sexta-feira, 6 de abril de 2018

PORTUGAL | Sextas-feiras negras chegam ao Serviço Nacional de Saúde


Com sinais de luto, médicos querem explicar aos doentes que não têm meios para fazer mais. Movimento informal de clínicos reúne apoio da Ordem.

Não se admire se vir, às sextas-feiras, médicos vestidos de preto nos hospitais ou centros de saúde. Num protesto que nasceu há pouco mais de um mês e a partir de hoje é alargado a todas as sextas-feiras, um grupo informal de médicos apela aos colegas para que se apresentem ao trabalho com uma peça de roupa preta ou um crachá com o lema da iniciativa: #SNS in Black, ou seja, #SNS de Negro.

O sinal, explica o pneumologista Filipe Froes, um dos médicos organizadores do protesto, é de luto contra a falta de meios humanos e físicos a que dizem que chegou o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Filipe Froes diz que já fizeram mais de mil crachás com o símbolo do protesto e têm centenas de médicos e outros profissionais que já aderiram à iniciativa.

Um dos médicos que já aderiu é o bastonário da Ordem dos Médicos que adianta à TSF que se forem vestidos de preto ou com o crachá ao peito os clínicos terão uma ótima oportunidade de explicar aos doentes aquilo que está mal no SNS.

Nuno Guedes | TSF

À MARGEM

Decorreu na TSF o habitual Fórum, que terminou pouco antes do meio-dia. O tema foi o SNS, em que os médicos estão de luto.

Em abertura o site TSF menciona: “Estamos a assistir a uma destruição do SNS, como acusam os médicos? Como avalia o estado do SNS? Há uma degradação dos cuidados prestados aos doentes? O Governo deve reforçar o investimento na saúde?”

E convidou a responderem a uma pergunta simples: “Há uma degradação dos cuidados prestados aos doentes?”

Eis o resultado final: 44% Sim | 52% Não | 4% Sem opinião

Estranho resultado, que nega a realidade.

É evidente que a degradação do SNS está de cara e corpo descobertos. Quem o usa ou usou nestes últimos anos sentiu isso mesmo na pela, na doença, na espera, na falta de higiene dos hospitais, nos maus humores dos enfermeiros e dos médicos, nas instalações a carecerem de obras, na hipocrisia das visitas combinadas e anunciadas de ministros e secretários de estado, nas doenças que não possuímos mas que contraímos nos hospitais e centros médicos, etc. Disso não há dúvidas, para quem conhece os hospitais, o SNS, por infelizmente ter de ali recorrer. Mas contudo há uma pergunta a fazer: o que querem os médicos? Querem as devidas condições de trabalho melhoradas ou serem muito mais bem pagos? E os enfermeiros o que querem? Também o mesmo? É que se querem ser mais bem pagos há muitos que também assim querem, os que trabalham e continuam extremamente pobres, os reformados e pensionistas, os que com mais de 50 anos que se vêem no desemprego de longa duração devido à sua idade, os jovens que pulam de emprego para emprego por estarem sistematicamente na condição de temporários ou precários… Tantos.

Não é só o SNS que está a mal servir os portugueses mas vários setores. O atual governo merece muitas críticas, é uma verdade, mas quem já se esqueceu que o governo anterior, PSD/CDS, teve um contributo primordial para acabar de vez com o SNS e promover os privados? Hoje assistimos a esse reflexo e um dos maiores responsáveis está a usufruir do prémio como presidente da Caixa Geral de Depósitos, Macedo de nome, Doutor Morte por alcunha. E ele está bem, podem acreditar.

Agora já querem o Rio? Pois. Então vamos lá voltar ao mesmo. As corporações dos médicos, dos enfermeiros e muitas outras de outras profissões privilegiadas estão a ajudar para isso com estas operações de desgaste que só vão parar nas próximas eleições. É o tempo (deles) volta para trás, como cantarolava António Mourão. A maioria muito mal, as elites e ilhargas muito melhor. 

Que em todas as profissões há melhores e piores profissionais e devemos saber isso é imperativo. Que todos querem o melhor para si, é natural. Que o melhor para uns pode descambar no muito pior para outros, está à vista. Reivindicar é um direito indiscutível, mas que seja feito sem sofismas nem manipulações. E esta do pessoal da saúde tem “sombras” de que devemos desconfiar e estar atentos. Todos, incluindo os profissionais de saúde. Que têm razão, sem dúvida, em muitos aspetos das suas reivindicações... Mas cuidado com as manipulações.

Quanto ao governo, de Costa, devemos dizer-lhe e agir em consonância com um critério simples: já basta de pagar milhões à banca e aos banqueiros com o que faz falta nos setores públicos primordiais, como a saúde e muitos outros. Sobre isso é que se deve tomar uma posição coletiva efeicaz, em vez de andarmos todos a borregar, mudos, calados e caladinhos, sem optar por ações inequívocas de que sem sombras de dúvidas já basta que os banqueiros e amigos dos "mal parados" nos roubem e nos levem para a miséria, como o estão sempre a fazer. (MM | PG)

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