sexta-feira, 4 de novembro de 2016

POR DENTRO DO GOVERNO INVISÍVEL: GUERRA, PROPAGANDA, CLINTON & TRUMP



John Pilger

O jornalista norte-americano, Edward Bernays, é frequentemente descrito como o homem que inventou a propaganda moderna. 

Sobrinho de Sigmund Freud, o pioneiro da psicanálise, foi Bernays que cunhou o termo "relações públicas" como um eufemismo para volteio e seus enganos.

Em 1929, ele persuadiu feministas a promoverem cigarros pondo mulheres a fumar no desfile da Páscoa de Nova York – comportamento então considerado estranho. Uma feminista, Ruth Booth, declarou: "Mulheres! Acendam outra tocha da liberdade! Derrubem mais um tabu sexista!"

A influência de Bernays estendeu-se muito além da publicidade. Seu maior sucesso foi seu papel em convencer o público americano a aderir ao massacre da Primeira Guerra Mundial. O segredo, segundo ele, era a "engenharia do consentimento" popular, a fim de "controlar e dirigir de acordo com a nossa vontade, sem seu conhecimento sobre o assunto".

Ele descreveu isso como "o verdadeiro poder dominante em nossa sociedade" e chamou-lhe "governo invisível".

Atualmente, o governo invisível nunca foi tão poderoso e tão menos compreendido. Na minha carreira como jornalista e cineasta, nunca conheci uma propaganda tão insinuante nas nossas vidas. Ela verifica-se agora e permanece incontestada.

Imagine duas cidades.

Ambas estão sob o cerco das forças do governo desse país. Ambas estão ocupadas por fanáticos que cometem atrocidades terríveis, tais como a decapitação de pessoas.

Mas existe uma diferença fundamental. Num cerco, os soldados do governo são descritos como libertadores por repórteres ocidentais neles incorporados, que entusiasticamente relatam suas batalhas e ataques aéreos. Há primeiras páginas de jornais com fotos destes heroicos soldados a fazerem o V de vitória. Há escassa menção a baixas civis.

Na segunda cidade – em outro país vizinho – quase exatamente o mesmo está a acontecer. As forças do governo sitiam uma cidade controlada pela mesma ninhada de fanáticos.

A diferença é que esses fanáticos são apoiados, financiados e armados por "nós" – Estados Unidos e Grã-Bretanha. Eles ainda dispõem de um centro de mídia que é financiado pelos Estados Unidos e Grã-Bretanha.

Outra diferença é que os soldados do governo que mantêm esta cidade sob cerco são considerados os maus, condenados por agredir e bombardear a cidade – o que é exatamente o que os bons soldados fazem na primeira cidade.

Confuso? Na verdade não. Tal é o duplo padrão básico que é a essência da propaganda. Refiro-me, naturalmente, ao cerco atual da cidade de Mosul pelas forças do governo do Iraque, que são apoiadas pelos Estados Unidos e Grã-Bretanha e ao cerco de Alepo pelas forças do governo da Síria, apoiados pela Rússia. Um é bom; o outro é ruim.

O que raramente se informa é que ambas as cidades não seriam ocupadas por fanáticos e devastada pela guerra se a Grã-Bretanha e os Estados Unidos não tivessem invadido o Iraque em 2003. Esse empreendimento criminoso foi lançado sob mentiras notavelmente semelhantes à propaganda que agora distorce nossa compreensão da guerra civil na Síria.

Sem essa propaganda apresentada como notícia, o monstruoso Daesh, a Al-Qaida, a al-Nusra e o resto da gangue jihadista poderia não existir, e o povo da Síria não precisaria estar hoje a lutar pela sua vida.

Alguns podem lembrar, em 2003, uma sucessão de repórteres da BBC a voltarem-se para a câmara e a dizer-nos que Blair fora "vingado" pelo que acabou por ser o crime do século. As redes de televisão norte-americanas produziram a mesma validação para George W. Bush. A Fox News evocou Henry Kissinger para difundir as falsificações de Colin Powell.

No mesmo ano, logo após a invasão, filmei uma entrevista em Washington com Charles Lewis, o famoso jornalista investigativo americano. Perguntei-lhe: "O que teria acontecido se os meios de comunicação mais livres do mundo tivessem contestado seriamente o que acabou por ser propaganda bruta?"

Ele respondeu que se os jornalistas tivessem feito seu trabalho, "há uma muito, muito boa probabilidade de que não teriamos ido para a guerra no Iraque".

Foi uma declaração chocante, e apoiada por outros jornalistas famosos a quem coloquei a mesma pergunta – Dan Rather da CBS, David Rose do Observer e jornalistas e produtores da BBC, que preferiram o anonimato.

Por outras palavras, se os jornalistas tivessem feito o seu trabalho, se tivessem contestado e investigado a propaganda ao invés de amplificá-la, centenas de milhares de homens, mulheres e crianças estariam vivas hoje, e não haveria ISIS e nem o cerco de Alepo ou Mosul.

Não teria havido nenhuma atrocidade no metro de Londres em 7 de julho de 2005. Não teria havido nenhuma fuga de milhões de refugiados; não haveria acampamentos miseráveis.

Quando a atrocidade terrorista de Novembro último aconteceu em Paris, o presidente François Hollande enviou imediatamente aviões para bombardear a Síria – e mais terrorismo seguiu-se, como era de prever, o resultado da linguagem bombástica de Hollande acerca de a França estar "em guerra" e não "mostrar nenhuma clemência". Que a violência estatal e violência jihadista alimentam-se mutuamente é a verdade que nenhum líder nacional tem a coragem de falar.

