quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Os EUA e o Hospital de São João, o SNS e os “casos” de serrar presunto


Os Democratas (ma non tropo) tiraram vantagem nas eleições realizadas ontem para a Câmara dos Representantes, deixando os Republicanos com uma derrota muito pouco significativa. Mas que não. Nada disso parece ser a realidade, preferindo apresentar os resultados como uma derrota estrondosa dos Republicanos, consequentemente de Trump. Certo é que só internamente veremos alguns resultados dessa dita derrota. Na política externa quase tudo ficará na mesma e Trump com as capacidades de virar o mundo ao contrário e sacudi-lo como melhor aprouver. Esta é a realidade. O resto faz parte dos habituais espetáculos made in USA com o apoio da comunicação social global, esses prestadores de serviços (os que são) de dúbio profissionalismo independente e realista. Há ainda os que fazem as cabeças do mundo, chamados analistas ou fazedores de opinião. A choldra é a mesma. Uns quantos irão mostrar-nos a “coisa” como ela é. Temos de procurá-los e estar atentos ao que na realidade acontece pelo mundo. Isto para os que não são vivenciados e a habitar os EUA – que é a maioria dos que planetariamente fazem parte deste mundo.

Preconizávamos ontem aqui que, grosso modo, para o mundo tudo continuaria na mesma após as referidas eleições. Fossem qual fossem os resultados de ‘vitória poucochinha’ dos Democratas. Estamos cá para ver que assim será. Tudo como antes das políticas de Trump no exterior, mais coisa menos coisa. E é isso que nos interessa. Claro que há a possibilidade futura de Trump não ser reeleito (daqui por dois anos) e então sim, algo poderá vir a ser diferente, para melhor para o mundo. Mas não será com a senhora Clinton que tem muito para contar com o apoio conhecido que deu aos terroristas do Daesh e afins. Aquela mulher pode vir a ser mais perigosa para o mundo que Donald Trump. O futuro o dirá e sustentará esta tese ou virá desmenti-la. A ver vamos.

De Portugal pouco há dizer. A modorra está instalada e inventam-se “coisas e casos” para ser notícia. Os jornalistas andam a serrar presunto enquanto outros nos tentam manipular com empolamentos de assuntos como Tancos e outros de variedade 'tuti fruti'. Até na TSF andam com as questões a ser quase de lana caprina, como ontem com Tancos, hoje com as crianças com cancro no hospital de São João, assistidas em contentores limítrofes ao edifício do hospital. E pergunta a TSF, hoje, no programa de Manuel Acácio, Fórum: “Concorda com a forma como o Governo está a tratar o problema do Hospital de São João?

Até aqui a questão não está de modo a pegar-se por ponta. Mas na rádio o que se ouve é “Concorda com o facto de as crianças com cancro no Hospital de São João estarem a ser tratadas em contentores?” Quando a pergunta devia de ser efetuada sem subterfúgios - até nem intencionais mas que podemos considerar assim.

E se a questão fosse? Concorda com os hospitais tratarem e manterem em internamento em contentores os doentes? Todos, não só as crianças do São João, daqui ou dali.

O que acontece é que a saúde está num caos. Não só devido ao governo de Costa mas sim de outros anteriores, do PSD, CDS e do PS. O plano é entregar aos privados os hospitais e tudo que lhes possa dar lucro. Como, por exemplo, nos EUA. Evidentemente que Costa e o seu governo, nem a nova ministra da Saúde, vão conseguir devolver aos portugueses o sistema de saúde que possuímos há uns bons anos atrás enquanto os abutres dos interesses privados mantiverem lobies e muito boas relações com os partidos e os políticos que ao fim e ao cabo decidem dos destinos da Nação Lusa.

Evidentemente que a situação das crianças no São João merecem toda a atenção e usufruírem de instalações e tratamentos do SNS que lhes dispensem toda a dignidade e bom profissionalismo, mas não são só eles que estão a ser desprezados em instalações hospitalares e do SNS em Portugal. Fale-se disso e resolva-se. Talvez acabando com as tais “boas relações” com os privados e aplicando os milhões cobrados sistematicamente aos portugueses com todo o rigor na sustentação de um SNS digno e de alta qualidade. Merecemos.

