quinta-feira, 26 de abril de 2018

UM SONHO


Ana Alexandra Gonçalves* | opinião

A aproximação de António Costa a Rui Rio tem vindo a provocar excitação naqueles que sonham acordados com uma reedição do bloco central, com Francisco Assis à cabeça. As singelas imagens de Costa a sorrir ao lado do sempre sorridente Rio traz de novo esperança nessa reedição.

Com efeito, existem razões para alimentar esse sonho, não apenas pelas singelas imagens, mas sobretudo pelos pactos firmados entre o Governo e o maior partido da oposição. A confiança de Rui Rio é tal que fala abertamente de um acordo para a lei de bases da Saúde. Fica o desconforto visível nos partidos que apoiam esta solução de governo e o reacender da esperança de Francisco Assis e afins.

No entanto, e fazendo fé na sensatez de António Costa, a reedição de um bloco central pode muito bem não passar de um sonho. De resto, a actual solução política, apesar das dificuldades inerentes a um mundo de diferenças entre os partidos, não só tem funcionado, como chega mesmo a fazer escola para desgosto daqueles que utilizam o termo “geringonça”, de modo depreciativo.

Paralelamente, os parceiros mais à esquerda têm revelado serem confiáveis e fiéis – desbaratar esse capital seria um verdadeiro tiro no pé que destruiria uma solução que conta com o agrado dos cidadãos.

Ainda assim, importa que António Costa não se aventure excessivamente por terrenos escorregadios com aquele que, de forma sorridente, tenta esconder a sua periclitante posição no seio do PSD, procurando neste encosto ao PS uma espécie de solução que resulte no tão almejado estado de graça.

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

BRANCOS COSTUMES


Alberto Castro*, Londres

O

Ontem foi 25 de Abril, celebrou-se a liberdade, mas há um revolução que não se fez e um lugar ao qual não se chegou: o racismo. Infelizmente, 44 anos depois ainda estamos a discutir o que já devia ter sido corrigido. Debater é só um minúsculo passo, mas importante para despertar consciências.  

Aqui está o convite para o dia 5 de Maio, a partir das 14h, no São Luiz, em Lisboa - fotografia em cima. Sei que muitos não estarão em Lisboa, mas apareçam, partilhem divulguem - a sala é grande, o ciclo longo, mas é importante fazer escutar estas vozes. 

Ora então:

14h Apresentação por Joana Gorjão Henriques e Frederico Batista, Jornal Público e Tinta-da-china

14h15-16h 
Educação

Beatriz Gomes Dias, professora de Biologia 
Jakilson Ramos Pereira, direcção Moinho da Juventude

Miguel Monteiro Barros, presidente da Associação dos Professores de História
Joacine Katar Moreira, historiadora
Moderação: Manuel Santos, Sociólogo

16h: Sketch teatral 

Debate

16h30-18h

Justiça 

Hélder Cordeiro, Procurador da República do DIAP (Amadora) 
José Semedo Fernandes, advogado
Joana Gorjão Henriques, jornalista

Eugénio Silva, mediador social

Moderação: António Brito Guterres, investigador DINAMIA/ISCTE 

18h Performance teatral  

Debate
18h15-19h30
Nacionalidade

Celeste Correia, ex-deputada
José Pereira, petição Por Outra Lei da Nacionalidade
Miguel Vale de Almeida, antropólogo

Nuno Dias, assistente de administraçao

Moderação: Anabela Rodrigues, directora do GTO Lisboa
19h30 Djidiu - a herança do ouvido: leitura de poemas

Alberto Castro, Londres | Colunista e correspondente internacional

Macron é antídoto contra Trump


Visita do presidente francês a Washington pode ser considerada um sucesso. Seu discurso no Congresso mostra que a relação estreita com Trump não o impedirá de criticar políticas do americano, opina Michael Knigge

Michael Knigge* | opinião

A extensa visita de Emmanuel Macron aos Estados Unidos foi composta por duas partes. No foco da primeira etapa, estiveram sobretudo ele mesmo e o presidente americano, Donald Trump, que tinha convidado o homólogo francês para a primeira visita de Estado de um dignatário estrangeiro a Washington desde que assumiu a Casa Branca, em janeiro de 2017. Embora tenha aproveitado oportunidades para explicar, cordialmente, as diferenças políticas entre os dois países, Macron manteve basicamente uma atitude de deferência em relação ao anfitrião.

Como outros chefes de Estado e de governo, a exemplo da chanceler federal alemã, Angela Merkel, Macron também não foi poupado de um típico tratamento à la Trump: tentando deixar seu convidado de honra "mais bonito", Trump retirou o que chamou de caspa do terno de Macron. Ele também mandou um beijo ao colega e, em geral, se comportou da mesma forma tempestuosa de sempre.

Em suas declarações públicas e durante uma entrevista coletiva conjunta, Trump não abordou nenhum dos temas considerados importantes pelo homólogo francês: a prorrogação do acordo nuclear com o Irã, a continuidade do envolvimento dos Estados Unidos na Síria após a vitória sobre o chamado "Estado Islâmico", a luta contra o aquecimento global e o fim das ameaças de impor taxas às importações europeias. Macron conseguiu contornar tudo isso e não parecer desconfortável diante das palhaçadas de Trump no estilo "pastelão" e da franca rejeição de seus objetivos políticos.

Depois dessa primeira parte, a impressão que pode ter ficado é a de que Trump não estava tratando Macron de igual para igual. A piedade com Macron foi quase inevitável. Trump sufocou seu convidado com elogios, mostrou-lhe a casa de George Washington em Mount Vernon e realizou um pomposo banquete de Estado para ele na Casa Branca. Mas, depois, criticou publicamente as sugestões de Macron, que não obteve mais do que a fórmula padrão do presidente americano: "Saberemos em breve."

Mas eis que veio o segundo ato da visita de Macron, no qual ele falou diante dos senadores e deputados no Congresso. Ele discursou em inglês – o que, por si só, é incomum para um presidente francês.

O que ele executou em seguida não foi nada menos do que uma recusa direta da política de Trump e da tática que o levou ao poder. Macron apelou fervorosamente em favor da democracia, da liberdade, da tolerância, dos direitos humanos e da cooperação internacional – uma defesa poderosa dos valores do Ocidente.

Macron disse tudo isso diante de um Congresso controlado pelos republicanos, que, salvo raras exceções, apoiam um presidente que nega ou ignora esses valores com frequência. O fato de Macron ter discursado no coração da democracia dos Estados Unidos deu peso adicional a suas palavras.

Mas, se a visita de Macron consistiu de duas partes tão diferentes, é possível chamá-la de bem-sucedida – sobretudo pelo fato de ele mal ter conseguido fazer vacilar a posição de Trump em relação a questões cruciais?

A resposta é sim. Por dois motivos: em primeiro lugar porque, na Washington de Trump, é preciso ser grato por qualquer sucesso, por menor que seja. Após a surpreendente vitória do republicano, observadores na capital americana comentaram meio brincando, meio a sério que o primeiro banquete estatal seria oferecido ao primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán. 

A especulação não foi tão exagerada – afinal, o primeiro político estrangeiro que Trump visitou após sua vitória nas urnas foi Nigel Farage, líder populista idealizador do Brexit. E é importante lembrar que, esta semana, Trump chamou o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, de "muito honrado".

Nesse contexto, o convite a Macron – o presidente de um aliado tradicional dos EUA, mas também um membro fundamental e defensor da União Europeia – não foi nenhuma obviedade. Pelo contrário: foi um êxito significativo tanto para Macron quanto para Bruxelas.

Em segundo lugar, Macron aproveitou a visita para, especialmente durante seu discurso no Congresso, delinear e defender valores ocidentais e a unidade europeia. Fazendo isso de forma comovente e eloquente, ele desenhou uma visão de mundo que pode ser descrita como o antídoto contra a visão de mundo de Trump. Mostrar essa alternativa foi altamente oportuno e extremamente necessário.

*Michael Knigge (de Washington / rk) | Deutsche Welle |  opinião

Corrupção em Malta é desafio para a União Europeia


Pequena ilha no Mediterrâneo é vista como um centro de corrupção e lavagem de dinheiro e está sob críticas por causa de seu programa de venda de passaportes. Assassinato de jornalista elevou pressão sobre as autoridades.

Malta é uma pequena ilha de 440 mil habitantes que conquistou sua independência do Reino Unido em 1964, ingressou na União Europeia em 2004 e desde 2008 adota a moeda comum europeia, o euro.

Mas essa pequena nação no Mediterrâneo, localizada entre a Sicília e a Líbia, chama a atenção também como um centro de corrupção e lavagem de dinheiro dentro da União Europeia, e as mais altas autoridades políticas maltesas são suspeitas de envolvimento em negócios dúbios.

Malta entrou no foco das atenções europeias com o assassinato, num atentado a bomba, da jornalista investigativa Daphne Caruana Galizia, que, em seu blog, atacava a elite política e econômica da ilha.

Em 16 de outubro de 2017, uma bomba detonada por celular destruiu o Peugeot 108 de Galizia, matando-a. O explosivo, um pacote de TNT, havia sido colocado embaixo do assento do motorista.

Nos últimos anos, Galizia atacara duramente o Partido Trabalhista, do primeiro-ministro Joseph Muscat, por exemplo ligando a esposa dele, Michelle, aos escândalo dos Panama Papers. Segundo a denúncia da jornalista, Michelle era a verdadeira dona da empresa Egrant, que teria recebido 1 milhão de dólares de Leyla Alijeva, uma das filhas do presidente do Azerbaijão, Ilham Alijev. Michelle nega que seja a dona da empresa.