"Quando a verdade é substituída pelo silêncio", disse o dissidente soviético Yevtushenko, "o silêncio é uma mentira."

O ataque ao Iraque, o ataque à Líbia e o ataque à Síria aconteceram porque o governo de cada um desses países não era um fantoche do Ocidente. O registo de direitos humanos de um Saddam ou de um Kadafi era irrelevante. Eles não obedeceram ordens nem renunciaram ao controle dos seus países.

O mesmo destino aguardava Slobodan Milosevic uma vez que ele se recusou a assinar um "acordo" que exigia a ocupação da Sérvia e sua conversão numa economia de mercado. Seu povo foi bombardeado, e ele foi processado em Haia. Independência deste tipo é intolerável.

Como revelou a WikLeaks, foi apenas quando o líder sírio, Bashar al-Assad, em 2009, rejeitou um oleoduto, que atravessaria o seu país do Qatar para a Europa, é que foi atacado.

A partir desse momento, a CIA planejou destruir o governo da Síria com fanáticos jihadistas – os mesmos fanáticos que atualmente dominam o povo de Mosul e do leste de Aleppo

Por que isso não é notícia? O ex-funcionário da chancelaria britânica Carne Ross, que foi responsável pela manutenção de sanções contra o Iraque, disse-me: "Nós alimentávamos os jornalistas com factoides de inteligência higienizada, ou os deixávamos congelados do lado de fora. Era assim que funcionava."

O cliente medieval do Ocidente, a Arábia Saudita – à qual os EUA e a Grã-Bretanha vendem milhares de milhões de dólares em armas – está atualmente destruindo o Iémen, um país tão pobre que, no melhor dos casos, metade das crianças estão desnutridas.

Procure no YouTube e verá o tipo de bombas maciças – "nossas" bombas – que os sauditas usam contra aldeias miseráveis e contra casamentos e funerais.

As explosões parecem pequenas bombas atômicas. Os bombardeadores na Arábia Saudita trabalham lado a lado com os oficiais britânicos. Este fato não está no noticiário da noite.

A propaganda é mais eficaz quando o nosso consentimento é engendrado por gente com uma boa educação – Oxford, Cambridge, Harvard, Columbia – e com carreiras na BBC, The Guardian, The New York Times, The Washington Post.

Estas organizações são conhecidos como a mídia liberal. Eles se apresentam como iluminados, tribunas progressistas do espírito moral (zeitgeist) da época. Eles são anti-racistas, pró-feministas e pró-LGBT.

E eles amam a guerra.

Enquanto falam em defesa do feminismo, apoiam guerras de rapina que negam os direitos de inúmeras mulheres, incluindo o direito à vida.

Em 2011, a Líbia, então um estado moderno, foi destruída com o pretexto de que Muammar Kadafi estava prestes a cometer genocídio contra seu próprio povo. Essa foi uma notícia incessante; e não houve evidência. Era uma mentira.

Na verdade, a Grã-Bretanha, Europa e os Estados Unidos queriam aquilo a que gostam de chamar de "mudança de regime" na Líbia, o maior produtor de petróleo da África. A influência de Kadafi no continente e, acima de tudo, a sua independência eram intoleráveis.

Assim, ele foi assassinado com uma faca nas nádegas por fanáticos apoiados pelos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França. Hillary Clinton aplaudiu sua morte horrível diante câmara, declarando: "Nós viemos, nós vimos, ele morreu!"

A destruição da Líbia foi um triunfo da mídia. À medida que os tambores de guerra eram rufados, Jonathan Freedland escrevia no Guardian: "Embora os riscos sejam muito reais, a necessidade de intervenção continua a ser forte."

Intervenção – é uma palavra educada, benevolente, utilizada pelo Guardian, cujo significado real, para a Líbia, foi a morte e destruição.

De acordo com os seus próprios registos, a OTAN lançou 9.700 "missões de ataque" contra a Líbia, das quais mais de um terço foram destinadas a alvos civis. Elas incluíam mísseis com ogivas de urânio. Olhe para as fotografias dos escombros de Misurata e Sirte, e as valas comuns identificadas pela Cruz Vermelha. O relatório da UNICEF sobre as crianças mortas diz, "a maioria [delas] com idade inferior a dez anos".

Como consequência direta, Sirte tornou-se a capital do Daesh.

A Ucrânia é outro triunfo da mídia. Jornais liberais respeitáveis, como o New York Times, o Washington Post e The Guardian, e emissoras tradicionais, como a BBC, NBC, CBS, CNN têm desempenhado um papel fundamental no condicionamento seus telespectadores para aceitar uma nova e perigosa guerra fria.

Todos têm deturpado os acontecimentos na Ucrânia como sendo um ato maligno da Rússia quando, na verdade, o golpe na Ucrânia em 2014 foi o trabalho dos Estados Unidos, ajudado pela Alemanha e pela OTAN.

Esta inversão da realidade é tão difusa que a intimidação militar da Rússia por Washington não é notícia. Ela é ocultada por trás de uma campanha de difamação e terror da mesma espécie daquela em que cresci durante a primeira guerra fria. Mais uma vez, os Ruskies estão a vir apanhar-nos, liderado por outro Staline, a quem The Economist descreve como o diabo.

