quinta-feira, 10 de maio de 2018

OS FAZEDORES DA GUERRA


The Saker [*]

Entre os ataques dos EUA à Síria, em Abril, e os recentes desenvolvimentos na Península Coreana, estamos de certa forma numa pausa na procura do Império pelo começo de uma nova guerra. Os sempre prestativos israelenses, na pessoa do inefável Bibi Netanyahu, estão agora a rufar os tambores para, bem, se não uma guerra, então pelo menos alguma espécie de falsa bandeira ou pretexto para fazer com que os EUA ataquem o Irão. E há ainda o Donbass sempre a sangrar (o qual não tratarei na análise de hoje). Assim, vamos ver onde estamos e tentar fazer a melhor estimativa para onde podemos estar a caminhar. Para ser honesto, tentar adivinhar o que ignorantes belicistas psicopatas podem fazer a seguir é por definição um exercício fútil, mas como há alguns sinais não desprezíveis de que ainda há pelo menos algumas pessoas racionais na Casa Branca e/ou Pentágono (como mostrado sobretudo pelos "ataques faz-de-conta" à Síria no mês passado), podemos assumir (ter esperança) de que algum grau de sanidade residual ainda esteja presente. No mínimo, os americanos em uniforme têm de se perguntar uma questão muito básica e ainda assim fundamental:

Pretendo eu morrer por Israel? Pretendo eu perder o meu emprego por Israel? Que tal a minha pensão? Talvez [sobrem] apenas as minhas opções em acções? Valerá a pena arriscar uma grande guerra regional em favor de um estado tão "admirável"?

Muito depende de se os líderes militares dos EUA (e o povo!) terão a coragem para se colocarem estas perguntas e, caso o façam, quais serão as suas respostas. Mas primeiramente vamos começar com as boas notícias:

A RDPC e a RC estão em conversações directas uma com a outra.

Isto é realmente um desenvolvimento verdadeiramente grandioso devido a pelo menos duas razões. A primeira, naturalmente, a principal e objectiva: qualquer coisa que reduza os riscos de guerra na Península Coreana é boa. Mas há uma segunda razão que não deveríamos desprezar: Trump agora pode tomar todo o crédito por isto e afirmar que foram as suas ameaças (vazias) que levaram os norte-coreanos à mesa de negociações. Eu digo – deixe-o dizer. De facto, espero que organizem uma parada para Trump em algum lugar dos EUA, com confetti e milhões de bandeiras. Como para um astronauta. Deixem-no sentir-se triunfante, justificado e muito, muito macho. JACTÂNCIA, sabe?!

Sim, pensar nisso será doentio (sem dizer que contra-factual), mas se um bocadinho de náusea intelectual for o preço a pagar pela paz, digo: vamos em frente. Se Trump, Bolton, Haley e os restantes deles puderem sentir que são "muito bons" e que os seus "militares invencíveis" é que levaram o "Rocket Man" a "abandonar as suas ogivas nucleares" (ele nunca disse algo como tal, mas não importa) então sinceramente desejo-lhes uma celebração alegre e altamente prazeirosa para os seus egos. Qualquer coisa serve para impedi-los de tentar começar outra guerra, pelo menos por agora.

Agora as más notícias.

Os israelenses estão de volta

Admirável, não é? Os israelenses estiveram a lamuriar-se durante anos acerca de "iminentes" ogivas iranianas e ainda continuam com isso. Não só com isso, mas eles têm o descaramento de dizer "o Irão mentiu". Seriamente, mesmo pelos padrões israelenses, já por si únicos, isso é chutzpah [audácia] elevada a um nível realmente estratosférico. Se se tratasse apenas de Bibi Netanyahu, então isto seria cómico. Mas o problema é que Israel agora subjugou completamente todos os ramos do governo dos EUA com os seus agentes (os Neocons) e que agora eles dirigem tudo: desde os dois ramos do Partido Único no Congresso até os media e, agora que Trump capitulou abjectamente a todos os seus pedidos, eles também dirigem a Casa Branca. Aparentemente também dirigem a CIA, mas no Pentágono ainda pode haver alguma resistência à sua loucura. Os EUA são agora quase literalmente dirigidos por um Governo de Ocupação Sionista, não tenha dúvida acerca disso.