A transação foi feita por meio do banco Pilatus, em Malta, uma instituição fundada em 2014 por um cidadão iraniano, Ali Sadr Hasheminejad, na época também dono de um passaporte da ilha caribenha São Cristóvão e Neves.

Hasheminejad é filho de um dos homens mais ricos do Irã e se casou em 2015 em Florença, na Itália. Na lista de convidados estavam Muscat, Michelle e o chefe de gabinete do premiê, Keith Schembri, sob suspeita de corrupção por causa de dois depósitos de 50 mil euros numa conta que detém no Pilatus.

O banco, que tinha apenas 130 clientes, tem depósitos totais de 250 milhões de euros em seus cofres, vindos sobretudo da elite política e econômica do Azerbaijão, segundo informantes anônimos.

Em março de 2018, Hasheminejad foi detido nos Estados Unidos e aguarda julgamento. Ele é acusado de lavagem de dinheiro e de contornar sanções americanas por ter supostamente participado de um esquema de transferência de dinheiro da Venezuela para o Irã.

Depois de sua prisão, os ativos do banco Pilatus foram congelados pela autoridade financeira de Malta, e as atividades do banco foram suspensas.

Outro tema frequente no blog de Galizia: a venda de passaportes malteses para pessoas ricas, o que garante a elas livre trânsito na União Europeia e a possibilidade de contornar sanções econômicas internacionais aos seus países de origem, como o Irã e a Rússia.

Por cerca de 1 milhão de dólares, é possível adquirir um passaporte de Malta, desde que observadas algumas exigências, como ter morado na ilha por ao menos um ano. A maioria dos interessados contorna essa exigência com a simples compra de um pequeno apartamento.

Ao longo de quatro anos, o programa de venda de passaportes garantiu 800 milhões de dólares para Malta, o que ajudou o governo da ilha a reduzir suas dívidas. Mas o programa recebe cada vez mais críticas de outros países europeus.

Seis meses depois do assassinato de Galizia, pouco progresso foi feito para esclarecer o crime. Três suspeitos foram detidos em dezembro. Todos afirmaram ser inocentes. Em relação aos mandatários e os motivos do crime, nenhum avanço foi feito.

Em novembro, a Autoridade Bancária Europeia lançou uma investigação sobre a atuação das autoridades financeiras de Malta, por suspeitas de lavagem de dinheiro no país e para esclarecer como o banco Pilatus obteve sua licença para operações bancárias, que, pelas leis do bloco, é válida para toda a União Europeia.

As investigações das histórias levantadas por Galizia estão sendo mantidas por um grupo de 45 jornalistas de 18 empresas de comunicação, reunidos no Projeto Daphne.

Alexandre Schossler | Deutsche Welle

Foto: Daphne Caruana Galizia foi morta num atentado a bomba em outubro de 2016

PORTUGAL | Sócrates, o criminoso nato

Miguel Guedes | Jornal de Notícias | opinião

A exposição da debilidade humana é uma revelação de falência da sociedade democrática. Quando sujeito à pressão e ao escrutínio dos interrogatórios da Operação Marquês, José Sócrates comporta-se como qualquer acossado. Gesticula, verborreia, atira-se às grades com distinção animal, defende e ataca, dissimula e voa entre figuras de estilo e acto dramático. Nada de provinciano transmontano assoma ou de fausto parisiense brilha. Não há qualquer justificação ou interesse público em ver um animal político dar luta senão para edificar a convicção no julgamento público da sua culpa. Sabe-se agora que ninguém está a salvo de ver a sua liberdade devassada com videoinquéritos judiciais sem consentimento informado. Não há razão plausível que me convença de que quem defende esta invasão da justiça pelo dente-por-dente não se mova, sobretudo, pela sede canina de soltar o seu olho-por-olho em rasgo individual de carrasco.

Com a devida vénia em dia de Liberdade, nem a minha nem a convicção de ninguém sobre a culpa ou a inocência de José Sócrates são para aqui chamadas. Sorridentes, continuam a desfilar os alumiados que mancham todos aqueles que defendem os mais elementares princípios de direito, associando-os à torpe tentativa de justificar ou absolver Sócrates. Esse processo de linchamento do Estado de direito pela sede de ir ao pote dos ódios particulares é uma perigosa travessia para o tempo dos algozes. Ao longo dos dias, analistas políticos transformaram-se em especialistas comportamentais através de câmaras de vigilância. Salivam por frame. Asseguraram o interesse público na divulgação de imagens de um processo judicial em curso, estimulados pelas expressões faciais subliminares, manifestações corporais com peso específico, pelos silêncios e escusas de labirinto, pelo timbre de voz da fera ou pelo seu esmagador silêncio, pelos segundos de aceleração aos 100. Não há nada de novo, não há investigação. Há voyeurismo judicial. A felicidade do torcionário está estampada. O julgamento pela convicção está na cara.

É assustadora a facilidade com que hoje se reescreve o "Tratado antropológico experimental do homem delinquente". No século XIX, a teoria do criminoso nato de Cesare Lombroso fazia escola na antropologia criminal, inebriada pela selecção natural de Darwin. Bastava, então, a análise das características puramente físicas e comportamentais para se apontar ao criminoso, condenado que estava à reincidência pelo peso da hereditariedade e pela irrenunciável vertigem da delinquência. Epicteto, filósofo grego, assegurava que "não são as coisas que nos perturbam mas a forma como interpretamos o seu significado". Se a justiça passar a conviver bem com um kit de justiceiros, convirá tipificar criminalmente o ódio como a verdadeira doença.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

*Músico e jurista

PORTUGAL | Estado espera fazer milhões, sim, mas com a totalidade da madeira ardida


Instituto da Conversação da Natureza e das Florestas informou que a madeira ardida nos incêndios do ano passado será vendida ao longo de sucessivas hastas públicas.

O Governo tenta agora, depois dos incêndios que assolaram o país no ano passado, capitalizar a área ardida. 

Várias notícias deram hoje conta de que o Instituto da Conversação da Natureza e das Florestas (ICNF) venderia em hasta pública cerca de 300 mil pinheiros queimados oriundos de várias matas nacionais, entre as quais o pinhal de Leiria, de onde poderão ser compradas e cortadas algumas árvores históricas.

Outros tantos valores foram avançados pela imprensa, traduzindo a alegada expetativa do Estado para a hasta pública.

Ora, o Instituto da Conversação da Natureza e das Florestas vem agora esclarecer o assunto.

“Face à insistência da comunicação social na divulgação da informação segundo a qual 'o Estado espera arrecadar entre 25 e 35 milhões de euros no leilão de madeira ardida que esta manhã teve lugar', o ICNF – Instituto de m Conservação da Natureza e Florestas volta a esclarecer que esse valor se refere à expectativa do Estado para a totalidade da madeira ardida em Matas Nacionais e Perímetros Florestais geridos pelo ICNF, que será vendida ao longo de sucessivas hastas públicas, cujo processo de marcação está em curso”, explica o ICNF num comunicado enviado às redações.

Tiago Miguel Simões | Notícias ao Minuto | Foto: Stock

PORTUGAL JÁ ARDE | Pirómanos e estúpidos em ação. Já há vítimas mortais


É mais que impressionante a estupidez dos que fazem queimadas que resultam em desastre, registando até vítimas mortais. A penalização destes 'artistas das queimadas' devia ser pesada para que os aventureiros meditassem antes de causar desastres incontroláveis que até já registam mortes. 

Além disso há os fogos postos e declaradamente criminosos, com vista ao lucro, por madeireiros e afins. A esses incendiários, mantê-los entre quatro grades é o que se espera. Sem contemplações.

Já para com os da tara da piromania nada mais recomendável que os tratar, assim como os controlar, restringir-lhes a mobilidade. 

Portugal está farto de incêndios e ainda mais de mortes por via dos incêndios. Tem chovido bastante, não tem feito calor, estamos em fins de Abril e já Portugal arde por incúria e maluqueira. Já portugueses morrem esturricados. Basta. Não queremos mais do mesmo! (PG)

Autoridades devem analisar número elevado de fogos - Liga de Bombeiros

O presidente da Liga Portuguesa de Bombeiros (LPB), Jaime Marta Soares, considera que as autoridades têm de analisar com urgência o número elevado de incêndios que se têm vindo a registar no continente nos últimos dias.

Nos últimos dias têm-se registado um "número elevado" de incêndios, sendo que na quarta-feira um dos fogos, na freguesia de Cerva, concelho de Ribeira de Pena, distrito de Vila Real, envolveu mais de 70 bombeiros e esteve perto de habitações.

Desde o início do ano, foram registados também, segundo dados da Guarda Nacional Republicana (GNR), vários incêndios causados por queimadas, alguns deles com vítimas mortais.

"Estes incêndios têm de ser analisados caso a caso. Não nos podemos esquecer de que só este ano já houve mais de 2.500 ignições. É uma coisa incrível e, por isso, há que refletir, saber o que se passa. Há também a registar um número exagerado de vítimas mortais resultantes de queimadas", disse à agência Lusa o presidente da LPB.

No entender de Jaime Marta Soares, os peritos policiais têm de analisar estes incêndios para alertar as pessoas, para que se consiga criar uma cultura de proteção e defesa.

"Todas as pessoas que têm vindo a morrer nas queimadas são pessoas muito idosas, com mais de 65 anos, que têm mais dificuldades e que têm um grande sentido de responsabilidade, e que talvez não tenham interiorizado ou não lhes tenham feito chegar bem a mensagem que tem a ver com a proteção das casas, sujeitando-se assim a grandes riscos", explicou.