Fora de cena quem não é de cena. Entra a seguir Martim Silva com o Curto do Expresso. Boa terça-feira que na volta cá os esperamos. (CT | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

A depressão Beatriz e a pressão sobre Trump

Martim Silva | Expresso

Bom dia,

À hora a que me deitei, já estavam a começar a ser contados os votos em alguns dos estados dos Estados Unidos, mas noutros ainda se estava a votar. Os norte-americanos foram esta terça-feira a votos para umas eleições intercalares (escolha de congressistas, senadores e governadores) em que se jogava muito do que vai ser a política norte-americana nos próximos anos.

À hora em que termino esta newsletter, minutos antes de lhe chegar à caixa do correio esta manhã, o ponto de situação é este:

Os Democratas recuperaram o controlo da Câmara dos Representantes, que era dominada pelos Republicanos. Mas estes mantiveram, e ainda ampliaram a maioria que detinham no Senado (a câmara alta do Congresso).

Com isto, pode dizer-se que a política norte-americana volta a equilibrar-se, deixando a Administração de Donald Trump de ter mãos livres e caminho aberto na prossecução das suas políticas e na concretização da sua agenda.

E o que significa isto para as Presidenciais norte-americanas de 2018? Será que há algum democrata que possa fazer face a Trump? São questões que ficam no ar mas a que já se procura de alguma forma dar resposta. Aqui na redação do Expresso verdadeiramente não dormimos (não falo de mim mas dos colegas que aqui ficaram a noite toda para lhe contar ao pormenor o que se passa do outro lado Atlântico) para lhe garantir a melhor cobertura das eleições.

O Pedro Cordeiro, editor de Internacional do Expresso, percebe muito disto. E no site do jornal titula "Onda democrata? Sim. Avassaladora? Nem por isso".

Deixem-me citar várias frases do texto dele que acredito que ajudam de alguma forma a resumir bem o que se passou na última noite e o que isso significa.

1. "Veredicto do eleitorado é ambíguo, reflexo talvez da polarização em torno do chefe de Estado, como sugeriu a CNN, mas a noite foi de dano controlado para a Casa Branca."

2. "A nova relação de forças na câmara baixa permitirá à oposição travar projetos polémicos de Trump e investigar casos que o envolvem e dá força ao procurador Robert S. Mueller, que averigua as ligações entre a campanha do milionário em 2016 e as interferências do regime russo no processo eleitoral."

3. "Para derrotar Trump em 2020, os democratas terão de fazer mais do que dois anos de oposição pela negativa.

4. "Não há um favorito, do lado democrata, para desafiar Trump. Estrelas ascendentes como Andrew Gillum, Stacey Abrams e Beto O’Rourke foram batidas nas urnas e perderam gás"

5. "Houve vitórias históricas em nome da diversidade: Rashida Tlaib (Michigan) e Ilhan Omar (Minnesota) serão as primeiras representantes muçulmanas no Congresso"

6. "O conservador Tennessee manda pela primeira vez uma mulher para o Senado, a republicana Marsha Blackburn, e o Colorado terá em Jared Polis o primeiro governador homossexual de sempre nos Estados Unidos."

Agora olhemos para alguns dos textos e análises da imprensa norte-americana que me chamaram a atenção:

Este é o texto resumo da noite eleitoral feito pelo New York Times. E aqui ficam os gráficos mostrando os resultados quer para a Câmara dos Representantes, quer para o Senado.

No Washington Post apontam-se vencedores e derrotados da noite eleitoral. E escreve-se sobre como depois desta eleição, Trump, que fez onze comícios nos seis últimos dias, se prepara para arrancar com a sua máquina de campanha no início do ano, apostado em fazer do "Make America Great Again", do confronto e do discurso divisivo o caminho para a sua reeleição.

Na Vox escreve-se que para o voto popular na Câmara dos Representantes ter caído tanto para o lado Democrata, numa altura de crescimento económico e de baixo desemprego, isso quer dizer que houve aqui uma forte penalização política contra Trump.

Aqui se explica em termos concretos matérias em que pode haver evolução e mudança imediata. Pelo simples facto de deterem a maioria da Câmara, os Democratas podem fazer avançar investigações muito delicadas para Trump, e que até agora estavam bloqueadas, como o acesso aos dados fiscais do Presidente, matérias relacionadas com a Rússia e ligação com a Administração, ou ainda a atuaçao americana com o regime saudita (altamente questionada depois do assassímio de Jamal Khashoggi).