Então o que estes sujeitos estão realmente a tramar? Ouçam um homem que os conhece bem e cujas palavras valem ouro, o secretário-geral do Hezbollah, Nasrallah (é de se perguntar: por que o Hezbollah, que desde a década de 1980 nunca cometeu qualquer acto mesmo remotamente assemelhado a um ataque terrorista continua a ser chamado " Uma equipe de terroristas "?):
O primeiro evento é a flagrante e manifesta agressão contra a base T-4 ou aeroporto nos arredores de Homs, que alvejou forças iranianas dos Guardiões da Revolução Islâmica do Irão ali presentes, atingindo-os com um grande número de mísseis, provocando sete mártires entre seus oficiais e soldados e ferindo outros. Isto foi um evento novo, significativo e importante. Talvez algumas pessoas não dêem atenção à sua importância e magnitude. Nesta operação, Israel matou deliberadamente (soldados iranianos). Isto é um evento sem precedentes. No passado, Israel atingiu-nos [o Hezbollah] como em Quneitra e aconteceu que por coincidência oficiais dos Guardiões [da Revolução Islâmica] estavam connosco. Israel declarou apressadamente que não sabia disso pois pensava que todos [os soldados alvejados] eram do Hezbollah. Isto é um evento sem precedentes desde há sete anos, alvejar abertamente na Síria os Guardiões da Revolução Islâmica, matando deliberadamente numa operação que provocou mártires e feridos (...) Quero dizer aos israelenses que devem saber – escrevo esta declaração com precisão e leio-a para eles – que cometeram um erro histórico. Não é um simples erro crasso. Eles cometeram um acto de grande estupidez e com esta agressão entraram numa confrontação directa com o Irão, a República Islâmica do Irão. E o Irão, oh sionistas, não é um pequeno país, não é um país fraco, não é um país covarde. E sabem disto muito bem. Quando comento acerca deste incidente, enfatizo que ele constitui um ponto de viragem na situação da região. A que se segue será muito diferente da que a antecedeu. Trata-se de um incidente que não pode ser considerado ligeiramente, ao contrário do que acontece com muitos incidentes aqui. É um ponto de viragem, um ponto de viragem histórico. E quando os israelenses cometeram este acto estúpido, eles tinham alguma avaliação (da situação), mas digo-lhes que a sua avaliação era falsa. E mesmo no futuro, uma vez que abriram um novo caminho na confrontação, (deveriam assegurar) não errarem nas suas avaliações. Neste novo caminho que abriram e iniciaram, não errem na sua avaliação quando estiverem face a face e directamente (em conflito) com a República Islâmica do Irão.
Só posso concordar com esta avaliação. Tal como o faz The Jerusalem Post , NBC News e muitos outros media. Por mais louca que esta noção possa soar para pessoas racionais (ver abaixo), há todos os sinais de que os israelenses agora estão a pedir que os EUA comecem uma guerra contra o Irão, seja por opção ou mais provavelmente para "apoiar nossos aliados israelenses e amigos" depois de eles atacarem o Irão primeiro.

Israel é um país único e admirável: não só ignora descaradamente e completamente o direito internacional, não só é o último país abertamente racista no planeta, não só tem estado a perpetuar um genocídio em câmara lenta contra os palestinos ao longo de décadas, como também utiliza constantemente consideráveis recursos de propaganda para advogar em favor da guerra. E a fim de alcançar estes objectivos não hesita em aliar-se com um regime quase tão desprezível e maligno quanto o sionista – estou a falar acerca dos lunáticos wahabitas no Reino da Arábia Saudita. E tudo isso sob o alto patrocínio dos Estados Unidos. Um "Eixo da bondade" realmente! O que é o seu plano? Na verdade, ele é razoavelmente claro.

