O presidente da Federação
Nacional dos Médicos (FNAM) acusou hoje o ministro da Saúde de "cinismo
político puro" por afirmar que compreende as reivindicações dos médicos,
mas que não se pode resolver tudo de uma vez.
João Proença sublinhou que o
ministro da Saúde "não faz nada porque objetivamente não quer fazer
nada".
"Quem está no poder exerce-o
como facto ou então não se pode desculpar com mais nada", disse João
Proença em declarações aos jornalistas junto às consultas externas do hospital
São José,em Lisboa, no primeiro de três dias de greve nacional de médicos.
O dirigente da FNAM comentava
declarações de segunda-feira do ministro Adalberto Campos Fernandes que disse
que respeitava os sindicatos e a greve, mas acrescentou que "se os
profissionais têm razão na maior parte das coisas que pedem" cabe ao
Governo governar, sendo que não se pode resolver tudo ao mesmo tempo e o SNS
tem que perdurar "por mais 10, 15 ou 20 anos e em boas condições".
Por seu lado, o secretário-geral
do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) acusou o ministro da Saúde de
"fugir da realidade" e das negociações com os sindicatos.
"O que queremos dizer ao Dr.
Adalberto é: por favor não seja Centeno", afirmou Roque da Cunha, numa
alusão a Mário Centeno, ministro das Finanças.
O presidente da Federação
Nacional dos Médicos comentou ainda as declarações do Presidente da República
sobre a greve dos médicos, depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter dito na
segunda-feira que a paralisação faz parte da "legalidade da vida
democrática".
"É normal ouvir isso por
parte de um constitucionalista. Era melhor que 44 anos após o 25 de Abril não
se pudesse dizer que não se pode fazer greve, mas que há limitações à situação
de greve, há", disse João Proença.
O dirigente da FNAM referiu-se a
casos de internos de medicina geral e familiar que "foram obrigados a
fazer trabalho para boicotar a greve, nomeadamente em Lisboa e no
Algarve".
Os médicos iniciaram hoje às
00:00 três dias de greve nacional, uma paralisação que os sindicatos consideram
ser pela "defesa do Serviço Nacional de Saúde".
A reivindicação essencial para
esta greve de três dias é "a defesa do SNS" e o respeito pela
dignidade da profissão médica, segundo os dois sindicatos que convocaram a
paralisação -- o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e a Federação
Nacional dos Médicos (FNAM).
Em termos concretos, os
sindicatos querem uma redução do trabalho suplementar de 200 para 150 horas
anuais, uma diminuição progressiva até 12 horas semanais de trabalho em
urgência e uma diminuição gradual das listas de utentes dos médicos de família
até 1.500 utentes, quando atualmente são de cerca de 1.900 doentes.
Entre os motivos da greve estão
ainda a revisão das carreiras médicas e respetivas grelhas salariais, o
descongelamento da progressão da carreira médica e a criação de um estatuto
profissional de desgaste rápido e de risco e penosidade acrescidos, com a
diminuição da idade da reforma.
Para hoje à tarde, a FNAM agendou
uma concentração em frente do Ministério da Saúde, em Lisboa.
A paralisação nacional de três
dias, que termina às 24:00 de quinta-feira, deve afetar sobretudo consultas e
cirurgias programadas, estando contudo garantidos serviços mínimos, como as
urgências, tratamentos de quimioterapia, radioterapia, transplante, diálise,
imuno-hemoterapia, cuidados paliativos em internamento.
Lusa | em Notícias ao Minuto
Sem comentários:
Enviar um comentário