Membros de organizações da
sociedade civil e do partido no poder saíram às ruas de Chimoio para apoiar os
consensos alcançados entre a FRELIMO e a RENAMO no âmbito do processo de
descentralização.
Centenas de pessoas saíram este
sábado (17.02) às ruas de Chimoio, a capital da província de Manica, numa
marcha em apoio ao presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, pelos
consensos alcançados com o líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO),
Afonso Dhlakama, no âmbito do diálogo político sobre o processo de
descentralização.
Os manifestantes percorreram
diferentes ruas e avenidas da capital provincial, cantando, empunhando
dísticos, cartazes, panfletos, e vestindo camisetas com a mensagem: "Nós
queremos a paz". A marcha foi convocada por organizações da sociedade
civil e teve a participação de militantes da Frente de Libertação de Moçambique
(FRELIMO), o partido no poder.
O presidente do Conselho
Distrital da Juventude em Chimoio (CDJ), Soares Juga Ferro, disse que a camada
jovem da população decidiu ir às ruas para pressionar a RENAMO a seguir com o
processo de paz e desmilitarizar o seu braço armado. Para Soares, a paz efetiva
irá aumentar os investimentos no país e as oportunidades de emprego para os
jovens.
"O futuro de Moçambique está
nas mãos dos jovens. Eles estão esperançosos em ver e testemunhar o regresso à
paz, que é um grande catapulto para o desenvolvimento de um país próspero, com
a juventude na vanguarda. Ele [Filipe Nyusi] deslocou-se para as matas da
Gorongosa onde foi se encontrar com o líder da RENAMO na busca deste
consenso que hoje estamos a testemunhar. Por esta razão nos unimos e estamos
aqui a marchar", afirmou Soares Juga Ferro.
A primeira-secretária do Comité
Provincial da FRELIMO em Manica, Ana Armando Chapo, disse que o evento surge
igualmente para saudar o calar das armas em face das recentes hostilidades que
o país testemunhou, em particular, naquela província. "Essa marcha é de
saudação aos esforços que o presidente Nyusi tem estado a fazer em prol da
paz", afirmou.
O governador da província de
Manica, Alberto Ricardo Mondlane, destacou a importância da presença da
sociedade civil. "As boas coisas devem ser celebradas, e uma das coisas
boas para o povo moçambicano é a paz. Sem paz, não podemos fazer nada. Já temos
experiência disso", frisou o governador.
Descentralização
O acordo entre a FRELIMO e a
RENAMO, anunciado
na semana passada por Filipe Nyusi, prevê que os governadores das
províncias e os administradores dos distritos passem a ser indicados por quem
ganha as eleições para as respetivas assembleias, em vez de serem nomeados pelo
poder central. A proposta de revisão da Constituição depositada na Assembleia
da República para apreciação também estabelece que os presidentes de municípios
deixem de ser eleitos diretamente e passem a emanar das assembleias municipais.
Em entrevista à agência Lusa, o
filósofo moçambicano Severino Ngoenha criticou as negociações. "Este
acordo é estruturalmente fraco, porque ele compreende a dinâmica de dois
partidos e deixa de lado aquilo que é a vontade popular", disse. Para o
filósofo, retirar o direito de voto direto ao povo nas eleições dos presidentes
e dos municípios revela que a política está a fugir dos problemas reais do
povo. "A descentralização que se propunha recentrou o poder. O
partido político vai ser o novo monarca", afirmou.
Na fundamentação da proposta de
revisão da Constituição, o Executivo moçambicano justifica a alteração ao nível
autárquico como uma forma de simplificar o processo eleitoral, tornando-o igual
para todos os níveis da administração, ou seja, com a eleição de uma
assembleia, que indica quem dirige.
Relativamente aos assuntos
militares, o Presidente moçambicano sublinhou que consensos estão a ser alcançados
em matéria de desarmamento, desmobilização e reintegração dos efetivos da
RENAMO.
Bernardo Jequete (Manica),
Agência Lusa | em Deutsche Welle
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