O plano "A" israelense (fracassado) 

Inicialmente o plano era derrubar todos os regimes laicos (baathistas) no poder e substituí-los por lunáticos religiosos. Isso não só enfraqueceria os países infectados por esse apodrecimento espiritual como os transladaria muitas décadas para trás, alguns deles romper-se-iam em entidades mais pequenas, árabes e muçulmanos matar-se-iam em grandes números enquanto os israelenses orgulhosamente afirmariam serem um "país ocidental" e a "única democracia no Médio Oriente". Ainda melhor, quando os tipos do Daesh/ISIS/al-Qaeda etc cometem atrocidades numa escala industrial (e sempre sob câmaras, filmados profissionalmente), pois o genocídio em câmara lenta dos palestino seria realmente esquecido. Se houvesse alguma coisa, os israelenses declarar-se-iam ameaçados pelo "extremismo islâmico" e, bem, estenderiam um par de "zonas de segurança" para além das suas fronteiras (legais ou não), além de bombardeamentos regulares "porque os árabes só entendem a força" (o que daria aos israelenses uma ovação calorosa dos broncos sionistas "cristãos" nos EUA que amam a matança de quaisquer árabes e outros "negros das areias"). No fim de tudo isto, o sonho dourado sionista: desencadear as forças do Daesh contra o Hezbollah (a qual eles temem e odeiam desde a humilhante derrota de 2006 sofrida pelas forças armadas de Israel).

Concordo prontamente em que isto é um plano estúpido. Mas ao contrário do mito induzido pela propaganda, os israelenses não são realmente muito brilhantes. Agressivos, arrogantes, maldosos, impulsivos – sim. Mas inteligentes? Não realmente. Como puderam não perceber que o derrube de Saddam Hussein resultaria em que o Irão se tornasse o actor principal no Iraque? Isto é um exemplo de como os israelenses sempre vão para "soluções" rápidas de curto prazo, provavelmente cegos pela sua arrogância e sentimento de superioridade racial. Ou quanto à sua invasão do Líbano em 2006? Quem no mundo pensaria que acabaria assim? E agora aqueles sujeitos estão a enfrentar não o Hezbollah, mas o Irão. Hassan Nasrallah está absolutamente correcto, essa é uma decisão verdadeiramente estúpida. Mas, naturalmente, agora os israelenses têm um plano "B".

O plano "B" israelense 

Passo um, utilizar a sua máquina de propaganda e infiltrar agentes para relançar o mito acerca de um programa nuclear militar iraniano. E não importa que o chamado " The Joint Comprehensive Plan of Action " (JCPOA) tenha sido acordado por todos os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, pela Alemanha (P5+1) e mesmo pela União Europeia! E não importa que este plano coloque restrições ao Irão as quais nenhum outro país alguma vez teve de enfrentar, especialmente considerando que desde 1970 o Irão tem sido um membro em boa situação quanto ao Tratado de Não Proliferação Nuclear (NPT) ao passo que Israel, naturalmente, não. Mas os sionistas e os seus fãs Neocon são, é claro, pessoas quase excepcionais, de modo que não são constrangidos nem pelos factos nem pela lógica. Se Trump diz que o JCPOA é um acordo terrível, então isso é assim. Atenção, estamos a viver na era "pós Skripal" e "pós Douma" – se alguns líderes anglo (ou judeus) disserem ser isso "altamente provável" então a obrigação de toda a gente é mostrar "solidariedade" instantânea a fim de não ser acusado de "anti-semitismo" ou "teorias conspirativas marginais" (conhecem o exercício). De modo que o passo um é reacender ex nihilo o rumor do programa nuclear militar iraniano.

O passo dois é declarar que Israel está "ameaçado existencialmente" e portanto tem o direito de "defender-se". Mas há um problema aqui: as forças armadas de Israel simplesmente não têm os meios militares para derrotar os iranianos. Elas podem atacá-los, atingir um par de alvos, sim, mas quando os iranianos (e o Hezbollah) desencadearem uma chuva de mísseis sobre Israel (e provavelmente sobre a Arábia Saudita) os israelenses não terão os meios para responder. Eles sabem isso, mas também sabem que o contra-ataque iraniano lhes dará o pretexto perfeito para berrarem "oy vey!!   oy, gevalt!!" [NR] e deixarem os tolos americanos combaterem os iranianos.

