Esta semana, os deputados
cabindas nos partidos da oposição angolana, comummente chamados de deputados do
círculo de Cabinda, ainda brilharam novamente por suas eminentes eloquentes
intervenções no parlamento angolano, sob os olhos sonhadores de uma população
cabindesa, cheia de esperança e que nunca perde a oportunidade de aplaudi-los
sempre que falam ou denunciam a situação de miséria em Cabinda, que não data de
ontem.
Osvaldo Franque Buela* | Folha 8 | opinião
Mas para além destas brilhantes
intervenções que todos nós amamos, e que fundamentalmente falam ou denunciam
apenas situações já conhecidas de antemão pelas autoridades angolanas, devemos,
no entanto, perguntar-nos as verdadeiras questões fundamentais sobre a
importância desta presença e de seu impacto na vida dos Cabindas.
A ajuda ou participação de
Cabinda no OGE (Orçamento Geral do Estado) Angolano nunca deve ser vista, ou
entendida como ajuda em
que Cabinda teria que esperar pela ajuda proporcional dos angolanos,
nos mesmos termos, como se fosse uma formalidade bilateral, não, é um erro
político fundamental pensar dessa maneira.
Para as autoridades angolanas, os
recursos naturais e outras riquezas de Cabinda são para eles um maná caído do
Céu, uma doação de Portugal para satisfazer as necessidades das multinacionais,
sobre qual angolanos se servem como bem entendem, como podem e não precisam de
qualquer autorização dos cabindas, nem a obrigação de retroceder para Cabinda
uma percentagem daquilo que exploram com toda impunidade em Cabinda.
Depois de três legislaturas num
parlamento dominado por um único partido, por um regime cujo parlamento nunca
resolve os problemas básicos dos angolanos, é surpreendente acreditar que este
parlamento terá em conta as exigências dos deputados de Cabinda, quem, a bem ou
mal, acreditam que é o lugar ideal para cantar as mesmas reivindicações de
sempre em cada ano parlamentar.
A falta de medicamentos nos
hospitais de Cabinda, a depravação do sistema educativo, o desemprego crescente,
a falência e o empobrecimento de empresários locais, a falta de água e
electricidade são os males cujos responsáveis são conhecidos, e são eles
próprios promotores de esta miséria, e o momento seria para que todos possamos
pensar de forma coerente, no exercício de reivindicações dos nossos legítimos
direitos.
O silêncio de Bento Bembe e o
caos que actualmente reina dentro do FCD prova que seu Memorando de
Entendimento viveu o tempo que era necessário, com os milhões de dólares
roubados e investidos no conforto individual e pessoal de seus fiéis
companheiros.
Numa época em que o nacionalismo
cabindês está-se tornando cada vez mais activo no seio dos jovens, os líderes
políticos ou associativos cabindeses que somos deveriam redobrar seus esforços
na luta pela resistência contra a crescente opressão militar, porque nossa luta
é nobre e justa.
A FLEC, apesar da diversidade de
opiniões dentro dela, como um movimento de luta pela libertação a não confundir
como partido de oposição, não cederia de forma alguma às ofertas tentadoras de
Luanda, para querer como solução, acomodar seus membros nas instituições do
estado Angolano num processo que não leva em conta as reivindicações legítimas
do povo, isto é, o direito do povo de viver como quiser; de escolhendo seus
governantes, de escolher suas prioridades básicas e desfrutar a sua total e
plena liberdade e soberania, não é um crime dizer e afirmar isso alta voz aqui.
Continuaremos a seguir as
palavras do falecido Bispo de Cabinda Dom Fernando Madeca, como caminho traçado
na resolução dos problemas de Cabinda, sempre que o governo de João Lourenço
provasse a sua boa vontade pelo diálogo: quero dizer;
1. Um diálogo que deve abranger todas as forças vivas deste Enclave;
2. Evitar que o Problema de Cabinda se resolve no acomodamento de algumas pessoas no governo angolano, recebendo alguns encargos. Seria simplista de mais tentar resolver o conflito que dura mais de 40 anos por estas vias;
3. O diálogo deve ser franco, transparente e verdadeiro;
4. As resoluções devem ser sempre a expressão das aspirações do Povo de Cabinda e não de interesses particulares.
5. Recordar sempre que uma comissão negociadora é um aglomerado de mandatados e não tem legitimidade por si próprio;
6. Trabalhar sempre juntos e unidos, além de nossas diferenças de opinião.
*Chefe de Gabinete da
Presidência da FLEC
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