sábado, 27 de janeiro de 2018

A Itália em armas do Báltico até África


Manlio Dinucci*

O que aconteceria se caças bombardeiros russos, Sukhoi Su 35, introduzidos no aeroporto de Zurique, a cerca de dez minutos de voo de Milão, patrulhassem a fronteira com a Itália sob o pretexto de proteger a Suíça da agressão italiana? Em Roma, todo o Parlamento insurgir-se-ia, exigindo diligências diplomáticas e militares imediatas.

Por outro lado, o mesmo Parlamento aceita e, essencialmente, mantém em silêncio a decisão da NATO de colocar 8 aviões italianos de combate, Eurofighter Typhoon, na base de Amari, na Estónia, a dez minutos de vôo de São Petersburgo, para patrulhar a fronteira com a Rússia, com a argumentação de proteger os países bálticos da "agressão russa". É uma notícia falsa com a qual a NATO, sob o comando dos EUA, justifica a escalada militar cada vez mais perigosa, na Europa, contra a Rússia.

Para deslocar os 8 caças bombardeiros na Estónia, com uma equipa de 250 homens, são gastos (com dinheiro proveniente de fundos públicos italianos) 12,8 milhões de euros, de Janeiro a Setembro, além das despesas operacionais: uma hora de um Eurofighter custa 40 mil euros, o que equivale ao salário bruto anual de um trabalhador.

Esta é só uma das 33 missões militares internacionais em que a Itália está envolvida em 22 países. Às actividades conduzidas durante longo tempo nos Balcãs, no Líbano e no Afeganistão, juntam-se as novas tarefas, que - sublinha a Deliberação do Governo – “se concentram numa área geográfica, a África, considerada de interesse estratégico prioritário em relação às exigências da segurança e da defesa nacional ".

Na Líbia, lançada no caos pela guerra da NATO, em 2011, com a participação da Itália, a mesma Itália que hoje "apoia as autoridades na acção de pacificação e estabilização do país e no fortalecimento do controlo e oposição à imigração ilegal". A operação, que compreende 400 homens e 130 veículos, acarreta uma despesa anual de 50 milhões de euros, incluindo um subsídio médio de 5 mil euros pagos (além do salário), a cada participante nessa missão.

Na Tunísia, a Itália participa na Missão NATO de apoio às "forças de segurança" do governo, empenhadas em reprimir as manifestações populares contra a deterioração das condições de vida.

No Níger, a Itália inicia, em 2018, a missão de apoio às "forças de segurança" do governo, "no âmbito de um esforço conjunto europeu e americano para estabilizar a área", incluindo o Mali, Burkina Faso, Benin, Mauritânia, Chade, Nigéria e a República Centro-Africana (onde a Itália participa numa missão de "apoio" da União Europeia). É uma das áreas mais ricas em matérias-primas estratégicas - petróleo, gás natural, urânio, coltan, ouro, diamantes, manganês, fosfatos e outros - exploradas por multinacionais americanas e europeias, cujo oligopólio está agora em risco devido à presença económica chinesa progressiva. Daí a "estabilização" militar da área, na qual a Itália participa, enviando para o Níger, 470 homens e 130 veículos terrestres, que envolve uma despesa anual de 50 milhões de euros.

A estes compromissos adiciona-se aquele que a Itália assumiu em 10 de Janeiro: o comando da componente terrestre da NATO Response Force, lançada rapidamente em qualquer lugar do mundo. Em 2018, está às ordens do Comando Multinacional de Solbiate Olona (Varese), da qual a Itália é "a nação líder". Mas - esclarece o Ministério da Defesa - este comando está “sob a dependência do Comandante Supremo das Forças Aliadas na Europa", que é sempre nomeado pelo Presidente dos Estados Unidos. A Itália é, portanto, uma "nação líder", mas sempre subordinada à cadeia de comando do Pentágono.


* Geógrafo e geopolítico. Últimas publicações: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014; Diario di viaggio, Zanichelli 2017; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016.

Angola | MAIS UNS TANTOS JUÍZES OU JUÍZES BAJULADORES?


O ministro da Justiça e dos Direitos Humanos de Angola, Francisco Queiroz, disse hoje que vão ser admitidos este ano 60 novos juízes e que está ainda em estudo a possibilidade para a admissão também de novos oficiais de Justiça. Os putativos candidatos vão por isso estar mais calmos e alinhar nos elogios ao Executivo de João Lourenço. O habitual, portanto.

Francisco Queiroz respondia hoje às preocupações colocadas por deputados no encontro com os órgãos da Administração da Justiça e outras instituições do sector, no âmbito da discussão na especialidade da proposta de Lei do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2018.

“Vão ser admitidos 60 novos juízes, estivemos a trabalhar com o Ministério das Finanças nesse sentido e a questão está equacionada do ponto de vista financeiro”, disse o ministro.

Relativamente aos oficiais de Justiça, Francisco Queiroz referiu que “é matéria que está a ser equacionada”, para decidir como será feita a admissão.

“Há uma via que é natural que resulta das vagas que se vão ganhando ou por morte ou por reforma. Mas temos também uma solução, que está a ser estudada com a Casa Civil do Presidente da República, que é da recuperação de pessoas que já fazem parte do sistema financeiro e que estão em estruturas que já foram extintas, como é o caso do Ministério dos Assuntos Parlamentares”, explicou.

O governante sublinhou que existem neste momento pessoas, “que fazendo parte do sistema financeiro, não estão a trabalhar, podem ser aproveitadas, formadas no Instituto Nacional de Estudos Judiciários, e depois serem encaminhadas como oficiais de justiça para os tribunais”.

