a verdadeira inovação. Os artigos do Einstein não passariam, provavelmente, nas bancadas acadêmicas de hoje!

Pergunte às pessoas e você verá que, no final das contas, a maioria não compra a retórica dessa suposta inovação contemporânea. Não se trata mais de saber como a ideologia atua — porque o importante já não é convencer as pessoas de que algo seja verdade, mas de que todo mundo acredita que é verdade. Num certo sentido, o cinismo substitui a ideologia. Pense em outro mito: a meritocracia. Todos nos sabemos que as pessoas não sobem na escala hierárquica graças à meritocracia — mas devido à relação com o chefe, à influência de um primo etc. Há um senso de cumplicidade: se você quer ser promovido, não conte com seus méritos, mas com seu poder teatral de encenar esses méritos. Seguir com as linhas oficiais. Isso é um subproduto da mentalidade burocrática que descrevo no livro.

Você acha que é possível conciliar inovação tecnológica e progresso social?

Já está acontecendo: Anonymous, Wikileaks ou, num certo sentido, a impressão em três dimensões estão começando algo. O desenvolvimento tecnológico sempre segue as tendências sociais. Alguém pensa que as pessoas em Florença, durante o Renascimento, diziam “vamos criar o capitalismo: irá envolver fábricas, trocas de mercadoria, e etc”? Claro que não. Não é algo planejado. O mesmo é verdade para nós: uma vez que enxergarmos o queremos alcançar, como sociedade, a inovação tecnológica virá em seguida.

Imagine se todas as pessoas sentadas na frente de suas mesas, produzindo derivativos securitizados ou negociando algoritmos, estivessem tentando criar um sistema de alocação de recursos que fizesse o mesmo planejamento que os soviéticos tentaram, mas não tiveram capacidade. Eles poderiam criar, provavelmente, algo interessante.

Para você, já não está claro se o atual sistema econômico pode ser chamado de capitalismo. Por que?

A natureza da acumulação capitalista mudou dramaticamente. Quando eu era estudante, meu professor de história econômica dizia que quando a extração da mais-valia é feita diretamente através da política, não é sinal de capitalismo, mas de feudalismo. É o que vivemos hoje: uma fusão de burocracia pública e privada que propõem criar mais formas de dívida, que será objeto de variadas formas de especulação. A única forma de criar mais dívida é por meio da política: não existe isso que alguns chamam de “desregulação financeira” — é apenas uma mudança no modo de regulação. Na teoria marxista clássica, o papel do Estado é garantir as relações de propriedade que permitem a extração de mais-valia ocorrer por meio do trabalho assalariado. mas agora, o aparato de Estado desempenha um papel muito mais ativo no processo.

Vivemos na era da burocracia predatória. Que porcentagem da receita familiar é extraída diretamente pelo setor financeiro? Estranhamente, estas são as estatísticas econômicas mais dificeis de conseguir, mas quando os economistas fazem as estimativas, encontram algo em torno de 20% a 40%. A maio parte do lucro já não vem do setor produtivo. No entanto, quando pensamos na história do capitalismo, pensamos nas indústrias, no trabalho pesado. Isso, claramente, não é o que temos hoje. Não há mais razão para acreditar que o capitalismo estará vivo para sempre. Por séculos, o Império Romano foi capaz de absorver as tribos bárbaras, de atraí-los para o sistema romano, dando-lhes títulos de chefe e comandantes. Mas um dia, eles se esqueceram de promover Alarico, que ficou muito irritado. Nós todos sabemos o que aconteceu em seguida. O sistema é permanente até que não é; toda contradição é absorvida até um ponto em que não é mais possível fazê-lo.

Qual é a sua opinião sobre a ideia de renda básica da cidadania, paga de forma incondicional a todos os seres humanos?

Eu sou muito entusiasta dessa ideia. É uma medida perfeitamente de esquerda e anti-burocrática. Hoje, ao contrário, cada vez mais, as autoridades fazem os pobres sentirem-se piores, com aumento crescente de monitoramento.

