Victor Silva | Jornal de Angola |
opinião
Os novos tempos de esperança que
Angola vai vivendo tem também os seus sobressaltos, o que é capaz de nem ser
mau de todo para que se caia no real.
Pela primeira vez na história da
República, o Presidente deslocou-se ao Parlamento para abrir a discussão sobre
o OGE. O significado desta atitude tem a ver com uma nova matriz, de respeito
pelas instituições, e acima de tudo evitar que se confundam ou sobreponham
poderes. Um acto de humildade democrática e pedagogicamente de grande
significado político.
Esta deslocação de João Lourenço à casa mãe da democracia serviu para dignificar uma instituição, que no futuro terá que ser exigente na fiscalização do trabalho do Executivo, e com uma dinâmica melhorada para que as propostas de desenvolvimento económico e social do País correspondam à realidade dos territórios dos eleitos pelo povo de Angola.
Para melhorar a democracia e potenciar o desenvolvimento, a Assembleia Nacional não pode ser mera figura de retórica, ou caixa de ressonância de grupos, fazendo vingar protestos mais em relação à melhoria de mordomias dos deputados do que na defesa de planos de desenvolvimento das suas áreas de intervenção. E os encontros de auscultação às várias franjas da sociedade sobre os números do OGE 2018, é um sinal de que também ali, na casa das leis, os ventos da mudança estão a ter repercussão, não apenas no nível elevado dos debates, pela qualidade dos deputados, como nesta abertura de ouvir extractos da sociedade civil, alguns quase que impensáveis há não mais de seis meses.
O discurso de João Lourenço foi mais um incentivo ao futuro, e das suas palavras insiste-se na necessidade de reforçar Angola, melhorando a auto-estima dos cidadãos com propostas muito determinadas de combate à corrupção e à gestão parcimoniosa do património público, propriedade dos angolanos e ao serviço de todos. E face à realidade de cofres quase vazios que encontrou não hesitou em anunciar algumas medidas correctivas, de equilíbrio macroeconómico, que se revelam duras no imediato, com o agravamento das condições de vida das famílias, mas que trarão benefícios a médio e longo prazos.
No meio de todo este “estado de graça” que o Executivo vai vivendo, fruto da coragem com que foi assumindo mudanças de vária índole, assistimos, também a coberto de algum anonimato vergonhoso, a um conjunto de críticas pessoais à figura do Presidente da República, nomeadamente num contexto de que este se estaria a afastar das determinações emanadas pelo MPLA, o partido maioritário do País.
A linguagem desbragada de alguns comunicados a coberto do anonimato, o permanente lançamento de insidiosos comentários em redes sociais, o denegrir constante de pessoas do círculo pessoal e político do Presidente da República demonstra que os tempos que aí vêm não serão apenas duros pelas circunstâncias económicas que se conhecem, mas também pela insídia que certa gente quer perpetuar quando sente os seus interesses pessoais ou familiares em causa.
O MPLA está numa encruzilhada, e se quiser manter o respeito, e futuramente a votação maioritária dos angolanos, tem que assumir com clareza um apoio a este Governo e unir esforços para que faça parte da solução e não seja um factor permanente de promotor de problemas, dispensáveis nesta hora que se vive.
O estado geral da cidade capital é nalguns municípios quase caótico ao nível do saneamento, da recolha de lixo e da conservação das ruas e avenidas. As estradas e as pontes do País precisam urgentemente de intervenção, e que não seja apenas para durar o tempo até às primeiras chuvadas. As ravinas estão a ilhar o País e a pôr em causa a circulação das pessoas e bens e a própria unidade nacional. Na Educação pedem-se escolas e professores, e urge fazer uma quase mobilização para que as crianças possam ter direito ao ensino, afinal algo que está defendido como um direito de gratuitidade na Constituição. A saúde confronta-se com problemas quase catastróficos em todo o território, e é urgente fazer-se qualquer coisa. O desemprego alastra, em síntese o quadro é pouco famoso.
Somos todos responsáveis porque desbaratámos receitas em obras, estudos, pareceres, ordenados a assessores estrangeiros e a técnicos de renome para termos chegado ao estado a que chegámos. O MPLA, o seu presidente, os seus militantes devem olhar para o País que temos e assumir que as coisas não correram nada bem nos últimos anos, e que têm que ser actores activos em ideias, que se transformem em propostas para que o futuro que se devia estar a construir ontem, comece a ser construído hoje, não num quadro idílico, mas confrontado com as dificuldades vividas por quase todos os angolanos.
À oposição pede-se o mesmo, porque o futuro é dos angolanos e não do partido A ou B. O passado conhecemos e sabemos diagnosticar os erros, e assumirmos a coragem de os confrontarmos rapidamente, para que se reconstrua um País que devolva dignidade e esperança aos seus cidadãos.
O jornalista é também um agente que tem que participar neste projecto sem subserviência a este ou àquele grupo, ou esta ou àquela individualidade. Sendo um agente com possibilidade de intervenção maior que o cidadão comum deve alertar para corrigir o que está mal, evitando o sensacionalismo e a irresponsabilidade de “coisas que se disseram”. A liberdade tem inerente uma grande responsabilidade, e o “Jornal de Angola”, jornal de capital público, quer ser responsavelmente colaborante e crítico com os tempos novos do País. Esta é a nossa matriz, esta é a nossa forma de estar.
Nelson Mandela disse “Só podemos caminhar juntos no futuro se nos abraçarmos no
passado”!
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