O titular da pasta da Justiça e Direitos Humanos de Angola, respondendo também à questão levantada sobre a insuficiência de tribunais, referiu que foram adquiridos os 22 edifícios de uma antiga seguradora do país (AAA), mas a sua recuperação e adaptação para os fins dos tribunais e outros serviços da justiça “está a ser feita paulatinamente à medida dos recursos disponíveis”.

No que toca ao processo de reforma da justiça em curso em Angola, Francisco Manuel Monteiro de Queiroz admitiu morosidade na sua implementação, devendo “passar do momento da formulação de ideias, de leis e arrancar para a prática, no sentido de ela ter evidência e expressão prática”.

“Estamos de acordo que tem que ser mais célere e sobretudo mais prática, por isso é que esse ano, na discussão do orçamento com o Ministério das Finanças, insistimos na criação dos Tribunais de Relação, de Benguela e de Luanda, e as soluções estão encontradas”, disse.

Regras basilares para os candidatos

Cerimónia da tomada de posse de João Lourenço como Presidente da República. O juiz venerando, conselheiro, presidente e certamente emérito do Tribunal Constitucional de Angola, Rui Ferreira, deixar bem visível e patente a sua veia partidocrata, ao pronunciar um discurso eminentemente ideológico distante da academia jurídica e norma constitucional que se impunha nesta fase.

Dedicou laivos ao presidente cessante, José Eduardo dos Santos, chegando a pedir desculpa pelo tempo que “lhe roubamos”. Foi a primeira vez que um povo escuta que o Tribunal Constitucional rouba tempo a um presidente da República e à sua família.

Os elogios exacerbados de Rui Ferreira deveriam ser reservados a entes-políticos e não aos entes-jurídicos, no caso Constitucional. Mas não se parou por aqui, disse que o povo angolano o elegeu para o exercício presidencial, numa inversão constitucional, pois ele foi eleito como deputado e deveria, ou deverá, depois abdicar do mandato eleito, este sim, pelo povo, ao votar na lista do MPLA de acordo com o art.º 109.º da Constituição, que o tem como cabeça-de-lista.

Outrossim, como cabeça-de-lista depois deste acto deveria cumprir o n.º 3 do art.º 114.º CRA, com a tomada de posse como deputado e abdicar desse mandato, para exercer exclusivamente o presidencial.

Infelizmente, foi triste e deplorável escutar o discurso do presidente do Tribunal Constitucional, que não carece (mas gosta de o fazer publicamente para que o patrono o veja e o povo testemunhe) de lamber as botas ao ex e ao novo presidente da República, pelo contrário, eles é que lhe devem reverência.

Por sua vez o Presidente, João Lourenço, assumiu (como fez Eduardo dos Santos sempre que tomou posse) o compromisso de “tratar” dos “problemas da nação” ao longo do mandato de cinco anos, com uma “governação inclusiva”.

“Neste novo ciclo político que hoje se inicia, legitimado nas urnas, a Constituição será a nossa bússola de orientação e as leis o nosso critério de decisão”, apontou João Lourenço, durante a cerimónia de investidura. Investidura que, desde logo, foi uma violação da Constituição porque dada pelo presidente do Tribunal Constitucional com mandato expirado há dois anos.

“Uma vez investido no meu cargo, serei o Presidente de todos os angolanos e irei trabalhar na melhoria das condições de vida e bem-estar de todo o nosso povo”, afirmou o chefe de Estado.

“Cumpriu a sua missão com um brio invulgar”, reconheceu João Lourenço, referindo-se ao Presidente cessante, “saltando” o parágrafo em que “estava escrito” que foi graças a Eduardo dos Santos que Angola se tornou um dos países mais corruptos do mundo, líder mundial da mortalidade infantil e causador de 20 milhões de pobres.

Numa intervenção de quase uma hora, João Lourenço enfatizou a melhoria das condições de vida dos angolanos será prioritária.

“Para corresponder à grande expectativa criada em torno da minha eleição e a confiança renovada no MPLA, governarei usando todos os poderes que a Constituição e a força dos votos dos cidadãos expressos nas urnas me conferem”, disse ainda.

Recordando que a “construção da democracia deve fazer-se todos os dias”, apontou que essa missão “não compete apenas aos órgãos do poder do Estado”, sendo antes “um projecto de toda a sociedade, um projecto de todos nós”.

“Vamos por isso construir alianças e trabalhar em conjunto para podermos ultrapassar eventuais contradições e engrandecer, assim, o nosso país”, exortou João Lourenço.

Numa crítica aos partidos da oposição, que questionam os resultados oficiais das eleições gerais de 23 de Agosto, João Lourenço afirmou, perante os aplausos do público, que “o interesse nacional tem de estar acima dos interesses particulares ou de grupo, para que prevaleça a defesa do bem comum”. Sendo que, presume-se o interesse nacional tem de ser definido e compatível com o que o MPLA desejar.

Folha 8 com Lusa

ANGOLA | Marcha contra corrupção nas escolas é reprimida


Estudantes, encarregados de educação e ativistas angolanos saíram à rua (26.01) para repudiar a cobrança da “gasosa” no ato das matrículas. Polícia usou cães e dispersou manifestantes. Houve detidos, depois libertados.

Felix Gouveia é encarregado de educação e aderiu à marcha. Ele vive no município do Kilamaba Kiaxe, na capital angolana. O ano letivo 2018/2019 abre oficialmente dia 31 de janeiro, mas o seu filho não vai estudar porque não pagou a famosa "gasosa”, ou seja, suborno.