Pode-se objectar que os EUA não têm um tratado de defesa mútua com Israel. Mas quem disser isso está errado. Ele existe e chama-se AIPAC . Além disso, no ano passado os EUA estabeleceram uma base militar permanente em Israel , tornando-a um "detonador": basta afirmar que "os ayatollahs" tentaram atacar a base dos EUA com "armas químicas" e, bingo, tem-se então um pretexto para utilizar todas as suas forças militares em retaliação, incluindo, a propósito, suas forças nucleares tácticas para "desarmar" os "genocidas iranianos que querem varrer Israel do mapa" ou alguma variação deste absurdo.

Pode-se perguntar, como faço, qual seria o sentido de tudo isso se o Irão não tivesse qualquer programa nuclear militar?

Minha resposta seria simples: pensa realmente que os sírios estiveram a utilizar armas químicas?

Naturalmente que não!

Todos estes absurdos acerca de ADMs de Saddam, do programa nuclear iraniano, das armas químicas sírias ou, a propósito, os " soldados violadores armados de Viagra " de Gaddafi, e antes disso o "massacre Racak" no Kosovo ou as várias atrocidades no "mercado de Markale" em Sarajevo: tudo isto foram pretextos para agressões, nada mais.

No caso do Irão, o que os israelenses temem não é serem " varridos do mapa " (o que é uma má tradução de palavras originalmente ditas pelo ayatollah Khomenei) por ogivas iranianas; o que realmente os assusta é terem uma grande potência regional muçulmana como o Irão a denunciar abertamente Israel como um estado ilegítimo e racista. Os iranianos também estão a denunciar abertamente o imperialismo dos EUA e mesmo a denunciar a ditadura wahabita da Casa de Saud. Esse o "pecado" real do Irão: ousar desafiar abertamente o Império Anglo-Sionista e ter êxito nisso!

Assim, o que os israelenses realmente querem fazer é:

Infligir o máximo dano económico ao Irão 
Punir a população iraniana por ousar apoiar os líderes "errados" 
Derrubar a República Islâmica (fazer o que eles fizeram na Sérvia) 
Dar um exemplo para dissuadir qualquer outro país que ouse seguir as pisadas do Irão 
Provar a omnipotência do Império Anglo-Sionista.
Para atingir este objectivo não há necessidade de invadir o Irão: uma campanha sustentada com mísseis de cruzeiro e bombardeamento cumprirá a tarefa (mais uma vez, como na Sérvia). Finalmente, temos de assumir que os sionistas são suficientemente maus, arrogantes e loucos para utilizarem armas nucleares sobre algumas instalações iranianas (as quais eles, naturalmente, designarão como instalações secretas de "investigação nuclear militar").

Os israelenses esperam que ao fazerem com que os EUA atinjam duramente o Irão eles enfraquecerão o país para também enfraquecer suficientemente o Hezbollah e os demais aliados do Irão na região e romperem o chamado "crescente xiita".

De certo modo, os israelenses não estão errados quando dizem que o Irão é uma ameaça existencial a Israel. Eles apenas mentem acerca da natureza desta ameaça e da razão porque é perigosa para eles.

Considere-se isto:

SE à República Islâmica for permitido desenvolver-se e prosperar e SE a República Islâmica se recusar a ficar aterrorizada pela indiscutível capacidade das forças armadas de Israel para massacrar civis e destruir infraestrutura pública, então a República Islâmica tornar-se-á uma alternativa atraente à espécie de Islão repugnante encarnado pela Casa de Saud a qual, por sua vez, é a patrocinadora primária de todos os regimes colaboracionistas no Médio Oriente, desde os tipos Hariri no Líbano até a própria Autoridade Palestina. Os israelenses gostam de árabes gordos e corruptos até os ossos, não íntegros e corajosos. Eis porque o Irão deve, absolutamente, ser atingido: porque o Irão pela sua própria existência ameaça o eixo de que depende a sobrevivência da entidade sionista: a corrupção total dos líderes do mundo árabe e muçulmano.