Na Inglaterra, é fascinante analisar as estratégias dos diferentes partidos políticos. Os britânicos conseguiram abolir o aparato industrial e agora estão tentando matar o sistema universitário. O que nos sobrará para exportar? No momento, tudo é baseado no mercado financeiro e imobiliário. Por que? Porque todos os ricos do mundo querem ter uma casa em Londres? Há tantas belezas em outras cidades da Europa. Qual é o apelo? Eu percebi duas coisas. Primeiro, você pode ter e acumular tudo que desejar na Inglaterra, graças a uma classe trabalhadora dócil e subserviente. Tenho um amigo cujo trabalho é entregar lagostas, em qualquer momento da noite. Segundo, e mais importante: no Bahrein, Rússia ou Hong Kong, se algo der errado pode haver um levante social. Não na Inglaterra, é perceptível: a derrota histórica da classe trabalhadora inglesa tornou-se o maior produto de exportação da Grã Bretanha.

E realmente, esta é a estratégia do Partido Conservador: vender o sistema de classe para estrangeiros ricos. Contra isso, qual foi a estratégia do Novo Trabalhismo? Focar na exportação da cultura industrial. Mas nisso há um problema: a criatividade não vem só da classe média, mas da classe trabalhadora também. O Partido Trabalhista destruiu o que estava tentando criar ao impor limites ao bem-estar social. No século XX, a Inglaterra criava, a cada década, movimentos musicais incríveis, que repercutiam no mundo todo. Por que não acontece mais isso? Essas bandas viviam no Estado de bem estar social! Tome um grupo de jovens da classe trabalhadora, dê a eles dinheiro suficiente para curtir e brincar juntos, e você teŕa os Beatles. Onde está o próximo John Lennon? Provavelmente, embalando caixas num supermercado qualquer.

DESCONSTRUINDO A RUSSOFOBIA




“A Russofobia é composta de ignorância, falha de cepticismo e raciocínio, orgulho, hipocrisia, condescendência e grosseria, tudo colocado ao serviço do complexo militar-industruial e da NATO: apoia uma Guerra Fria de um só lado, contra um país que só agora começa a erguer-se depois da queda, está mais interessada em melhorar as condições de vida do seu povo, não quer a guerra e não deseja ser nosso inimigo a menos que tenha de defender-se. “

Imaginem que Vladimir Putin não era um autocrata assassino e cleptocrata que passou os últimos catorze anos no poder a viver à conta do seu passado no KGB e a empurrar a Rússia cada vez mais para trás, para a autocracia do comunismo, iliberalismo e expansionismo. Imaginem que em vez de ele ser um dos maiores lideres que a Rússia já teve, cujas políticas tem auxiliado a produzir uma subida maciça dos níveis de vida e da esperança de vida, recuperação do orgulho nacional e reforço das leis, que se agarrou sabiamente a cleptocratas e gangsters, cuja política externa tem sido em geral realística, diplomata e pacífica, que preside a um país em que os direitos humanos estão bem melhor do que nos Estados Unidos e em que os direitos civis estão a melhorar, e que tem um apoio permanente de 65% — actualmente em relação à Ucrânia de 83% — da sua população. Na minha opinião ele está mais próximo do primeiro cenário do que do segundo — e digo isto como alguém que não tem ligações étnicas, financeiras, profissionais ou políticas com a Rússia. Na realidade não sou uma especialista na Rússia, mas também não tenho ideias preconcebidas. Sou uma observadora amigável, do país.