Do lado Democrata, Beto O´Rourke perdeu a corrida para o Senado pelo Texas, para o Republicano Ted Cruz, mas tornou-se provavelmente uma das grandes esperanças para o partido nas presidenciais dentro de dois anos. Se verá se o que não chegou para conquistar os texanos chega para tornar o país azul (cor associada aos Democratas, por oposição ao vermelho dos Republicanos).

Nancy Pelosi, que deverá tornar-se a 'speaker' da Câmara dos Representantes, cujo controlo é retomado pelos Democratas ao fim de oito anos, falou na chegada de "um novo dia à América" e na "reposição dos mecanismos de 'checks and balances' para a Administração Trump". Os Republicanos têm a Casa Branca e o Senado mas contam agora com uma força para lhes fazer frente em matérias como o Medicare e o Medicaid.

Quanto a Donald Trump propriamente dito, manteve um curioso silêncio durante toda a noite. Limitou-se a um tweet a dizer "Tremendous success tonight. Thank you all!"

Aqui se explica como os media norte-americanos foram desta vez bastante mais prudentes a anunciar vencedores e grandes tendências. Tudo por estarem escaldados com o que aconteceu em 2016, em que em muitos estados norte-americanos foram dando como certa a vitória de Hillary Clinton, para depois terem de corrigir o tiro. Agora, imperou a prudência.

OUTRAS NOTÍCIAS

Cá dentro,

No Parlamento estão a decorrer as audições com os vários ministros no âmbito do debate sobre o Orçamento do Estado para 2019. Ontem tivémos duas estreias, no feminino.
A nova responsável pela Saúde, Marta Temido, prometeu aos deputados uma solução rápida para o caso da oncologia pediátrica no Porto, garantindo que não dormirá tranquila enquanto não resolver o problema.

Já Graça Fonseca, ministra da Cultura, não fugiu à polémica do IVA das touradas e afirmou no Parlamento que “todas as políticas têm na sua base valores civilizacionais e as civilizações evoluem”.

No Público de hoje, Manuel Alegre escreve uma "Carta aberta a António Costa", contra o fanatismo do politicamente correcto". Fala, nomeadamente, de touradas (assunto em que já criticou a ministra da Cultura) e de caça.

Responsáveis da associação ambientalista Quercus resolveram vender um conjunto de terrenos na zona do Tejo Internacional a uma associação de caça. Claro que se meteram num molho de brócolos, com críticas e petições à mistura.

Ontem foi dia de Comissão Política no Expresso. Esta semanao podcast de política do jornal tratou de polémicas como Tancos e as faltas de José Silvano.

Sobre Tancos, a temperatura política continua a subir e ontem Marcelo Rebelo de Sousa voltou a falar do assunto, pela enésima vez nos últimos dias, com um discurso sobre ditadura militar e coisas do género.

E como este é um assunto em que há bastantes mais perguntas que respostas, nós resolvemos juntar mais algumas. E escrevemos sobre as questões que os deputados devem fazer a António Costa caso este vá depor ao inquérito parlamentar que para a semana deve avançar.

José Silvano é o secretário-geral do PSD, que foi apanhado a faltar a marcar presença em sessões plenárias do Parlamento a que faltou. Ontem Ferro Rodrigues veio dar esclarecimentos sobre o assunto. E o próprio Silvano também divulgou um comunicado, em que não esclareceu grande coisa.

Quem não se lembra das pastilhas Gorila… Pois, parece que a empresa que as faz está com problemas. Leia aqui o artigo.

A Volkswagen vai contratar 300 pessoas para novo centro de inovação em Lisboa

Dois
militares da GNR agredidos em Campo Maior receberam assistência hospitalar

Uma guarda prisional de 32 anos morreu esta terça-feira de manhã durante o treino de tiro anual

WEB SUMMIT

Christopher Wylie é o homem que ajudou a revelar o escândalo que envolveu a empresa de Mark Zuckerberg e a Cambridge Analytica. Ontem esteve no evento e foi muito crítico: “O Facebook sabia desde o início e não fez nada”.

