quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

DE ARGEL…




… De Argel ao Cabo…

Cavalgando com Fidel!

… Levando o ardor progressista desde contra o baluarte do colonialismo francês no Norte de África…

… Até contra o bastião mais retrógrado e fascista que existia à face da Terra após a IIª Guerra Mundial, em seu perverso domínio em toda a África Austral…

… Precisamente no sentido inverso ao projetado pelo império anglo-saxónico sob inspiração de Cecil John Rhodes… do Cabo ao Cairo…

… Em 55 anos foi de facto um vulcão libertário que sacudiu África e se distendeu, um vulcão libertário cuja energia tem aqui e agora, no berço da humanidade, oportunidade para muito melhor se refletir, se equacionar e inteligentemente aproveitar!...

… Quanto os africanos não têm saudavelmente absorvido do legítimo contributo e histórica responsabilidade revolucionária cubana, por via das armas enquanto houvera que ser, por via da educação e da saúde enquanto nesses 55 anos o foi, o é… e o será no porvir!?

Vencido o colonialismo pelas armas… vencido o “apartheid” pelas armas… vencidas algumas de suas sequelas pelas armas… quando face às bombas nucleares nenhum combatente progressista recuou… a paz, a harmonia e a luta contra o subdesenvolvimento tornou-se mais possível que nunca!...

Agora sim!...

Chegámos com Fidel, com o Che, com Raul, com Ben Bella, com Amílcar Cabral, com Samora Machel, com Agostinho Neto, com José Eduardo dos Santos, com Sam Nujoma, com Nelson Mandela…

… Finalmente…

… À mais legítima aspiração de renascimento comum afro-cubano…

,,, O futuro abre-se radioso à oportunidade dum vital CABO DA BOA ESPERANÇA!… 

Imagem: Uma das mensagens que deixei no livro de condolências, aberto na residência de Sua Excelência Gisela Garcia Rivera, Digníssima Embaixadora de Cuba em Angola.

Mais de 2 milhões de pessoas lotam praça da Revolução, em Havana, para se despedir de Fidel



Camilo Toscano - Enviado especial a Havana – em Opera Mundi

Povo entoou gritos e palavras de ordem, como: “Eu sou Fidel!”, “Viva Fidel, venceremos!”, “Sempre Fidel!” e “O povo, unido, jamais será vencido”
  
Mais de 2 milhões de pessoas lotaram a praça da Revolução, em Havana, na noite desta terça-feira (29/11), para se despedir do líder da Revolução Cubana, Fidel Castro. O ato desta terça faz parte dos nove dias de luto oficial decretado pelo governo para homenagear e memória do líder revolucionário.

Na presença de chefes de Governo e representantes de diversas nações, muitos dos quais discursaram em homenagem e agradecimento a Fidel, o povo entoou gritos e palavras de ordem, como: “Eu sou Fidel!”, “Viva Fidel, venceremos!”, “Sempre Fidel!” e “O povo, unido, jamais será vencido”. 

Fidel Castro morreu na noite de sexta-feira (25/11), exatamente 60 anos depois de que partiu, do México rumo a Cuba, no iate roubado Granma, com um grupo de 82 guerrilheiros. A ação foi desbaratada pelas tropas do então presidente do país, Fulgêncio Batista, mas Fidel conseguiu fugir e agrupar forças suficientes na Serra Maestra, de onde, quase três anos depois, viria a liderar a entrada em Havana na Revolução Cubana.

Na primeira etapa da série de atos programados, cubanas e cubanos passaram para se despedir de Fidel pelo salão com suas cinzas montado dentro do Memorial José Martí, que fica na mesma praça, além da assinatura do compromisso com a revolução firmado por Fidel em 2000. Só em Havana, mais de 3,5 milhões de pessoas assinaram os livros disponibilizados com esse propósito. 

A partir das 7h desta quarta-feira (30/11), as cinzas de Fidel seguem em cortejo fúnebre para Santiago, cidade natal do comandante (leste da ilha), para que os cubanos de outras cidades possam também dar adeus a ele e firmar o mesmo compromisso. O trajeto repete a Caravana da Liberdade realizada pelos revolucionários após a derrubada de Batista, em 1959, e se encerra no sábado (3/12).

Grande ato de massas

O grande ato de massas na praça da Revolução começou pouco antes das 19h (22h de Brasília), com três músicos cubanos - Luna Manzanare, Maurício Madrigal e Raul Torres - cantando a música “Um homem que sonha”, dedicada a Fidel. Em seguida, houve a execução do hino nacional e a declamação de um poema pela poetisa Corina Mestre, que terminou ao som de “Fidel, Fidel”, vindo da multidão. O grito se repetiria algumas vezes mais no decorrer da noite.