A supressão da verdade sobre a Ucrânia é um dos mais completos blackouts noticiosos que posso lembrar. Os fascistas que engendraram o golpe em Kiev são da mesma cepa que apoiou a invasão nazista da União Soviética em 1941. De todos os alarmismos acerca da ascensão do fascismo anti-semita na Europa, nunca algum líder sequer menciona os fascistas na Ucrânia – exceto Vladimir Putin, mas ele não conta.

Muitos na mídia ocidental têm trabalhado arduamente para apresentar a população étnica de língua russa da Ucrânia como estranha a seu próprio país, como agentes de Moscou, quase nunca como ucranianos que pretendem uma federação dentro Ucrânia e como cidadãos ucranianos resistindo a um golpe estrangeiro orquestrada contra seu governo eleito.

Há quase a alegria de uma reunião de colegas entre os belicistas.

Os que rufam o tambor do Washington Post a incitar à guerra com a Rússia são os mesmos editorialistas que publicaram a mentira de que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa.

Para a maior parte de nós, a campanha presidencial norte-americana é um espetáculo de anormalidade da mídia, em que Donald Trump é o vilão.

Mas Trump é odiado por aqueles com poder nos Estados Unidos por razões que pouco têm a ver com o seu comportamento obnóxio e suas opiniões. Para o governo invisível em Washington, o imprevisível Trump é um obstáculo para o projeto da América para o século 21.

Este é manter o domínio dos Estados Unidos, subjugar a Rússia e, se possível, a China.

Para os militaristas em Washington, o problema real com Trump é que, em seus momentos de lucidez, ele parece não querer uma guerra com a Rússia; ele quer dialogar com o presidente russo, não combatê-lo; ele diz que quer dialogar com o presidente da China.

No primeiro debate com Hillary Clinton, Trump prometeu não ser o primeiro a introduzir armas nucleares num conflito. Ele afirmou: "Eu certamente não faria o primeiro ataque. Uma vez que a alternativa nuclear se verifica, está tudo acabado". Não era novidade.

Será que ele realmente quiz dizer isso? Quem sabe? Muitas vezes ele se contradiz. Mas o que está claro é que Trump é considerado uma séria ameaça ao status quo mantido pela vasta máquina de segurança nacional que dirige os Estados Unidos, pouco importando quem está na Casa Branca.

A CIA quer vê-lo derrotado. O Pentágono quer vê-lo derrotado. A mídia quer vê-loderrotado. Mesmo seu próprio partido quer vê-lo derrotado. Ele é uma ameaça para os governantes do mundo – ao contrário de Clinton, que não deixou nenhuma dúvida de que ela está preparada para ir para a guerra com armas nucleares contra a Russia e a China.

Clinton tem cabedal para isso, como muitas vezes se vangloria. Na verdade, seu registro é comprovado. Como senadora, apoiou o banho de sangue no Iraque. Quando concorreu contra Obama em 2008, ameaçou "obliterar totalmente" o Irã0. Como secretária de Estado, foi conivente com a destruição de governos na Líbia e em Honduras e pôs em marcha o assédio da China.

Ela já se comprometeu a apoiar um No Fly Zone na Síria – uma provocação direta para a guerra com a Rússia. Clinton pode muito bem se tornar a presidente mais perigosa dos Estados Unidos de toda a minha vida – uma distinção para a qual a concorrência é feroz.

Sem um fiapo de prova, Clinton pôs-se a acusar a Rússia de apoiar Trump e de ter hackeado seus emails. Divulgados pela WikiLeaks, esses emails revelam que tudo que Clinton diz no privado, em discursos e "palestras" compradas por ricos e poderosos, é exatamente o oposto do que ela diz publicamente.

Por isso é tão importante silenciar e ameaçar furiosamente Julian Assange. Como editor da WikiLeaks, Assange conhece a verdade. E deixem-me esclarecer desde já e tranquilizar os muitos que se preocupam: Assange está bem; e a WikiLeaks está operando a pleno vapor.

Hoje está em curso a maior acumulação de forças americanas lideradas desde a Segunda Guerra Mundial – no Cáucaso e na Europa Oriental, na fronteira com a Rússia, na Ásia e no Pacífico, onde o alvo é a China.

Tenha isso em mente quando o circo da eleição presidencial chegar ao seu final em 8 de novembro. Se o vencedor for a Clinton, um coro grego de comentadores tolos vão comemorar sua coroação como um grande passo em frente para as mulheres. Nenhum vai mencionar as vítimas de Clinton: as mulheres da Síria, as mulheres do Iraque, as mulheres da Líbia. Ninguém vai mencionar os exercícios de defesa civil que estão sendo realizados na Rússia. Ninguém vai lembrar as " tochas da liberdade" de Edward Bernay.

O porta-voz de George Bush certa vez chamou a mídia de "facilitadores cúmplices".

Vindo de um alto funcionário em uma administração cujas mentiras, potenciadas pela mídia, causaram aquele sofrimento, essa descrição é um aviso da história.

Em 1946 o promotor do Tribunal de Nuremberg disse acerca da mídia alemã: "Antes de cada grande agressão, eles iniciaram uma campanha de imprensa calculada para enfraquecer suas vítimas e para preparar o povo alemão psicologicamente para o ataque. No sistema de propaganda, foram a imprensa diária e a rádio as armas mais importantes". 

