"São Tomé e Príncipe -
Retalhos de uma História" desvenda as divergências entre os protagonistas
da luta pela independência e as feridas por sarar. Depois de dois anos de
produção, estreia sábado (08.08) em Lisboa.
Durante cerca de uma hora e 18
minutos, os jovens realizadores são-tomenses, Jerónimo Moniz e Nilton Medeiros
apresentam relatos dos principais protagonistas - são-tomenses e portugueses -
do processo político que conduziu à independência de São Tomé e Príncipe,
proclamada a 12 de julho de 1975.
Para o produtor Jerónimo Moniz, o
documentário constitui, por si só, "um contributo importante" para a
História. "Todos os protagonistas fazem parte da História. Foram eles que
contribuíram para a independência de São Tomé e Príncipe, cada um com a sua
história de participação neste processo, com as suas mágoas e também com os
seus problemas", afirma.
Depois de vários anos de luta, o
processo de descolonização impulsionado pelo 25 de abril de 1974 abriu portas à
consumação do direito à autodeterminação e independência da antiga colónia.
A assinatura do Acordo de Argel,
a 26 de novembro de 1974, faz parte deste processo para a proclamação da
República. A partir daí, o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP)
assumiu os destinos do país. Manuel Pinto da Costa, que voltou ao Palácio Cor
de Rosa em 2011, foi o primeiro Presidente da República.
Divergências do passado
As divergências no seio do MLSTP
são antigas. "Os próprios protagonistas falam disso. Quase todos queriam
ser presidentes do MLSTP e da República e não se entendiam", recorda
Jerónimo Moniz. Daí a escolha de Pinto da Costa - então considerado
"relativamente neutro" - para liderar o processo naquela altura,
refere ainda.
Na altura, muitos dos dirigentes
do MLSTP que viviam no exterior não conheciam bem a realidade do país que iriam
governar. O documentário faz alusão ao protagonismo que então pretendia assumir
a Associação
Cívica Pró-MLSTP, o primeiro movimento nacionalista implantado em São Tomé e Príncipe.
"O conflito agudiza-se
quando os elementos da Associação Cívica verificam que eles conhecem melhor o
terreno que os membros do MLSTP que estavam no Gabão", explica Nilton
Medeiros. Por isso, pensaram que deveria ser a Associação Cívica a liderar o
processo de independência. "A partir daqui, começa a haver contradições
entre eles", lembra.
Quinze anos depois da
independência, a República inaugura o multipartidarismo. Com as divergências
que se agudizaram no seio do partido histórico, surgiram outros atores no
xadrez político são-tomense. Os anos que se seguiram ficaram marcados por
vários exemplos de instabilidade política, de conflitos institucionais, má
gestão e atrasos face ao esforço de desenvolvimento económico e social.
"Feridas ainda não
sararam"
Quatro décadas depois,
"percebe-se que as feridas ainda não estão saradas", uma vez que
"vários protagonistas ainda não se entenderam", refere Nilton
Medeiros, que também é operador de câmara e editor.
Os realizadores esperam que este
seja um documentário pedagógico, que deixe às gerações mais jovens testemunhos
do que foi aquele período histórico. Reflete sobre os erros do passado, mas, em
tom de reconciliação, projeta também "um futuro melhor", diz Jerónimo
Moniz. Alguns dos protagonistas, como Miguel Trovoada, o segundo Presidente da
República, também sublinham isso no filme.
A ante-estreia de "Retalhos
de uma História" aconteceu em
São Tomé e Príncipe, em julho, coincidindo com o quadragésimo
aniversário da proclamação da independência nacional. Segundo os realizadores,
este é um passo para uma possível participação em festivais internacionais. As
cerca de 400 horas de material original recolhido serão trabalhadas para
publicação dos depoimentos em livro.
João Carlos (Lisboa) | Detsche
Welle
Na foto: Jerónimo Moniz e Nilton
Medeiros, os realizadores de "Retalhos de uma História"
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