Na origem do elevado número de incêndios dos últimos dias poderá estar também, segundo Marta Soares, a elevada proporção de combustível na floresta e as alterações climáticas.

"Estamos em abril. Tem chovido muito, mas de repente vieram uns dias com temperaturas altas e vento e ontem [quarta-feira] houve de facto muito vento, que é o maior inimigo. As pessoas não fazem bem a análise. Antigamente nas zonas próximas das casas havia cultivos e por isso não havia uma propagação tão rápida como agora", contou.

Jaime Marta Soares disse não ter elementos suficientes para fazer uma melhor avaliação, mas considera que "qualquer coisa de anormal se está a passar".

Contactada pela agência Lusa, uma fonte do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) indicou que na quarta-feira não houve risco elevado de incêndio, mas sim moderado e só nas regiões no norte do continente.

A GNR registou entre janeiro e fevereiro deste ano 72 crimes de incêndio florestal e instaurou, no mesmo período, 83 autos de contraordenação no âmbito do Sistema de Defesa da Floresta Contra Incêndios, devido sobretudo a queimadas ilegais.

Os 72 autos de notícia por incêndio florestal envolveram a detenção de 27 pessoas, em flagrante delito, segundo os dados disponibilizados à Lusa pela GNR.

As 83 contraordenações foram registadas "essencialmente devido à realização de queimadas sem o respetivo licenciamento".

Em 2017, a GNR registou 21.952 ocorrências associadas à problemática dos incêndios florestais, 9.864 crimes, 65 detidos por incêndio florestal, 919 pessoas identificadas e 4.578 contraordenações.

Segundo a GNR, em 2017 arderam mais de 527 mil hectares de mato e floresta, mais 367 mil hectares do que em 2016.

DD (SYSM) // ROC | Lusa

CULTURA | Começa o festival IndieLisboa, com novo retrato do cinema independente


A programação abre e encerra com filmes portugueses. Entre os 245 filmes exibidos, conta com quase 50 obras nacionais

15.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Lisboa - IndieLisboa começa esta quinta-feira, em várias salas da capital portuguesa, com uma programação que abre e encerra com filmes portugueses e conta com quase 50 obras nacionais.

"Abrir o festival com um filme português e fechar com um filme português é obviamente uma declaração de amor ao cinema português e uma chamada de atenção para a necessidade de preservar este ecossistema do cinema português, naquilo que tem de mais autónomo, mais livre, mais independente, como o festival", afirmou um dos diretores do IndieLisboa, Nuno Sena, à agência Lusa.

O festival abre com "A Árvore", ficção de André Gil Mata rodada integralmente na Bósnia-Herzegovina e que também integra a competição nacional, e encerra a 6 de maio com "Raiva", de Sérgio Tréfaut, a partir do romance "Seara de Vento", de Manuel da Fonseca.

Segundo Nuno Sena, o IndieLisboa tenta ser, a cada edição, "um retrato do ano cinematográfico em curso, mostrando produções inéditas em Portugal".

"A nossa responsabilidade em relação ao cinema português é a de ser o primeiro momento de nascimento público destes filmes e tentar projetá-los para o público nacional, mas também para um potencial percurso internacional", sublinhou.

Além de "A árvore", a competição portuguesa de longas-metragens contará com os filmes "Tempo Comum", de Susana Nobre, "Our Madness", de João Viana, "Mariphasa", de Sandro Aguilar e "Bostofrio, où le ciel rejoint la terre", de Paulo Carneiro.

A competição de curtas-metragens contará com 16 filmes, entre os quais "Anjo", que assinala a estreia do ator Miguel Nunes na realização, "Russa", de João Salaviza e Ricardo Alves Jr., "Sleepwalk", de Filipe Melo, "Self destructive boys", de André Santos e Marco Leão, e "Amor, Avenidas Novas", de Duarte Coimbra, já selecionado este ano para Cannes.

Este ano, o IndieLisboa mostrará 245 filmes. A ambição é "tentar fazer uma súmula do que parece mais relevante, mais original, mais inovador", disse Nuno Sena.

Da programação, destaque para as retrospetivas dedicadas à realizadora argentina Lucrecia Martel, que estará em Portugal para apresentar o mais recente filme, "Zama", e ao realizador francês Jacques Rozier, 91 anos, uma das primeiras figuras da 'Nouvelle Vague'.

O IndieLisboa decorrerá no Cinema São Jorge, na Culturgest, na Cinemateca e no Cinema Ideal, mas terá também programação na Biblioteca Palácio Galveias e na Casa Independente.

Lusa | em Expresso

Imagem: A curta-metragem “Anjo” estreia no IndieLisboa. É a primeira realização do ator Miguel Nunes

Portugal | PRECISAMOS DE UMA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA DESPARASITADA


Boa semana é o que vai interessar para os que hoje iniciam as férias. Quem diria. Já agora boa semana para os que tiverem a paciência de estar a ler esta entrada para o Expresso Curto. Miguel Cadete é quem serve a cafeína desde as 9 da manhã e vem numa esotérica pró-números. Credo. Leiam-no a seguir. 

Afinal está tudo muito contente com as palavras usadas por Marcelo e comemorativas do 25 de Abril da meia-idade, 44 anos. Gastos a lixarem o parceiro, a retirarem e a batotarem direitos, liberdades e garantias, adendando suezes deveres e obrigações. Rapinando, falando sobre a dignidade dos dos cargos políticos-institucionais e esborratando a dignidade do povoléu que trabalha e produz para os das sofismas e das ganâncias. Pois.

Também o presidente da AR, Ferro Rodrigues, muito novinho no 25 de Abril de 1974, disse da necessidade de reformar aquela bolorenta, bafiosa e viciosa AR, de reduzir os mamões… Perdão, quero dizer os deputados… E mais isto e aquilo. Porreiro, pá. A maioria dos Zés Pagantes e também Otários, de certeza que estão de acordo. É que talvez essa dita maioria já esteja muito cansada de se sentir a Lili do Cais do Sodré, uma prostituta que não ladra nem morde. Boa. Ferro amigo, a plebe está contigo. Vamos lá a acabar com os mamões, os vigaristas e os grandes aldrabões que vão recebendo por todo o lado sem representarem e defenderem os interesses daqueles que os elegeram. Dizem eles que são nossos representantes… Tretas. Representam quem lhes der mais vantagens e tutu. Pois. E dizem esses, ou desses, alguns lordes, que os ditos merecem respeito pelo cargo que desempenham. Está bem. Pelo natal vão receber uma daquelas caixinhas que dava muitas gargalhadas  e foi moda por cá, na China… Principalmente em países de ditaduras, onde nem apetecia rir. Por cá era o Salazar, pela China era o Mao Tsé Tung, em Espanha era o Franco. Etc. Não riamos, mas a caixa, estúpida, ria que se fartava. E lá a metíamos no bolso (era pequena) para ouvirmos gargalhadas. 

Ora é isso mesmo que os portugueses precisam, rir e meter no bolso (correr com eles) esses tais deputados que estão a mais na AR e são desprovidos da decência e honestidade em defesa dos interesses da democracia saudável e dos portugueses. Cumprido isso, será também assim que Portugal está defendido desse tal populismo. Precisamos de acreditar em gente honesta que nos represente nos mais altos cargos das instituições e não em vigaristas, em corruptos, em ladrões, em aldrabões… Ena, tantos!

Precisamos de uma Assembleia da República desparasitada. Em que não existam lobies para ninguém. Foi eleito, representa quem o elegeu, o povo. 

E que ganham pouco? O quê?! Está bem, depois falamos. Olhem, porque é que não criam um diploma - ou lá o que for - que regule os vossos ordenados por via do valor do salário mínimo nacional, em que deputados e etc., recebem mais 5 ou 6 vezes, ou 7, que o correspondente ao salário mínimo nacional? Sem mais tangas. Pois.

Que há lá deputados honestos, impecáveis, responsáveis no desempenho do cargo, que trazem mais valia à democracia e ao país, pois há, haverá. Que são a maioria. Quer parecer que sim. E em todos os partidos políticos. Sim. Mas também os que não são, pelo visto e sabido, e ainda mais pelo dito. E esses, são esses, é que estragam tudo. Representam o cifrão e não os interesses de Portugal, da democracia e dos portugueses. Aliás, os políticos profissionais criam vícios ao longo dos anos, compadrios, interesses avessos ao coletivo que deviam representar e os elegeu... Não podemos continuar a desconfiar dos políticos e das instituições como acontece. Isto passa a ser uma doença nacional. E quem se lixa é a democracia. São os homens e mulheres de bem que podem e devem desparasitar o que virem acertadamente que deve ser desparasitado. Reduzam e desparasite. Quanto maior a nau, maior é a tormenta.

Adeus. Bom almoço se… almoçarem. Haveria aqui prosa e badana para toda a semana. Fiquem com o Curto, vale sempre a pena quando… Pois. (MM | PG)

44, o número esotérico deste 25 de Abril

Miguel Cadete | Expresso

Marcelo Rebelo de Sousa advertiu os portugueses, durante o dia de ontem, para os perigos do messianismo. 44 anos depois do 25 de Abril de 1974, o Presidente de Portugal avisou que em democracia os espaços vazios são ciosamente ocupados pelos adversários da democracia.

Não se sabe se inspirado pelo caso brasileiro (ou seria mesmo pelo português?), em que o poder político e o poder judicial interferem um no outro, Marcelo lançou alertas sobre o possível surgimento de uma figura de cariz totalitário.

Na senda do descrédito a que a classe política tem sido votada (visível nos números da abstenção), para o que contribuem casos como o das viagens do deputados subsidiadas em dobro, além de outros mais relevantes, o Presidente da República rematou o seu discurso com a frase “não confundimos o prestígio ou a popularidade mais ou menos conjuntural de um ou mais titulares do poder com endeusamento ou vocação salvífica”.