Deixem-me começar por explicar a história da minha ligação ao país. Quando era adolescente a minha escola um tanto tímida e sem imaginação decidiu organizar uma viagem descaracterizada a um local louco como a Rússia, onde, parecia, que tinham acontecido muitas mudanças politicas. Assim visitei a União Soviética durante o ultimo mês da sua existência, sem nenhum conhecimento dela com centenas de milhões não apenas com umas centenas. Após formação em Inglês, nem do que iria substitui-la. Alguns anos mais tarde, no meu ano antes da universidade, descobri-me a viver na margem sul do Danúbio em Ruse, Bulgária, a aprender búlgaro mas a pensar que se alguma vez aprendesse a sério uma língua eslava seria para me entender com centenas de milhões e não apenas com sete milhões. Depois de uma licenciatura em Inglês, fiz um movimento em diagonal para um mestrado em Russo e Estudos Pós-Soviéticos na Escola de Economia de Londres, onde era muito claro que os melhores kremlinologistas britânicos pouco sabiam de como e quando terminara a União Soviética — e quem, nostálgicos do czarismo ou nostálgicos soviéticos — estavam estarrecidos com o que acontecia nesse momento no país. O pior já tinha acontecido quando me mudei para Moscovo em 2002 para melhorar o meu russo aprendido nos livros, e para ensinar Inglês. Tornei-me entre outras coisas uma especialista de Literatura comparada anglo-russa e desde então tenho visitado o país todos os anos.

De Moscovo de 1991, lembro-me como era febril, quase em pânico e terrivelmente pobre. Moscovo que recordo de 2002 poderia chamar-se de «dura». Embora com uma segurança que Londres não tinha, utilizei muitas vezes carros particulares como táxis, sozinha à noite — havia muitas maneiras de morrer que Londres não tinha. Buracos abertos, bêbedos a escorregar na neve, fogo cruzado. Era o capitalismo duro — capitalismo selvagem, sem luvas. Afegãos literalmente de pernas nuas arrastavam-se pela neve, os torsos a equilibrar-se em skates rudimentares. Famílias acampavam a cantar pela ceia. Violinistas conceituados ambulantes. Ginastas profissionais a fazer strip em clubes nocturnos. Armazéns camuflados em que se vendiam marcas estrangeiras aparentemente em rublos, mas que de facto eram dólares inflacionados e ilegais. O meu patrão numa escola particular inglesa não pagava impostos sob a desculpa de que não o podia fazer porque não tinha dinheiro. Evitávamos a polícia, porque de algum modo estávamos envolvidos numa ilegalidade e porque eles eram mal pagos e aceitavam subornos.

Um ano mais tarde, de visita, a situação estava um pouco melhor. A miséria mais gritante já não aparecia. No ano seguinte, menos ainda. E a partir daí tem sempre melhorado. O capitalismo está a calçar de novo as luvas. Os transportes públicos estavam muito melhor. Nada se vende em dólares e as marcas estrangeiras tem concorrentes russas. Uma estrutura clara de impostos significa que o comércio e os assalariados podem e pagam as taxas. Não se vê ninguém bêbado em público. As mulheres moscovitas já não exageram a sua feminilidade num testemunho da sua insegurança financeira e numa imitação barata de um Ocidente pornograficamente imaginado. E o melhor de tudo, para os ocidentais habituados a isso, as pessoas devolvem-nos o sorriso. Mesmo nos casos mais difíceis — os babuskis que guardam os museus, e os guardas de fronteira para passaportes sorriem-nos. No ano passado, pela primeira vez, senti que a Rússia entrara numa nova fase — o pós-pós soviético e, em que as pessoas já não estão à espera que a normalidade seja restabelecida, ou a desejar viver num pais normal. Surgiu já uma nova normalidade e um novo optimismo.

O meu sítio de sentir o país tem sido sempre Moscovo ou até mesmo São Petersburgo, Nizhnii Novgorod e Perm — mas segundo o que ouço do resto do país, está a melhorar lenta, mas firmemente.

Ora este período de conhecimento coincidiu com a era de Putin no poder. É uma faceta dos media ocidentais que apresenta Putin metonímico do país, sendo uma das afirmações o seu controlo cada vez mais autocrático. Não acredito, mas não há duvida que Putin tem um impacto decisivo na política russa neste século. Assim o meu interesse não é apenas a Russofobia, mas a Putinfobia e considero-as semelhantes; uso aqui fobia no sentido de um preconceito negativo.

A verdade é que a Rússia que conheço e a Rússia que vejo descrita no Ocidente e principalmente nos jornais ingleses são completamente diferentes. A Rússia da minha experiência tem melhorado em relação a qualquer indicativo que possa imaginar, mas a sua imagem nos jornais estrangeiros tem piorado. Mas há muitas maneiras de melhorando o nível de vida o tornar compatível com uma autocracia crescente e beligerância internacional — caso de Hitler. Mas creio que isso não acontece com Putin.

