Raul
Diniz | opinião
As
declarações bombásticas do ministro angolano das relações exteriores acerca da
dos motivos que levaram a interrupção unilateral da cooperação com Portugal,
deixaram perplexos até mesmo o cidadão menos informado. O ministro esforçou-se
de tal maneira a barra, que quase deu a entender que Manuel Vicente estaria a
ser perseguido politicamente pela justiça Portuguesa.
Só
faltou ao ministro dizer que o governo estaria pronto para fazer recurso ao
instituto internacional da lowfare, para salvar Manuel Vicente de uma
hipotética perseguição politica movida pelo sistema judicial português.
Também
a tentativa do PR transformar a instituição presidência da republica numa banca
de advocacia, só para proteger e/ou defender corruptos consagrados da nossa
praça politica, é um sofisma e um desserviço contra a democratização do país.
Aliás, em um país de corruptos como Angola, não basta não ser corrupto, é
preciso ser principalmente anti corrupto.
Até
aqui, o governo e principalmente o ministro das relações exteriores não deram
as caras para publicitar as razões que motivaram a blindagem a Manuel Vicente,
nem apresentaram o motivo que os leva a impedir que MV vá a Portugal
defender-se dos crimes de que é acusado pelo MP português!
O
governo de João Lourenço quer a todo custo colocar de cócoras o governo de
Portugal, demonstrar a esse uma inexistente força politica. Por outro lado, o
PR deduz erradamente, que poderá sair fortalecido se conseguir humilhar e
forçar a rendição do judiciário Luso.
Esse
raciocínio politico é inaceitável e está a ser considerada dentro e foras das
fronteiras de Angola como um posicionamento promiscuo inegavelmente de
chantagem politica. O governo poderá fracassar e manchar ainda mais a imagem de
Angola, caso não se afaste de nociva e malparida estratégia.
Incompreensivelmente
o governo decidiu reforçar a sua tropa de choque, introduzindo na arena das
opiniões confusas o ilustre advogado Sérgio Raimundo, que logo ao entrar
em cena reforçou a tese do regime com juridicíssimo argumento da falsa perda de
soberania. Está claro que a motivação de Sérgio Raimundo não passou de uma peça
teatral muito mal encenada.
A linha de defesa retomada pelo ilustre
advogado é a mesma defendida anteriormente pelo governo. Apenas foi introduzido
nela considerações jurídicas inviáveis como se vê no texto publicado no Jornal
de Angola.
A
blindagem patrocinada pelo governo angolano a Manuel Vicente, tem causado
enorme desconforto e frustrações que indignam a forte active social
intelligence angolana. A publicação no artigo opinativo de Sérgio Raimundo em
defesa de MV, é arcaico, demasiado estreito e difícil de decifrar a finalidade
do extenso texto.
Se
a intenção foi expor um novo ponto de vista com a vertente jurídica do direito
internacional, então a intenção foi de todo um tremendo falhanço. Porém, se o
gesto foi um ato isolado de explicita fidelidade politica alinhada com o antigo
vice-presidente da republica, aí então é que o caldo foi totalmente entornado.
Porquanto não se vislumbra no texto qualquer
enquadramento jurídico, eticamente respeitável que permita moralizar a justiça
angolana.
A dubiedade exposta mostra um tenebroso
artificialismo no artigo, que expurga qualquer interpretação justificável dos
motivos que levam o governo utilizar a instituição presidência da republica
para blindar Manuel Vicente, o intocável militante da corrupção internacional.
O
artigo expõe a fraqueza argumentativa jurídica, alem de existir nele uma
dubiedade extensa do ponto de vista criminal que o torna ininteligível, eivado
de falhas e com dozes elevadas de cinismo politico a mistura. Percebe-se também
um fosso de nulidades contundentes que ferem irremediavelmente a intelligentsia
dos operadores do direito.
Falando
especificamente de Manuel Augusto, o ministro dos exteriores, apesar deste ser
novo ministro das relações exteriores do establishment, na verdade não é tão
novo assim, trata-se de um quadro volátil, com idas e retornos ao ministério
das relações exteriores. Trata-se de um quadro da segurança de estado, onde
exerceu nessa área o cargo de vice-ministro da segurança interna.
Daí,
que a sua nomeação como ministro dos exteriores nada de significativa
importância trouxe que ajude a retirar diplomacia da mediocridade em que se
encontra atolada há 42 anos. Infelizmente o MPLA não consegue perder a postura
péssima de falso moralista, e tudo faz para defender os ladrões que rouba
gatuno. Coisa do partido-estado que estamos com ele.
O
MPLA precisa urgentemente deixar de ser o falso moralista, sair do casulo e
conviver de perto com gente que é gente de verdade. João Lourenço tem que fazer
diferente e desistir de pensar que é igual a JES, fugir do culto de
personalidade e sobretudo não pensar que é dono e senhor da verdade.
A
tese do douto advogado possui duas interpretações de difícil aceitação,
sobretudo no seio dos operadores do direito. A primeira está ligada a intenção
de Angola assediar o governo de Portugal acenando-o com a explicita chantagem
politica, isso representa a existência de um anticorpo nocivo, que a politiza
de todo o processo de delito comum.
A
segunda dificuldade é de interpretação a solo, e, centra-se na intenção de
Angola impedir o judiciário português de operar dentro da legalidade
institucional, com essa variante nota-se a intenção de poluir do processo e
impossibilitar o exercício livre do direito, além de inviabilizar
concomitantemente a administração da lei penal.