O discurso de Marcelo na Assembleia da República foi escalpelizado por Filipe Santos Costa neste texto. Ângela Silvaleu, como de costume, o que estava nas entrelinhas e escreveu-o aqui: “quem disse que Marcelo não ia falar de conjuntura?”. Mas o que quereria dizer com “44 vezes obrigado aos capitães”?

Na rua, os acontecimentos foram decididamente mais divertidos, até porque para acompanhar a habitual descida da Avenida da Liberdade, a meteorologia brindou os passeantes, liderados pelo chaimite de Salgueiro Maia, com “um dia bonito”. As críticas ao Governo estiveram lá, mas foram fofinhas. Nem o PCP nem o BE nem os artistas e agentes da cultura exigiram cabeças. Vítor Matos fez o relato, a par e passo, aqui.

A estrela da companhia foi outra. Yanis Varoufakis, ex-ministro das Finanças de Tsipras, desfilou, deixou-se fotografar e deu entrevistas. Com Benoît Hamon, o candidato do PS à presidência de França, constituiu-se como convidado especial. As entrevistas estão no “Público” e no “DN” mas foi Rosa Pedroso Lima quem lhe tirou o retrato.

Já o primeiro-ministro disse que não percebeu o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa mas abriu as portas de São Bento ao povo. António Costa ofereceu música, na voz de Aldina Duarte, que homenageou José Afonso. “É difícil interpretar discursos modernos” disse quando lhe pediram para comentar as palavras de Marcelo, tal como reporta Luísa Meireles.

Já Mariana Lima Cunha e Filipe Santos Costa passaram a pente fino os discursos de todos os partidos na cerimónia oficial que decorreu no Parlamento. Cerimónia a que faltaram 20 deputados do PSD. Mais acima, na inauguração do “novo” jardim do Campo Grande, que agora tomou o nome de Mário Soares, o PR acompanhado do PM e do Presidente da Câmara lembrou que “sem memória é tentador esquecer a liberdade”.

OUTRAS NOTÍCIAS

Nobel da Literatura em risco. Anunciou ontem a Academia Sueca, após um escândalo que mete fugas de informação e abusos sexuais e que fez sair cinco membros, que poderá não atribuir este ano o prémio Nobel da Literatura.

WhatsApp aumenta idade mínima para 16 anos. A aplicação usada em telemóveis vai exigir que os seus utilizadores tenham pelo menos 16 anos e não 13, como sucede agora. A WhatsApp, que pertence ao Facebook, terá uma nova versão em maio, nas vésperas da entrada em vigor da nova legislação europeia para controlo da privacidade de dados pessoais. Como irá a essa nova versão controlar a idade dos utilizadores é que ainda não se sabe.

Facebook apresenta resultados record em tempos de escândalo. A rede social bateu as expectativas quanto à faturação do primeiro trimestre, ao crescer 49% face ao mesmo período do ano passado. Os lucros subiram 63%, para cinco mil milhões de dólares. Os analistas acreditam que o caso Cambridge Analytica só venha a afetar os resultados do próximo trimestre.

Macron andou aos abraços com Trump. Mas isso foi terça-feira. Ontem, o Presidente da França atacou Donald Trump, crucificando o “nacionalismo extremo” e o protecionismo, além de ter defendido os acordos sobre o clima e a ordem económica internacional. “Podemos escolher o isolacionismo. Mas fechar a porta ao mundo não vai deter a evolução do mundo”, disse Emmanuel Macron. O Presidente francês conseguiu agradar a democratas e republicanas. Ainda ontem, os comentadores discutiam igualmente a mensagem implícita no chapéu branco utilizado por Melania Trump no segundo dia da visita oficial de Macron aos Estados Unidos da América..

O Real Madrid está praticamente na final da Liga dos Campeões ao vencer em Munique o Bayern por 2 – 1. Cristiano Ronaldo não marcou, o que sucede pela primeira vez esta temporada num jogo da competição. Quem marcou, e por duas vezes, na outra meia final foi Salah, o menino bonito do Liverpool que abriu o marcador na estrondosa vitória da sua equipa frente à Roma. Com esses dois golos, Mohamed Salah tornou-se o melhor marcador em todos os torneios desta temporada (se contarmos apenas os jogadores das cinco ligas principais) ultrapassando, precisamente, Cristiano Ronaldo. É fácil encontrar no Google quem já o considere o melhor jogador da atualidade.

O inventor que matou uma jornalista no seu submarino foi condenado a prisão perpétua. Peter Masden tinha fantasias sexuais violentas e um tribunal dinamarquês aplicou-lhe, o que é raro, a sua mais pesada sentença. Kim Wall era uma conceituada jornalista sueca. O seu corpo apareceu, desmembrado, no mar.

Cristina Cifuentes demitiu-se. A Presidente da região autónoma de Madrid foi obrigada a demitir-se depois do sistema de videovigilância de a ter apanhado a roubar produtos de cosmética num supermercado. Cifuentes também foi acusada de obtenção fraudulenta de um mestrado. Aos 54 anos, a representante do PP disse que toda a sua vida “foi posta em causa”.

Jiadista portuguesa detida no Curdistão. Uma mulher portuguesa, há tempo indentificada pelo SIS, foi presa pelas forças armadas curdas quando tentava fugir dos combates, num campo de refugiados entre a Turquia e o Iraque. As autoridades portuguesas adiantaram que há mais de 20 mulheres e crianças portuguesas em territórios do autoproclamado Estado Islâmico.

Começa hoje, no canal de televisão da National Geographic, a nova temporada da série Genius, desta feita dedicada a Pablo Picasso. E o primeiro de dez episódios é duplo. A anterior havia sido sobre a vida de Einstein. António Banderasdesempenha o papel principal. Veja aqui o trailer.

FRASES

“Mário Centeno traiu o eleitorado que votou nele”. Yanis Varoufakis, ex-ministro das Finanças da Grécia, ao jornal “i”

“Macron está convencido de que é o único astro luminoso no céu”. Benoît Hamon, ex-candidato a Presidente de França pelo PS, ao “Diário de Notícias”

“O BPI é um banco de direito português”. Pablo Forero, Presidente executivo do BPI, ao “Jornal de Negócios”

O QUE ANDO A VER E A LER

Abriu, ontem, a exposição de António Vasconcelos Lapa,“Viagem ao Barroco”, no Jardim Botânico da Ajuda”, inaugurado em 1768 - faz agora 250 anos - por D. José. As peças do ceramista português, dispostas nos jardins em torno da fonte ornada de golfinhos, dragões, patos, leões e serpente que carregam escamas são quase tão reptilianas quanto estes animais em mármore.

Em cores vivas, Vasconcelos Lapa produziu também bicharada: há caracóis que trepam pela escadaria mas também peças cheias de volúpia, cheias de curvas e contracurvas ou arestas bicudas inspiradas certamente no barroco mais tortuoso, a que não faltam doirados e pretos. Mostra-se o que está por debaixo.

Mas é nas Figuras de Convite, à moda do desenho de azulejo português do século XVIII, que criou para o espaço próximo da fonte que entram em cenas vários triângulos amorosos – duas mulheres e um homem – que são capazes de tornar mais explícita a tragédia.

Obrigatório presenciar, até 25 de agosto, mas com cuidado porque a cerâmica é frágil e tudo se pode partir num instante.

No domingo passam cem anos desde que morreu Santa Rita Pintor. O artista plástico mais famoso do primeiro movimento modernista português – que acompanhou Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro e Almada Negreiros na revista “Orpheu” – tem passado despercebido até porque se diz que a sua obra não existe. Já no leito da morte, Santa Rita terá pedido a um dos irmãos que queimasse todos os seus quadros.

Não é essa, porém, a conclusão de João MacDonald, jornalista que publicará ainda este ano uma biografia do pintor. Afinal sobram mais de 50 obras do artista: desenhos do tempo em que frequentava as Belas Artes de Lisboa mas também quadros a óleo produzidos em Paris e outros ainda não conhecidos, faturados numa vida que até agora se considerava quase impossível biografar.

As primeiras luzes sobre o que ainda não sabemos dessa vida e da obra de Santa Rita Pintor avistam-se já este sábado, na Revista do Expresso, num artigo em que se apresentam os obstáculos e as vantagens de uma investigação destas nos tempos que correm. A 3 e 4 de maio, no Auditório Lagoa Henriques da Faculdade de Belas Artes de Lisboa, estudiosos e familiares dedicados ao assunto prestam a devida homenagem à enigmática figura. Estará também patente uma exposição bibliográfica com material inédito oriundo de espólios privados.

Uma terceira e última recomendação: “Na Prática a Teoria É Outra” é um calhamaço com quase 900 páginas onde se encontram compilados os escritos de Victor Cunha Regoproduzidos entre 1957 e 1999.

É um prazer reler os textos de um dos mais equilibrados e clarividentes comentadores da política portuguesa e internacional. Só dei com ele desde que escrevia na última página do “Diário de Notícias”, num texto sobre a canção de beneficência “We Are The World”, onde, com jeito, antevia a especulação em torno da pedofilia de Michael Jackson. Hoje, é um prazer redescobrir esses textos da coluna “Os Dias de Amanhã” e todos os outros que nunca li, nesta magnífica edição da Dom Quixote preparada por Vasco Rosa e André Cunha Rego. Nessa coisa da análise política, fazer apostas é para quem ousa. Mas mais difícil é acertar. Aqui vê-se que Cunha Rego acertava.