Quero acabar esta introdução com uma anedota. No 1.o de Abril visitei o Instituto Britânico em Moscovo e falei com dois empregados russos jovens. Pensaríamos que essas pessoas se interessassem pelo Ocidente em geral e fossem anglófilas. Parte do seu trabalho era analisar a cobertura da imprensa britânica sobre a Rússia e enquanto pensaram que eu fosse uma jornalista da BBC, mantiveram-se reservados quase hostis. Quando eu expliquei que era académica e céptica das notícias britânicas sobre a Rússia, foram todos sorrisos e contaram-se como se sentiam aborrecidos com o noticiário britânico. Não conheço nenhum russo com conhecimento da representação russa na Inglaterra que não tenha muitas críticas. Também eu me sinto aborrecida, principalmente porque penso que isso é um dano moral e intelectual e de efeitos contraproducentes e perigosos.

Não vou aqui simplesmente analisar a corrente noticiosa americana e britânica em comparação com as minhas opiniões. Vou é tentar descrever algumas coisas que dão uma imagem falsa e factores que a corroboram, na esperança de que a minha descrição pareça verdadeira e contribua para uma visão correcta. Doravante, analiso os efeitos práticos da imagem dos media sobre a Rússia.

A sua origem vem das suspeitas habituais no caso de ideias feitas: distorção dos factos através do exagero, afirmações e falseamento; inferências falsas, inconsistências; e desconhecimento da língua.

Comecemos com o exagero: o argumento de que Putin domina totalmente os media russos é frequentemente exagerado. Muita da TV é estatal, mas alguns dos canais do Estado, como a RIA Novosti, criticam Putin, assim como muitas estações de rádio e jornais. Putin é muito mais criticado pela imprensa russa do que Cameron na imprensa britânica. Não fomos comparar tudo, já que no geral há mais razões para criticar Putin, mas é um facto, que entra em contradição com a imagem que se tem actualmente da Rússia. A internet é mais livre do que na Inglaterra — uma das razões por que a pirataria intelectual está disseminada — e muitos russos recebem as notícias pela Internet. O controlo governamental da imprensa não pode ser indicado como uma razão significativa para o apoio constante a Putin.

Por outro lado, os protestos contra ele, recebem boa cobertura mesmo que sejam exagerados apesar do facto de os protestos, grandes e pacíficos, indicarem o direito ao protesto. As demonstrações em Moscovo depois da eleição presidencial em Março de 2012 são a prova disso. A cobertura desses protestos também englobou declarações de muitos políticos importantes opositores – os comunistas. O apoio ao partido comunista está nuns 20% tornando-o o partido de oposição mais importante. Os media britânicos, porém, focam principalmente a oposição liberal. É compreensível que o faça, dado que é essa a tendência que apoia, mas dá também uma impressão falsa que agora a oposição «liberal» é de facto a principal. O exame das demonstrações em que a bandeira comunista predominou negou os comentários britânicos.

Este exagero do tamanho e importância, tanto dos protestos como dos componentes liberais, é claramente o produto de um modo de pensar positivo — mas se realmente houver interesse em ver a substituição de Putin por um liberal, não é bom exagerar a importância real da oposição liberal mesmo para si. Em vez disso devíamos confrontar o facto de que os partidos liberais conseguiram apenas 5% dos votos, e deveriam então tentar descobrir o que está errado com a mensagem destes partidos e/ou dos lideres, e/ou o que esta errado com a capacidade dos votantes para entender o interesse das suas mensagens.

Mas a elisão mais importante ao cobrir a Rússia é a dos melhoramentos nos indicadores democráticos, níveis de vida, afluência nacional e a regra de lei, que mencionei. Durante os seus primeiros doze anos no poder o PIB aumentou cerca de 850%. O país está quase sem dívidas, com uma grande reserva de moeda. Devido às políticas de Putin as receitas do petróleo servem agora a economia nacional. A mortalidade declinou muito, e os nascimentos aumentaram. Portanto fabricam-se notícias ou especulações são apresentadas como factos.