Riscos com o plano "B" de Israel 

Pense em 2006. Os israelenses tinham supremacia aérea total sobre o Líbano – os céus eram simplesmente incontestados. Os israelenses também controlavam os mares (pelo menos até o Hezbollah quase afunda a sua corveta classe Sa'ar 5 ). Os israelenses bombardearam o Líbano com tudo o que tinham, desde bombas até ataques de artilharia e mísseis. Eles também utilizaram suas melhores forças, incluindo a sua putativamente "invencível" "Brigada Golani". E isso durante 33 dias. E eles alcançaram exactamente "nada". Não puderam nem mesmo controlar a cidade de Bint Jbeil do outro lado da fronteira israelense. E agora vem a parte melhor: o Hezbollah manteve as suas forças mais capazes ao norte do rio Litany de modo que a pequena força do Hezbollah (não mais de 1000 homens) era composta por milícias locais apoiadas por um número muito mais pequeno de quadros profissionais. Isso dá uma vantagem para os israelenses de 30:1 em mão-de-obra. Mas o "invencível Tsahal" obteve um chute no rabo colectivo como poucos outros chutes na história. Eis porque, no mundo árabe, é desde então conhecida como a "Vitória Divina".

Quanto ao Hezbollah, ele continuou a despejar foguetes sobre Israel e a destruir tanques Merkava indestrutíveis até o último dia.

Há vários relatórios que discutem as razões do fracasso abjecto das forças armadas israelenses (ver aqui ouaqui ), mas a simples realidade é esta: para vencer uma guerra são precisas botas capazes sobre o terreno, especialmente contra um adversário que aprendeu a operar sem cobertura aérea ou poder de fogo superior. Se Israel manipulasse os EUA para atacar o Irão, aconteceria exactamente a mesma coisa: o CENTCOM estabelecerá superioridade aérea e terá uma vantagem esmagadora em poder de fogo em relação aos iranianos, mas além de destruir um bocado de infraestrutura e assassinar montes de civis, isto não alcançará absolutamente nada. Além disso, o ayatollah Ali Khamenei não é Milosevic, ele não se renderá simplesmente com a esperança de que o Tio Sam lhe permita permanecer no poder. Os iranianos combaterão, e combaterão, e continuarão a combater durante semanas e meses e possivelmente anos. E, ao contrário das forças do "Eixo da bondade", os iranianos têm "botas sobre o terreno" críveis e capazes, não apenas no Irão mas também na Síria, no Iraque e no Afeganistão. E eles têm os mísseis para atingir um número muito grande de instalações militares estado-unidenses por toda a região. E também podem não só encerrar o Estreito de Ormuz (o qual a US Navy eventualmente seria capaz de reabrir, mas só ao custo de uma enorme operação militar sobre a costa iraniana), como também atacar a Arábia Saudita e, naturalmente, Israel. De facto, os iranianos têm tanto a mão-de-obra como o know-how para declarar uma "estação de caça" a todas e quaisquer forças dos EUA no Médio Oriente, e há um bocado delas, a maior parte muito fracamente defendidas (aquele senso imperial de impunidade: "eles não ousariam").

A guerra Irão-Iraque perdurou por oito anos (1980-1988). Ela custou aos iranianos centenas de milhares de vida (se não mais). Os iraquianos tinham o apoio pleno dos EUA, da União Soviética, da França e de praticamente todo o mundo. Quanto aos militares iranianos, eles haviam acabado de sofrer uma revolução traumática. A história oficial (ou seja, a Wikipedia) classifica o resultado como um "impasse". Considerando as probabilidades e as circunstâncias, chamo a isto uma magnífica vitória iraniana e uma derrota total para aqueles que quiseram derrubar a República Islâmica (algo que, a propósito, décadas de duras sanções também não conseguiu alcançar).