A
opinião do ilustre advogado apresenta notáveis distorções inconciliáveis tanto
do ponto de vista jurídico como do politico. Ou então o advogado está
confundido, e tenta desviar as atenções da verdade processual, introduzindo nas
entrelinhas o direito internacional somente para desvirtuar a inevitável
presunção da culpa de Manuel Vicente.
Essa
tese de Sérgio Raimundo, transporta consigo fragmentos perigosos que podem
provocar uma situação grave de insegurança jurídica, também poderá
eventualmente fraccionar em certa medida o judiciário português e impedi-lo de
fazer livremente.
Incrivelmente
o ilustre advogado ousou por em causa a legitimidade do judiciário português de
fazer justiça, de maneira transcendental tentou defender o indefensável com a
mecânica introduzida no artigo, esquecendo-se que a linha que separa a
fronteira o certo e o errado é demasiado ténue e fácil de expor falaciosas
inverdades escondidas a nu.
O
governo angolano unilateralmente entendeu congelar as relações com Portugal, a
soberba tomou conta do novo governo e, como retaliação colocou em banho-maria a
cooperação lucrativa com esse país.
O
governo perdeu o tino e continua desestruturado da base a cúpula e continua a
utilizar a mentira recorrente, só que desta vez recorreu ao astuto argumento
estúpido da soberania angolana correr alegado perigo, só porque o judiciário
português processou o cidadão angolano Manuel Vicente, então PCA da Sonangol. E
essa hein! Chega ou querem mais?
A
afirmação é taxativa, Angola desconstrói os alicerces que firmaram até aqui as
relações de cooperação com Portugal. Para retornar ao dialogo, o regime acena
com a chantagem político-económico insistindo que o governo português force o
ministério publico a desistir de processar Manuel Vicente em Portugal. Angola
quer Portugal se agache, aceite a humilhação de obrigar poder judicial em
Portugal a render-se.
Porém
foi em Portugal que Manuel Vicente nas vestes de PCA da Sonangol praticou o
crime de corrupção e de lavagem de dinheiro. Assim sendo, trata-se de um caso
meramente pessoal que envolve exclusivamente a sua pessoa que pode acontecer
com qualquer cidadão, como alias, já aconteceu no passado longínquo.
Não
se trata de nenhum caso envolvendo o estado angolano, a não ser que Manuel
Vicente seja a cabeça o tronco e os membros da soberania do estado Angolano. Só
assim seria possível anuir-se que a soberania de Angola corre perigo. É preciso
rejeitar o desfasado garantimos politico e definitivamente rejeitar governismo
elitista que reina no país.
Pelo
que se sabe, o MP português nunca processou o antigo vice-presidente da
republica, nem mesmo a instituição do estado que ele representou no passado. A
priori os argumentos apresentados por Sérgio Raimundo são inéditos e visa tão
somente atingir um objectivo, que não é outro senão o de fragilizar,
desacreditar e inviabilizar a acusação.
Além
de tentar criar um impasse conflitante de deslealdade processual improprio para
o caso em questão. Trata-se igualmente de uma tentativa nada republicana sem
espaço no ordenamento jurídico, nem está amparada em qualquer acordo cooperação
judiciária entre os dois países.
Não
tem razão o doutor Sérgio Raimundo, ao tentar promiscuir com vileza a verdade
processual em causa. O dr Sérgio Raimundo tentou contraditar a acusação,
buscando audiência popular em defesa da acusação contra Manuel Vicente.
O
país não comporta mais esse tipo de pressão (agiotismo) jurídico-político, o
MPLA não formou governo para defender os seus criminosos de estimação. Não cabe
mais blindar bandidos confessos no país. Em Angola deve apenas coexistir o
principio da igualdade de direitos que proteja o Francisco e o Chico, chicote
que bate em Chico também bate em Francisco.
Para
o bem dos angolanos, o governo do MPLA tem que afastar-se da tentação de
exercer o artificialismo justicialista altivo, que tem emperrado ao longo dos
42 anos, o exercício igualitário na aplicabilidade da justiça.
O que está aqui em causa não é o facto de se
olhar para árvore sem ver ou não a floresta, é preciso que o dr Sérgio diga
para que árvore ou floresta quer que os angolanos olhem? Quer que se olhe para
a floresta da impunidade que graça entre os pseudo poderosos ladrões e corrupto
que grassam no país?
Digo
isso, porque na floresta existem árvores que se sustentam a si mesmas, algumas
são parasitas e outras assassinam outras árvores mais fracas ou de menor
dimensão. Igualmente habitam nas florestas criaturas perigosas, alem dos
perigosos terrenos pantanosos e traiçoeiros, que podem sem hesitação desnudar
aqueles que escondem verdades espúrias.
Fico
perplexo escutar pessoas de inegável lisura e com conhecimentos validos da
nossa historia, virem a público colocar achas na fogueira incandescente com a
finalidade de alastrar ainda mais a fogueira da indignação.
Está
claro que a instituição vice-presidência da republica não foi acusada de nada,
por isso a soberania de Angola nunca esteve em perigo, por esta não ter
cometido qualquer crime. Alias, as instituições não cometem crimes, as pessoas
constituídas em poder, essas sim, cometem crimes.
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