E Gouveia conta a sua história: "Fui fazer a matrícula do meu filho, quando cheguei lá a diretora disse que não havia vaga. Quando saía o segurança mandou falar com a diretora pedagógica e ela disse que "as vagas que temos aqui na APC” são só para quem tiver dinheiro para pagar. Eu disse que não poderia pagar porque sou desempregado. Onde vou encontrar dez mil kwanzas (cerca de 50 euros) para o meu filho fazer a 2ª classe? O meu filho não vai poder estudar este ano”.

Como ele, muitos manifestantes juntaram-se à marcha desta sexta-feira (26.01.) para repudiar as cobrança ilícitas na escolas da capital angolana. Dezenas de manifestantes concentraram-se no cemitério da Sant´Ana com destino à sede da delegação provincial da Educação de Luanda onde apresentariam as suas preocupações.

Confiança na polícia

À semelhança de outros protestos, os cartazes e cantos não faltaram: "Gasosa é na cantina, na escola é para estudar", gritavam os manifestantes.

Ao longo da marcha a Polícia Nacional tentava interromper a manifestação. Mas os manifestantes gritavam "Violência não, queremos educação".

A marcha decorria de forma pacífica apesar das várias tentativas dos agentes da ordem de impedir a sua continuidade.

Até essa altura, Donito Carlos, um dos organizadores, acreditava que a polícia ía cumprir o seu papel: proteger os manifestantes: "Até ao momento não há vandalismo, ninguém foi agredido, estamos todos na paz como é o nosso objectivo. E acredito que a mesma polícia poderá fazer alguma coisa para que nós possamos andar com a devida proteção."

Polícia ataca com cães

A proteção foi, literalmente, sol de pouca dura porque os cães foram soltos no viaduto que dá acesso à Praça da Independência, apesar da manifestação ser do conhecimento do Governo da Província de Luanda.

E Donito Carlos recorda: "Nós endereçamos uma carta ao Governo Provincial de Luanda."

A circulação rodoviária foi cortada num sentido enquanto permanecia o impasse. Momentos depois, a marcha foi desfeita com detenção de manifestantes à mistura. Os detidos foram libertos depois de algumas horas. Está é a primeira manifestação reprimida pela polícia desde que João Lourenço tomou posse como novo chefe de Estado a 26 de setembro de 2017.

Mas cenários idênticos já se viveram no anterior Governo, recorda Lourenço Ndomboló, um dos manifestantes.

"A prova está aqui. Trocou-se de motorista, mas a viatura continua a mesma", aponta Lourenço Ndomboló.

Recomeço de manifestações?

Esta é a segunda manifestação em menos de seis dias. Na segunda-feira (22.01.), vários candidatos do Instituto Médio de Saúde (IMS) protestaram contra a cobrança e escassez de vagas naquela instituição. Na quarta-feira (24.01.), os mesmos estudantes reuniram-se com o delegado do Gabinete de Educação de Luanda, André Soma sob mediação do Conselho Provincial da Juventude (CPJ).

Mas o grupo que marchou nesta sexta-feira (26.01.) diz que os alunos que se reuniram com os governante foram manipulados.

Isaías Kalunga responsável do CPJ em Luanda, nega as acusações e explica que "existem os estudantes do IMS, mais de oitocentos, que já estão inscritos neste momento e há o atual grupo que também reivindica o direito de ter acesso ao sistema de ensino. Ninguém está a coartar este direito."

E o responsável do CPJ alerta: "Mas outros grupos poderão também aparecer e acho que existe uma via para a resolução desta questão."

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

MOÇAMBIQUE | Aumentam casos de infanticídio em Manica


Após o parto, as jovens mães abandonam os bebés em latrinas, lixeiras e rios. O aumento do número de casos preocupa as autoridades da província que estão a pensar em ações de prevenção.

O caso mais recente ocorreu no distrito de Gondola, na província central de Manica, onde um recém-nascido foi resgatado ainda com vida, no final de dezembro. A mãe, uma jovem de 17 anos, deixou o bebé numa latrina numa casa vizinha, porque o pai terá recusado assumir a paternidade, de acordo com a polícial local.

A jovem encontra-se neste momento na cadeia distrital de Gondola, a aguardar julgamento por "tentativa de infanticídio". Em declarações à DW África, disse estar inocente e não fazer ideia do que aconteceu.

Em 2017, foram reportados pela Polícia da República de Moçambique (PRM) em Manica pelo menos quatro casos semelhantes. Segundo a porta-voz da Polícia, Elcídia Filipe, o infanticídio por parte de mães adolescentes tem sido recorrente nos últimos tempos na província.

Elcídia Filipe faz um apelo: "Temos de prevenir situações do género, mas tal exige não só a intervenção da polícia, mas também de outras forças vivas da sociedade. Estamos a falar das igrejas, dos líderes comunitários, o setor da saúde, as escolas e outros". A porta-voz da PRM sublinha que "é preciso munir as pessoas de mais informações, principalmente as mães, as mulheres e as famílias sobre os riscos deste tipo de comportamento. Trata-se de um crime punível nos termos da lei."

Origens do infaticídio

Numa província onde são frequentes os casamentos prematuros, são vários os fatores que concorrem para que os crimes de infanticídio ocorram. Um deles é a depressão pós-parto, explica o psicólogo Fontes Castanheiro, do Hospital Provincial de Chimoio.

