sábado, 15 de julho de 2017

G20 | QUEM SÃO OS TERRORISTAS?



Após onda de protestos contra donos do mundo, mídia alemã ataca os “radicais de esquerda”. É truque para esconder déficit global de democracia

Tainã Mansani, de Berlim | Outras Palavras

O encontro da cúpula do G20, que reuniu as 19 principais economias do mundo mais a União Europeia, aconteceu na última semana em Hamburgo, na Alemanha, e ficou marcado por uma série de protestos violentos nas ruas e pela criminalização dos assim chamados “radicais da esquerda” por causa dos confrontos com a polícia. Foi também um encontro marcado por uma série de contradições.

Cerca de 20 mil policiais foram deslocados para conter manifestantes que protestavam contra as políticas do G20 na cidade anfitriã da cúpula. Um evento em que apenas as mais importantes economias tomam decisões a respeito da ordem econômica e política que rege o mundo. Apesar dos mais de duzentos países existentes, apenas vinte têm chance de participação na seleta cúpula.

E, nos noticiários, predominou a discussão sobre os encapuzados “terroristas” e “radicais” de esquerda, munidos de estilingues e garrafas – ainda que as informações sobre a violência em Hamburgo sejam controversas. Quem esteve na cidade relata que a polícia, e não apenas manifestantes, contribuiu em várias situações para o início do confronto.

Sabe-se, além disso, que nem todos os manifestantes foram violentos. O protesto do sábado, que reuniu cerca de 70 mil de pessoas contra as políticas neoliberais, contra o capitalismo e por um mundo mais justo, não teve o mesmo destaque que a violência.

SÉCULOS DE SOLIDÃO – V



Martinho Júnior | Luanda 

Foi lançado o terceiro livro em que comparticipo, desta feita com Leopoldo Baio, que foi o Director do desaparecido semanário “ACTUAL”.

O livro “Angola – Séculos de solidão – do colonialismo à democracia – cronologia histórica baseada numa pesquisa analítica” da Editora LeArtes, tem nesta primeira edição uma tiragem de 1000 exemplares, com produção numa gráfica de Luanda e em resultado de alguns financiamentos locais (Banco Económico e ENSA).

Foi graças ao esforço e à tenacidade de Leopoldo Baio que o livro deu à estampa.

O livro enquadra-se, em época eleitoral, na necessidade de reforçar as linhas progressistas do MPLA, tendo em conta muitas lições que nos acodem não só do seu passado de luta, mas também e inclusive da contemporaneidade.

Frisei na minha intervenção no acto de lançamento no auditório do Banco Económico em Luanda, a necessidade dum constante balanço entre o que realmente é da civilização e o que é da barbárie, essencialmente por que África (e obviamente Angola) está ávida de civilização, por que nunca deixou de experimentar a barbárie imposta ao fim e ao cabo, pelo domínio de uns quantos sobre o resto da humanidade!

Por isso África (e Angola), deve voltar-se em reflexão sobre os fenómenos correntes da globalização, mas sobretudo sobre si própria e ir buscar ao estudo e à investigação aquela consciência e aquele conhecimento que sempre lhe tem sido negado, em relação às suas forças, às suas energias e ao relacionamento de todas as questões que se prendem com os factores físico-geográfico-ambientais com as questões que se prendem aos factores humanos, de modo a estabelecer os parâmetros duma longa luta contra o subdesenvolvimento inscritos numa geoestratégia de desenvolvimento sustentável que leve em atenção a dialética entre os espaços da água interior (um dos pulmões tropicais do globo e uma das mais ricas biodiversidades do planeta) e os grandes desertos quentes, o que será ao mesmo tempo um rumo no quadro da lógica com sentido de vida, tão urgente para a humanidade, como cada vez mais urgente para o planeta!

Mais do que ler neste balanço global, continental e nacional permanente, devemos reflectir também sobre a equação guerra e paz de forma a elaborar as premissas do futuro, que levam à formação da inteligência nacional, à mobilização da juventude e das futuras gerações, à educação de todo o povo angolano e de África, bem como à pedagogia necessária capaz de enfrentar a nocividade da inteligência elitista em vigor em África desde os alvores da revolução industrial com Cecil John Rhodes!

RACISMO | ACUSAÇÃO HISTÓRICA EM PORTUGAL



Alberto Castro*, Londres

Contrariando a percepção quase generalizada da inexistência do racismo na sociedade portuguesa, tal como acontece no Brasil, fruto de teorias lusotropicalistas que romantizavam e ainda seguem romantizando a excepcionalidade lusitana no seu relacionamento tido como harmonioso e exemplar com outros povos, o Ministério Público (MP) português fez hoje (11/07) história ao acusar agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) de práticas de racismo e tortura. 

