sábado, 17 de fevereiro de 2018

ANGOLA | A vassoura da democracia

Jornal de Angola | Editorial

Os ventos de democracia, de cada vez mais exigência para a prestação de contas por parte dos poderes públicos e, acima de tudo, da obrigação de satisfazer as expectativas das populações, varrem claramente o continente africano desde há alguns meses.

O que se passou no Zimbabwe e muito recentemente na Etiópia e na África do Sul, demonstram que as lideranças africanas não podem ficar indiferentes ao rácio entre a governação e resolução dos problemas das populações. Governar com poder e autoridade para fazer mudanças pelo bem-estar das populações está ligado a outra, que é ser governado para ver o cumprimento da agenda de governação. Quando há um distanciamento grande entre aqueles dois elos de um mesmo segmento deteriora-se o convívio entre governantes e governados, tal como sucedeu nos países mencionados.

As lideranças anteriores tinham sido forçadas a demitirem-se naqueles países, por razões, entre muitas outras, ligadas basicamente à não satisfação das suas expectativas, parte delas traduzidas na inobservância das promessas eleitorais e excessos. 

Na verdade, os políticos são eleitos regularmente sob uma espécie de contrato com os eleitores e é razoável que as agendas dos políticos sejam consentâneas com a realidade. 

A estratégia política deve ser moderada, exequível, baseada em variáveis e metas alcançáveis, com uma reduzida margem de erro, que permita à população compreender a situação e não se sentir defraudada.

Quando as suas agendas falham, as lideranças africanas, sobretudo aquelas que lutam democraticamente pelo exercício e manutenção do poder, devem ser as primeiras a fazer leituras que inviabilizem a mobilização das ruas.  

Não colhe a ideia segundo a qual as promessas são feitas numa dada altura e sob uma conjuntura que, passado algum tempo e por factores alheios à força humana, podem acabar em incumprimentos e sem responsabilização. Essa visão, de que se pode prometer tudo e nada cumprir, além de não dignificar a arte de fazer a política, está na base das crises que algumas democracias africanas enfrentam. 

Governar pressupõe prever e, independentemente das dificuldades, é sempre expectável que as lideranças políticas ajustem as suas agendas aos desígnios das populações, comuniquem mais e sejam realistas na execução dos seus programas de governação. 

Não há mal nenhum em admitir a desaceleração ou fracasso na execução de um determinado programa ou parte do mesmo, com uma boa estratégia de transparência, prestação de contas e comunicação que ajudam a minimizar a indignação popular. 

Hoje, já não faz sentido para as lideranças africanas fazerem-se eleger democraticamente e esperar que todas as suas acções da governação sejam legitimadas, mesmo com uma grande desproporcionalidade dos indicadores económicos e sociais. 

É preciso que as lideranças que se encontram no poder e que por razões ligadas ao seu desempenho, em desencontro com as expectativas das populações, sejam as primeiras a fazer leituras do contexto e evitar o agudizar da situação com crises políticas que custem vidas humanas, bens públicos e privados. 

Auguramos que as lideranças africanas estejam à altura dos desafios que a governação impõe, sendo realistas nas promessas e eficientes na materialização, tendo sempre o povo como destinatário. 

Nenhuma governação pode ser bem sucedida se o seu desempenho contrariar as expectativas das populações na medida em que acaba sempre varrida pelos ventos da democracia.

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