EPMacau já recebeu pedido de esclarecimento do Governo português | 25 de Abril em Macau


A Escola Portuguesa de Macau recebeu uma carta do Ministério da Educação de Portugal sobre as queixas para dois episódios de violência. O presidente da EPM confirmou a recepção do documento ao HM

A Escola Portuguesa de Macau (EPM) já recebeu a carta do Ministério da Educação de Portugal a pedir esclarecimentos sobre dois episódios de violência que ocorreram no estabelecimento. Ao HM, o presidente da EPM, Manuel Machado, confirmou a recepção da carta, mas não quis adiantar informações sobre os casos em questão.

No entanto, o HM sabe que o assunto da carta são as duas queixas apresentadas à Inspecção Geral de Educação e Ciência. Em causa estão dois casos de violência, o primeiro caso que ocorreu em finais de 2016, quando um docente promoveu agressões entre alunos. O segundo episódio ocorreu a 14 de Março deste ano, quando houve uma troca de agressões entre dois estudantes de 15 e 13 anos e que terminou com um aluno internado, na sequência de lesões na cabeça.

“Posso confirmar que houve do Ministério da Educação um pedido de esclarecimento sobre a questão. Mas neste momento, sobre este assunto, prefiro não adiantar mais desenvolvimentos. Poderei fazê-lo mais à frente”, disse Manuel Machado.

Segundo o HM conseguiu apurar, a correspondência recebida pela Escola Portuguesa de Macau terá saído de Lisboa há cerca de duas semanas e enquadra-se nos trâmites processuais da análise de queixas sobre episódios de violência.

Também ao HM, a Inspecção Geral de Educação e Ciência já tinha confirmado que as queixas em questão estavam a ser analisadas. Porém, este é o primeira contacto entre as duas partes, no âmbito da análise aos dois casos.

25 de Abril na EPM

Também ontem, a Escola Portuguesa de Macau celebrou o 25 de Abril, uma vez que o estabelecimento de ensino se encontra hoje encerrado, por ser feriado nacional em Portugal. No âmbito das celebrações da revolução de 1974, que abriu o caminho para a implementação de um sistema democrático, houve um encontro entre os alunos e João Soares, deputado português e filho do ex-presidente de Portugal Mário Soares, e com o Coronel Manuel Geraldes, um dos intervenientes na Revolução dos Cravos.

“Celebrámos hoje [ontem] o 25 de Abril com a presença do Dr. João Soares, que está cá em Macau, e do Coronel Manuel Geraldes. Houve uma reunião com os alunos da Escola sobre a temática do 25 de Abril, em que eles falaram da sua experiência. Um como militar interveniente na revolução e outro, como um estudante, na altura, da oposição e da situação política antes do 25 de Abril”, contou Manuel Machado.

Além do encontro, estão em exposição na escola trabalhos elaborados pelos alunos sobre a revolução dos cravos.

João Santos Filipe | Hoje Macau

UE pede a Macau reforço de protecção dos direitos humanos


A União Europeia (UE) assinalou que Macau continua a respeitar o princípio “Um País, Dois Sistemas”, o que é benéfico para toda a comunidade internacional, mas pediu à região o reforço das medidas de protecção dos direitos humanos.

O relatório anual do Parlamento e do Conselho Europeu sobre Macau, divulgado na terça-feira, apontou que “em 2017, o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ continuou a ser aplicado, o que beneficia Macau, a China e toda comunidade internacional”. Contudo, a UE pediu a Macau o reforço de medidas de protecção de direitos humanos, nomeadamente em relação à discriminação sexual e de género, ao tráfico humano, à liberdade de imprensa e ao direito de manifestação e associativismo. “Continua a existir preocupações sobre a discriminação com base na orientação sexual e identidade de género. Essas preocupações são particularmente agudizadas no emprego, educação e saúde”, referiu o relatório.

A UE enalteceu os esforços do Governo de Macau no combate ao tráfico de seres humanos, mas apontou que “a aplicação da lei precisa de ser mais rigorosa”, indicou o documento, que faz um balanço de 2017. “O número de processos e condenações por tráfico continua baixo, apesar de um grande número de reclamações”, esclareceu a UE, anunciando estar disposta a estreitar a cooperação e o intercâmbio com Macau, no combate a “este desafio global”.

Em relação à comunicação social, a UE saudou a permanência da diversificação e da variedade de opiniões sem restrição, advertindo que “parece haver um certo grau de auto-censura, particularmente nos media de língua chinesa”. “Ao longo de 2017, mais de uma dúzia de activistas pró-democracia e vários jornalistas foram impedidos de entrar em Macau. Vários políticos e legisladores de Hong Kong foram informados pelos serviços de imigração que representavam uma ameaça à segurança interna e à estabilidade de Macau”, reportaram o Parlamento e o Conselho Europeu.

No relatório anual, a UE aconselhou Macau a implementar medidas sobre a “liberdade de associação e a negociação colectiva, tal como consagrado nas convenções da Organização Internacional do Trabalho”. “Os funcionários são livres de participar em actividades sindicais, mas não estão protegidos de retaliações se o fizerem”, indicou o documento dos 28.

Em relação às relações bilaterais económicas entre a UE e Macau, o documento apontou que o comércio bilateral de mercadorias aumentou 8%, para 744 milhões de euros, em 2017, em relação ao ano anterior. As exportações da UE para Macau atingiram 626 milhões de euros, um aumento de 4% em relação a 2016. “A UE foi a segunda maior fonte de importações de Macau, depois da China continental, contribuindo com 25% do total das importações de Macau”, declararam as autoridades europeias. Agência Lusa

Governo expressa “resoluta oposição” ao relatório da União Europeia

O Governo reagiu ontem em comunicado ao relatório anual da União Europeia referente ao ano passado, dizendo que o mesmo tece “levianamente comentários irresponsáveis sobre Macau, cujos assuntos concernem à política interna da China”, expressando assim a sua “resoluta oposição”. “A estabilidade política, o desenvolvimento económico, a harmonia social e a garantia dos direitos da população de Macau de acordo com a lei, ultrapassam quaisquer condições alguma vez registadas na história de Macau”, continua o Executivo, acrescentando que “esta é uma realidade à vista de todos”. 

No mesmo comunicado, o Governo assegura que foi “concretizado com sucesso o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’, ‘Macau governada pelas suas gentes’ e ‘alto grau de autonomia’” e que o sistema da RAEM funciona tendo por base a Constituição e a Lei Básica.

Ponto Final (Macau)

Timor-Leste/Eleições | Tensões não passam de linguagem e situação está calma – PR


Díli, 26 abr (Lusa) - A situação em Timor-Leste continua calma apesar de alguma tensão na campanha, que se tem limitado apenas a alguma "linguagem ofensiva" sem incidentes graves, disse hoje o Presidente timorense, Francisco Guterres Lu-Olo.

"A tensão existe realmente, mas apenas em termos de linguagem. De linguagem ofensiva. Mas até aqui não se verificou nenhum incidente", disse, no Palácio da Presidência, em Díli.

"Estou a acompanhar essa situação com toda a calma e claro que no fim de tudo isso, naturalmente, o resultado sairá e a partir daí o Presidente terá a primeira palavra", considerou.

Lu-Olo fez uma curta declaração aos jornalistas, depois de um encontro de cerca de 70 minutos com os três bispos timorenses, em que se analisou a situação atual, a meio da campanha para as eleições legislativas de 12 de maio.

"O povo está a acompanhar a campanha, que está a correr bem, sem violência, com apenas pequenos incidentes. O que significa que o povo está tranquilo, apesar de algumas provocações. A situação é calma, o que é muito positivo", disse.

Lu-Olo reiterou os seus apelos para que os partidos aproveitem a campanha para dar a conhecer o seu programa aos eleitores.

Oito partidos e coligações participam no ato eleitoral de 12 de maio que terá o maior número de eleitores de sempre, cerca de 787 mil.

Timor-Leste sobe no índice de liberdade de imprensa

Díli, 26 abr (Lusa) - Timor-Leste subiu três pontos no índice de liberdade de imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), sendo o país do Sudeste Asiático mais bem colocado, quase 30 lugares à frente do seguinte, a vizinha Indonésia.

No relatório de 2017, a organização não-governamental (ONG) destacou que nenhum jornalistas foi detido em Timor-Leste desde a restauração da independência, apesar de se referir a várias formas de pressão que continuam a ser exercidas sobre os jornalistas.

Estas pressões, "usadas para impedir os jornalistas de trabalhar livremente", incluem ações legais intimidatórias, violência policial e críticas de órgãos de comunicação social por funcionários do Governo ou deputados".

A RSF considerou a criação de um conselho de imprensa "um passo na direção certa, apesar das reservas expressadas pelos 'media' sobre a forma como os seus membros foram escolhidos".

Para a ONG mereceu nota negativa a lei de imprensa que "constitui uma ameaça permanente aos jornalistas e encoraja a autocensura".

A RSF afirmou esperar que, depois das eleições de 12 de maio, "o novo Governo continue a dar provas concretas da intenção de elevar Timor-Leste no índice da liberdade de imprensa mundial".

Apesar de subir três lugares, para 95.º, Timor-Leste perdeu dois pontos no 'valor' do índice, que passou de 32.82 para 30.81.

Na Ásia, a classificação destacou a subida de 20 lugares da Coreia do Sul, que passou para 43.º, um lugar abaixo de Taiwan e 15 à frente do Japão. Hong Kong surge em 70.º lugar.

Na região do Sudeste Asiático e do Pacífico, destaque para o 53.º posto da Papua Nova Guiné e o 57.º das ilhas Fiji. Depois de Timor-Leste, surgem a Indonésia (124.º), as Filipinas (133.º) Myanmar (137.º), Tailândia (140.º), Camboja (142.º), Malásia (145.º), Singapura (151.º), Brunei (153.º), Laos (170.º) e Vietname (175.º).

