sábado, 24 de novembro de 2018

Portugal | A fulaninha não se mede?


Jorge Rocha* | opinião

Esta noite (22.11) ao regressarmos a casa, logo acendemos a televisão e procurámos o serviço noticioso da RTP para aferirmos se era ou não verdadeira a notícia disseminada pelas redes sociais em como Cristas andava a imputar ao governo de António Costa a responsabilidade pelo sucedido na estrada dos paralelepípedos de Borba.

Apostando na existência de algum pingo de lucidez na cabeça da esdrúxula senhora, eu previa que algum sectário da atual maioria parlamentar tivesse lançado uma irónica fake new, pondo-a a dizer aquilo que ninguém se atrevera a conjeturar até então. Algo muito semelhante a imputar a António Costa a culpabilidade pelos incêndios na Califórnia.

O Orelhas tirou-me, porém, a ilusão sobre essa réstia de discernimento nos neurónios da delambida. De facto ela atrevera-se a tal acusação, quando tem sido mais do que óbvia a responsabilidade dos donos das pedreiras e do executivo da Câmara de Borba no sucedido. Tem sido, aliás, indecorosa a atitude de uns, e de outros, a tentarem sacudir a água do capote, muito embora não se preveja trabalho muito esforçado do ministério público para encontrar os arguidos do crime de homicídio involuntário causado por negligência tão grave.

Tem sido ridícula a alegação dos donos das pedreiras a defenderem-se com o argumento de terem avisado quem deviam quanto à perigosidade daquela via rodoviária, como se não tivessem sido eles a explorar o negócio até ao limite do possível, deixando aquele trecho de estrada reduzido a uma espécie de ponte tendo, por frágil sustentação, a parede cujo desmoronamento era uma questão de aleatória oportunidade. Mais grave ainda a reação dos autarcas de Borba, que se sempre terão julgado acautelados da fatal lei de Murphy, como se ela não tivesse confirmado em múltiplas tragédias.

A autarquia de Borba, liderada por uma lista independente, que quis demonstrar a dispensabilidade dos partidos na gestão do interesse público, veio confirmar o que deveria ser óbvio: a gestão dos territórios, seja a nível nacional, seja local, é assunto demasiado sério para ser entregue ao voluntarismo de uns quantos amadores, que se julgam mais habilitados do que os concorrentes ligados a máquinas partidárias. A incompetência paga-se caro como se viu na forma descuidada como terão evitado analisar o risco evidente de uma tragédia anunciada...

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