Alberto Castro*, Londres
Contrariando
a percepção quase generalizada da inexistência do racismo na sociedade
portuguesa, tal como acontece no Brasil, fruto de teorias lusotropicalistas que
romantizavam e ainda seguem romantizando a excepcionalidade lusitana no
seu relacionamento tido como harmonioso e exemplar com outros povos, o
Ministério Público (MP) português fez hoje (11/07) história ao acusar
agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) de práticas de racismo e
tortura.
De
acordo com a imprensa local a acusação, sem precedentes em Portugal, surge após
dois anos de investigação de uma unidade da Polícia Judiciária ao caso de
violência policial contra seis jovens negros de um bairro
periférico de Lisboa, ocorrido em fevereiro de 2015. Ao todo o
MP acusa 18 agentes da PSP de crimes de tortura, sequestro, injúria
e ofensa à integridade física qualificada. Alguns policiais são
igualmente acusados de falsificação de relatórios, de auto de notícias e de
testemunho. Para o MP, que mandou arquivar todos os processos
dos policiais contra os jovens, os crimes têm a agravante de terem
sido motivados pelo ódio racial.
A
acusação mostra que o país, que nas últimas décadas se vem modernizando e
evoluindo em diversas áreas, fortalecendo as suas instituições e ganhando
reconhecimento e elogios externos, também está evoluindo no reconhecimento de
um tema até pouco tempo considerado tabu. Um tabu que novas gerações de
jornalistas, historiadores, sociólogos, demais académicos e ativistas
sociais ousaram desafiar e colocar na agenda midiática e, com ela, no
debate público. No link abaixo as informações mais detalhadas sobre o
assunto.
Por
seu turno, na Inglaterra, a premiê conservadora Theresa May, ordenou
ontem (10/07) um inquérito e mandou suspender imediatamente da função de whip (parlamentar
responsável pela disciplina partidária da bancada nas votações e pelo respeito
às normas parlamentares) a deputada Anne Morris, por uso de linguagem no
seu entender "chocante e inaceitável" numa sociedade diversa como a
britânica.
Em
comentário feito num clube social londrino, a referida parlamentar usou a
palavra "nigger" que, tal como "coloured", é vista como
profundamente insultuosa por parte de africanos e afrodescendentes em países de
fala não lusófona. De nada valeram seus pedidos de desculpa e a justificativa
do uso do termo como uma imagem comparativa da desgraça e da melancolia do
negro, caricaturada em narrativas do passado colonial e da escravidão, com o
atual momento de incertezas vividas no Reino Unido em consequência do brexit.
Ainda
em terras de Sua Majestade, a jornalista Kate Hopkins, conhecida por usar de
linguagem incentivadora aos ódios racial, xenófobo e religioso, particularmente
contra imigrantes e refugiados africanos e muçulmanos, foi demitida da
estação de rádio londrina LBC, decisão que mereceu aplausos dos próprios
colegas de profissão. A demissão aconteceu em maio passado na
sequência do trágico ataque terrorista na Arena de Manchester onde 22
pessoas, na maioria jovens, perderam a vida no final de um concerto da
cantora estadunidense Ariana Grande. Na ocasião a jornalista publicou um tuíte
defendendo para os muçulmanos a "solução final", um termo
empregue pelos nazistas visando a aniquilação total do povo judeu.
Enquanto
isso, no Brasil dito de "todos juntos e misturados", políticos,
jornalistas, pastores evangélicos e demais fazedores de opinião usam e abusam
impunemente de linguagens incendiárias como as de incentivo ao ódio
político, religioso, racial e xenófobo como se viu, por
exemplo, no tratamento dado aos médicos cubanos, aos imigrantes
haitianos e no show de horrores que foi o impeachment de Dilma Rousseff.
*Artigo de Alberto Castro publicado originalmente em Afropress
*Alberto Castro é correspondente de Afropress em
Londres e colabora em Página Global
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