"É uma doença que muitas pessoas não conhecem, mas acontece. Uma miúda ou uma mulher, porque no início teve algum problema ou com o seu namorado ou com o seu marido, ou porque aconteceu alguma coisa depois do parto, pode entrar em depressão e passar a ter um comportamento de repelir a criança. E daí também pode até chegar ao ponto de matar a criança, por causa de uma perturbação mental, depressão pós-parto, ou então psicose puerperal", explica o psicólogo.

Rosa Francisco, residente em Chimoio e mãe de quatro filhos, aconselha as jovens que não têm condições para sustentar os seus filhos a levar os bebés para infantários ou a aderir a aos programas de planeamento familiar para evitar uma gravidez indesejada.

E Rosa Francisco sensibiliza: "Temos que dar amor e carinho aos nossos filhos e protegê-los. É preferível você sofrer com o seu filho. O que vai comer, partilha também com ele. As jovens podem fazer o planeamento para evitar uma gravidez precoce."

Bernardo Jequete (Chimoio) | Deutsche Welle

MOÇAMBIQUE | Comissão Distrital de Eleições confirma segunda volta em Nampula


Resultados divulgados pela Comissão Distrital de Eleições (CDE) mostram que nenhum candidato obteve os mais de 50% dos votos necessários para vencer a eleição autárquica intercalar.

A Comissão Distrital de Eleições (CDE) de Nampula anunciou esta sexta-feira (26.01) que nenhum dos candidatos à eleição autárquica intercalar naquela cidade moçambicana obteve mais de 50% dos votos, o que, segundo a lei, obriga a uma segunda volta.
   
Os resultados divulgados por Marcelino Martinho, presidente da CDE, vão no sentido das contagens já divulgadas desde quarta-feira (24.01) à noite por diversas organizações que acompanharam o ato eleitoral.

Apenas um quarto dos 296 mil eleitores foi às urnas e a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder a nível nacional, foi o mais votado, com 44,5%, seguido do maior partido da oposição, também a nível nacional, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), com 40,3%, anunciou o presidente da comissão.

A lei eleitoral moçambicana prevê que se nenhum candidato a uma autarquia obtiver maioria, se proceda "a um segundo escrutínio, ao qual concorrerão apenas os dois candidatos mais votados na primeira volta".

No segundo escrutínio, "considera-se eleito o candidato que obtiver o maior número de votos validamente expressos", refere a lei.

Cabe ao Conselho de Ministros marcar, sob proposta da Comissão Nacional de Eleições (CNE), o segundo sufrágio, "a ter lugar até trinta dias após a validação e proclamação dos resultados do primeiro sufrágio", conclui.

RENAMO e FRELIMO a postos para segunda ronda

A RENAMO, através do seu porta-voz José Manteigas, aponta graves irregularidades e continua a exigir a realização de uma segunda volta: "Estes resultados estão a dizer claramente que teremos uma segunda volta e estamos prontos para participar".

 "Queremos dizer, também, que este processo foi manchado por alguma atitude [irregularidades] de algum partido político [FRELIMO]. Encontrámos pastas nas assembleias de voto, algo que não é permitido, e o STAE a sobrepor-se à Comissão Nacional de Eleições.  É isso que a RENAMO condena", lamentou José Manteigas.

Acusações que o porta-voz da FRELIMO, Caifadine Manasse, minimizou. Segundo Manasse, o partido de Afonso Dhlakama sempre protestou depois de qualquer eleição no país e, por isso, a FRELIMO já esta habituada a esse tipo de comportamento do seu adversário político.

A FRELIMO, disse ainda o porta-voz, prefere aguardar com serenidade os resultados definitivos dos órgãos eleitorais. Caso haja uma repetição da votação, afirma também que está preparada. "A Comissão de Eleições deu informações de que, perfilando os candidatos, o mais votado foi Amisse Cololo e, havendo este indicativo, de que é possível a realização de uma segunda volta, a FRELIMO estará preparada. Não há problemas", concluiu.

Observador defende permanência do MDM até às autárquicas

Entretanto, Eduardo Sitoe, da plataforma dos observadores, considera que existem condições legais para a realização de uma segunda volta, mas, pelo tempo que resta, o melhor seria ‘‘continuar com a governação do MDM enquanto se preparam as eleições autárquicas. Porque há tempos legais que estão em causa. Provavelmente a segunda volta iria coincidir com o recenseamento para os próximos pleitos, em março ou abril. A segunda volta dessas intercalares será marcada para esse período", sublinhou.

Recorde-se que a eleição intercalar de quarta-feira foi marcada depois de o presidente da autarquia, Mahamudo Amurane, ter sido assassinado a tiro por um indivíduo, à porta de sua casa, a 04 de outubro de 2017, num crime que está sob investigação.

Sitoi Lutxeque (Nampula), Agência Lusa | Deutsche Welle

Hmad Hammad activista saharaui sob cerco policial

Esta tarde (27.01) em El Aaiun ocupado, a casa de Hmad Hammad, vice presidente da CODAPSO foi cercada pelas autoridades de ocupação marroquinas, impedindo a saída e entrada do edifício durante mais de uma hora.

Segundo nos contou por telefone Hmad Hammad, a policia rodeou por completo o edificio impedindo inclusive a entrada do seu irmão que tinha saído para ir às compras. O vice presidente da CODAPSO (Comité pela Autodeterminação do Sahara Ocidental) ao aperceber-se do cerco abriu a porta deparando-se com dezenas de policias.

Após a denúncia deste cerco à casa deste activista saharaui e ex-preso político nas redes sociais a polícia retirou-se do local.