De acordo com a imprensa local a acusação, sem precedentes em Portugal, surge após dois anos de investigação de uma unidade da Polícia Judiciária ao caso de violência policial contra seis jovens negros de um bairro periférico de Lisboa, ocorrido em fevereiro de 2015. Ao todo o MP acusa 18 agentes da PSP de crimes de tortura, sequestro, injúria e ofensa à integridade física qualificada. Alguns policiais são igualmente acusados de falsificação de relatórios, de auto de notícias e de testemunho. Para o MP, que mandou arquivar todos os processos dos policiais contra os jovens, os crimes têm a agravante de terem sido motivados pelo ódio racial.

A acusação mostra que o país, que nas últimas décadas se vem modernizando e evoluindo em diversas áreas, fortalecendo as suas instituições e ganhando reconhecimento e elogios externos, também está evoluindo no reconhecimento de um tema até pouco tempo considerado tabu. Um tabu que novas gerações de jornalistas, historiadores, sociólogos, demais académicos e ativistas sociais ousaram desafiar e colocar na agenda midiática e, com ela, no debate público. No link abaixo as informações mais detalhadas sobre o assunto.

Por seu turno, na Inglaterra, a premiê conservadora Theresa May, ordenou ontem (10/07) um inquérito e mandou suspender imediatamente da função de whip (parlamentar responsável pela disciplina partidária da bancada nas votações e pelo respeito às normas parlamentares) a deputada Anne Morris, por uso de linguagem no seu entender "chocante e inaceitável" numa sociedade diversa como a britânica.

Em comentário feito num clube social londrino, a referida parlamentar usou a palavra "nigger" que, tal como "coloured", é vista como profundamente insultuosa por parte de africanos e afrodescendentes em países de fala não lusófona. De nada valeram seus pedidos de desculpa e a justificativa do uso do termo como uma imagem comparativa da desgraça e da melancolia do negro, caricaturada em narrativas do passado colonial e da escravidão, com o atual momento de incertezas vividas no Reino Unido em consequência do brexit.

Ainda em terras de Sua Majestade, a jornalista Kate Hopkins, conhecida por usar de linguagem incentivadora aos ódios racial, xenófobo e religioso, particularmente contra imigrantes e refugiados africanos e muçulmanos, foi demitida da estação de rádio londrina LBC, decisão que mereceu aplausos dos próprios colegas de profissão.  A demissão aconteceu em maio passado na sequência do trágico ataque terrorista na Arena de Manchester onde 22 pessoas, na maioria jovens, perderam a vida no final de um concerto da cantora estadunidense Ariana Grande. Na ocasião a jornalista publicou um tuíte defendendo para os muçulmanos a "solução final", um termo empregue pelos nazistas visando a aniquilação total do povo judeu.

Enquanto isso, no Brasil dito de "todos juntos e misturados", políticos, jornalistas, pastores evangélicos e demais fazedores de opinião usam e abusam impunemente de linguagens incendiárias como as de incentivo ao ódio político, religioso, racial e xenófobo como se viu, por exemplo, no tratamento dado aos médicos cubanos, aos imigrantes haitianos e no show de horrores que foi o impeachment de Dilma Rousseff.

*Artigo de Alberto Castro publicado originalmente em Afropress

*Alberto Castro é correspondente de Afropress em Londres e colabora em Página Global

PRECONCEITO | Autárquicas, candidato caceteiro contra ciganos



André Ventura fez declarações polémicas

Carlos Narciso | Portugal Alerta!

O candidato em Loures do PSD/CDS parece estar a utilizar uma táctica caceteira para atrair atenções e, eventualmente, captar votos na tentativa de não ter resultados eleitorais mínimos, como indicam as expectativas eleitorais para o concelho.

André Ventura resolveu falar sobre direitos de cidadania das minorias étnicas, considerando que há “minorias que acham que estão acima da lei”, referindo-se, em especial, ao que acontece no concelho de Loures no que aos elementos da etnia cigana diz respeito.

Essas declarações foram disseminadas pela Internet e cedo surgiram reacções de rejeição às palavras de Ventura. O Bloco de Esquerda acusa André Ventura de ter feito um “ataque vil, gratuito e preconceituoso para com as pessoas de etnia cigana”.

O candidato do PSD/CDS garante que nunca se irá retratar das declarações que proferiu.

O Bloco de Esquerda, na pessoa do seu candidato à Câmara Municipal de Loures, Fabian Figueiredo, apresentou, uma queixa à Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial contra André Ventura por considerar que as declarações de Ventura são puníveis pelo Código Penal Português.

Além disso, acusa o Bloco, “lamentavelmente, André Ventura não só difama (ou insulta)” como, pode ler-se no comunicado enviado às redacções, “incita explicitamente à discriminação destas pessoas, chegando até a usar de uma ameaça velada”.