ASP // EJ

TEATROCRACIA: uma abordagem analítica-empírica das crenças políticas e democráticas em Timor-Leste


Afmend Sarmento* | opinião

Começo a indagar os labirintos das crenças políticas e democráticas neste soberano país de Lafaek, olhando retrospectivamente com esta inquietação de pensamento: será que o panorama atual da situação socio-política em Timor-Leste já respondeu aos sonhos dos founding fathers em criar condições necessárias para o summum bonum e bonum commune? Para o filósofo italiano, Norberto Bobbio, o que condicionou tais contradições foi o que chamou de obstáculos à democracia, sob a rótula de “promessas não cumpridas”.

O ponto de partida parte da análise racional sobre o desenvolvimento do país, e esta deriva da contemplação do modus vivendi dos timorenses, as tendências principais e os desafios enfrentados pelo povo na era de Ukun Rasik-an. Trata-se de um olhar sobre a realidade política mas, também desbruçar-se sobre a imagem da própria prática democrática numa abordagem empírica-analítica aos valores, as aspirações e os ideiais conflitantes dos homo politicus, que fazem parte deste universo timorense. Quando a política não é capaz de ter o peso na nossa vida quotidiana, quando não responde às nossas preocupações sobre o futuro dos nossos filhos, para que precisamos dela, qual o seu valor de uso? (Bauman, 2016, 16). A partir desta questão, iniciarmos expressivamente com o epígrafe do escritor português, José Saramago: “Há um mal económico, que é a errada distribuição da riqueza. Há um mal político, que é o fato de a política não estar a serviço dos pobres” (citado em Treck, 2013, 14). Ora, actualmente em Timor-Leste verifica-se um duplo fenómeno: (1) uma desigualdade ao nível económico: há ricos e pobres. A gravidade de tal situação está no facto de os ricos se tornarem cada vez mais ricos à custa dos pobres; (2) uma desigualdade ao nível social, isto é, a má distribuição da riqueza e dos bens da nação. Nesta perspectiva, escreveu de forma excelente por Bobbio, “entre todas as desigualdades humanas, nenhuma precisa ser mais justificada do que a desigualdade estabelecida pelo poder” (Bobbio, 2000, 234). Resumindo perspicazmente na famosa definição de Peter Drucker, “a política (sociedade) não oferece mais salvação” (citado em Bauman, 2000, 62). Estes fenómenos já se constituem como um "cancro" que é difícil de curar, por gastar muitos milhões para nada, enquanto o povo continua a viver na miséria e pobreza, simultaneamente, o povo continua a orar sem cessar “...neste vale de lágrimas!”. Perde-se, assim, o eixo fundamental do que deve ser o fim teleológico da política. Poderemos perguntar, então, qual é o fim da acção política? Bobbio respondeu concisamente que o fim último da política é para alcançar o summum bonum e bonum commune, retomando a filosofia política clássica de Aristóteles, afirmando que o fim da política não é o viver, mas o viver bem: “o fim da comunidade política, a koinonía politiké, a societas civilis na predominante tradução latina, não é apenas o viver ou sobreviver, mas o bonum vivere, o viver bem” (Bobbio, 2000, 120). Intrinsecamente, é uma busca constante do bem comum de uma sociedade, como bem observa o Papa Francisco “a política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum” (Evangelii Gaudium, 205).  E, recentemente o teológo Eddy Kristiyanto não hesitou de intitular aquele célebre livro: Sakramen Politik, para dizer francamente que o fim da política é uma busca contínua de consensos alargados, sobre as principais questões políticas e programáticas do desenvolvimento do país para alcançar o Bem Comum. Este teve a ousadia de fazer uma analogia de que o Sacramento é the visible sign of the invisible grace, assim também, politik adalah tanda dan sarana penyelamatan! (Eddy Kristiyanto, 2008, 3) – política é o sinal e meio de salvação ao povo que vive no limiar da pobreza e no meio de tantas injustiças sociais.

Esta abordagem trata-se de uma reflexão que visa diretamente a questionar modos tradicionais de pensar a política, neste sentido, “as perguntas do nosso povo, as suas angústias, batalhas, sonhos e preocupações possuem um valor hermenêutico que não podemos ignorar, se quisermos levar a sério o princípio da democracia” (Papa Francisco) e acrescentamos ainda os valores fundamentais da política. Talvez, este é o nosso Zeitgeist (“espírito da época”), estamos num período de interegnum, no qual este espírito de solidariedade afundou-se no mar e “rasgando o delicado tecido da solidariedade humana” (Bauman, 2000, 51) pelos caprichos de poder e a política torna-se o “pomo da discórdia” entre os timorenses, pois, os partidos políticos optam pela política clássica de “devide et impera”, principalmente, separam as três frentes da luta, visam a ganhar mais novos aderentes aos seus partidos. E, o povo fica alienado com as propagandas políticas, facilmente, caem na hipótese hobbesiana do “homo homini lupus” e “ bellum omnium contra omnes”, quebrará o espírito fraterna e solidária da resistência e o vínculo inquebrantável que então estabeleceram entre os timorenses na época da ocupação Indonésia.

Vivemos numa situação muito peculiar de nossa história, por isso, urge-nos a “mostrar maturidade política para elevar o valor da democracia que está no coração de Timor” (Dom Virgílio do Carmo).  Trata-se de um ato de propaganda eleitoral, a estratégia utilizada mascaradamente pelos políticos pertencem não apenas o não-dizer, mas também o dizer em falso: além do silêncio, a mentira. (....) que o fosse lícita a “mentira útil” não apenas foi dito pelo “diabólico Maquiável” (Bobbio, 2000, 389), mas também a "nobre mentira" de Platão, significa, que deve ser colocado no centro: o interesse do Estado de Timor-Leste, porém, este termo constitui como uma máscara por detrás das quais se esconde a cobiça de poder e de riqueza. Para expressar com mais eficiente a definição de Max Weber, não vivem apenas para a política mas vivem da política” (Max Weber, 2011, 64). Ressalta-se, porém, que a política desenrola-se entorno da noção do poder como princípio e fim da atividade política. Não é sem surpresa que Bobbio fundamenta com veracidade que “o alfa e ómega da política é a questão do poder: como conquistá-lo, como conservá-lo e perdê-lo, como exercê-lo, como defendê-lo ou como dele se defender” (Bobbio, 2000, 252), ou com a expressão análoga, Max Weber frisou que “todo o homem, que se entrega a política, aspira ao poder – seja o considere como  instrumento ao serviço de concecução de outros fins, ideais ou egiostas, seja porque deseje o poder ‘pelo poder’, para gozar do sentimento de prestígio que ele confere” (Max Weber, 2011, 57). Essas premissas servem para situar o nosso discurso. Diante desse cenário, Timor-Leste demonstra a sua democracia, como um teatrocracia, isto é, “a transformação da vida política num espetáculo em que o grande político se exibe, tem necessidade de se exibir, como um ator” (Bobbio, 1986, 94). No palco das campanhas eleitorais, antagônicamente, agitam o povo com as histórias dos Fundadores da Nação e o Comando da Luta, assim, a vida da nação de Timor Lorosa’e torna-se um "estado que se transforma em companhia teatral, em produtor de espetáculo" (Bobbio, 1986, 94). No palco desta teatrocracia, observa-se uma disputa eleitoral muito intensa entre as duas forças políticas, a AMP e a FRETILIN, com apresentação do prestígio de personalidades políticas e figuras históricas para “convencer” os eleitores, nomeadamente,  Xanana Gusmão e Taur Matan Ruak versus Marí Alkatiri e José Ramos Horta, que vão “vender” as suas promessas políticas e os seus progamas eleitorais ao povo.

Esta euforia da festa democracia nos faz imediatamente vir à mente a imagem, a nós transmitida pelos escritores políticos de todos os tempos que se inspiraram no grande exemplo da Atenas de Péricles, da "ágora" ou da "ecclesia", que é a palavra grega para praça de decisões (Ribeiro, 2013, 10), isto é, a reunião de todos os cidadãos num lugar público com o objetivo de apresentar e ouvir propostas de uma mudança. Metaforicamente, a campanha eleitoral é o tempo previlegiado para divulgar os programas eleitorais, as promessas políticas, com intuito de mobilizar e conquistar o eleitorado para eleger os partidos politicos. Porém, nos comicíos políticos observam-se claramente o termo recém-cunhado de "teatrocracia", isto é, o poder de fazer espetáculos, do poder de transformar o real no imaginário, de procurar adesão pela magia do espetáculo, como "democracia em assunto de música" - interpretando-a como o efeito da pretensão do vulgo de poder falar sobre tudo e de não reconhecer mais nenhuma lei (Bobbio, futuro da democracia, 84). Em suma, a Eleição Antecipada é arquitetada como um palco para encher com “os dramas cínicos” da política, em busca insaciável do poder, aonde toda a população timorense adere a qualquer partido político para fazer a sua “música” de afiliação. Na verdade, muitos fiéis militantes sofrem a doença “psico-patologia” significa, em grego, sofrimento da alma (Bauman, 2000, 40), gerada pela idolatria ao poder e radicalismo exagerado aos partidos políticos.