Rodobaldo Hernández, apresentador da TV oficial, foi o mestre de cerimônias, passando a chamar uma lista de 17 presidentes ou representantes de países para proferirem seus discursos. Até que Raul Castro, irmão de Fidel e atual presidente cubano, fizesse uso da palavra, encerrando o ato às 22h50 (horário local), totalizando quase quatro horas.

Desde às 14h, as cubanas e os cubanos começaram a se dirigir para a praça, para buscar os lugares mais perto de onde ficariam as autoridades locais e representantes de outras nações. Muitos jovens e adolescentes, alguns vindos em excursão escolar vestindo uniformes, participaram do ato. Variados tipos de camisetas com rosto de Ernesto Che Guevara, de Cuba ou com a assinatura de Fidel se misturavam a bandeiras, faixas e bandanas com as cores do país. 

“Vim aqui apoiar a causa de que Fidel nos ensinou. Este ato teve um significado especial para todos os cubanos, com muita gente, as ruas estavam repletas. E todo mundo apoiando Fidel. Somos um só, Fidel vive em nós”, afirmou Marlon Yeladita, 20 anos, maestro de música em uma escola primária.

Para Santiago Herrera, economista de 47 anos, o momento foi de reforçar o compromisso revolucionário. “Como você pode ver, o povo veio reafirmar a Revolução Cubana. Reafirmar que as ideias e o legado de Fidel terão continuidade”, disse. “A partida de Fidel deixou convicções, princípios e ensinamentos que ele nos mostrou durante tantos anos de revolução. A força de nosso futuro está no trabalho político e ideológico que foi feito. E, para isso, a juventude está encarregada de dar continuidade”, complementa.

Marisol Rodrigues Santos, professora primária, acredita que “o líder histórico da revolução” apenas partiu fisicamente. “Mas nos restou a satisfação de seu legado ao qual nós vamos dar continuidade. E, como juramos, vamos seguir adiante com o conceito que ele deu de revolução. Isso é ter Fidel ao nosso lado, o amor que pudemos demonstrar que sentimos por ele. Penso que não só eu, mas todo o povo de Cuba sente. Suas ideias estarão presentes em mim”, diz emocionada.

Os eventos que marcam o luto oficial em memória a Fidel Castro incluem ainda um segundo ato de massas, na praça Antonio Maceo, em Santiago, no sábado. No dia seguinte, ocorrerá a última cerimônia, no cemitério Santa Ifigênia. 

Leia mais em Opera Mundi


ÁFRICA É FIDEL!



  
Gerações e gerações de africanos vão recordar ao longo dos tempos o Comandante Fidel, por ter sido uma das maiores forças geoestratégicas que deu uma imensa contribuição para arrancar África às trevas de séculos de escravatura, de colonialismo e por fim, a décadas de ignóbil "apartheid"!

Essa geoestratégia ávida de vida, irá muito para além da existência física do Comandante Fidel e prolongar-se-á muito particularmente por via da educação e da saúde, por que a solidariedade e o internacionalismo inerente ao povo cubano, prolongam essa plataforma tão sensível de relação num continente que constitui a cauda dos Índices de Desenvolvimento Humano, dando sequência à inolvidável OPERAÇÃO CARLOTA!

Desde Luanda, 51 anos depois da passagem do Che pelo Congo, que teve o mérito de arquitetar uma primeira linha da frente progressista entre Brazzaville e Dar es Salam contra a poderosa linha fascista de então que se desdobrava a sul, desde Léopoldville a Luanda, a Lusaka, a Blantyre, a Lourenço Marques, a Salisbúria, a Windoek e a Pretória, sei que posso considerar, com toda a sensibilidade duma consciência revolucionária própria dos combatentes que, por mérito do movimento de libertação e da revolução cubana, nesta hora de imensa reflexão humana, ÁFRICA É FIDEL!

FIDEL, UM AQUILES COMUNISTA



Miguel Urbano Rodrigues [*]

Querido povo de Cuba:

Compareço com profunda dor para informar o nosso povo e os nossos amigos da América e do mundo que hoje, 25 de Novembro, às 10:29 horas da noite, faleceu o Comandante em Chefe da Revolução Cubana Fidel Castro Ruz. Em cumprimento da vontade expressa do Companheiro Fidel, os seus restos serão cremados. Às primeiras horas de manhã de sábado 26 a comissão organizadora dos funerais dará ao nosso povo uma informação detalhada sobre a organização da Homenagem póstuma que será feita ao fundador da Revolução Cubana.
Até à vitória sempre! 