Um bom exemplo disso é a riqueza pessoal de Putin — que recebeu números fantásticos na Forbes e na Bloomberg, incluindo que ele é o nono homem mais rico no mundo, ou mesmo o homem mais rico do mundo. Estas teorias nascem muito de reclamações de dois homens, o analista Stanislav Belkovsky, primo de Berezovsky, e o politico liberal Boris Memtsov. As alegações são que ele tem secretamente uma grande parte da Gazprom e companhias de energia relacionadas como a Gunvor. Na verdade, quando The Economist publicou as alegações sobre o lugar de Putin na Gunvor em 2008 foi multado e obrigado a publicar uma retratação. Haverá poucas pessoas no mundo que realmente conheçam o verdadeiro estado das finanças de Putin: ele próprio e mais uma ou duas pessoas. Diria, primeiro, que alegações específicas não foram provadas; segundo, que especulações não devem ser apresentadas como factos confirmados; e terceiro, que nada do que se sabe sobre a história de Putin, o carácter orgulhoso e «workaholic» sugere alguém, a quem as coisas que o dinheiro pode comprar interessam; ele não é um Goering sibarítico.

Outras reclamações sobre corrupção na Rússia são perfeitamente absurdas. Algumas sobre a corrupção nos Olímpicos de Sochi, a serem verdade, significam que se teria perdido mais dinheiro na corrupção do que todo o PIB do país.

A credulidade destas reclamações feitas por críticos de Putin já que são feitas por críticos de Putin levam-me a uma inferência inductiva falsa que normalmente se aplica acerca de Putin: que o inimigo do meu inimigo é meu amigo. Quando combinada com a assunção que há uma interferência governamental na operação da lei na Rússia, tem como resultado que quando alguém é acusado de um crime na Rússia vozes de crítica a Putin surgem normalmente ao lado de protestos da sua inocência, principalmente na imprensa britânica.

Ou seja, não só o inimigo do meu inimigo é meu amigo, e não só o critico de Putin é meu amigo, mas o critico de Putin está inocente — não apenas negativamente inocente de qualquer crime imputado, mas positivamente inocente e bom, porque quem se opõe a um tirano, é dissidente e, portanto, do mesmo género de pessoa como os santos Solzhenitsyn ou Sakarov. Na realidade, um prisioneiro com ideias politicas não é o mesmo que um prisioneiro político.

É certo que o sistema legal da Rússia é menos brando que o de Inglaterra, e tem menos das suas características importantes tanto na lei civil como na criminal — por exemplo o principio de abertura das provas contrárias. O sistema é jovem, tendo sido criado pelo nosso sistema capitalista no fim do comunismo. Muitos dos advogados e juízes são assim relativamente jovens e inexperientes. E cingem-se muito à lei. A defesa ainda não está tão bem estabelecida na profissão como a acusação. Estes factores afectam a justiça de todos os julgamentos do país.

Mas devem acrescentar-se a isto duas coisas importantes. Primeiro, a situação vai gradualmente melhorando. Putin não destruiu a independência judicial e antes dele quase nada existia, e está agora a ser gradualmente criado. Segundo, a alegação de que todos os julgamentos dos críticos de Putin são injustos pelos padrões do sistema vigente pois há muito poucas provas em que se apoiar.

* Jornalista

Este texto foi publicado em: http://www.informationcleaninghouse.info/article44908.htm

O Diário.info - Tradução de Manuela Antunes


ASSIM É O CHE!




Num momento em que se chegou ao extremo da irracionalidade humana pôr em causa a Mãe Terra, que poderá deixar de ser garante de vida tal e qual a conhecemos, o materialismo dialéctico torna-se ainda mais abrangente e essencial, pois só haverá racionalidade quando o pensamento e a actividade humana se enquadrarem na lógica com sentido de vida!...