Desde ontem, após o funeral do emblemático ancião saharaui Deida que movimentou toda a população saharaui na cidade ocupada de El Aaiun que o aparato policial e das forças auxiliares é ainda mais numeroso do que o habitual.

Ontem foi também expulsa mais uma jovem estrangeira europeia que pretendia observar a situação nos territórios ocupados do Sahara Ocidental.

EUA apanhados em situação difícil no norte da Síria


M K Bhadrakumar

A guerra na Síria está em vésperas de uma viragem monumental com a grande operação militar turca no norte da cidade síria de Afrin iniciada no sábado [20/Jan]. O presidente Recep Erdogan anunciou hoje que uma operação no terreno também fora lançada juntamente com bombardeamentos de artilharia e ataques aéreos. Disse ele que uma operação contra a cidade de Manbij, cerca de 140 milhas [225 km] a leste, virá a seguir. (Ver mapa da Google aqui)

Afrin e Manbij são actualmente controladas pelas forças curdas sírias alinhadas com os EUA. Os EUA, os quais têm cinco bases no norte da Síria nos territórios controlados pela milícia curda, em 2016 ajudaram directamente a ocupação de Manbij pela milícia curda. Portanto, a operação turca significa um desafio estratégico aos EUA. Washington instou Ancara reiteradamente a não fazer quaisquer movimentos militares contra a milícia curda.

Mas o que finalmente se mostrou decisivo parece ter sido o plano dos EUA para criar uma força curda de 30 mil homens no norte da Síria com a intenção de utilizá-la como um proxy. Erdogan sente que os EUA está a ir em frente com o projecto de criar um enclave curdo no norte da Síria ao longo da fronteira turca como um centro estratégico para suas futuras intervenções na Síria e no Iraque. Naturalmente, um tal enclave no Curdistão apresentará para a Turquia uma ameaça a longo prazo para a sua segurança nacional, pois dá estímulos aos separatistas curdos na Turquia. Erdogan mantinha-se a implorar a Washington para não se alinhar com os curdos mas sem resultado e agora decidiu-se a tomar o assunto nas suas mãos.

O desenvolvimento de hoje poderá levar a uma confrontação entre os EUA e a Turquia. Na quinta-feira o porta-voz da Casa Branca apelou explicitamente à Turquia a que não empreendesse quaisquer operações militares. O secretário de Estado Rex Tillerson telefonou neste sábado ao seu homólogo Mevlut Cavusoglu, no momento em que a operação parecia estar iminente.

A posição do Irão e da Rússia vai ser crucial. O Irão partilha preocupações da Turquia acerca da aliança dos EUA com os curdos (os quais também têm ligações a Israel) e respeitantes a qualquer Curdistão na região. Portanto, se bem que o Irão possa exprimir reservas quanto à operação turca (a qual é uma violação da soberania nocional da Síria), é improvável que actue contra a Turquia.

O foco do Irão está nas operações em curso do governo sírio no noroeste da província de Idlib, a qual é enormemente estratégica uma vez que está na linha de costa junto ao Mediterrâneo Oriental. A Rússia actualmente também está a concentrar-se nas operações em Idlib, a qual é adjacente à província de Latakia (também ao longo do Mediterrâneo Oriental) onde estão situadas a base naval russa em Tartus e a base aérea em Hmeimim.

É concebível que haja um entendimento tácito de que a Turquia pode não objectar (excepto, é claro, verbalmente) às operações sírias (ajudadas pela milícia apoiada pelo Irão e a Rússia) para esmagar os filiados à al-Qaeda presentes em Idlib e proteger aquela grande província. Os media iranianos informaram hoje que forças do governo sírio capturaram a base aérea estratégica de Abu al-Dhohour no sudeste de Idlib à Frente al-Nusra (filiada à al-Qaeda) no sábado à tarde.

Quanto à posição russa, significativamente, na quarta-feira Erdogan enviou o vice-chefe do Estado-Maior turco, Gen. Hulusi Akar e ao chefe da Organização de Inteligência Nacional, Hakan Fidan, num voo a Moscovo para reunir-se com o chefe do Estado-Maior russo, Valery Gerasimov, e a inteligência russa. Claramente, houve um alto grau de coordenação entre Moscovo e Ancara na decisão de Erdogan de ordenar a operação militar turca. Moscovo exprimiu preocupação acerca das operações turcas e apelou à contenção mas simultaneamente também retirou para fora de perigo pessoal russo da vizinhança de Afrin.

Não há razão concebível para que Moscovo deva ajudar os americanos – contra o pano de fundo a Nova Guerra Fria. De modo interessante, na sexta-feira o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, atacou duramente os EUA alegando que estavam a balcanizar a Síria. Ele disse isto numa conferência de imprensa na Sede da ONU em Nova York. Citação de Lavrov: "Os EUA estão realmente a estabelecer corpos de governo alternativos em grandes partes da Síria, o que contraria as obrigações em relação à integridade territorial da Síria que têm reafirmado e a que se comprometeram, particularmente nas reuniões do Conselho de Segurança. Estamos preocupados acerca disso".

No dia 15 de Janeiro, numa conferência de imprensa em Moscovo, Lavrov fez algumas declarações francas:

Podemos ver as aspirações não para resolver o conflito (sírio) tão logo quanto possível, mas sim para assistir aqueles que desejariam dar passos práticos para mudar o regime... As acções, podemos ver agora, demonstram que os Estados Unidos não querem manter a Síria territorialmente integrada. Foi só ontem que ouvimos acerca de uma nova iniciativa de que os EUA querem ajudar as assim chamadas forças da Síria democrática a organizarem algumas zonas de segurança na fronteira. De facto, isso significa separação de um enorme território ao longo das fronteiras com a Turquia e o Iraque.

