Jorge Rocha* | opinião
Esta noite (22.11) ao regressarmos a
casa, logo acendemos a televisão e procurámos o serviço noticioso da RTP para
aferirmos se era ou não verdadeira a notícia disseminada pelas redes sociais em como Cristas andava a
imputar ao governo de António Costa a responsabilidade pelo sucedido na estrada
dos paralelepípedos de Borba.
Apostando na existência de algum
pingo de lucidez na cabeça da esdrúxula senhora, eu previa que algum sectário
da atual maioria parlamentar tivesse lançado uma irónica fake new, pondo-a
a dizer aquilo que ninguém se atrevera a conjeturar até então. Algo muito
semelhante a imputar a António Costa a culpabilidade pelos incêndios na
Califórnia.
O Orelhas tirou-me, porém, a
ilusão sobre essa réstia de discernimento nos neurónios da delambida. De facto
ela atrevera-se a tal acusação, quando tem sido mais do que óbvia a
responsabilidade dos donos das pedreiras e do executivo da Câmara de Borba no
sucedido. Tem sido, aliás, indecorosa a atitude de uns, e de outros, a tentarem
sacudir a água do capote, muito embora não se preveja trabalho muito esforçado
do ministério público para encontrar os arguidos do crime de homicídio
involuntário causado por negligência tão grave.
Tem sido ridícula a alegação dos
donos das pedreiras a defenderem-se com o argumento de terem avisado quem
deviam quanto à perigosidade daquela via rodoviária, como se não tivessem sido
eles a explorar o negócio até ao limite do possível, deixando aquele trecho de
estrada reduzido a uma espécie de ponte tendo, por frágil sustentação, a parede
cujo desmoronamento era uma questão de aleatória oportunidade. Mais grave ainda
a reação dos autarcas de Borba, que se sempre terão julgado acautelados da
fatal lei de Murphy, como se ela não tivesse confirmado em múltiplas tragédias.
A autarquia de Borba, liderada
por uma lista independente, que quis demonstrar a dispensabilidade dos partidos
na gestão do interesse público, veio confirmar o que deveria ser óbvio: a
gestão dos territórios, seja a nível nacional, seja local, é assunto demasiado
sério para ser entregue ao voluntarismo de uns quantos amadores, que se julgam
mais habilitados do que os concorrentes ligados a máquinas partidárias. A
incompetência paga-se caro como se viu na forma descuidada como terão evitado
analisar o risco evidente de uma tragédia anunciada...
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