Celia Hatton | Editora regional de
Ásia-Pacífico do Serviço Mundial da BBC
É um anúncio que muitos estavam
esperando. Neste domingo, o Partido Comunista Chinês propôs remover uma
cláusula da constituição que limita as presidências a dois mandatos de cinco
anos.
Isso permitiria que o presidente
Xi Jinping permanecesse no cargo. No sistema atual, ele deveria deixar a
presidência em 2023.
Mas, nos últimos meses,
especula-se que Xi tenha a intenção de se manter no poder.
Por décadas, o Partido Comunista
domina a vida na China. Agora, no entanto, Xi Jinping conseguiu brilhar mais do
que o partido que o levou ao topo.
Sua foto aparece em outdoors em
todo o país e seu apelido autorizado, "Papa Xi", aparece em canções
oficiais.
O congresso do partido em 2016
sedimentou seu status de líder mais poderoso desde Mao Tsé-tung.
A ideologia do seu governo foi
consagrada na constituição do partido e, em uma quebra da convenção, nenhum
successor direto dele foi apresentado.
Fazendo as próprias regras
No passado, o partido permanecia
firmemente no controle do país, e o presidente ficava no commando por um
período de tempo limitado.
Depois de uma década, um líder
obedientemente passava o poder para outro.
A norma que limita as
presidências a 10 anos foi criada nos anos 1990, quando o líder veteran Deng
Xiaoping tentou evitar o caos que marcou o final da era de Mao.
Mas desde que Xi chegou ao poder
em 2013, ele demonstra disposição para escrever as próprias regras.
Ele deu início a uma campanha
anticorrupção que disciplinou mais de um milhão de membros do partido por
suborno - geralmente por aceitar propina ou gasto inapropriado de dinheiro do
governo.
A mesma campanha convenientemente
eliminou muitos de seus rivais politicos.
Xi também mostrou uma visão
política clara, promovendo enormes projetos de infraestrutura e anunciando
planos para que a China acabe com a pobreza até 2020.
A China também vive uma
ressurgência no nacionalismo e a atual administração tem promovido uma abordagem
mais dura aos direitos humanos.
Menos limitações ao poder
"O Comitê Central do Partido
Comunista da China propôs remover a expressão de que o Presidente e o
Vice-presidente da República Popular da China não devem servir mais do que dois
termos consecutivos da Constituição do país", afirmou a agência estatal
chinesa Xinhua neste domingo.
O anúncio ter sido cuidadosamente
programado para o período após as celebrações do Ano Novo Chinês, com muitas
pessoas retornando ao trabalho nesta segunda-feira.
A China também ficou no centro
das atenções na cerimônia de fechamento da Olimpíada de Inverno da Coreia do
Sul, que preparou o terreno para os Jogos de Pequim em 2022
.
Agora, as principais autoridades
do Comitê Central do partido devem se encontrar na segunda-feira na capital
para discutir os próximos passos.
A proposta precisa ser aprovada
pelo parlamento chinês, o Congresso Nacional Popular, que se reúne no dia 5 de
março - mas isso deve ser apenas uma formalidade.
Um editorial no jornal estatal
Global Times diz que a mudança não significa necessariamente que "o
presidente chinês terá uma longa permanência".
Mas a perspectiva de remover
limitações ao poder de Xi alarmou alguns observadores. "Acho que ele será
imperador por toda a vida", disse Willy Lam, professor de política da
Universidade Chinesa de Hong Kong, à agência AFP.
BBC | Foto EPA
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