Operação Fizz começa hoje a ser
julgada em Lisboa, com o antigo vice-presidente angolano e atual deputado
Manuel Vicente, que não foi notificado, como principal suspeito
Arranca hoje no Campus da
Justiça, em Lisboa, o julgamento de um caso que abala as relações políticas e
diplomáticas entre Portugal e Angola e no quadro da Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa (CPLP). Em causa está a posição do antigo vice-presidente
angolano Manuel Vicente, que o Ministério Público aponta como principal
suspeito da Operação Fizz, acusando-o de ter corrompido o procurador Orlando
Figueira para arquivar inquéritos do Departamento Central de Investigação e
Ação Penal.
Independentemente da inocência ou
culpabilidade de Manuel Vicente, o qual não foi notificado e que Luanda diz
gozar de imunidade diplomática, a decisão da Justiça portuguesa de rejeitar o
pedido angolano de auxílio judiciário - ao abrigo dos acordos assinados pelo
Estado português no âmbito da CPLP - e justificá-lo com a desconfiança no
sistema judicial daquele país lusófono abala as relações entre os dois Estados.
"No que nos toca, a questão
está agora, exclusivamente, nas mãos do poder judicial", enfatiza o
embaixador Seixas da Costa, "tal como já estava no momento em que a
Procuradoria-Geral da República [PGR] - ironicamente, a sede do eventual crime
- não soube garantir a privacidade de um processo que devia ter mantido em
segredo de justiça, uma quebra profissional e deontológica tanto mais grave
quanto afetou gravemente as relações bilaterais com Angola".
"Se a PGR portuguesa tivesse
sabido tratar o processo, com todo o rigor mas também com todo o sigilo, não
teríamos chegado onde chegámos", sublinha ainda o antigo secretário de
Estado dos Assuntos Europeus. Por isso e porque "o Estado português é um
todo", apesar da separação de poderes existente, "os olhos do país
devem estar concentrados exclusivamente no sentido de responsabilidade do poder
judicial português. Neste, como em outros casos, terá chegado a hora da verdade
para o seu sentido de Estado", alerta Seixas da Costa.
Legislação internacional
Os pedidos de um Estado
estrangeiro para transmissão de um processo judicial a correr em Portugal são
feitos ao abrigo da Lei da Cooperação Judiciária Internacional em Matéria Penal
e, no caso de Angola, também da Convenção de Extradição entre os Estados
membros da CPLP, que Portugal subscreveu.
Mas o tribunal indeferiu o
requerimento das autoridades angolanas, com o Ministério Público a entender
"não existir qualquer garantia de que os factos, em caso de transmissão do
processo, fossem objeto de apreciação judicial".
"Este entendimento",
explicou a PGR ao DN, decorria de não estar garantido um "pressuposto
essencial" para essa transmissão do processo, fundado "na
circunstância de as autoridades angolanas terem dado conhecimento" de que
"os factos estariam abrangidos, em Angola, pela previsão da Lei da
Amnistia" e, entre outras razões, "não haver qualquer possibilidade
de cumprimento de eventual carta rogatória que, porventura, lhes fosse
endereçada para audição e constituição como arguido de Manuel Vicente, por
considerar que o mesmo é detentor de imunidade".
Esta posição é vista como
incompreensível por parte do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Martins da
Cruz, uma vez que Angola é um Estado soberano e faz as suas leis.
Manuel Carlos Freire | Diário de
Notícias
Em conformidade com o anunciado
na maioria dos órgãos de comunicação social de Portugal, em última hora e a
aguardar atualização, o tribunal decidiu separar processo do ex-vice-Presidente
de Angola Manuel Vicente do julgamento da Operação Fizz.
Entretanto, Angola recusa notificar o ex-vice presidente da República, Manuel Vicente.
Processo de Manuel Vicente vai
ser separado
Entretanto, Angola recusa notificar o ex-vice presidente da República, Manuel Vicente.
- a aguardar atualização
Tribunal separa processo de Manuel Vicente. Angola recusa notificá-lo
Tribunal separa processo de Manuel Vicente. Angola recusa notificá-lo
Antigo governante angolano será
julgado num processo à parte do dos restantes arguidos da Operação Fizz
As autoridades angolanas
responderam a uma carta rogatória enviada por Portugal, recusando-se a
notificar o ex-vice-presidente Manuel Vicente no âmbito da Operação Fizz,
soube-se esta segunda-feira, no primeiro dia do julgamento.
Em resposta à justiça portuguesa,
Angola lembra que o antigo governante goza de imunidade, pelo que não pode ser
notificado da sua condição de arguido.
Entretanto, a procuradora do
Ministério Público Leonor Machado pediu a separação do processo do
ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, que foi aceite pelo coletivo de
juízes.
A procuradora alegou que o
procurador Orlando Figueira, arguido neste processo, está há mais de dois anos
com medida privativa da liberdade (pulseira eletrónica).
O advogado de Manuel Vicente, Rui
Patrício, não se opôs ao pedido. O julgamento prossegue assim com três
arguidos, tendo os juízes considerado que, dada a recusa de Angola em notificar
Manuel Vicente, seria mais justa para os restantes arguidos a separação dos
processos, devido às dificuldades colocadas até agora.
Hoje, à entrada do julgamento, o
advogado de Manuel Vicente tinha afirmado que lhe parecia inevitável a
separação dos processos.
"O que nos parece inevitável
é a separação dos processos", afirmou na altura Rui Patrício, que estava
presente enquanto mandatário de Armindo Pires, outro dos arguidos neste caso,
sublinhando que era preciso aguardar a decisão do tribunal "com calma e
serenidade".
"Vamos ver o que o tribunal
vai decidir", acrescentou.
Questionado pelos jornalistas
sobre o porquê da ausência de Manuel Vicente, Rui Patrício disse que o
ex-vice-Presidente de Angola não comparece "porque não pode".
"Não comparece porque não
pode. A questão da imunidade não está na disponibilidade e vontade de Manuel
Vicente, é um assunto de Estado", afirmou.
Rui Patrício insistiu que, neste
processo, Manuel Vicente não foi notificado da acusação e nem sequer chegou a
ser constituído arguido.
O julgamento da Operação Fizz,
que hoje começou, tem como arguidos o ex-vice-Presidente de Angola, Manuel
Vicente, o ex-procurador Orlando Figueira, o advogado Paulo Blanco e o
empresário Armindo Pires.
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