Jornal de Angola | Editorial
Os ventos de democracia, de cada
vez mais exigência para a prestação de contas por parte dos poderes públicos e,
acima de tudo, da obrigação de satisfazer as expectativas das populações,
varrem claramente o continente africano desde há alguns meses.
O que se passou no Zimbabwe e
muito recentemente na Etiópia e na África do Sul, demonstram que as lideranças
africanas não podem ficar indiferentes ao rácio entre a governação e resolução
dos problemas das populações. Governar com poder e autoridade para fazer
mudanças pelo bem-estar das populações está ligado a outra, que é ser governado
para ver o cumprimento da agenda de governação. Quando há um distanciamento
grande entre aqueles dois elos de um mesmo segmento deteriora-se o convívio
entre governantes e governados, tal como sucedeu nos países mencionados.
As lideranças anteriores tinham
sido forçadas a demitirem-se naqueles países, por razões, entre muitas outras,
ligadas basicamente à não satisfação das suas expectativas, parte delas
traduzidas na inobservância das promessas eleitorais e excessos.
Na verdade, os políticos são
eleitos regularmente sob uma espécie de contrato com os eleitores e é razoável
que as agendas dos políticos sejam consentâneas com a realidade.
A estratégia política deve ser
moderada, exequível, baseada em variáveis e metas alcançáveis, com uma reduzida
margem de erro, que permita à população compreender a situação e não se sentir
defraudada.
Quando as suas agendas falham, as
lideranças africanas, sobretudo aquelas que lutam democraticamente pelo
exercício e manutenção do poder, devem ser as primeiras a fazer leituras que
inviabilizem a mobilização das ruas.
Não colhe a ideia segundo a qual
as promessas são feitas numa dada altura e sob uma conjuntura que, passado
algum tempo e por factores alheios à força humana, podem acabar em
incumprimentos e sem responsabilização. Essa visão, de que se pode
prometer tudo e nada cumprir, além de não dignificar a arte de fazer a
política, está na base das crises que algumas democracias africanas
enfrentam.
Governar pressupõe prever e,
independentemente das dificuldades, é sempre expectável que as lideranças
políticas ajustem as suas agendas aos desígnios das populações, comuniquem mais
e sejam realistas na execução dos seus programas de governação.
Não há mal nenhum em admitir a
desaceleração ou fracasso na execução de um determinado programa ou parte do
mesmo, com uma boa estratégia de transparência, prestação de contas e
comunicação que ajudam a minimizar a indignação popular.
Hoje, já não faz sentido para as
lideranças africanas fazerem-se eleger democraticamente e esperar que todas as
suas acções da governação sejam legitimadas, mesmo com uma grande desproporcionalidade
dos indicadores económicos e sociais.
É preciso que as lideranças que
se encontram no poder e que por razões ligadas ao seu desempenho, em
desencontro com as expectativas das populações, sejam as primeiras a fazer
leituras do contexto e evitar o agudizar da situação com crises políticas que custem
vidas humanas, bens públicos e privados.
Auguramos que as lideranças
africanas estejam à altura dos desafios que a governação impõe, sendo realistas
nas promessas e eficientes na materialização, tendo sempre o povo como
destinatário.
Nenhuma governação pode ser bem
sucedida se o seu desempenho contrariar as expectativas das populações na medida
em que acaba sempre varrida pelos ventos da democracia.
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