domingo, 18 de novembro de 2018

A Rússia prepara-se para enfrentar uma possível agressão da OTAN


Valentin Vasilescu*

O exercício militar russo, Vostok 2018, no qual a China e a Mongólia tomaram parte, não visava, nem ameaçar a OTAN, nem atestar capacidades de Moscovo. Ele tinha por objectivo explícito preparar o país para uma Guerra mundial, que a Rússia estima ser possível de novo. Antecipando a retirada norte-americana do Tratado INF, ele elevou o país para o nível de preparação da Guerra Fria.

Os exercícios militares russos Vostok-2018 tiveram lugar, de 11 a 17 de Setembro, na Sibéria e no Extremo-Oriente. Os média noticiaram que eles incluíram a participação de 300. 000 soldados, 36. 000 veículos blindados, 1. 000 aviões, 6. 000 paraquedistas e 80 navios de guerra. Estes foram os maiores exercícios russos desde 1981.

O que não foi dito

O seu objectivo principal era verificar o estado de preparação das autoridades civis e militares da Federação da Rússia para reagir em caso de guerra à escala mundial. Este conceito, introduzido pela primeira vez nos exercícios e que necessita um aumento considerável de consumo de recursos financeiros e humanos, não teria sido posto em marcha se a Rússia não dispusesse de indícios segundo os quais poderá vir a ser atacada.

O primeiro teste, nestes exercícios, implicava a estrutura político-militar do país e consistia em avaliar a capacidade organizacional em matéria de mobilização aos níveis operacional e estratégico dos comandos estratégicos russos do Centro e do Leste. O segundo teste, visava verificar a capacidade de intervenção rápida aos níveis operacional e estratégico longe dos centros de recrutamento e de aquartelamento.

É claro que, graças ao serviço de Inteligência do exército, a Rússia sabia, com meses de avanço, que os Estados Unidos iam sair do Tratado INF (proibindo mísseis balísticos nucleares de curto-médio alcance e alcance intermédio baseados em terra). Os «escudos antibalísticos» norte-americanos na Roménia e na Polónia de tipo VLS MK-41, derivados dos sistemas de cruzeiro AEGIS, da classe Ticonderoga, têm a capacidade de lançar mísseis de cruzeiro Tomahawk armados de ogivas nucleares W80.

Normalmente, os mísseis de cruzeiro dos EUA são orientados a ter Moscovo como alvo numa fase precedendo uma ofensiva aeroterrestre, em grande escala, em duas direções que convergem para a capital russa. Trata-se de direções estratégicas a partir do Mar Báltico e do Mar Negro, pertencendo ambas ao teatro europeu de acção militar. O que poderá indiciar uma provável agressão da OTAN a partir das fronteiras oeste e sudoeste da Rússia.

Contrariamente aos exercícios Vostok-2018, que eram estritamente defensivos, os da OTAN, Trident moment 2018 na Noruega, são exercícios com um alto nível ofensivo, executados com fins de intimidação. O corpo expedicionário Atlantista treina-se para efectuar desembarques em condições climáticas similares às da costa do Norte da Rússia. Ele é composto por 50.000 participantes, 250 aviões e 65 navios, entre os quais um porta-aviões e três navios de desembarque anfíbio (porta-helicópteros) norte-americanos.

Podemos constatar que para a Rússia surgiu um novo paradigma, que se aprofunda todos os dias, e ao qual ela deverá fazer face. Como irão as coisas evoluir a partir de agora?

Valentin Vasilescu* | Voltaire.net.org | Tradução Alva

*Perito militar. Antigo comandante-adjunto da base aérea militar de Otopeni.

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