domingo, 11 de fevereiro de 2018

PARA ONDE VAI A ESQUERDA?


O acordo na Alemanha entre conservadores da CDU de Merkel e sociais-democratas de Schultz para um governo de coligação pode servir de mote para uma discussão sobre o rumo que o que resta da esquerda tem vindo a adoptar na Europa. 

Existe uma estratégia adoptada por vários partidos de esquerda que se resume a uma aproximação excessiva à direita, ao ponto de já nem sequer fingirem que são partidos de esquerda, facto que resultou no enfraquecimento e quase desaparecimento de vários partidos de esquerda, designadamente socialistas e sociais-democratas. Nas coligações como aquela que se repete na Alemanha, assiste-se sobretudo ao esvaziamento dos partidos de esquerda, transformados em excrescências com utilidade irregular - servem para formar maiorias que permitam governar, acabando mesmo por anuir na prossecução de políticas verdadeiramente de direita. A esquerda moderada vai-se tornado irrelevante, muito por culpa própria: aproximação e confusão com a direita, incapacidade de adoptarem um discurso consonante com os tempos modernos, presos ao oportunismo de participar em soluções governativas, custe o que custar, desprezando as suas próprias identidades.

Portugal tem sido nos últimos dois anos e até aqui uma excepção. Esquerdas unidas, divergentes, mas convergentes suficientemente para viabilizar a aplicação de um programa político mais próximo da esquerda. 

No entanto, são muitos os que ainda sonham com regressos a soluções de bloco centrais, mesmo dentro de partidos como o PS. Outros congeminam formas de viabilizar esse bloco central, enfraquecendo a actual solução governativa - neste particular é impossível não relevar a importância da comunicação social.

Para onde vai a esquerda? É indiscutível que os partidos de esquerda portugueses podem dar um contributo determinante para a discussão. Entretanto são muitas as forças que tentarão enfraquecer e liquidar esta solução política, Portugal quer-se governado pelo bloco central de interesses que causa agrado a uma Europa rendida aos encantos do capitalismo mais selvagem.

Ana Alexandra Gonçalves

Para onde vai a esquerda II

Perante o claro falhanço das políticas neoliberais em 2008 que se transformaram na norma nos últimos trinta anos, a esquerda voltou a ter uma oportunidade para recrudescer e, sobretudo, para recuperar a sua identidade. Aparentemente essa oportunidade terá sido desperdiçada, pelo menos seria esse o pensamento dominante e o que se depreende dos resultados eleitorais um pouco por toda a Europa.

Contudo, surge uma solução governativa de esquerda onde menos se esperava: em Portugal, país fortemente atingido pelas receitas neoliberais que procuram curar os males também eles neoliberais. Essa solução política embora não constitua uma ruptura com as ditas políticas neoliberais, procurando antes um caminho alternativo cujos resultados são, ainda assim, francamente positivos.

A solução política cozinhada pelo PS liderado por António Costa, pelo PCP, Bloco de Esquerda e Verdes é indiscutivelmente uma esperança para a esquerda europeia, provavelmente a única esperança, desde logo por se tratar de uma solução que está a ser aplicada há dois anos e com resultados muito positivos. Não sendo a ruptura que muitos gostariam é ainda assim o melhor que a esquerda tem para oferecer. Pelo menos para já.

Por conseguinte, à pergunta "para onde vai a esquerda?" a resposta pode muito bem passar pelo exemplo dado pelos partidos da esquerda portuguesa

Ana Alexandra Gonçalves | em Triunfo da Razão

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