O original encontra-se em www.counterpunch.org/... e a tradução em choldraboldra.blogspot.pt/... (foram efetuadas pequenas alterações). 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

OS E-MAILS DE HILLARY CLINTON E DA CONFRARIA



A investigação do FBI sobre os e-mails privados de Hillary Clinton não diz respeito a uma negligência face às regras de segurança, mas antes a um complô visando destruir qualquer traço da sua correspondência que deveria ter sido arquivada nos servidores do Estado Federal. Poderia incluir trocas de mensagens sobre financiamentos ilegais ou de corrupção, outros sobre laços do casal Clinton com os Irmãos Muçulmanos e os jiadistas.

Thierry Meyssan*

O relançamento da investigação do FBI sobre os e-mails privados de Hillary Clinton não visa mais as questões de segurança, mas, sim trafulhices que poderiam ir até à alta traição.

Tecnicamente, em vez de utilizar um servidor seguro do Estado Federal, a Secretária de Estado fez instalar no seu domicílio um servidor privado, de maneira a poder usar a Internet sem deixar vestígios numa máquina do Estado Federal. O técnico privado da Sra. Clinton limpara o seu servidor antes da chegada do FBI, de modo que não foi possível saber por que é que ela tinha posto em acção este dispositivo.

Inicialmente, o FBI observou que o servidor privado não possuía a segurança do servidor do Departamento de Estado. A senhora Clinton, apenas tinha, pois, cometido uma falha de segurança. Numa segunda etapa, o FBI apreendeu o computador do antigo membro do Congresso, Anthony Weiner. Este é o ex-marido de Huma Abedin, chefe de gabinete de Hillary. Nele foram encontrados e-mails provenientes da Secretária de Estado.

Anthony Weiner é um político judeu, chegado aos Clintons, que ambicionava tornar-se presidente da câmara(perfeito-br) de Nova Iorque. Ele fora forçado a demitir-se após um escândalo muito puritano: enviara mensagens de texto(SMS) eróticas a uma jovem mulher que não era a sua esposa. Huma Abedin separou-se oficialmente dele durante esta tormenta, mas na realidade não o deixou.

Huma Abedin é uma norte-americana que foi criada na Arábia Saudita. O seu pai dirige uma revista académica —da qual ela foi durante anos a secretária de redacção— que reproduzia regularmente as opiniões dos Irmãos Muçulmanos. A sua mãe preside a Associação Saudita das mulheres membros da Confraria e trabalhava com a esposa do presidente egípcio Mohamed Morsi. O seu irmão Hassan trabalha por conta do Xeque Yusuf al-Qaradawi, o pregador dos Irmãos e conselheiro espiritual da Al-Jazeera.

Huma Abedin é hoje uma personagem central da campanha de Clinton, ao lado do director de campanha, John Podesta, antigo secretário-geral da Casa Branca na presidência de Bill Clinton. Podesta é, além disso, o lobista contratado pelo Reino da Arábia Saudita no Congresso pela módica quantia de US $ 200.000 mensais. A 12 de Junho de 2016, Petra, a agência de notícias oficial da Jordânia, publicou uma entrevista com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed Ben Salmane, pretendendo a modernidade da sua família pela mesma ter financiado, ilegalmente, por uns 20% a campanha presidencial de Hillary Clinton, apesar de se tratar de uma mulher. No dia a seguir a esta publicação, a Agência anulava este despacho e assegurava que o seu sítio internet havia sido pirateado.

A Srª Abedin não é o único membro da administração Obama ligada à Irmandade. O meio-irmão do Presidente, Abon’go Malik Obama, presidente da Fundação Barack H. Obama é também o tesoureiro da Obra missionária dos Irmãos no Sudão. Ele está colocado directamente sob as ordens do Presidente sudanês, Omar al-Bashir. Um Irmão Muçulmano é membro do Conselho Nacional de Segurança —a mais alta instância executiva nos Estados Unidos— . Foi o caso de Mehdi K. Alhassani de 2009 a 2012. Ignora-se quem lhe sucedeu, mas a Casa Branca também negava que um Irmão fosse membro do Conselho até esta prova ter surgido. Rashad Hussain, é também um Irmão que é o embaixador dos E.U. junto à Conferência Islâmica. Outros Irmãos identificados ocupam funções menos importantes. Deve-se citar, no entanto, Louay M. Safi, actual membro da Coligação Nacional Síria e antigo conselheiro do Pentágono.

Em Abril de 2009, dois meses antes de seu discurso no Cairo, o Presidente Obama tinha secretamente recebido uma delegação da Irmandade na Sala Oval. Ele já tinha convidado, aquando da sua tomada de posse, Ingrid Mattson, a presidente da Associação das Irmãs e Irmãos Muçulmanos nos Estados Unidos.

Por seu lado, a Fundação Clinton empregou como líder do seu projecto «Clima» Gehad el-Haddad, um dos dirigentes mundiais da Irmandade, o qual tinha sido até aí responsável de um programa de emissão de televisão corânica. O seu pai tinha sido um dos co-fundadores da Irmandade, em 1951, aquando da sua recriação pela CIA e pelo MI6. Gehad deixou a Fundação em 2012, data em que se tornou, no Cairo, o porta-voz do candidato Mohammed Morsi, depois oficialmente o dos Irmãos Muçulmanos a nível mundial.

Sabendo que a totalidade dos líderes jiadistas do mundo têm origem quer na Irmandade quer na Ordem Sufi dos Naqshbandis –- as duas componentes da Liga Islâmica Mundial, a organização saudita anti-nacionalista árabe--- seria interessante saber mais sobre as relações da Sra. Clinton com a Arábia Saudita e os Irmãos.