O Che, por via de sua própria experiência pessoal, assumiu-se enquanto vanguarda nessa lógica com sentido de vida, conforme ao seu “amor rigoroso” e é por isso que sua figura, sua trajectória, sua filosofia ardente, generosa e vigorosa, não pode ser circunscrita ao conceito de estado e emerge internacionalista e solidária indelevelmente ligada à sustentabilidade da vida.

Por todas as razões de sua inesgotável lição de vida, ele continua muito para além de sua morte física a ser o inspirador do que é de mais puro nos sentimentos humanos, que não se podem furtar à vida em sociedade, no colectivo e cada vez mais assumida numa minúscula e perdida casa comum, conforme à Mãe Terra!

Pela racionalidade humana, pela vida respeitosa para com a Mãe Terra, por esse “amor rigoroso”sedento de justiça, de solidariedade e de internacionalismo… que sejamos em plena globalização um pouco como o Che! Por todas as razões de sua inesgotável lição de vida, ele continua muito para além de sua morte física a ser o inspirador do que há de mais puro nos sentimentos humanos que não se podem furtar à vida em sociedade, no colectivo e cada vez mais assumida numa minúscula e perdida casa comum conforme à Mãe Terra!onforme ao "seu amor rigoroso" e é por isso que sua figura, sua trajectória, sua filosofia ardente e vigorosa, não pode ser circunscrita ao conceito de estado e emerge internacionalista e solidária indelevelmente ligada à sustentabilidade da vida!onforme ao "seu amor rigoroso" e é por isso que sua figura, sua trajectória, sua filosofia ardente e vigorosa, não pode ser circunscrita ao conceito de estado e emerge internacionalista e solidária indelevelmente ligada à sustentabilidade da vida!

Por todas as razões de sua inesgotável lição de vida, ele continua muito para além de sua morte física a ser o inspirador do que há de mais puro nos sentimentos humanos que não se podem furtar à vida em sociedade, no colectivo e cada vez mais assumida numa minúscula e perdida casa comum conforme à Mãe Terra!

DEUTSCHE BANK: O MONSTRO DO LAGO ALEMÃO



Ana Sá Lopes - jornal i, opinião

Quando Wolfgang Schäuble, o todo-poderoso ministro alemão das Finanças, voltou, numa intervenção recente, a fustigar Portugal e a defender sanções, fê-lo para desviar as atenções do caos que se vive num dos bancos principais do sistema financeiro alemão

Esta semana, a revista “The Economist” dedica um texto discreto às desgraças do Deustche Bank. Quatro linhas antes do final do texto, o jornalista escreve uma frase terrível: “Se fosse uma empresa normal, o Deustche Bank tinha falido.” Segundo as contas que o i faz nesta edição, o outrora gigante alemão desvalorizou 60% em apenas um ano. A Standard & Poors baixou o rating do Deustche Bank de “estável” para “negativo”. Uma machadada no banco que até aqui em Portugal, quando se desencadeou a crise financeira, foi considerado por muitos como o “banco de resguardo” face às dificuldades sentidas nos bancos nacionais, onde se destaca o desaparecimento do BES às mãos de um gang financeiro liderado por Ricardo Salgado. [Pequena adenda: Paulo Padrão, depois de ter assessorado Ricardo Salgado nas suas malfeitorias contra o sistema financeiro português, aparece agora como um dos principais rostos de um novo jornal económico. É uma prova de que vivemos num país sem vergonha.]

A velha banca, aqui, na Itália e na Alemanha sofreu uma metamorfose nos anos de loucura financeira. Se o nosso sistema bancário praticamente desapareceu tal como era, as notícias que vêm de Itália ameaçam a estabilidade de toda a União Europeia. Mas que o monstro chegasse à Alemanha, a terra das “boas contas”, em que “dívida” e “culpa” são a mesma palavra, era difícil de imaginar. E, no entanto, o monstro está lá.

Quando Wolfgang Schäuble, o todo-poderoso ministro alemão das Finanças, voltou, numa intervenção recente, a fustigar Portugal e a defender sanções, fê-lo para desviar as atenções do caos que se vive num dos bancos principais do sistema financeiro alemão. Um jornalista perguntou pelo Deutsche Bank, Schäuble respondeu com Portugal. A conversa das sanções dá imenso jeito para disfarçar os problemas da banca no centro da Europa. É demasiado estúpida perante o furacão que se avizinha.

