Com Rui Rio na presidência do
PSD, os politólogos anteveem uma oposição mais eficaz e maior tensão à esquerda
porque a geringonça perde o seu 'cimento', que foi Pedro Passos Coelho,
obrigando o PS a demarcar-se da direita.
A uma semana do congresso do PSD,
no qual Rui Rio vai substituir Pedro Passos Coelho na liderança do partido -
depois de ter vencido as eleições internas de 13 de janeiro a Pedro Santana
Lopes - os politólogos ouvidos pela agência Lusa anteciparam aqueles que serão
os impactos da nova presidência social-democrata no panorama político português.
André Azevedo Alves, do Instituto
de Estudos Políticos da Universidade Católica, antevê que a situação para o
primeiro-ministro, António Costa, "pode ficar mais difícil precisamente
porque Passos Coelho funcionava como fator agregador - ainda que pela negativa
- para a geringonça".
"Sempre que havia alguma
controvérsia o ponto de união era a solução governativa ser aquela que permitiu
expulsar Passos Coelho do poder. Isso sai de cena. Rui Rio não tem de todo essa
carga negativa de ser o elemento agregador, pela negativa, que de alguma forma
funcionava como cimento da geringonça", explicou.
Também António Costa Pinto, do
Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, concorda que Passos
Coelho foi o 'cimento' da atual solução governativa e destaca que, em relação
aos partidos à esquerda do PS, "já se começou a notar que até 2019 se vai
assistir a progressivas demarcações do PS por parte do BE e do PCP".
"Da parte do PS, do Governo
e de António Costa tenderão a reforçar, do ponto de vista do discurso, a
demarcação em relação à direita - mesmo em relação a Rui Rio - ao mesmo tempo
que, como aconteceu no passado com o PSD no poder, tentarão chamar muitas vezes
o PSD a certo tipo de acordos", antecipou.
Quanto aos desafios de Rui Rio à
frente do PSD, André Azevedo Alves destaca que o novo líder "tem um
potencial mais substancial para fazer uma oposição mais eficaz" ao atual
Governo, enquanto António Costa Pinto refere que a primeira etapa "vai ser
consolidar o poder interno", sendo prioritário que Rio seja "capaz de
situar o partido enquanto alternativa de centro-direita".
André Azevedo Alves sublinha
também a "mudança de disponibilidade tática" que foi anunciada quer
por Rui Rio, quer pelo seu diretor de campanha, "de uma aparente
disponibilidade para considerar soluções governativas com o PS".
Para o politólogo, esta posição
pode ter dois tipos de efeitos: por um lado, introduz alguma instabilidade e
tensão na geringonça já que "facilitará a PCP e BE tentarem colar o PS e o
Governo a uma abertura para um possível bloco central" e, por outro, resta
saber até que ponto esta disponibilidade poderá ser bem ou mal recebida por
segmentos do eleitorado do PSD.
De opinião diferente é António
Costa Pinto, que considera que "nem ao PS, nem ao PSD convém qualquer
aliança ao centro".
"E como os partidos não são,
em princípio, instituições políticas com tendência para o suicídio, isso não
vai acontecer. Não é de mútuo interesse nem falar de bloco central, nem
fazê-lo", destacou.
Em relação ao Presidente da
República, André Azevedo Alves destaca que Rui Rio "traz uma folha
limpa", em oposição à relação entre Pedro Passos Coelho e Marcelo Rebelo
de Sousa, na qual havia "alguns anticorpos implícitos".
"Para Marcelo Rebelo de
Sousa o que vai ser mais decisivo é ver como é que o próprio xadrez político evolui,
sendo certo que uma conjuntura como a atual lhe atribui um caráter decisivo e
uma preponderância que presumo que o próprio Presidente veja com agrado",
observou.
Já sobre o CDS-PP, António Costa
Pinto começa por explicar "quando há dois partidos no mesmo espaço
político, a grande ilusão é que a crise de um signifique o destaque eleitoral
de outro".
"Mas, quando nós analisamos
a relação eleitoral entre CDS e PSD, há limites para aquilo que um pode crescer
com a crise do outro. O modelo de vasos comunicantes tem limites", disse.
Para André Azevedo Alves, se por
um lado "a nova liderança do PSD retira um pouco do espaço mediático
conquistado pelo CDS", noutro oposto está a possibilidade dos centristas
se poderem afirmar no eleitorado de direita com os possíveis entendimentos
entre PS e PSD.
Lusa | em Notícias ao Minuto |
Foto: Global Imagens
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