Acontece que na equipa do seu adversário Donald Trump, conta-se o General Michael T. Flynn, o qual tentou opôr-se à criação do Califado pela Casa Branca e se demitiu da direção da Defense Intelligence Agency (Agência de Inteligência da Defesa-ndT) para marcar o seu protesto. Ele é acompanhado por Frank Gaffney, um «cold warrior» histórico (da guerra fria-ndT), agora qualificado como «conspiracionista» por ter denunciado a presença dos Irmãos no seio do Governo Federal.

Escusado será dizer que, do ponto de vista do FBI, todo o apoio às organizações jiadistas é um crime, independentemente da política da CIA. Em 1991, os polícias do FBI — e o Senador John Kerry — provocaram a falência do banco paquistanês (registado nas Ilhas Caimão) BCCI, que a CIA utilizava em todo o tipo de operações secretas com os Irmãos Muçulmanos, tal como com os cartéis latinoamericanos de drogas.


Foto: Hillary Clinton e a sua chefe de gabinete Huma Abedin. Mais fotos no original

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

ACORDO DE PARIS: A POLUIÇÃO À VENDA



A resposta aos problemas ambientais é inseparável da luta por uma sociedade que se liberte da ditadura dos mercados.

AbrilAbril, editorial

Entra hoje em vigor o Acordo de Paris no âmbito da Convenção Quadro sobre Alterações Climáticas das Nações Unidas. Um instrumento que foi apresentado, na altura em que foi alcançado, em Dezembro do ano passado, como «histórico» e resultado de uma «grande vitória diplomática». Na verdade, os ambiciosos objectivos de limitar o aumento da temperatura em 1,5 ºC não encontram resposta nas medidas já anunciadas de redução das emissões de gases com efeito de estufa.

Pelo contrário, Paris vem aprofundar as conclusões de Quioto, de 1997, que introduziam mecanismos de mercantilização do Ambiente, com a criação dos mecanismos do Mercado de Carbono. Em vez de solucionar os problemas reais do planeta, espera-se que sejam os «instrumentos de mercado» a responder aos objectivos fixados.

Na verdade, a experiência mostra que o Mercado de Carbono tem servido para que não se procurem alternativas energéticas. A crise económica mundial trouxe uma diminuição da procura das licenças de produção de dióxido de carbono, que chegaram aos três euros. Um administrador da EDP afirmava, recentemente, ser mais barato produzir electricidade com carvão, mais poluente, do que com gás natural.

Também por cá se tem apostado nos mecanismos de mercado, a par com outra linha – a responsabilização dos cidadãos individuais pelos problemas ambientais, de que a chamada fiscalidade verde, introduzida pelo anterior governo, é exemplo.

Mas o Acordo de Paris aprofunda, igualmente, o tratamento desigual de países com responsabilidades diferenciadas no processo. Ignorando que a poluição é um fenómeno acumulado, tratam-se de maneira igual países industrializados, que há mais de um século que contribuem para a emissão de gases com efeito de estufa, e países em desenvolvimento, cuja industrialização data de há poucas décadas.

A rejeição das propostas de Cuba e do Brasil, para que fossem estabelecidos objectivos diferenciados, é paradigmática. A pretexto de um pretenso combate às alterações climáticas, são impostas restrições ao desenvolvimento de países, como os BRICS, protegendo os EUA e outras economias industrializadas, que acabam por pagar na mesma medida, apesar de serem os maiores contribuintes para a acumulação de carbono na atmosfera.

A resposta aos problemas ambientais não passam pela sua financeirização. Pelo contrário, é inseparável da redução das injustiças sociais, das assimetrias e da luta por uma sociedade que se liberte da ditadura dos mercados.

DESFIBRILHADOR



Artur Pereira – jornal i, opinião

Nem tudo é jornalismo de massagem, nem jornalismo de trampolim. Também temos o jornalismo desfibrilhador

Vivemos num mundo altamente complexo e interdependente, cheio de inseguranças e ameaças.

A crise levou a pobreza a dezenas de milhões de pessoas na Europa que se juntaram a outros tantos que já viviam na margem da sociedade, numa pobreza hereditária, sem esperança, esquecidos nos subúrbios.

O único paradigma que funciona é o dos mercados, que condicionam as decisões politicas, e foram assumindo o papel que tradicionalmente era desempenhado pelos Estados.

São os gigantes económicos sem rosto, insaciáveis, amorais, que determinam o nosso estilo de vida, a forma de como consumimos, os valores que guiam os nossos atos, e a ilusão de que pensamos por mérito próprio.

Refiro-me à Apple, Google, Facebook e Amazon, que se assumiram como a encarnação da nova racionalidade em que progride a sociedade contemporânea.

Estes novos deuses que prometem colocar mais longe, mais rápido, com cada vez menos de nós e do real, estão de facto a deixar-nos cada vez mais isolados, fragilizados e insignificantes, numa realidade unidimensional, destorcida e doentia.

Somos escravos voluntários numa relação em que a liberdade tecnológica nos conduz a uma submissão intelectual.

O que recebemos é a aparência e a simulação do real. A razão é pura ilusão, e a experiencia foi substituída pela digitalização dos sentimentos, somos conduzidos para uma fragmentação da vida através das redes, entendidas, como sociais.

Nesta luta pelo direito a experimentar uma ideia, e da redescoberta do real, os jornais e os jornalistas têm uma função única.

Albert Camus dizia: “Um país vale o que vale a sua imprensa” Lamentava-se de que tinha feito demasiadas concessões e arrependia-se dos silêncios oportunistas que lhe tinham permitido salvar o seu posto de trabalho.