A Constituição da RDTL garante que “o exercício do direito de sufrágio é pessoal e constitui um dever cívico” (Art. 47.2). Mais uma vez, o Presidente da República convidou o povo a voltar às urnas para exercer o seu direito de voto, ou seja, gastamos mais na urna alguns minutos para o “dever cívico”, a eleger os políticos, que concorerrão para alcançar aquele “vulto demoniáco do poder” (Bobbio, 2000, 218). Assim, ao abrigo do Decreto do Presidente da República n.º 7/2018 de 7 de fevereiro, decreta para o dia 12 de maio de 2018 a eleição dos Deputados ao Parlamento Nacional. De facto, se examinarmos com rigor os termos expressos na Constituição, a Eleição Antecipada é inexistente nesta Magna Charta, ou seja, na terminologia jurídica-constitucional chamada a “subsequente eleição” (cf. CRDTL art. 100º).

O ponto fundamental é que o povo escolha os Deputados ao Parlamento Nacional. Este exercício é realizado pelo sufrágio direto e universal, com intuito de contribuir, portanto, para a formação de uma maioria parlamentar saída das urnas, onde as deliberações serão tomadas pela maior et sanior pars, isto é, pela parte maior e mais sã, como exercício de amadurecimento da democracia. Assim, Timor-Leste marcará uma nova história com a “subsequente eleição”, no dia 12 de maio de 2018, que poderia definir o nosso Estado como uma "democracia posta à prova" (Bobbio, 1999, 12). O sistema político timorense foi, desde o início, concebido como um regime democrático, por isso, no seu estrito sentido, "a democracia é um sistema político que pressupõe o dissenso. Ela requer o consenso apenas sobre um único ponto: sobre as regras da competição" (Bobbio, 1986, 60), pois, neste jogo democrático "não existe consenso mas dissenso, competição e concorrência" (Bobbio, 1999, 46). Nesta concorrência ao Parlamento Nacional, torna-se presente a máxima do jurista alemão Carl Schmitt ao afirmar que na política encontra-se o conflito entre amigos e inimigos (citado em Gianotti, 2014, 5). De forma pari passu, observa-se que na política existe uma "relação como inimigo-irmão”, conforme bem disse Bobbio, “umas vezes mais irmãos, outras mais inimigos, de acordo com as circunstâncias” (Bobbio, 1999, 11), este modo de relacionamento “inimigo-irmão” repara-se na convivência política das personalidades e figuras históricas desta nobre nação.  Para alargar a nossa perspectiva e reavivar a nossa consciência sobre a importância da democracia, parafraseando Bobbio, a democracia timorense pode ser designada de frágil, mas, apesar de tudo, é também viva, segundo os costumes e ritmos dos detentores do poder político.  Em suma, corre nas veias do sangue a velha máxima romana: quod principi placuit habet vigorem legis - aquilo que agrada ao príncipe tem força de lei - esta máxima torna-se o núcleo principal da forma mentis deste animal politicus, isto é, aquilo que agrada aos políticos tem a força da lei, de modo per fas et nefas, ou seja, de todos os meios possíveis, seja ele lícito ou ilícito, de outro modo, no método maquiavélico de “os fins justificam os meios”. No seu stricto sensu como costumavam dizer os monarcas europeias: L’État c’est moi – o estado sou eu!

Num Estado de direito democrático, os partidos políticos servem como locus privilegiado para a construção do país, sustentando pelo Bobbio, que “as forças políticas são os partidos” (Bobbio, 1986, 134) e o Estado de Timor-Leste adoptou o sistema de multipartidarismo como  conditio sine qua non da democracia, cuja a “força de um partido é medida pelo número de votos” (Bobbio, 1986, 139) dos eleitores nas eleições cíclicas estipuladas dentro da lei.  E, nesta batalha eleitoral, “o voto é uma mercadoria que se cede ao melhor ofertante” (Bobbio, 1986, 11), isto é, aos partidos políticos. Por isso, o voto é uma forma de promover o amadurecimento político do povo em escolher os melhores para governar o país.

O papel primordial do Estado deve assegurar que todos os eleitores possam exercer o seu direito de voto. A participação eleitoral efetiva é a forma de exercício da prática democrática, é um dos aparatos dos quais por sua vez extrai, através das eleições, a própria legitimação para governar. O "regime democrático" é o regime no qual o poder supremo é exercido em nome e por conta do povo através do procedimento das eleições por sufrágio universal repetidas a prazo fixo” (Bobbio, 1986, 101), exatamente,  se não tomarem elas as decisões que lhes dizem respeito, ao menos de exercerem os seus direitos de escolherem os indivíduos que periodicamente considerem os mais aptos para cuidar de seus próprios interesses (Bobbio, 1986, 121). De sui generis expressou nítidamente pelo Jesuita Frans Magnis-Suseno: “pemilu bukan untuk memilih yang terbaik tetapi mencegah untuk yang terburuk berkuasa”. Nesta perspectiva, há uma espécie de Círculos Viciosos: “não se pode conseguir mais participação democrática sem haver uma prévia mudança da desigualdade social e sua consciência, mas também não se consegue mudar ambas as condições sem um aumento da participação democrática” (Treck, 2013, 86), isto é, orientada para os output do sistema (para os benefícios que o eleitor espera extrair do sistema político), e cultura participante, isto é, orientada para os input, própria dos eleitores que se consideram potencialmente empenhados na articulação das demandas e na formação das decisões (Bobbio, 1986, 31) políticas para a transformação da polis.

Merece ainda ser enfatizada a ênfase que nesta disputa democrática tem como “a regra fundamental da democracia é a regra da maioria, ou seja, a regra à base da qual são consideradas decisões coletivas” (Bobbio, 1986, 18), por conseguinte, reconhecemos o facto de que na “arena política existam os vencedores e os perdedores” (Bobbio, 1986, 122), como consequência prática do jogo democrático. Este antagonismo entre o vencer e o perder dá-se, no facto, de que nas eleições anteriores entre o eleitor e o eleito não estabelecem uma perfeita relação de do ut des: um através do consenso confere poder, o outro através do poder recebido distribui vantagens ou elimina desvantagens (Bobbio, 1986, 122). Porém, o panorama atual de Timor-Leste mostra que o interesse dos eleitores, muitas das vezes, não é acumulado na tomada de decisões políticas, por fim, gera o “conflito entre aquilo que foi prometido” pelas correntes do pensamento político e “aquilo que não foi realizado”, – para tal, Bobbio afirma que “não se pode falar propriamente de ‘degeneração’ da democracia mas se deve falar contudo, antes, da natural adaptação dos princípios abstratos à realidade, ou da inevitável contaminação da teoria quando é obrigada a submeter-se às exigências da prática” (Bobbio, 2000, 49-50). Esta irrealizável “promessas não cumpridas” gera as frustrações sociais e desgastes para o próprio modelo seguido pelo povo, por isso, Bobbio constata que na democracia real existe uma apatia política, um verdadeiro desinteresse sobre a vida política. Assim, nasceu e cresceu uma certa desconfiança em relação à «classe política», a crescente consciência dos custos da apatia política. Todos nós esperamos que os perdedores da EA saibam reconhecer a sua derrota e os vencedores sejam capazes de implementar aquilo que foi prometido ao povo nas campanhas, para o desenvolvimento de Timor Lorosa’e ida buras liu, em uníssono, hamutuk hametin nasaun!

Como ouvimos, muitas vezes, nos discursos políticos que o poder soberano está no povo. Este poder será exercido pelo povo de forma a “premiar” ou “punir”, conforme bem argumentado por Bobbio, “ter poder significa, em poucas palavras, ter a capacidade de premiar ou punir”, isto é, estar em condições de dar recompensas ou estar em condições de infligir, punições” (Bobbio, 1986, 140) dos partidos politicos que não representam o interesse dos eleitores na roda de governação. Entretanto, observa-se que neste mercado político “é feito de tantos acordos, ou seja, a prestação da parte dos eleitores é o voto, a contraprestação da parte do eleito é uma vantagem (sob a forma de um bem ou de um serviço) ou a isenção de uma desvantagem” (Bobbio, 1986, 140), para satisfazer os anseios dos eleitores, pelo contrário, a não realização das “promessas eleitorais” contribui para um crescente número maior de abstenção e não participação na Eleição, à medida em que os eleitores tornam-se mais maliciosos e os partidos ficam mais débeis. Por isso, exige a “capacidade dos partidos de controlar os seus deputados e de deles obter o cumprimento das promessas feitas aos eleitores” (Bobbio, 1986, 138), com intuito de mobilizar os eleitores para aderirem ao partido,  pois, “a habilidade do político consiste, exatamente como no mercado, em compreender os gostos do público e talvez orientá-los” (Bobbio, 1986, 122), com respeito à marcha triunfal rumo à conquista do eleitorado. Em sentido análogo, enfatiza por Max Weber — posteriormente, retomada, desenvolvida e divulgada por Schumpeter — de que o líder político pode ser comparado a um empresário cujo rendimento é o poder, cujo poder se mede por votos, cujos votos dependem da sua capacidade de satisfazer os interesses de eleitores (Bobbio, 1986, 122), caso não o seja, esta situação vai gerar “o ponto de ruptura com o alargamento do fosso entre eleitores e eleitos – isto é, com a crise evidente de representação” (Bauman, 2016, 11), porque os eleitos não tem o sentimento do povo/eleitor.

Todos nós esperamos, que a subsequente eleição ou Eleição Antecipada possa acontecer num ambiente mais democrático e, que os políticos não podem fazer o monopólio da política: por um lado, pelo uso da força, onde “as pessoas são obrigadas a fazer algo de que prefeririam abster-se”. E, por outro lado,  pelo uso do dinheiro (money politics), pelo que “as pessoas podem ser induzidas a fazer o que não fariam por iniciativa própria”. Porém, que se privilegiam pelo uso da sedução, isto é, “as pessoas podem ser tentadas a fazer coisas pela pura felicidade de fazê-lo” (Bauman, 2016, 49), sem nenhuma intervenção política.