Como é que tudo isto faz sentido? Na minha opinião, tanto a Rússia como o Irão simplesmente sentarão com os braços cruzados e observarão como Erdogan cuida de esmagam o principal proxy dos EUA (a milícia curda) no norte da Síria. Na verdade, eles não têm nada a perder se se seguir um confronto desagradável entre os EUA e a Turquia, duas grandes potências da NATO. Por outro lado, se a Turquia tiver êxito em vencer a milícia curda, os EUA não terão outra opção senão desocupar o norte da Síria, o que também funciona em vantagem da Rússia e do Irão. Dito resumidamente, a administração Trump deu um passo maior do que as pernas com a sua decisão insensata de manter indefinidamente a presença militar dos EUA na Síria "para conter Assad e o Irão" . Teerão sabe muito bem que se os EUA forem forçados a desocupar a Síria, o projecto estado-unidense-israelense contra o Irão tornar-se-á uma piada no bazar do Médio Oriente.

As próximas semanas vão ser cruciais. Se os EUA se mostrarem impotentes enquanto a Turquia esmaga seus aliados na Síria, isto será uma enorme perda de face para a administração Trump no plano regional. Enquanto isso, a Turquia está a cooperar activamente com a Rússia nos preparativos para manter um Diálogo Nacional Sírio (de representantes do governo e da oposição) em Sochi, dias 29-30 de Janeiro. A Rússia agora consegue uma outra oportunidade para acelerar o entendimento sírio. 

20/janeiro/2018

Ver também:

É URGENTE DENUNCIAR A OCUPAÇÃO DA PALESTINA


Para denunciar a colonização dos territórios palestinianos, o agravamento da agressão israelita e apoiar a luta do povo palestiniano, realiza-se no dia 31 de Janeiro, às 18h30, uma concentração frente à Embaixada de Israel em Portugal.

Sob o lema «Contra a ocupação israelita e a cumplicidade dos EUA, dar voz à solidariedade com a Palestina», o acto público é promovido pela CGTP-IN, o Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), o Movimento Democrático de Mulheres (MDM) e o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM).

Numa nota, as organizações promotoras sublinham que «a agressão israelita» ao povo palestiniano se agrava diariamente, precisando que, ao arrepio das resoluções das Nações Unidas e do Direito Internacional, dois milhões de palestinianos vêem ameaçada a sua sobrevivência em Gaza, cercada há mais de dez anos por Israel, e que a ocupação dos territórios palestinianos prossegue, quer pela via do aumento da construção de colonatos nos territórios ocupados (onde já vivem mais de 600 mil colonos), quer pela via da aceleração do plano do governo israelita, de extrema-direita, que visa anexar esses territórios ilegalmente ocupados.

De igual modo, as organizações promotoras sublinham a intensificação da natureza segregacionista e xenófoba do Estado de Israel, bem como o agravamento das suas ingerências e da política agressiva no Médio Oriente.

Neste contexto, «a decisão de Trump de reconhecer Jerusalém como capital de Israel e de cortar o financiamento à agência de apoio aos refugiados, UNRWA [na sigla em inglês] testemunha a cumplicidade dos EUA com a política criminosa de Israel e cria graves tensões na região», salientam as organizações referidas, que lembram ainda o caso da jovem presa Ahed Tamimi, enquadrando-o no número crescente de palestinianos «presos, feridos e mortos por se erguerem contra a opressão e lutarem pela liberdade do seu povo».

Assim, CGTP-IN, CPPC, MDM e MPPM instam as pessoas a apoiar a luta do povo palestiniano pelo «seu Estado soberano, independente e viável nas fronteiras anteriores a Junho de 1967, com capital em Jerusalém Oriental, pelo direito de regresso dos refugiados palestinos».

AbrilAbril | em Pravda.ru | Foto Google

Churchill e seu sombrio lado B


“O Destino de uma Nação” homenageia, com razão, um líder da luta contra o nazismo. Mas esconde governante racista, que usou armas químicas contra indianos, iraquianos e revolucionários russos

John Wight, no RT | Outras Palavras | Tradução: Mauro Lopes

“A verdade raramente é pura e nunca simples”. Assim escreveu Oscar Wilde –e a frase descreve perfeitamente a vida e o legado do líder mais famoso e reverenciado da Grã-Bretanha, Winston Churchill, um gigante político que tinha orgulho de seu racismo e do imperialismo.

Na sequência do lançamento de mais um filme hollywoodiano sobre Churchill, Darkest Hour (O Destino de uma Nação no Brasil), que está atraindo críticas favoráveis e caracteriza Gary Oldman como Churchill e Kristin Scott Thomas como sua estoica esposa Clementine, uma série de artigos sobre o homem e seu legado foi produzida, confirmando que seu lugar na história continua sendo objeto de disputa e conjecturas ao longo de meio século depois de sua morte em 1965.

O filme centra-se nas semanas da vida de Churchill nas quais talvez ele tenha sido mais famoso, quando, como primeiro-ministro, liderou a Grã-Bretanha durante o período mais sombrio de sua história, depois do desastre militar de Dunquerque em maio de 1940.

Antes de sua ascensão a primeiro ministro britânico, Churchill passara anos como um parlamentar sem maior expressão;  como uma Cassandra solitária, alertando sobre a ameaça representada por Hitler. Já em 1932, depois de retornar à Grã-Bretanha de uma viagem à Alemanha, ele se dirigiu assim à Câmara dos Comuns: “Todos esses bandos de jovens teutônicos, marchando pelas ruas e estradas da Alemanha, com a luz do desejo em seus olhos para sofrer por sua pátria não estão procurando status. Eles estão procurando armas”.

