Martinho Júnior | Luanda
1-
Desde o momento que foi proclamada a independência de Angola, que dois
objectivos prioritários, que eram inerentes ao seu programa, se impuseram ao
MPLA: a unidade nacional e a paz.
A
unidade nacional, “de Cabinda ao Cunene e do mar ao leste”, que distinguia
o MPLA das outras organizações etno nacionalistas angolanas, elas próprias
manipuláveis a partir de interesses do exterior, alguns deles vizinhos…
A
paz, enquanto sublimação desse processo de formação de identidade, em íntima
relação com a construção da identidade nacional e a libertação do continente
africano do colonialismo, do“apartheid”, do neocolonialismo e de suas sequelas.
Ao
longo dos anos, foi essa a luta de geometria e intensidade variável que
empenhou os dois Presidentes, Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos.
De
facto, encontrar soluções face às heranças da Conferência de Berlim no que às
fronteiras dizia respeito, era inerente à luta contra o colonialismo português,
contra o “apartheid” sul-africano, contra o neocolonialismo zairense
e contra as suas sequelas, sempre em nome da angolanidade, procurando
estabelecer nexos quer com as organizações etno nacionalistas, quer com
qualquer tipo de entidades identificadas com Angola.
2-
É evidente que um projecto nacional dessa natureza numa África retalhada em
Berlim e dominada por poderes coloniais sempre dispostos a dividir, implicava
um esforço doutrinário, filosófico e ideológico, acompanhado de capacidade
geoestratégica, tendo em conta os desafios que eram impostos e as adversidades
que nesse caminho o MPLA tinha de enfrentar, quer dizer: capacidade de
organização, de mobilização, de logística e uma potencialidade político-militar
que na prática deveria aplicar, no essencial, as obrigações decorrentes desse
projecto nacional.
Na
imediata sequência das derrotas do 11 de Novembro de 1975, do exército
zairense, a norte e do sul-africano a sul, cada qual em suporte do “seu” etno
nacionalismo e mesclando-se com interesses agregados dos poderosos serviços de
inteligência dos Estados Unidos, bem como dos interesses recalcitrantes de
algumas tendências de alguns portugueses alinhados no Exército de Libertação de
Portugal, alcançar domínio até às fronteiras foi uma questão imediata, mas por si
não conclusiva: era necessário começar a garantir a inviabilidade do território
nacional, pois quer o Zaíre, quer a África do Sul e os interesses que
personificavam, a seu modo não desistiriam facilmente de Angola.
O
MPLA, assumida a independência, foi sujeito desde logo a uma dura prova: chegar
às fronteiras, combater a desestabilização instrumentalizada a partir do
exterior e, com os olhos postos na construção da identidade nacional, continuar
a luta de libertação de outros povos africanos no sul e centro do continente,
abrindo caminho na direcção da paz.