Claro que os jornalistas não realizam o seu trabalho no vazio e seria enganar as pessoas afirmar que dispõem de uma liberdade absoluta.

Mas pode-se lutar por dizer a verdade e contar aos leitores o que sucede à nossa volta. Os factos são o que interessa, não as opiniões.

Para nos sentirmos humanos aqui e agora, para nos resgatarmos da nossa própria indolência, para voltarmos ao que uma vez fomos, para esperarmos redenção, necessitamos dos factos, mas com dor.

Precisamos quebrar o espelho onde nos olhamos todos os dias, pegar num pedaço de vidro e fazermos um golpe. Confrontar a dor. Olhar o golpe. Sentir a ferida e a náusea.

Uma conhecida cantora de flamengo dizia que sabia que tinha cantado bem quando a boca lhe sabia a sangue.

O bom jornalismo é o que nos enche de marcas como feridas de navalha, o que te recorda que és humano, o que não te vai deixar dormir.

Vejam o documentário do “The New York Times” intitulado “4.1 Mile”. O titulo faz referencia às milhas de distância entre a Turquia e a ilha grega de Lesbos.

São apenas 22 minutos e vão assistir a crianças resgatadas do Mar Egeu por um marinheiro grego chamado Kyriakos. Não é agradável de ver.

Vão ver Kyriakos a dar massagens cardíacas a meninos flácidos que estão a morrer. Ou a tentar reanimar uma menina nua batendo-lhe nas costas. Vão ver Kyriacos, silencioso, ao leme, dizer: “O mundo tem que saber o que se passa aqui”.

Vão ver um menino, recém resgatado, enquanto outros caem à agua no meio de uma tempestade feroz, gritar à mãe entre lágrimas: “O pai subiu ao barco?” O pai não subiu. nem subirá.

Podem ver um homem a afogar-se, mas que antes de desaparecer no fundo do mar estica o seu braço, na mão sustém um bebé.

Cabe ao leitor decidir se deseja ser um cidadão ou um número de identificação fiscal presumido de livre.

Nem tudo é jornalismo de massagem, nem jornalismo de trampolim. Também temos o jornalismo desfibrilhador.

Consultor de comunicação - Escreve às quintas-feiras

Vieira da Silva diz que ambição da direita é "privatização dos negócios das pensões"



Vieira da Silva tem uma resposta aos apelos do PSD para um acordo para a reforma da Segurança Social: não está disponível. E o motivo é simples. O ministro que tutela a Segurança Social diz que o que o separa dos sociais-democratas "são opções de modelo social, são opções de fundo" com "diferenças que não adianta escamotear".

No arranque do segundo dia de debate na generalidade do Orçamento do Estado para 2017, Vieira da Silva não poupou críticas ao que considera ser o objetivo da direita na várias vezes reclamada reforma da Segurança Social.

Para Vieira da Silva, PSD e CDS têm seguido uma linha de "desvalorização da dimensão contributiva da Segurança Social" que levou a que na anterior legislatura apenas as pensões mínimas não contributivas tenham sido alvo de um aumento extraordinário.

O ministro acha que esta opção feita pelo Governo de Passos e Portas não foi uma "distração ou uma incompetência", mas "parte de uma política de fragilização da Segurança Social pública, de opção dos mínimos dos mínimos, de desvalorização imprudente da função contributiva para abrir a porta à individualização da proteção, ao fragilizar do seguro social".

Porquê? Segundo Vieira da Silva, "a grande ambição das várias direitas" é "o início da privatização do negócio das pensões".

"A nossa opção é uma opção de defesa da base pública e universal do seguro social a qual tem de ser completada por medidas de diferenciação positiva no combate à pobreza e que não deixa de estimular a opção complementar de reforço da poupança individual", afirmou o governante, defendendo assim a opção deste Orçamento de aumentar de forma extraordinária as pensões contributivas até 628 euros em mais dez euros.

"Esta é uma medida socialmente justa por três razões principais: porque se orienta para pensões inferiores a 628 euros, porque se dirige a pensões que perderam nos últimos anos poder de compra, porque dá uma resposta a pensionistas com longas carreiras contributivas", defendeu.

Vieira da Silva recordou que este aumento extraordinário beneficiará cerca de 1,5 milhões de pensionistas, argumentando que se trata de "compensar parcialmente um corte real de rendimentos que se pode equiparar a um corte de uma mensalidade da sua pensão" ocorrido durante a anterior legislatura.

"Trata-se de uma diferenciação que é justa para os pensionistas que mais sofreram com o congelamento das pensões", argumentou.

Margarida Davim – jornal i

"DEIXÓS LADRAR!"



Expresso Curto quando está a terminar a manhã. Despachar esta “abertura” é o que vai ter de ser, para assim a bota condizer com a perdigota e o “bom dia” corresponder à manhã. Esta manhã, véspera de sábado. Por cá, neste cadinho à beira.mar prostrado, acontece o mesmo de sempre: andam por aí os mastins da direita ressabiada a rosnar e a ladrar… enquanto a caravana passa. “Deixós ladrar!"

A "conversa" deste Curto traz à cabeça o tal Novo Banco dos roubos e outras falcatruas dos Espíritos Santos. O Sérgio Monteiro saca aos milhares de ordenados e mordomias para vender o pseudo Novo Banco. Foi o tal jeitoso do Banco de Portugal que nomeou o Sérgio, as más línguas dizem por aí que nomeou-o à comissão... Não acredito. Essa é gente muito honesta. Olhem o Cavaco. Do Banco de Portugal... E foi o que foi. Ai, mas que honesto! Como a PIDE, de que fez parte e por isso foi para presidente da República e por aí adiante... Ele há coisas. Sorte de mastins. Ou povinho estupidificado por tanta manipulação? Pois.

