Ana Alexandra Gonçalves* | opinião
Ou responder a dois chefes que
amiúde têm visões completamente diferentes um do outro. É assim que Mário
Centeno, e outros antes dele, procede na qualidade de ministro das Finanças do
governos do seu país e na qualidade de presidente do Eurogrupo. Ora, no caso em
apreço a tal jogada em dois tabuleiros mostra-se ainda mais difícil tendo em
consideração a tendência de governação, teoricamente mais à esquerda, coisa que
pouco ou nada agrada a instituições altamente burocráticas e sentimentalmente
próximas do neoliberalismo vigente.
Ora, Centeno é, deste modo, o
verdadeiro mago deste Governo. E se Costa, primeiro-ministro, é mestre na venda
de ilusões, o que dizer de Centeno? Talvez o à-vontade não seja exactamente o
mesmo, mas os efeitos, ainda no domínio da ilusão, conseguem ir um pouco mais
longe. Centeno, no sentido de agradar às instituições, cativa o que pode e o
que não pode, como se vê no caso gritante da Saúde que depois de anos de
desinvestimento, sofre um tratamento pouco ou nada melhor por parte do actual
Executivo. Pagam os cidadãos com a degradação deste pilar do Estado Social.
Outros sectores vão também conhecendo a degradação dos serviços enquanto Costa
e Centeno sorriem, vendem ilusões e fingem poder agradar a dois mestres.
Contudo, chegará o dia em que as
ilusões deixam de surtir efeito e em que se tornará visível a impossibilidade
de se obedecer a dois chefes ou em jogar em dois tabuleiros. Em suma, chegará o
dia em que será necessária fazer uma escolha e o dia em que essa escolha ficará
visível para todos. Quase que adivinho que escolha será essa.
O facto, esse, é que é impossível
cumprir as imposições externas e manter o Estado Social. Esse é o facto.
Entretanto a Comissão Europeia já
veio avisar que a proposta de Orçamento de Estado para 2019 põe em risco as
regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Avisos de um dos dos mestres.
*Ana Alexandra Gonçalves |
Triunfo da Razão
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