No final de maio de 1940, com os panzers de Hitler nos portos do Canal do norte da França, talvez tenha sido um pequeno conforto para Churchill saber que ele tinha razão, enquanto a maior parte do establishment político britânico, que nutrira profundas simpatias pelos nazistas ao longo da década de 1930, mostrou-se errada.

O filme descreve a luta seminal que ocorreu entre Churchill e aqueles que, dentro de seu gabinete e  liderados pelo ministro das Relação Exteriores, Lord Halifax (interpretado por Stephen Dillane), acreditavam não haver possibilidade de derrotar militarmente os alemães após Duquerque e que eram inflexíveis em defender um acordo com o ditador nazista, com o objetivo de salvar o império britânico.

Churchill, como a história revela, viu as coisas de maneira diferente. Isto é poderosamente representado no filme quando, exasperado pela repetidas pressões de Halifax de que chegara o momento de negociar, bateu na mesa: “Quando a lição será aprendida? Você não pode argumentar racionalmente com um tigre quando sua cabeça está na boca do animal! ”

O lado lastimável do legado de Churchill

Se 1940 foi a melhor hora de Churchill, houve também inúmeras horas de ignomínia e mentiras em sua vida, que sua legião de admiradores fez todo o possível para esconder em favor do mito.

Winston Spencer Churchill, nascido em 1874, era um descendente de uma classe privilegiada em uma sociedade britânica que sofria com o peso morto da aristocracia no final do século XIX. Desde muito jovem, foi cativado pela guerra e pela vida militar, desenvolvendo um apego nietzscheano ao conflito como campo de testes das chamadas virtudes masculinas de coragem, honra e disciplina. Ele experimentou a guerra de perto, quando, como um jovem oficial do exército, participou de combates na Índia, no Sudão e na Frente Ocidental durante a Primeira Guerra Mundial.

Isso o distingue dos líderes de guerra britânicos contemporâneos, como Tony Blair e David Cameron, que enviaram forças militares britânicas ao combate com o objetivo de estabelecer seu próprio legado “churchiliano”, resultando em desastres.

O lado lastimável do legado de Churchill é, como se disse no parágrafo inicial, o racismo e o imperialismo que sustentaram sua visão de mundo. Sua crença na hierarquia racial foi esboçada no testemunho que ele deu à Comissão Peel em 1937, criada para investigar a revolta árabe de 1936 contra o influxo de colonos judeus europeus para a Palestina, com a conivência dos britânicos.

Quando perguntado sobre os direitos dos palestinos, Churchill recusou-se a aceitar que tivessem algum: “Não admito, por exemplo, que tenha havido um grande erro em relação aos índios vermelhos da América ou ao povo negro da Austrália. Não admito que tenha havido qualquer erro pelo fato de uma raça mais forte, uma raça de grau superior, uma raça global mais sábia, para colocar nestes termos, ingressar no território e ocupar seu lugar”.

Anos antes, como secretário de Guerra da Grã-Bretanha, Churchill havia defendido o uso de armas químicas para derrotar revoltar na Índia e no Iraque, escrevendo assim em um memorando: “Eu sou fortemente a favor do uso de gás venenoso contra tribos incivilizadas”. Ele também foi responsável pelo uso de armas químicas na Rússia em 1919 com o objetivo, em conjunto com várias outras potências imperialistas, de esmagar a Revolução Russa.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o desdém de Churchill pelos povos europeus não brancos foi posto a nu com a descoberta de sua culpa pela morte de três milhões de homens, mulheres e crianças na fome de Bengala de 1943.

Apesar da fome que havia varrido essa agitada província da Índia, Churchill ordenou o desvio de alimentos desesperadamente necessários para a Europa. O fato de que as 70 mil toneladas de alimentos arrancadas pelos britânicos da Índia nos primeiros sete meses de 1943 teriam mantido 400 mil pessoas vivas por um ano é assustador. “Odeio os indianos”, teria dito o primeiro-ministro mais venerado da Grã-Bretanha a um de seus subordinados. “Eles são um povo bestial com uma religião bestial”.

Veneração e vilipêndio em igual medida

A veneração a Winston Churchill por liderar um país de joelhos após o desastre militar de Dunquerque em 1940 deve balanceada com o exame de seu racismo nojento e imperialismo fanático. E apesar de o desafio de Churchill a Hitler e sua máquina de guerra nazista terem sido importantes, deve-se ressaltar que a prioridade militar e estratégica de Hitler nunca foi a guerra contra a Grã-Bretanha.

Pelo contrário, o ditador fascista era um admirador do império britânico, que ele procurava imitar na Europa Oriental, com a colonização e o saque de grandes territórios da Rússia. Como William L. Shirer escreve em seu trabalho histórico, Ascensão e queda do Terceiro Reich, depois da queda da França, convencido de que a Grã-Bretanha buscaria negociar a paz, Hitler expressou “sua admiração pelo império britânico e sublinhava a necessidade de sua existência. Tudo o que ele queria de Londres, ele disse, era ter a mão livre no continente “.

A resposta à questão sobre quem Winston Churchill era nunca poderá ser respondida em um filme feito com o objetivo de reforçar a reverência que lhe presta o Ocidente. Nascido com o sangue da aristocracia inglesa que atravessava suas veias, ele era um homem para quem o mundo estava dividido entre povos europeus brancos, racial e culturalmente superiores, e povos não-brancos  fadados a ocupar o papel dos hilotas [os desprezados e oprimidos servos do Estado em Esparta, na Antiguidade – NR].

