Mariana Mortágua* | Jornal de Notícias
| opinião
É uma pedra no sapato do Banco de
Portugal. A empresa de investimentos BlackRock faz parte de um consórcio da
mais alta finança mundial que ameaça boicotar o país por conta da transferência
de 2000 milhões de euros de dívida que vinha do antigo BES e que passou do Novo
Banco para o "banco mau". Mas, como relata o jornalista Paulo Pena em
dois artigos recentes no "Público", esta não é a única ligação do
BlackRock ao banco de Ricardo Salgado e à economia portuguesa.
A BlackRock comprou quase 5% do
BES apenas seis meses antes da sua resolução. Essas ações foram depois
misteriosamente vendidas quando já não tinham qualquer valor. Porquê e a quem?
Ninguém sabe, nem mesmo o Governo da altura ou os supervisores.
Para além do BES, a BlackRock é
ainda acionista de 14 outras empresas, da EDP ao BCP, passando pela Jerónimo
Martins, detendo quase 2000 milhões de euros de ações de empresas cotadas em
Portugal.
O facto de pouca gente conhecer a
BlackRock por cá, ou saber precisamente o que faz, ajuda a perceber porque lhe
chamam o gigante da Banca-sombra. Não é um banco, nem está obrigado às regras
de regulação e supervisão do sistema bancário. Mas gere, sozinho, 5,2 milhões
de milhões de euros, ou seja, 26 vezes o PIB português. Seja por sua conta ou
por conta da gestão de dinheiro de clientes, a BlackRock detém participações em
17 mil das maiores empresas mundiais. De acordo com esta investigação, as três
maiores empresas de gestão de ativos - grupo que a BlackRock integra -, detém a
maioria das ações de nada menos que 88% das 500 maiores empresas americanas,
cotadas no índice S&P500.
O que está em causa, portanto, é
a concentração da propriedade dos mais importantes setores da economia mundial,
da farmacêutica à energia, nas mãos de meia dúzia de empresas que não são bancos,
nem gigantes industriais multinacionais, são sombra. A globalização financeira,
feita em nome da livre concorrência e comércio, é responsável pela criação de
um oligopólio à escala mundial que escapa às regras de regulação bancária e a
qualquer limite à concentração económica.
Não há portas fechadas para quem
controla, sozinho, riqueza equivalente ao dobro do produto do Reino Unido. O
artigo de Paulo Pena descreve as várias reuniões do principal administrador da
BlackRock com chefes de Governo e reguladores e os milhões gastos em lóbi na
União Europeia. Refere ainda a coincidência espantosa em que o vice-presidente
da Comissão Europeia anuncia um gigantesco plano privado de pensões a nível
europeu apenas seis meses depois da BlackRock o ter pedido publicamente.
A pedra no sapato do Banco de
Portugal é, afinal, uma gigantesca potência da sombra. Um poder nascido de um
sistema que, apesar de todas as promessas e mentiras, foi criado para ser
obscuro. Nem poderia ser de outra forma, uma vez que foi desenhado à imagem e
ao serviço desta e de outras BlackRocks. A curta viagem de Durão Barroso da
presidência da Comissão Europeia para a da Goldman Sachs não nos deixa esquecer
isso.
*Deputada do BE
Nota PG, da Wikipédia:
A BlackRock, Inc é uma empresa
americana, sendo a maior em gestão de ativos no mundo, sediada em Nova York.
Opera principalmente em ativos e gestão de riscos. BlackRock é o maior sistema
banca sombra no mundo. (…)Os clientes são governos, empresas, fundações e
milhões de indivíduos que poupam para a aposentadoria, educação dos filhos e
uma vida melhor. Wikipédia
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