Há mais de mil startups em busca de financiamento. Esta peçada SIC fala disso e conta o caso de uma empresa que já por lá passou noutra edição e qual o resultado que conseguiu.

Meia dúzia de homens, 120 mulheres e um debate sobre o que eles e elas estão dispostos a fazer. Porque aqui também se falou de igualdade.

Lá fora,

Foram detidas seis pessoas por suspeita de planearem ataque “violento” contra Macron

Oposição venezuelana anuncia protestos de rua em 13 dos 24 Estados do país

Potencial jurado afastado do julgamento após pedir autógrafo a“El Chapo”

Ministro do Líbano pede desculpa após afirmar que “o Egito é um país sujo”

Rússia expõe-se a novas sanções dos EUA devido a armas químicas

UE recusa taxa digital antes de 2021. Ministros das Finanças europeus não chegaram ainda a acordo sobre o novo imposto digital para as gigantes tecnológicas

Livreiros unem-se em protesto contra plataforma de venda de usados da Amazon

Está confirmado. Existem mais duas 'luas' em órbita em redor da Terra

A NASA divulgou o primeiro vídeo da Terra feito a partir do espaço em resolução 8k.

DESPORTO

Ontem, o FC Porto despachou os russos do Lokomotiv de Moscovo na quarta jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões. A crónica da partida pode ser lida aqui.

Mas sobre clubes russos não pode mesmo deixar de ler mais este texto do Football Leaks, mais um consórcio internacional de jornalismo de investigação, dedicado aos meandros mais sujos do mundo da bola. Este texto, dizia, fala precisamente sobre como o estado russo, através de empresas que controla, apoia e financia os maiores clubes da Rússia, permitindo que estes violem as regras do fayr play financeiro estabelecidas. Ou seja, permitindo que façam batota fora do campo.

ontem, nem de propósito, foi detido pelas autoridades francesas o magnata russo que é dono do Mónaco. Mónaco que também perdeu na jornada desta terça-feira da Champions.

Hoje, quarta, é a vez do Benfica jogar com o Ajax. E amanhã, na Liga Europa, o Sporting defronta o Arsenal. Os dois clubes de Lisboa não têm andado de grande saúde e estas partidas são importantes para a sua manutenção nas competições europeias.

OPINIÃO

Daniel Oliveira: E se os promotores da justiça mediática fossem julgados pelos seus crimes?

Henrique Raposo: Não endeusem a Web Summit

Ricardo Costa: Não festejem já uma derrota de Trump

O QUE ANDO A LER

Há seguramente mais de uma década, um amigo meu, o Francisco Trigo de Abreu, então um jornalista com alma de escritor, tinha-me recomendado uma biografia do Garrincha que, dizia, era maravilhosa. Eu, que me fui habituando a seguir muitas das suas sugestões literárias, não li o livro na altura, mas a dica ficou algures cá dentro alojada no cérebro. Quando agora a Tinta da China por cá editou finalmente o "Estrela Solitária - um brasileiro chamado Garrincha", de Ruy Castro, originalmente lançado no Brasil em 1995, comprei-o sem hesitar.

Há uns dias terminei-o. Como se costuma dizer, 'de papo cheio'. Obrigado Ruy Castro (e obrigado Francisco, já agora). Este vai direitinho para o top dos livros do ano e uma das melhores biografias que já li. A história de Garrincha, um dos maiores futebolistas do país que maior número de maiores futebolistas já teve, contemporâneo de Pelé. O ídolo das pernas tortas. A vertiginosa ascensão e não menos vertiginosa e dolorosa queda do Manuel de Pau Grande, ídolo da torcida do Botafogo, amante de sexo e alcoólico incorrigível.

Para si, que lê esta newsletter, permita-me esta recomendação: leia o "Estrela Solitária". Não interessa se é amante de futebol. Basta que seja de páginas escritas com o toque mágico dos que nos conseguem faer sonhar com as palavras.

Termino esta newsletter como comecei. Com uma depressão. Com uma espécie de depressão diferente. Esta chama-se Beatriz e estamos a senti-la por cá. Malvada da Beatriz que nos vai trazerchuva e vento até à próxima semana.

Boas leituras e tenha uma excelente quarta-feira. Com o Expresso, onde quer que esteja.

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