sábado, 27 de janeiro de 2018

MOÇAMBIQUE | Aumentam casos de infanticídio em Manica


Após o parto, as jovens mães abandonam os bebés em latrinas, lixeiras e rios. O aumento do número de casos preocupa as autoridades da província que estão a pensar em ações de prevenção.

O caso mais recente ocorreu no distrito de Gondola, na província central de Manica, onde um recém-nascido foi resgatado ainda com vida, no final de dezembro. A mãe, uma jovem de 17 anos, deixou o bebé numa latrina numa casa vizinha, porque o pai terá recusado assumir a paternidade, de acordo com a polícial local.

A jovem encontra-se neste momento na cadeia distrital de Gondola, a aguardar julgamento por "tentativa de infanticídio". Em declarações à DW África, disse estar inocente e não fazer ideia do que aconteceu.

Em 2017, foram reportados pela Polícia da República de Moçambique (PRM) em Manica pelo menos quatro casos semelhantes. Segundo a porta-voz da Polícia, Elcídia Filipe, o infanticídio por parte de mães adolescentes tem sido recorrente nos últimos tempos na província.

Elcídia Filipe faz um apelo: "Temos de prevenir situações do género, mas tal exige não só a intervenção da polícia, mas também de outras forças vivas da sociedade. Estamos a falar das igrejas, dos líderes comunitários, o setor da saúde, as escolas e outros". A porta-voz da PRM sublinha que "é preciso munir as pessoas de mais informações, principalmente as mães, as mulheres e as famílias sobre os riscos deste tipo de comportamento. Trata-se de um crime punível nos termos da lei."

Origens do infaticídio

Numa província onde são frequentes os casamentos prematuros, são vários os fatores que concorrem para que os crimes de infanticídio ocorram. Um deles é a depressão pós-parto, explica o psicólogo Fontes Castanheiro, do Hospital Provincial de Chimoio.

"É uma doença que muitas pessoas não conhecem, mas acontece. Uma miúda ou uma mulher, porque no início teve algum problema ou com o seu namorado ou com o seu marido, ou porque aconteceu alguma coisa depois do parto, pode entrar em depressão e passar a ter um comportamento de repelir a criança. E daí também pode até chegar ao ponto de matar a criança, por causa de uma perturbação mental, depressão pós-parto, ou então psicose puerperal", explica o psicólogo.

Rosa Francisco, residente em Chimoio e mãe de quatro filhos, aconselha as jovens que não têm condições para sustentar os seus filhos a levar os bebés para infantários ou a aderir a aos programas de planeamento familiar para evitar uma gravidez indesejada.

E Rosa Francisco sensibiliza: "Temos que dar amor e carinho aos nossos filhos e protegê-los. É preferível você sofrer com o seu filho. O que vai comer, partilha também com ele. As jovens podem fazer o planeamento para evitar uma gravidez precoce."

Bernardo Jequete (Chimoio) | Deutsche Welle

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