Relacionado em jornal i

Portugal. LEGISLATURA ROUBADA



Ana Alexandra Gonçalves*

Sabemos que Passos Coelho lida mal com a sua insignificância, sobretudo quando a mesma é mais e mais evidente. Mas daí a referir-se à actual legislatura como sendo "roubada" é, para além de excessivo, de mau-gosto, sobretudo para um ex-primeiro ministro e líder do maior partido da oposição.

Passos Coelho não terá a capacidade de perceber que frases como "o Governo tem o dever de cumprir a legislatura que roubou" são sobretudo contraproducentes. Com efeito, o antigo primeiro-ministro nada ganha com isso, ficando apenas a imagem de quem tem uma visão particularmente exígua da democracia, manifestando um acentuado desconforto na oposição.

Ansioso por uma hecatombe que lhe permita um regresso ao poder, debaixo de aplausos empolados por uma comunicação social rendida aos interesses económicos, e para gáudio do séquito que ainda o acompanha, Passos Coelho nem sequer chega a ser provocador, deixando antes ficar a imagem de quem é incapaz de contrariar a sua pequenez. Ninguém roubou a legislatura - Passos Coelho não foi capaz de formar uma maioria no Parlamento por ter passado quatro anos a fechar toda e qualquer porta, enquanto sacrificava o povo português. O resultado foi a união histórica das esquerdas.

As palavras também contam, mesmo que aqueles que ainda estão atentos às mesmas sejam em número consideravelmente inferior. Resta a Passos Coelho contar com uma comunicação social conivente com os seus disparates e com instituições europeias acéfalas.

*Triunfo da Razão

Leia mais em Triunfo da Razão

Portugal. PR PSEUDO-DEMOCRATA NÃO QUER REFERENDAR A PSEUDO-UNIÃO EUROPEIA




Mário Motta, Lisboa

A direita, os porteiros e mordomos do neoliberalismo-fascista, estão a acelerar a queda do governo. Entre eles está Marcelo Rebelo de Sousa. O PR está a ganhar balanço para dar p’ra trás ao governo de Costa, governo apoiado pela esquerda parlamentar. Os indícios são variados.

Sendo alegadamente democrático o PR deve recordar-se que não perguntaram aos portugueses se realmente queriam aderir à então CEE, hoje a dita União Europeia. Nem foi feito referendo ao tratado de Maastricht, etc. Certo é que Portugal tem vindo a perder soberania e anda ao sabor das exigências de uma pseudo União Europeia que mais não faz que servir os interesses da alta finança global, das corporações do 1%, em detrimento dos países e dos povos – principalmente os do sul da Europa. Esta é uma evidência quase todos os dias manifestada pelos que detêm os poderes na pseudo União. Muitos deles nem sequer eleitos pelos eleitores em sufrágio direto e democrático.

O desagrado e descrédito na pseudo União Europeia revela-se estrondosamente nas eleições para a mesma. A abstenção em Portugal é enorme, superior a 60 por cento. Noutros países europeus acontece exatamente o mesmo. Não será isso um indício categórico de negação a pertencer à UE? Uns dizem que sim, outros que não.

Assim sendo só existe um modo de clarificar a situação sem sobras de dúvidas: um referendo aos portugueses.

Por tal não se compreende que o PR, tão “aberto”, tão “democrático”, tão português, tão tanta coisa do melhor, não aceite a realização de um referendo sobre a integração de Portugal na União Europeia… ou não.

Fazer o referendo custa dinheiro. Pois. Então urge começar a cortar nas reformas douradas, nos vencimentos dourados de gestores e restante pandilha, nos subsídios e outras subvenções douradas que os dos poderes e das ilhargas douradas recebem sem que se justifique e até sejam imorais. Cortar nas mordomias também é importante. A democracia de facto exige-o. Ora, ora. Pois.

