O acordo na Alemanha entre
conservadores da CDU de Merkel e sociais-democratas de Schultz para um governo
de coligação pode servir de mote para uma discussão sobre o rumo que o que
resta da esquerda tem vindo a adoptar na Europa.
Existe uma estratégia adoptada
por vários partidos de esquerda que se resume a uma aproximação excessiva à
direita, ao ponto de já nem sequer fingirem que são partidos de esquerda, facto
que resultou no enfraquecimento e quase desaparecimento de vários partidos de
esquerda, designadamente socialistas e sociais-democratas. Nas coligações como
aquela que se repete na Alemanha, assiste-se sobretudo ao esvaziamento dos partidos
de esquerda, transformados em excrescências com utilidade irregular - servem
para formar maiorias que permitam governar, acabando mesmo por anuir na
prossecução de políticas verdadeiramente de direita. A esquerda moderada vai-se
tornado irrelevante, muito por culpa própria: aproximação e confusão com a
direita, incapacidade de adoptarem um discurso consonante com os tempos
modernos, presos ao oportunismo de participar em soluções governativas, custe o
que custar, desprezando as suas próprias identidades.
Portugal tem sido nos últimos
dois anos e até aqui uma excepção. Esquerdas unidas, divergentes, mas
convergentes suficientemente para viabilizar a aplicação de um programa
político mais próximo da esquerda.
No entanto, são muitos os que
ainda sonham com regressos a soluções de bloco centrais, mesmo dentro de
partidos como o PS. Outros congeminam formas de viabilizar esse bloco central,
enfraquecendo a actual solução governativa - neste particular é impossível não
relevar a importância da comunicação social.
Para onde vai a esquerda? É
indiscutível que os partidos de esquerda portugueses podem dar um contributo
determinante para a discussão. Entretanto são muitas as forças que tentarão
enfraquecer e liquidar esta solução política, Portugal quer-se governado pelo
bloco central de interesses que causa agrado a uma Europa rendida aos encantos
do capitalismo mais selvagem.
Ana Alexandra Gonçalves
Para
onde vai a esquerda II
Perante o claro falhanço das
políticas neoliberais em 2008 que se transformaram na norma nos últimos trinta
anos, a esquerda voltou a ter uma oportunidade para recrudescer e, sobretudo,
para recuperar a sua identidade. Aparentemente essa oportunidade terá sido
desperdiçada, pelo menos seria esse o pensamento dominante e o que se depreende
dos resultados eleitorais um pouco por toda a Europa.
Contudo, surge uma solução
governativa de esquerda onde menos se esperava: em Portugal, país fortemente
atingido pelas receitas neoliberais que procuram curar os males também eles
neoliberais. Essa solução política embora não constitua uma ruptura com as
ditas políticas neoliberais, procurando antes um caminho alternativo cujos
resultados são, ainda assim, francamente positivos.
A solução política cozinhada pelo
PS liderado por António Costa, pelo PCP, Bloco de Esquerda e Verdes é
indiscutivelmente uma esperança para a esquerda europeia, provavelmente a única
esperança, desde logo por se tratar de uma solução que está a ser aplicada há
dois anos e com resultados muito positivos. Não sendo a ruptura que muitos
gostariam é ainda assim o melhor que a esquerda tem para oferecer. Pelo menos
para já.
Por conseguinte, à pergunta
"para onde vai a esquerda?" a resposta pode muito bem passar pelo
exemplo dado pelos partidos da esquerda portuguesa
Ana Alexandra Gonçalves | em
Triunfo da Razão
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