quinta-feira, 6 de setembro de 2018

O que mudou em Angola com exonerações de João Lourenço?


As exonerações são a imagem de marca do Presidente angolano e recentemente a lista de governantes exonerados aumentou. Mas cidadãos ouvidos pela DW África dizem que "mexidas" de João Lourenço não trouxeram nada de novo.

Os secretários de Estado dos Transportes para Viação Civil e Transporte Ferroviário bem como o responsável do Memorial António Agostinho Neto foram as mais recentes exonerações. A lista de mudanças, que começou logo após a tomada de posse de João Lourenço, é muito longa. Há, por exemplo, novos rostos nos Miinistérios da Justiça e dos Direitos Humanos, Comunicação Social, Cultura, Educação , Saúde e Transportes. Também há caras novas na Procuradoria-Geral da República (PGR), Banco Nacional de Angola e Sonangol.

As exonerações feitas pelo chefe de Estado trouxeram mudanças? "Houve melhorias sobretudo do ponto de vista do ambiente político. Criou-se um novo ambiente político", responde o cidadão Kudjimbe Camuenho, em declarações à DW África. "Ele enquanto líder precisava afirmar-se e essa afirmação também passava pela exoneração as pessoas fiéis ao Presidente José Eduardo dos Santos", acrescenta.

Quanto à melhoria das condições de vida da população angolana, o morador de Luanda diz que não vê grandes melhorias, "muito pelo contrário, assiste-se um certo retrocesso na vida dos cidadãos."

Mudar a mentalidade dos governantes

Para David Kissadila, especialista em políticas públicas, as melhorias não passam apenas por esse tipo de mudança, também é preciso mudar a mentalidade dos governantes. "Mudanças não se operam com novas nomeações, é necessária uma mudança de mentalidade, na formulação de um novo paradigma e revisão dos instrumentos políticos capazes de corresponder aos anseios da população. Ou seja, criar uma nova postura política de responsabilização de transparência e de prestação de contas", explica.

Em Angola, os serviços públicos de transporte são muito deficitários. Só em Luanda, as empresas disponíveis não cobrem a procura e os cidadãos têm de recorrer aos táxis. David Kissadila diz ter dificuldades em entender essa realidade.

"Neste setor investiu-se grandes recursos financeiros, provenientes sobretudo do empréstimo chinês, mas em termos de resultados sentimos um desastre", critica o especialista. "Os transportes públicos terrestres quase não existem, sobretudo aqui em Luanda. Adquiriram-se tantos autocarros e não se conhece o seu paradeiro. Os transportes marítimos também", lembra.

O Presidente João Lourenço está apenas no primeiro ano do seu mandato e tem mais quatro pela frente. O analista reconhece que serão anos de muitas dificuldades de governação, a julgar pela situação económica e financeira que o país enfrenta.

"Não será fácil a governação de João Lourenço, num país onde os dirigentes são corruptos viciados, onde a crise financeira já se arrasta há quatro anos sem grandes políticas para poder reverter a situação", afirma, lembrando que é preciso diversificar a economia, reduzir as importações e promover a produção nacional. "Isso tudo, até agora, não funciona", conclui.

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

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