Bom fim-de-semana, se conseguirem tal proeza. (MM / PG)

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

João Vieira Pereira – Expresso

E o Novo Banco vai para...

Há histórias que começam pequenas. Quando em setembro de 2013 o Expresso publicou esta notícia estava longe de imaginar o que iria acontecer ao Banco Espírito Santo. O castelo considerado um dos maiores bastiões do poder financeiro e económico português ruiu, carta após carta.

Hoje só restam dívidas e processos judiciais. E nas cinzas há um banco que do original manteve a sede, a cor e pouco mais. Até às 17 horas têm de ser entregues as propostas vinculativas dos vários interessados em comprar o Novo Banco. É a segunda vez que tentam vender aquele que foi um dos ícones do mercado bancário nacional. O mais provável é que a escolha tenha de ser entre capital espanhol, americano ou chinês.

Vamos ter de esperar mais algumas horas para saber quem está de facto interessado em comprar a cadeira de Ricardo Salgado, mas este será um dos temas que vai marcar a agenda noticiosa dos próximos dias.

Já que comecei em tom de agenda não esqueça que a Web Summit está quase aí. Amanhã, sábado, em jeito de preparação, arranca a Surf Summit, um evento que irá reunir 200 executivos mundiais da área de tecnologia que terão a oportunidade de surfar as ondas da primeira Reserva Mundial de Surf. O Expresso estará em ambos os eventos e irá trazer-lhe todas as novidades.

E já agora não esqueça também que faltam apenas quatro diaspara uma das mais mediáticas eleições para a presidência dos Estados Unidos da América. E Trump está a ganhar fôlego suplementar no sprint final. Numa eleição onde as sondagens mostram que 8 em cada 10 pessoas dizem que a campanha lhes causou repulsa, a vantagem de Hillary Clinton caiu para apenas 3 pontos.

De forma surpreendente, Donald Trump está a ganhar terreno nos chamados 'swing states', aqueles que oscilam entre republicanos e democratas, como é o caso de Ohio, onde agora aparece à frente, e da Florida, onde deverá estar empatado.

Esta subida do candidato republicano está a alarmar os mercados, a fazer cair a cotação do peso mexicano e a fazer subir o valor do ouro.

Não é só do outro lado do Atlântico que reina algum desnorte. Ontem foi a vez do Reino Unido ser apanhado numa intricada teia jurídica e política em torno do Brexit. O High Court britânico decidiu que Theresa May não pode acionar o Artigo 50, que levaria ao início do processo de saída do Reino Unido da União Europeia, sem uma votação no Parlamento. A primeira ministra já avisou que vai recorrer da decisão para o Supreme Court, mas já se esperam meses de debate parlamentar sobre este tema.

O Telegraph diz que há uma conspiração para travar o Brexit, que gira à volta de três juízes que querem frustrar a vontade de mais de 17 milhões de pessoas. E não pode deixar de conhecer Gina Miller, a empresária que está na origem desta decisão. “Eu defendi aquilo em que acredito e tornei-me muito impopular. Mas isto não é uma questão de popularidade, mas sim de fazer o que está correto”.

OUTRAS NOTÍCIAS

De Camões a Bush. Eis o percurso de citações de Mário Centeno no debate sobre o Orçamento do Estado. Se na quarta-feira tinha sacado de “aquela cativa que me tem cativo” para dizer que o PSD estava refém de uma tabela, ontem, confrontado com a acusação do PSD: “pode dizer 100 vezes que não há aumentos de impostos. Mas há!”, Centeno respondeu com um firme “não há aumento de impostos!”, acrescentando: “teria possibilidade de ouvir 101 vezes da minha boca que não há aumento de impostos. E se lesse nos meus lábios, seria dois em um". À melhor maneira de George Bush “Read my lips: no new taxes”.

O debate sobre o OE para 2017 continua hoje, mas fica aqui um resumo, em poucas linhas, do que se passou ontem.

reestruturação da dívida foi o elefante na sala. Caldeira Cabral disse “não contem comigo”. Centeno gritou que “afinal há sempre uma alternativa”. O Bloco quer ver um relatório e diz não pagamos. O PCP concorda e adianta que é preciso rutura com a Europa. O PS diz que recebeu a educação suborçamentadaCristas disse que o OE é uma fatura e que Costa não dá a cara. João Almeida é épico no falhanço. E Montenegro perdeu-se na estagnação e agonia de mais austeridade. Confuso? Hoje há mais. Começa às 10 horas.

Ainda na senda fiscal o Diário de Noticias escreve que há um perdão fiscal que beneficia um ex-dirigente do Bloco. Tudo porque com os votos a favor do BE, PSD e CDS e abstenção do PCP foi possível aprovar a redução do IVA de 25% para 0% cobrado aos profissionais que praticam medicinas alternativas. Só que a lei é retroativa e portanto o Estado vai ter de devolver o IVA que antes foi cobrado e o DN escreve que um dos principais beneficiados é Pedro Choy, ex-bloquista e que detém 19 clínicas em todo o país. Fica a pergunta: se o IVA é suportado pelo cliente, porque é o profissional que vende o serviço a receber o imposto de volta?