Marcelo diz que não a isso tudo. E do referendo sobre pertencer ou não à UE finca o pé. O democrata. Aliás, um mascarado de democrata. Ou democrata ma non tropo. Só porque assim é teme atos democráticos e escorreitos que diz serem “inadmissíveis”.

A vida custa, Costa. Vá de dar cabeçadas nas suas próprias convicções pseudo-socialistas e de laivos centro-direita. E Marcelo não é flor que se cheire. O populismo do PR esvanece quando ele mostra a sua raça. E todos sabemos que a cor da raça de Marcelo é antagónica a certos preceitos e exigências da preservação de uma sociedade democrática. Consultar os portugueses sobre os que os estão a invadir, a aniquilar, a explorar, a subjugar, a pretender iludir, é “inadmissível” – no entender de Marcelo Rebelo de Sousa, PR. O tal de que a D. Micas, anciã octogenária, dizia: “É tão bonzinho para o povo. Tão simpático. Tão patriota. Tão simples. Tão justo…” Pois. Vamos ver como vai ser.

O “democrata” Marcelo Rebelo de Sousa está à vista e a desnudar-se. O tempo comprovará que a sua máscara está a esfarelar-se. Começaram os tempos dos desenganos para os que se têm deixado enganar. Lá virá o tempo em que veremos que o PR vai nu e não corresponde à figura que pensaram ser, tal qual aconteceu com Cavaco Silva. Eis Marcelo, um pseudo-democrata a defender a pseudo-União Europeia dominada pela sua família política neoliberal-fascista. (MM / PG)

Marcelo. Seria "inadmissível" referendo em Portugal sobre "pertença à Europa"

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou hoje inadmissível a realização em Portugal de um referendo sobre a pertença à União Europeia (UE) ou a vinculação a tratados ou pactos celebrados no quadro europeu.

Na abertura da 'Grande Conferência Europa' do Diário de Notícias, no Pátio da Galé, em Lisboa, o chefe de Estado defendeu que "a resposta só pode ser mais Europa, e não menos Europa", e considerou um erro "as aventuras referendárias que pululam sobre os temas mais variados, como a organização constitucional dos Estados ou a questão dos refugiados" noutros Estados-membros da UE.

"Ou, por maioria de razão, o que seria uma aventura referendária nomeadamente em Portugal, e por isso inadmissível para o Presidente da República, seja um referendo sobre a pertença à Europa ou um referendo sobre a vinculação a tratados ou pactos celebrados no quadro europeu", acrescentou.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. FORTE BUZINÃO CONTRA PORTAGENS NA PONTE 25 DE ABRIL



A ponte 25 de Abril está a registar esta manhã um forte buzinão de protesto contra o pagamento de portagens durante o mês de agosto, constatou a agência Lusa no local.

A ação de protesto, que se iniciou cerca das 08:00, é promovida pela Comissão de Utentes de Transportes da Margem Sul (CUTMS), que instalou cartazes no viaduto do Pragal, situado antes da praça das portagens a apelar ao buzinão.

"Isto começou mais cedo do que estávamos à espera porque os carros começaram a buzinar logo a partir do momento em que colocamos os cartazes aqui no viaduto", disse à Lusa Luísa Ramos,da CUTMS.

O buzinão de protesto é efetuado sobretudo pelos automobilistas que seguem no sentido sul-norte, antes de efetuarem o pagamento da portagem.

Mesmo assim, há veículos a buzinar também no sentido norte-sul e no viaduto do Pragal.

Segundo a comissão de utentes, no atual quadro político, resultante da nova correlação de forças na Assembleia da República, é "absolutamente necessário, justo e inadiável", que o Governo em funções reponha, em agosto, a isenção do pagamento das portagens na Ponte 25 de Abril, tal como acontecia antes de 2011.

A CUTMS refere ainda que enviou ao ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, um pedido de isenção das portagens em agosto. pretensão.

"Lamentavelmente não se dignou a responder", referiram à Lusa os membros da comissão de utentes que vão manter o protesto contra as portagens durante as "próximas horas".

TSF com Lusa

Mais lidas da semana