Ivan Maisky, embaixador soviético em Londres entre 1932 e 1943, entendeu com precisão as contradições que definem Churchill, quando em seus volumosos diários ele anotou: “Com toda a sua seriedade, Churchill é um homem bastante divertido”.

Churchill, o grande líder do tempo de guerra ou Churchill, o racista e o imperialista? A resposta simples é que ele era ambos.

Vice de Merkel apela contra "esquecimento do Holocausto"


No Dia em Memória das Vítimas do Holocausto, ministro alemão do Exterior e vice-chanceler federal, Sigmar Gabriel, insta à ação contra o antissemitismo e qualquer forma de ódio.

O campo de concentração de Auschwitz foi libertado em 27 de janeiro de 1945 pelos soldados soviéticos do Exército Vermelho. Desde 1996, o dia 27 de janeiro é na Alemanha a data oficial para lembrar as vítimas do nacional-socialismo. Em 2005, a Assembleia Geral das Nações Unidas o transformou no Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.

No total, os nazistas assassinaram por volta de seis milhões de judeus. No Dia da Memória das Vítimas do Holocausto também são lembrados os sinti e os roma assassinados, os trabalhadores forçados, as pessoas com deficiência e todas as outras vítimas do nacional-socialismo.

Neste ano, o ministro alemão do Exterior e vice de Angela Merkel, Sigmar Gabriel, lembrou as pessoas perseguidas e assassinadas pelo nacional-socialismo. O ministro disse neste sábado (27/01) em Berlim que, 73 anos depois da libertação do campo de extermínio de Auschwitz, ainda não se pode entender o abismo sem fim que significa o crime praticado pelos nazistas contra a humanidade.

"Sempre parte de nós"

"A dor diante de que as pessoas podem fazer e fizeram para outras pessoas, o sofrimento e a lembrança de todos os que foram roubados de sua dignidade, privados de sua existência, perseguidos, martirizados, humilhados, assassinados, serão para sempre parte de nós", disse Gabriel. Ninguém pode voltar atrás na roda da história,  "mas todos e cada um podem, com uma visão clara dos lembretes da nossa história, assumir a responsabilidade pelo futuro, a cada novo dia".

"De forma muito especial, estamos comprometidos com os sobreviventes e as testemunhas", afirmou o ministro alemão do Exterior. Eles deixaram às futuras gerações, os descendentes de algozes ou vítimas, a missão de tirar lições muito pessoais da história. "Cabe a nós combater o esquecimento".

"Esclarecimento mais necessário que nunca"

Monika Grütters, ministra alemã da Cultura, acrescentou: "Num tempo em que a incitação antissemita e anti-israelense cresce nas redes sociais, nas ruas e nos partidos populistas de direita, o esclarecimento sobre o nacional-socialismo é mais necessário do que nunca".

O presidente do Conselho Central de Judeus na Alemanha, Josef Schuster, também advertiu sobre as consequências do antissemitismo importado por refugiados de países de maioria muçulmana.

"É claro que vieram pessoas para a Alemanha que desde pequenas aprenderam o ressentimento contra os judeus e hostilidade frente a Israel", afirmou Schuster ao jornal Westfalen-Blatt. "Era preciso e é preciso assumir que eles não podem, simplesmente, trazer isso para a fronteira alemã".

CA/afp/kna/epd/Deutsche Welle

Quase metade dos britânicos quer novo referendo sobre Brexit


Estudo aponta que nova votação é apoiada tanto por apoiadores da permanência do Reino Unido na União Europeia quanto por eurocéticos. Dos entrevistados, 43% temem efeitos negativos do Brexit sobre a economia.

Uma pesquisa divulgada nesta sexta-feira (26/01) pelo jornal The Guardian revelou que 47% dos britânicos são a favor da realização de um novo referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (UE). Apenas 34% são contra uma segunda votação sobre o chamado Brexit.

De acordo com a pesquisa, realizada pela empresa ICM, se os indecisos fossem eliminados dos resultados, seriam 58% os que apoiam um novo referendo, contra 42% que o rejeitam.

A pesquisa concluiu ainda que há pessoas favoráveis a um novo referendo tanto entre aqueles que apoiam o Brexit, quanto os que rejeitam. Segundo a ICM, um quarto daqueles que votaram pela saída do bloco europeu são a favor de convocar uma segunda votação assim que o governo britânico chegar a um acordo com a UE sobre os termos da futura relação entre ambos.

O estudo mostrou ainda que 43% dos entrevistados temem que o Brexit tenha efeitos negativos sobre a economia britânica.

Londres determinou 29 de março de 2019 como data para se desligar do bloco europeu. Até lá, o governo britânico espera chegar a um acordo com a União Europeia que possibilite a continuidade do comércio com o mercado único europeu com as menores barreiras possíveis.

Num referendo realizado em junho de 2016, 51,9% dos britânicos aprovaram o Brexit, mais de quatro décadas depois de o país aderir ao bloco comunitário europeu. Desde então, o país negocia o divórcio com a União Europeia. Em dezembro, os líderes de 27 Estados-membros da UE deram aval ao início da segunda fase das negociações.

Também em dezembro, a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, perdeu uma votação-chavesobre o Brexit no Parlamento. A Câmara dos Comuns aprovou uma emenda que obriga o governo britânico a submeter um futuro acordo alcançado com a UE ao aval dos legisladores.

CN/efe/ots | Deutsche Welle

Mais lidas da semana