Haverá alguma razão para acreditar que neste momento, quando o Irão teve quase 40 anos para se preparar para um ataque anglo-sionista em plena escala, os iranianos combaterão menos ferozmente ou com menos competência? Também poderíamos examinar o registo real das forças armadas dos EUA (ver aqui o excelente sumário de Paul Craig Roberts) e perguntar:   pensa realmente que os EUA, liderados pelos émulos de Trump, Bolton ou Nikki Haley terão a perseverança para combater os iranianos até à exaustão (uma vez que invasão terrestre do Irão está fora de causa)? Ou isto: o que acontecerá à economia mundial se todo o Médio Oriente explodir numa grande guerra regional?

Agora vem a parte assustadora: tanto os israelenses como os Neocons sempre, sempre, dobram a aposta. A noção de cortar suas perdas e parar o que é uma política evidentemente errada está simplesmente para além deles. A sua arrogância simplesmente não pode sobreviver mesmo à aparência de terem cometido um erro (lembram quando tanto Dubya como Olmert declararam que haviam vencido contra o Hezbollah em 2006?). Tão logo Trump e Netanyahu percebam que fizeram algo de facto fantasticamente estúpido e tão logo esgotem suas opções habituais (mísseis e ataques aéreos primeiro, a seguir aterrorizar a população civil) eles terão uma escolha rígida e simples: admitir a derrota ou utilizar ogivas nucleares.

Qual das duas pensa que escolherão?

Exactamente.

Indo ao nuclear?

Aqui está o paradoxo: em termos puramente militares, utilizar ogivas nucleares sobre o Irão não servirá qualquer propósito pragmático. Armas nucleares podem ser utilizadas em uma das duas seguintes maneiras: contra activos militares ("contra-força") ou contra civis ("contra-valor"). A questão é que no momento em que os Neocons e seus patronos israelenses chegarem ao ponto de considerar a utilização de forças nucleares tácticas contra os iranianos, já não haverá um bom alvo a atingir. As forças iranianas estarão dispersas e principalmente em contacto com aliados (ou mesmo forças dos EUA) e atacar com arma nuclear um batalhão iraniano ou mesmo uma divisão não alterará fundamentalmente a equação militar. Quanto a atacar com armas nucleares cidades iranianas apenas por selvajaria, isto só servirá um propósito: fazer realmente com que Israel seja varrido do mapa do Médio Oriente. Eu não descartaria que os Neocons e seus patrões israelenses tentassem utilizar uma arma nuclear táctica para destruir algumas instalações nucleares civis iranianas ou algum bunker subterrâneo com a esperança muito errada de que tal demonstração de força e determinação forçaria os iranianos a se submeterem ao Império anglo-sionista. Na realidade, isto somente enraiveceria os iranianos e fortaleceria a sua resolução.

Quanto aos actuais europeus "macronescos", eles, certamente, primeiro mostrarão "solidariedade" na base do "altamente provável", especialmente a Polónia, os ucranianos e os estadozecos do Báltico, mas se armas nucleares começarem a explodir no Médio Oriente, então a opinião pública europeia também explodirá, especialmente em países mediterrânicos, e isto pode simplesmente disparar ainda uma outra grande crise. Israel não daria um chavo (ou, como sempre, atribuiria a culpa de tudo a algum misterioso ressurgimento de anti-semitismo), mas a maior parte dos EUA definitivamente não quer o domínio anglo sobre o continente comprometido por tais eventos.

Pode haver um cenário coreano?

Haverá alguma probabilidade de que todo este bufar e arfar resulte em alguma espécie de resolução pacífica como a que parece estar a ser trabalhada na Coreia? Infelizmente, provavelmente não.