André Ventura considera “estranho” o facto de “ser um partido de Esquerda, que se diz tão defensor dos ideais revolucionários e da liberdade de expressão, a fazer uma queixa precisamente contra a liberdade de expressão”.

Para rematar, o professor universitário de Direito, cuja candidatura foi publicamente apresentada na noite desta quinta-feira, contando com a presença de Pedro Passos Coelho, adianta que vai reagir nas respectivas instituições para se defender da queixa apresentada pelo Bloco de Esquerda.

RACISMO POLICIAL | Cova da Moura: Moradores pedem reabertura de casos de violência arquivados



Joana Almeida | Económico

No bairro são conhecidos outras situações de violência e agressões policiais sem justificação contra moradores. Moradores querem que a Procuradoria-Geral da República volte a abrir processos arquivados porque "nunca acreditam na versão das vítimas".

Vários moradores do bairro da Cova da Moura pedem à Procuradoria-Geral da República (PGR) a reabertura de processos arquivados que dão conta de situações de violência policial motivada pelo ódio racial. O pedido surge depois de 18 agentes da polícia terem sido acusados pelo Ministério Público (MP) de crimes de tortura, sequestro, injúria e ofensa à integridade física qualificada contra seis cidadãos de descendência africana.

Segundo avança o jornal Diário de Notícias, são conhecidas outras situações de violência e agressões sem justificação contra moradores daquele bairro, no concelho da Amadora. A presidente da associação Moinho da Juventude, Isabel Monteiro, que desenvolve projetos de integração social no terreno, indica ao jornal que “estão a pensar na melhor forma, do ponto de vista jurídico, de fazer esse apelo à PGR”, tendo em conta que os casos de violência, especialmente contra os cidadãos mais jovens, “acabam sempre arquivados porque nunca acreditam na versão das vítimas”.

Isabel Monteiro explica que com a acusação imputada aos agentes da PSP de Alfragide “abriu-se uma luz de esperança para todos e têm sido muitas as manifestações de interesse em que se faça agora também justiça no caso delas”. O DN tentou contactar a PGR para avaliar a possibilidade de os processos arquivados virem a ser reabertos, mas não obteve resposta.

Parte dos polícias acusados pelo Ministério Público estão ainda em serviço na esquadra de Alfragide, depois de a PSP ter decidido não  tomar qualquer medida preventiva em relação aos agentes. Em comunicado, a direção da PSP justifica a decisão dizendo que “a presunção de inocência se mantém até trânsito em julgado, sendo que em relação às referidas ocorrências foram acionados os meios disciplinares internos e da IGAI [Inspeção-Geral da Administração Interna]”.

A Associação Moinho da Juventude diz que, por enquanto, não vão tomar medidas e vão aguardar que a justiça se pronuncie sobre o caso.

“Os Truques da Imprensa Portuguesa” dão a cara: “Não defendemos nem atacamos o Governo”



Gustavo Sampaio | Económico

Foi desvendado o mistério: os criadores da página "Os Truques da Imprensa Portugal" são Pedro Bragança (arquitecto) e João Marecos (advogado). Em entrevista conjunta (e por escrito) ao "Jornal Económico" recusam assumir a função de "provedores do leitor 'online'", dizendo que apenas formam uma "comunidade de leitores". E prometem manter a "vigilância" sobre a comunicação social.

O que é que vos motivou a criarem a página “Os Truques da Imprensa Portuguesa”?

Os “Truques” começaram por ser mais uma pequena página de Facebook. Propunha-se a reagir à forma como alguma imprensa intervinha intencionalmente na agenda mediática em Portugal. Não tínhamos um plano. Todas as páginas nascem com o tamanho dos seus autores. Assim foi com “Os Truques”: não éramos nada mais que nós, anónimos sob qualquer perspectiva, a escrever o que queríamos para um pequeno grupo de pessoas, como qualquer pessoa que nos lê o pode fazer. Com a evolução da página, esta tornou-se muito maior do que nós: passámos a ter seguidores, os nossos alertas sobre notícias passaram a ter impacto e um alcance tremendo. Com esse processo de evolução, fomos pensando e expondo na página os princípios a que aderíamos, o propósito que assumíamos, enfim: fomos criando as normas que guiam o nosso, agora sim, projeto. Um projeto público na sua propriedade e comunitário na sua orgânica. O que a página será, no futuro, é incerto. O que é hoje, é claro: o maior agregador de crítica de imprensa em Portugal. Como toda a crítica, há quem concorde ou quem discorde. Mas não vendemos factos, que são ou não são: construímos e oferecemos pontos de vista, que são os nossos, necessariamente enquadrados pela nossa realidade, necessariamente subjetivos, e que podem ser aceites ou rejeitadas por quem os lê.

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