Alocução do General de Exército Raúl Castro Ruz,
Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros da República de Cuba
 

Em meados dos anos 60, encerrando o XII Congresso dos Trabalhadores Cubanos, em Havana, Fidel formulou um desejo: "que no futuro poucos homens, ou mesmo ninguém, tenham a autoridade que tivemos no início da Revolução, porque é perigoso que seres humanos disponham de tanta autoridade".

O revolucionário cubano não podia então prever que essa situação, que o preocupava, iria manter-se por muitas décadas.

A doença que o levou agora a transferir a chefia do Estado e do Partido para o irmão desencadeou a nível mundial uma avalanche de opiniões contraditórias sobre o homem e a sua intervenção na História. Raramente em vida de um estadista célebre se escreveu e falou tanto sobre ele como agora sobre Fidel.

Ele foi na segunda metade do século XX o dirigente do Terceiro Mundo que maior influência exerceu pela palavra e pela acção no rumo de acontecimentos que marcaram o processo da descolonização e as lutas contra o imperialismo.

A meditação sobre a temática do poder pessoal acompanha-o desde a juventude.

Creio que foi sincero ao definir como perigoso o excesso de autoridade concentrada num dirigente. Foram as próprias circunstâncias da História que o investiram de um poder cada vez maior que não ambicionava.

Fidel tinha lido na universidade os clássicos do marxismo. Estudou-os depois na prisão. Mas a sua opção pelo socialismo resultou do movimento, da dialéctica da História.

O atentado terrorista que fez explodir [o navio] La Coubre e a invasão mercenária de Playa Giron, ideada e financiada pelos EUA, ocorreram numa época em que o brado soy y seré marxista-leninista, que alarmou Washington, expressou mais a decisão de defender a Revolução situando-a no campo socialista, do que propriamente uma opção ideológica.

Fidel insistiu muitas vezes no significado que sempre atribuiu à avaliação da correlação de forças. Ao reconhecer que em Cuba foram cometidos muitos erros tácticos na condução do processo, conclui que não identifica um só erro estratégico importante. O mérito, acrescentarei, é seu.

Já na Sierra Maestra durante a luta armada, ele revelara dotes de um grande estratego. Mas foi posteriormente que, na confrontação permanente com o imperialismo, desenvolveu uma capacidade extraordinária de compreender o movimento da História nos momentos em que o seu rumo se define.

Escolha dolorosa

Isso aconteceu concretamente na fase crítica em que a Revolução, numa guinada brusca, rompeu com o discurso e a praxis dos anos da utopia para fazer uma escolha dolorosa. Cuba estava à beira do desastre económico e o único país que lhe estendeu a mão foi a União Soviética. Sem essa aliança tudo se teria afundado. Naturalmente o preço foi muito alto. A Revolução entrou num período cinzento – assim lhe chamaram – num processo de burocratização que atingiu duramente a intelligentsia, sufocou o debate de ideias e a criatividade em múltiplas frentes.

Mas não havia alternativa.

Até o Che, o homem novo do futuro, na definição de Fidel, o companheiro entre todos admirado e querido, que tinha sobre o mundo um olhar nem sempre coincidente, reconheceu na sua carta de despedida, ao partir para a aventura africana, que lamentava não se ter apercebido mais cedo das capacidades de liderança e de visão estratégica que faziam do comandante um revolucionário incomparável, único.

Lenine emergiu como um líder incontestado na mais brilhante geração de revolucionários profissionais europeus do século XX. Fidel não foi tão afortunado, nem isso era possível.

O núcleo de quadros revolucionários do Exército rebelde era insuficiente para enfrentar após a vitória os desafios colocados pela História. A geração que acompanhou Fidel forjou-se em circunstâncias muito adversas num pequeno país já bloqueado pelos EUA, vítima de uma guerra não declarada.

A excepção Fidel 

Alguns historiadores criticam em Fidel um voluntarismo que nunca conseguiu dominar. Esse voluntarismo marcou-lhe aliás a intervenção nas lutas do seu povo desde os anos da Universidade. A própria definição que Fidel apresenta do "marxismo martiano" como síntese do materialismo dialéctico e do idealismo que vinha de Luz Caballero y Varela confirma uma evidência: a Revolução Cubana configura um desafio à lógica da História. Assim aconteceu com Moncada, com a aventura do Granma, a luta na Sierra, e o choque posterior com o imperialismo norte-americano. A decisão de resistir e a coragem do povo cubano no combate que confirmou ser possível a resistência serão recordadas pelo tempo adiante como acontecimentos épicos da História da humanidade.

