Apesar das recentes exonerações
de governadores provinciais em Angola, MPLA deve dar maior liberdade aos
militantes para que ocorram alterações substanciais na questão das nomeações,
diz Eugénio Almeida.
Mais exonerações em Angola. O Presidente
angolano, João Lourenço, exonerou nesta quarta-feira os governadores das
províncias do Bié, Lunda Sul, Cunene, Huambo, Huíla e Zaire - alguns dos quais
líderes históricos ao longo dos 39 anos de liderança em Angola de José Eduardo
dos Santos. A DW África entrevistou Eugénio Almeida, investigador no
Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa.
DW África: Essas recentes
exonerações representam alguma mudança efetiva em relação às anteriores, ou
apenas há troca dos atores políticos, embora a política continue a ser a
mesma?
Eugénio Costa Almeida (EA):
Enquanto não houver eleições regionais, autárquicas e provinciais creio que não
haverá alteração substancial na política angolana. Todavia, é ainda muito cedo
para vermos o que é que o Presidente João Lourenço tem em mente.
DW África: O que é preciso então
fazer para que haja mudanças concretas?
EA: Terão que ser feitas
eleições. O problema é que os escrutínios vão ser progressivos e, mais do que
isso, ainda não estão completamente concretizados o "timing" e o
perfil que vão ser as eleições. Enquanto isso não acontecer, naturalmente vamos
continuar a ver o Presidente angolano a nomear governadores que, por inerência,
são pessoas ligadas ao partido no poder, o MPLA. Enquanto o próprio MPLA não
alterar o estatuto [do partido] e não der maior liberdade aos seus militantes,
dificilmente haverá alterações substanciais na questão das nomeações
- seja para os governadores, para os administradores das autarquias, etc.
DW África: Segundo a Angop
(agência de notícias de Angola) o novo governador da província da Huíla, Luís
Nunes, é um empresário com uma grande fortuna calculada em cerca de 854 milhões
de euros. O que pode implicar a nomeação de um empresário como esse para o
cargo de governador provincial?
EA: O facto de ter sido
colocado naquela província um tecnocrata, que neste caso é empresário, vai
permitir que a província se envolva mais fortemente além da parte da indústria.
Pode ter sido uma solução pertinente. Mas torna-se difícil poder dizer neste
momento com toda a frontalidade se a colocação desta personalidade como
governador da Huíla é pertinente ou não.
DW África: A província angolana
da Lunda Sul passa agora a ser dirigida pelo mais jovem governador de sempre em Angola. Daniel Félix
Neto, de 39 anos, foi nomeado para o cargo. Como vê a nomeação de jovens para
altos cargos administrativos pelo Presidente João Lourenço? A juventude pode
ser a grande aposta da política angolana?
EA: Pode não, tem que ser.
Recordando o que se passou ainda muito recentemente com os chamados "revús",
não se deve esquecer que nomeadamente muitas manifestações e protestos foram
organizados e realizados por jovens contra o MPLA. E João Lourenço enquanto
líder deste partido percebe que não pode continuar a manter os mais velhos, os
chamados "kotas" - alguns deles ainda do tempo da luta
armada pela independência - à frente dos destinos do país. Pessoalmente,
não conheço Daniel Félix Neto, mas sei que a província da Lunda Sul, como
a da Lunda Norte, são regiões muito problemáticas tendo em consideração que são
fontes de diamantes. Também não se deve esquecer que é ali onde o PRS (Partido
da Renovação Social) tem uma boa presença e muita força. Pode ser este quadro
tenha levado João Lourenço a nomear um jovem para governador de uma
província que, juntamente com a Lunda Norte, poderão ser mais
problemáticas no futuro.
Tainã Mansani | Deutsche Welle
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