Tendo em conta que a Campanha Eleitoral é realizada num ambiente muito intenso, uma disputa encarniçadamente entre as personalidades e figuras históricas, é preciso salientar que devemos valorizar a nossa democracia.  Para tal efeito, “onde não há eleições livres não há democracia” (Bobbio, 1999, 129), por isso, para realizar a eleição num clima de paz e promover a participação pacífica e sem medo de voto nas urnas, devemo-nos ser guiados pelo fundamento ideal da democracia: (1) o ideal da tolerância – é um apelo aos espíritos mais dominados pelo fanatismo ou pela ignorância que se acreditam cegamente na própria verdade e na força capaz de impô-la, até exercer violência para obrigar outros a segui-la e punir quem não está disposto a abraçá-la. (2) o ideal da não-violência - é um apelo destinado aos líderes para resolver os conflitos políticos e sociais sem o recurso à violência. Tendo em consideração de que o adversário político não é mais que um inimigo que deve ser destruído. (3) o ideal do livre debate das idéias e programas eleitorais: é um apelo ao diálogo como força vital sine qua non da democracia (Bobbio, 1986, 38). Se formos capazes de implementar esses ideiais, poderemos exaltar o valor da democracia que está no coração de Timor-Leste e, diremos “a democracia em Timor-Leste (no mundo) não está a gozar  óptima saúde mas, também não está à beira do túmulo" (Bobbio, 1986, 5). Finalmente, concluindo de forma excelente por Bauman: “democracia sem tolerância e respeito pelo Outro é um oximoro, enquanto democracia com tolerância e respeito à diferença é um pleonasmo” (Bauman, Globo News, 1 de janeiro de 2016).

O filósofo alemão, Karl Marx advertia que “a religião é o suspiro da criatura esmagada pela desgraça, a alma de um mundo sem coração, assim como o espírito de uma época sem espírito. É o ópio do povo” (citado em Aron, 2016, 9). De forma análoga, o povo anseio por uma libertação total desta desgraça da pobreza e miséria.  E, a política é o caminho para esta libertação no seu sentido arcaico da metapolítica e a democracia como veículo para chegar a realização dos sonhos dos founding fathers em criar condições para alcançar o summum bonum e bonum commune do povo. Por isso, durante o periódo de campanha eleitoral, os partidos políticos tornam-se "o ópio do povo", um "magnetismo"; que atrai toda a atenção do povo, com intuito de chegar o momento de libertação, porém, embebidos nesta atração, todo o povo se esqueceu a feliz “promessas não cumpridas" que soam nos ouvidos do povo durante as campanhas: libertar o povo da pobreza e miséria!

Oxalá, que este povo resistente e sofredor não acredita cegamente nestes “profetas desonestos e falsos salvadores” (Bauman, 2016, 22) da Nação, que venham divulgar os programas eleitorais, as promessas políticas, com intuito de mobilizar e conquistar o eleitorado para eleger os partidos políticos. Mas, que o povo saiba votar com mais consciência, refletindo sobre os candidatos, seus programas eleitorais e, que não fazem da urna como uma loteria. Que o povo não sejam ingenuamente maravilhados com as palavras de “insultos” entre Xanana-Taur-Alkatiri-Horta-Abílio que não são verdadeiras, apenas uma pura emissão fonética - "flatus vocis" - enfatizá-las para cativar a simpatia e adesão dos "semper fidelis" (sempre fiéis) militantes e simpatizantes, visa a ganhar a confiança do povo através do seu voto nas urnas. Na verdade, esta “guerra de palavras” foi lançada num ambiente muito tenso nas campanhas eleitorais, fazem-nos lembrar o sábio dito popular português: “quando as comadres se zangam, todas as verdades vêm ao de cima”. Assim, a política é reduzida ao espetáculo; os cidadãos tornam-se espectadores; o discurso político serve como oportunidades para desabafar histórias de luta; e a batalha de ideias, à competição entre os “marketings” (Bauman, 2016, 22), para criar o valor e satisfação aos militantes na adesão aos partidos políticos.  

Faremos, agora, uma previsão de que os resultados eleitorais da EA manter-se-ão dentro da tendência histórica, como Max Weber demonstrou “hero worship” ou “absolute trust in the leader” de Comando da Luta continuam a votar em Xanana e Taur Matan Ruak. E, os radicais militantes do Partido Fretilin manter-se-ão como semper fidelis a votar neste partido. Como comentou o Pe. Martinho Gusmão: “o voto ideológico” continua na mesma  com os votos dos "semper fidelis" (sempre fiéis) militantes e simpatizantes. O que vai mudar é “o voto estratégico”, mas, o nosso povo ainda não tem a “capacidade de analisar, da inteligência para discernir” (Bauman, 2016, 57) os programas eleitorais. Ainda vale a palavra de Robert Ezra Park: (1) marcado pelo discurso racional; (2) unida por uma experiência emocional. Explicando de forma explícita por Bauman: o primeiro deve ter “capacidade de pensar e argumentar com os outros”, ao passo que a última só precisa ter “capacidade de sentir e se identificar” (citado em Bauman, 2016, 26) com os militantes e simpatizantes. Assim, a “luta política” da EA mostra claramente que já não é mais uma competição de programas eleitorais, mas, sim, de figuras históricas e partidos históricos, mais uma vez, Bauman sintetiza: a “luta política já não é mais uma competição de ideias, mas de personalidades: o maior número de pontos é amealhado pelas figuras...”,  porque a “cognição política é moldada emocionalmente” (Bauman, 2016, 78) para cativar o coração e a simpatia dos "semper fidelis" militantes.

Olhando retrospectivamente para a construção do país, poderemos dizer que os founding fathers, pelas suas capacidades e valentias, já “edificaram as nossas instituições democráticas e traçaram aquilo que é a essência dos valores democráticos de Timor-Leste: a paz, a  reconciliação, a solidariedade, o pluralismo, a tolerância e o diálogo” (Dr. Rui Maria de Araújo, Díli, 16 de Fevereiro de 2015) e continuam a empenharem-se nesta segunda batalha de libertar o povo da pobreza e miséria.  Temos de ter a inteligência para reconhecer e dizer sine ira et studio (sem ressentimentos nem preconceitos) que há sinais positivos de mudança nesta década de “Ukun Rasik-an”. Mas, poderemos constatar também que este povo sente-se ferido com a injustiça social praticada pelas elites políticas. O slogan de libertar o povo da pobreza e miséria que fora prometido pelos founding fathers, não foi cumprido plenamente ao longo destes 16 anos da independência, apesar de eles se tornarem protagonistas neste jogo democrático, que o Bobbio chamou de “promessas não cumpridas”. Lembrando, ainda, o artigo A utopia invertida, Bobbio inicia-se com a palavra “catástrofe”: a catástrofe de um grande ideal, “da maior utopia política da história”. Escreve ainda Bobbio, “Nenhuma das cidades ideiais descritas pelos filósofos jamais foi proposta como um modelo a ser realizado. Platão sabia que aquela república ideal, sobre a qual falara com seus amigos, não estava destinada a existir em nenhum lugar da Terra, mas era verdadeira apenas, como diz Glaucon a Sócrates: nos nossos discursos” (Bobbio, 2000, 50). É verdade, que os sonhos dos founding fathers existem apenas nos discursos políticos, ainda não se incarnarem no coração do povo, por isso, realizamos tantas vezes as eleições tanto presidenciais como parlamentares, os discursos da retórica política pautam-se pela libertação total do povo deste maligno da pobreza e miséria, após as eleições, tais premissas demonstram apenas uma “utopia política da história”. Em síntese, lembremo-nos a conclusão do pai da democracia moderna, Jean-Jacques Rousseau: "se existisse um povo de deuses, governar-se-ia democraticamente. Mas, um governo, assim, perfeito não é feito para os homens" (Bobbio, 1986, 40).

No meio de situações verdadeiramente dramáticas, “o que nos mantém vivos e atuantes perante esta situação de incerteza é a imortalidade da esperança” (Bauman, 2016, 35), como frisou de forma concisa por Bauman. Temos a “confiança” de que o VIII Governo liderado ainda pelos founding fathers possa trilhar a estrada que conduz ao rumo de um futuro promissor para restaurar o sentimento de segurança perdido, reconstruir a confiança desaparecida e edificar a garantia de mercado para todos os timorenses. E, que tinha como característica primordial a certeza de edificar uma sociedade justa, livre, solidária, pacífica e, consequentemente, que partilham equitativamente a honra e o ónus desta nobre nação de Timor Lorosa’e.

Em suma, lembrando a trágica memória de 2006, podemos desafiar os founding fathers, parafraseando Goethe: “por que o teatro político  tem de ser um anfiteatro gladiatório (de matar ou morrer) em busca de  poder, honra e riqueza, em vez de, digamos, uma colmeia ou um formigueiro cooperativos e movimentados” (citado em Bauman, 2016, 29) em busca de Summum Bonum e Bonum Commune de todos os povos nesta Magna Domus Fraternitas: Timor-Leste? Pois, uma decisão política tem sempre o seu próprio custo – concluindo Bauman - o preço é pago na moeda em que é pago geralmente o preço da má política — o do sofrimento humano.

Bibliografia
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ARON, Ray mond, O ópio dos intelectuais, São Paulo, Três Estrelas, 2016.
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WEBER, Max, Ciência e Política duas Vocações, São Paulo : Cultrix, 2011.

* Opinião pessoal do cidadão da Aldeia Cassamou, Suco Seloi Craic, Município Aileu

- Original em Timor Agora

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