Ora o épico não pode ser explicado pela razão.

Para compreendermos a excepção Fidel, os tratados de ciência política são insuficientes.

Identifico nele uma síntese de heróis mitológicos e de heróis modernos que o inspiraram num batalhar que já se tornou História.

Fidel traz à memória Aquiles, Martí e Bolívar.

Do aqueu e do venezuelano herdou a coragem sobre-humana e a fome dos desafios ao impossível aparente. Mas a sede de glória, que acompanhou Bolívar, nunca o fascinou e a desambição foi sua companheira permanente. Contrariamente a Aquiles não atravessou o mar para destruir as Tróias contemporâneas. A sua gente atravessou um oceano mas para levar solidariedade a povos que se batiam pela liberdade.

Do cubano Martí aprendeu que revolução alguma pode vencer sem fidelidade a uma concepção ética da vida, sem amor pela humanidade. E, por humano, apresenta também alguns defeitos dos três.

Ao escrever estas linhas recordo uma conhecida afirmação sua: o dever do revolucionário é fazer a revolução.

Poucos homens em milénios de História colocaram com tanta coerência a sua vida ao serviço desse objectivo, erigido em infinito absoluto.

Imagino-o na sua cama, no hospital, insensível ao vendaval de calúnias desencadeado pela sua doença e tocado pelo furacão simultâneo de afecto, respeito e admiração.

Os revolucionários de todos os povos, onde quer que se encontrem, desejam-lhe um rápido restabelecimento. Agradecem-lhe o que fez pela humanidade.

Quase carregou o Estado e o Partido às costas em períodos de crise. E isso foi negativo. Por ter consciência da lei da vida, sabe que exigiu de si muito mais do que podia e devia. Exagerou.

Recuperada a saúde, poderá ser ainda por longos anos uma consciência actuante da humanidade revolucionaria se, distanciado de esgotantes tarefas do quotidiano, utilizar o tempo para transmitir ao seu povo e ao mundo o saber e a experiência acumulados, a sua lição de moderno Aquiles, de discípulo de Bolívar.

El comandante 

Vivi oito anos em Cuba. Mais de uma vez, escutando durante muitas horas os seus discursos na Praça da Revolução em Havana, ou em comemorações do 26 de Julho noutras cidades da Ilha, me interroguei sobre a contradição entre um poder pessoal enorme, minimamente partilhado a nível decisório, e o humanismo de quem o exercia, identificável no amor pelas crianças e na solidariedade com os oprimidos e excluídos de todo o planeta.

Comportam-se como hipócritas conscientes aqueles que por ódio ou fanatismo ideológico qualificam Fidel de ditador brutal e sanguinário, de tirano feroz.

Sabem que a acusação é falsa

Quem conhece um pouco Cuba não ignora que existe uma relação de afecto profundo entre o povo cubano e el comandante en jefe. Ele é amado pela esmagadora maioria dos seus compatriotas. Depositam nele uma confiança absoluta. É um sentimento que não cultivou e talvez o inquiete por estar consciente de que qualquer dirigente, por mais dotado e sábio que seja, não pode substituir o colectivo como sujeito transformador da História.

Não há calúnia mediática que resista à prova da vida. Definir como ditador um dirigente amado por um povo que governa há quase meio século é um absurdo maldoso. O consenso entre o governante e a sua gente ridiculariza a diatribe forjada pelos seus inimigos.

A grandeza de Fidel teria obviamente de desencadear campanhas de ódio. Mas não fez surgir somente inimigos e caluniadores. É inseparável também do aparecimento de uma geração de epígonos. Em Cuba e pelo mundo afora eles apareceram. Ora a tendência para a glorificação incondicional dos grandes homens é sempre negativa. Porque não há governante perfeito. E Fidel sabe disso e não gosta que vejam nele um super-homem.

Ele é o que é, um ser mortal, modelado por uma vontade de aço, uma inteligência excepcional, e uma fome insaciável de humanização revolucionária da vida, mas com uma lúcida percepção das limitações da condição humana.

26/Novembro/2016

[*] O presente artigo, anterior ao falecimento, foi publicado no Avante! e no Granma. 

O original encontra-se em www.odiario.info/um-revolucionario-incomparavel-fidel-um-aquiles/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

Mais lidas da semana