Eu estou aqui mas ninguém me liga. A distinção vai para Costa Andrade, presidente do Tribunal Constitucional, que a respeito de os administradores da Caixa terem ou não de entregar as declarações de património disse: “O Tribunal tem que ser estimulado e até agora ninguém o estimulou". Ainda sobre o assunto, o Negócios escreve hoje que os gestores da CGD dizem que mostram o património, mas só no fim do mandato.

Américo Amorim vendeu 10% da Corticeira, numa oferta particular que lhe permitiu arrecadar €105 milhões. Desconhece-se quem comprou esta participação.

Está ao rubro a polémica entre o ministro da Educação (que sabia, não sabia, interferiu, não interferiu na nomeação do chefe de gabinete que acabou por se demitir por prestar declarações falsas) e o ex-secretário de estado João Wengorovius Meneses. O Público conta-lhe o folhetim patético.

A rede de militares da Força Aérea que alegadamente tinha montado um esquema de fraude nas messes pode ter desviado mais de €10 milhões. O Expresso conta-lhe os pormenores de uma operação sofisticada que durava há anos.

Paris é o novo Calais. Já há pelo menos 3 mil migrantes a viver nas ruas de Paris depois do desmantelamento da selva. Por isso começou hoje nova evacuação do acampamento de refugiados de Stalinegrad, em Paris. O primeiro de 82 autocarros fretados para o transporte dos refugiados chegou ao local do acampamento às 6:10 e partiu às 6:20, conduzindo-os para centros de acolhimento na île-de-France. Esta operação continuará a decorrer durante a manhã, percorrendo os restantes acampamentos onde se acomodaram os milhares de refugiados que tiveram de abandonar Calais.

O Bataclan reabre no dia 12 de novembro, na véspera da trágica data e quando se cumpre um ano sobre os atentados de Paris, com um concerto de Sting. Na ocasião será colocada uma placa na presença dos Eagles of Death Metal, a banda que atuava na noite do massacre.

A ofensiva sobre Mossul, o bastião do autoproclamado estado islâmico, por parte do exército iraquiano está a deixar novo rasto de desolação. A Unicef alerta que mais de 21 mil pessoas foram obrigadas a deixar as suas casas, 9.700 são crianças.

A operação militar parece ter como desfecho a derrota dos extremistas sunitas, mas retomar Mossul pode significar pouco para garantir a paz na região. Não só porque vai ser difícil impedir nova rebelião num país dominado pela maioria xiita, como não há nada que garanta um entendimento entre as várias fações que se uniram apenas para lutar contra o Isis.

Uma última referência, já tardia, para a vitória histórica dos Chicago Cubs, que, 108 anos depois, conseguiram voltar a ganhar a World Series. Tive a oportunidade os ver jogar no mítico campo de Wrigley Field. Acredite, é um espetáculo a não perder.

O QUE DIZEM OS NÚMEROS


6%. É a descida do valor das ações do facebook depois de anunciar que não pode gerar mais receitas de publicidade devido ao elevado número de anúncios que proliferam na sua plataforma.

€615 milhões. O lucro da EDP, nos primeiros nove meses do ano, caiu 16% em relação ao ano passado. A empresa só lucra agora cerca de €2,2 milhões por dia.

250 mil. É o número de bebés que nasceram no último ano no Reino Unido com recurso a tratamentos de fertilidade.

21. É o total de hotéis portugueses que integram a conceituada lista Condé Nast Johansens de hotéis de luxo.

O QUE EU ANDO A LER


Não sei se sou eu que estou a caminhar para a esquerda. Prefiro pensar que é Francisco Louçã que está a vir ter comigo à direita. A verdade é que dou por mim a defender algumas das coisas que ele defende. Com outro enquadramento, com outros objetivos, mas a mesma coisa. Também eu defendo défice zero, defendo que os bancos nos devem muito dinheiro, a nós contribuintes, e acho que é um escândalo termos vendido algumas das principais empresas estratégicas nacionais ao Partido Comunista Chinês.

Vem tudo isto a propósito do livro Negócios da China. A minha escolha. Pelo tema e pelas autoras. Não só considero a Anabela Campos e a Isabel Vicente duas das melhores jornalistas que conheço, com as quais tenho o privilégio de trabalhar há mais de 10 anos, como o tema não podia ser mais premente.

O livro revê vários negócios que acabaram por entregar a propriedade ou o controlo de algumas das maiores empresas portuguesas a capital estrangeiro. Casos como a Cimpor ou a PT e que vale a pena ler.

A economia portuguesa precisa de capitais estrangeiros, mas também precisa de empresas fortes que tenham a capacidade de investir, criar emprego e fazer crescer a economia. Nos últimos anos não fomos invadidos por investimento estrangeiro produtivo, mas sim por tomada de posições acionistas que são meras participações financeiras que trouxeram pouco mais do que repatriação de lucros. Ou pior. Pela venda de empresas que detêm monopólios naturais que nunca deviam ter saído das mãos do Estado, quanto mais irem parar às mãos de empresas públicas de outros países. Há alguma razão para que a REN, que gere a rede elétrica nacional, e a EDP, que é a maior produtora nacional, serem dominadas pelo Estado chinês?

Esta é uma das questões mais pertinentes levantadas por esta obra. A não perder. O livro vai ser apresentado no dia 21 de novembro na livraria Buchholz, em Lisboa.


Este Expresso Curto termina por aqui. Tenha uma ótima sexta-feira e um excelente fim de semana.

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