Alguns meses atrás parecia que os EUA poderiam fazer algo irreparavelmente estúpido na Coreia (veja aqui eaqui ), mas algo inesperado aconteceu: os sul-coreanos, percebendo a inanidade das ameaças imprudentes de Trump, tomaram a situação em suas próprias mãos e começaram a fazer aberturas para o Norte. Além disso, todo o resto dos vizinhos regionais disseram de modo enfático e claro à Trump & Co. que as consequências de um ataque dos EUA à Coreia do Norte seriam apocalípticas para toda a região. Infelizmente, há duas diferenças fundamentais entre a Península Coreana e o Médio Oriente:

         - Na Península Coreana, o aliado local dos EUA (a RC) não quer guerra. No Médio Oriente é o aliado local dos EUA (Israel) que mais pressiona por uma guerra.

         - Na Ásia do Extremo Oriente todos os vizinhos regionais estavam e estão categoricamente opostos à guerra. No Médio Oriente a maior parte dos vizinhos regionais estão vendidos aos sauditas, os quais também querem que os EUA ataquem o Irão.

Assim, apesar de os riscos e consequências de uma conflagração serem semelhantes entre as duas regiões, as dinâmicas geopolíticas locais são completamente diferentes.

E a Rússia em tudo isto?

A Rússia nunca "escolherá" ir à guerra com os EUA. Mas a Rússia também entende que a segurança do Irão é absolutamente crucial para a sua própria segurança, especialmente ao longo das suas fronteiras do sul. Neste exacto momento há um frágil equilíbrio entre o (também muito poderoso) lobby sionista na Rússia e os elementos nacionais/patrióticos. Na verdade, os recentes ataques israelenses na Síria deram mais poder aos elementos anti-sionistas na Rússia, daí toda a conversa acerca de (finalmente!) entregar os S-300s à Síria. Bem, veremos se/quando isso acontece. Minha melhor conjectura é que isto já pode ter acontecido e que é simplesmente mantido em silêncio para restringir tanto os americanos como os israelenses, os quais não têm maneira de saber que equipamentos os russos já entregaram, onde está localizado ou, a propósito, quem (russos ou sírios) realmente os operam. Esta espécie de ambiguidade é útil para aplacar as forças pró sionistas na Rússia e complicar o planeamento anglo-sionista. Mas talvez isto seja apenas o meu desejo e pode ser que os russos ainda não tenham entregado os S-300 ou, se o fizeram, talvez este seja dos (não muito úteis) antigos modelos S-300P (em oposição aos S-300PMU-2, os quais apresentariam um enorme risco para os israelenses).

O relacionamento entre a Rússia e Israel é muito complexo (ver aqui e aqui ), mas se o Irão for atacado é plenamente expectável que os russos, especialmente os militares, apoiem o Irão e proporcionem assistência militar com pouco envolvimento com forças dos EUA/Israel/NATO/CENTCOM. Se os russos forem directamente atacados na Síria (e no contexto de uma guerra mais vasta, eles podem muito bem sê-lo), então a Rússia contra-atacará pouco importando que é o atacante, os EUA ou Israel ou qualquer outro: o lobby sionista na Rússia não tem o poder para impor um " evento como o do Liberty " à opinião pública russa).

Conclusão: Malditos sejam os feitores da guerra, pois serão chamados os filhos de Satã.

Os israelenses podem comer falafels, criar " kyfiyeh israelenses " e imaginarem-se como "orientais", mas a realidade é que a criação do estado de Israel é uma maldição que pesa sobre todo o Médio Oriente, ao qual só trouxe incontável sofrimento, brutalidade, corrupção e guerras, guerras e mais guerras. E eles ainda estão nisto – a fazerem tudo o que podem para disparar uma grande guerra regional na qual muitas dezenas ou mesmo centenas de milhares de pessoas inocentes morrerão. O povo dos EUA agora permitiu que um perigosa cabala de Neocons psicopatas tomasse o controle completo do seu país e agora aqueles, a quem oPapa Bush costumava chamar os "loucos no porão" , têm o dedo sobre o botão nuclear. Assim, neste momento tudo se reduz às perguntas com que abri este artigo:

Caros americanos – querem vocês morrer por Israel? Querem perder seus empregos por Israel? E quanto à sua pensão? Talvez apenas as suas opções de acções? Porque sem dúvida o Império dos EUA não sobreviverá a uma guerra em plena escala contra o Irão. Por que? Porque tudo o que o Irão precisa para "vencer" é não perder, isto é, sobreviver. Mesmo bombardeado e calcinado por ataques convencionais ou nucleares, se o Irão sair desta guerra ainda como uma República Islâmica (e isso não é algo que possa ser alterado por mísseis ou bombas) então o Irão terá vencido. Em contraste, para o Império, o fracasso em por o Irão de joelhos significará o fim do seu estatuto como o poder hegemónico mundial, derrotado não por uma super-potência nuclear mas sim por uma potência regional convencional. Depois disso, será apenas uma questão de tempo até que o inevitável efeito dominó desintegre todo o Império (leia o excelente livro de Richard Green, " Twilight's Last Gleaming ", para um relato muito plausível sobre como isso podia acontecer.

Certo, ao contrário da Rússia, o Irão não pode lançar ogivas nucleares sobre os EUA ou, aliás, nem mesmo atingi-lo com armas convencionais (não penso sequer que os iranianos atacarão com êxito um porta-aviões dos EUA como dizem alguns analistas pró iranianos). Mas as consequências políticas e económicas de uma guerra em plena escala no Médio Oriente serão sentidas por todo os Estados Unidos: exactamente agora a única coisa que "sustenta"o US dólar, por assim dizer, são porta-aviões da US Navy e sua capacidade para explodir em migalhas qualquer país que ouse desobedecer o Tio Sam. O facto de estes porta-aviões serem (e, na verdade, foram por muito tempo) inúteis contra a URSS e a Rússia já é mau, mas tornar-se conhecido urbi et orbi que eles também são inúteis contra uma potência regional convencional como Irão, então é porque está tudo acabado. O dólar se tornará dinheiro macaco num espaço de tempo muito curto.

Guerras muitas vezes têm "consequências nietzcheanas": países que as guerras não destroem muitas vezes saem mais fortes do que antes de terem sido atacados, mesmo se o preço for horrendo. Tanto os israelenses como os Neocons são dialecticamente analfabetos para perceberem que com as suas acções estão apenas a criar inimigos cada vez mais poderosos. A velha guarda anglo que dirigia os EUA desde a sua fundação provavelmente era mais sábia, possivelmente porque era melhor educada e mais consciente das lições penosas aprendidas pelo Império Britânico (e outros).

Francamente, desejo que os 1% que dominam hoje os EUA (bem, eles são realmente muito menos de 1%, mas não importa) se preocupem com a sua riqueza e dinheiro mais do que se preocupam em apaziguar os Neocons e que os maus antigos imperialistas anglo que construíram este país tenham bastante cobiça para dizerem aos Neocons e seus patronos israelenses para perderem. Mas com os Neocons a controlarem ambas as alas do Partido Único e os media, não estou muito esperançoso.

Ainda assim, há uma possibilidade de que, como na Coreia, alguém em algum lugar dirá ou fará a coisa certa e que temerosos da magnitude potencial do que estão prestes a desencadear, bastantes pessoas entre os militares dos EUA seguirão o exemplo do almirante William Fallon, comandante do CENTCOM, quando disse ao presidente "um ataque ao Irão não acontecerá no meu turno". Acredito que, pela sua coragem com princípios, as palavras de Cristo: "Abençoados sejam os feitores da paz: pois eles serão chamados os filhos de Deus" (Mateus 5:9) podem ser aplicada ao almirante Fallon e espero que o seu exemplo inspire outros. 

04/Maio/2018

[NR] Frase em yidish que exprime horror ou exasperação.

Ver também: 
  Europe's Last Ditch Effort to Save Iran Deal , 04/Mai/18

[*] Analista militar, suíço de origem russa.

O original encontra-se em http://thesaker.is/the-warmakers/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

UM ANIVERSÁRIO QUE DEVERIA SER COMEMORADO POR TODA A HUMANIDADE!


FOI UMA PÁTRIA SOCIALISTA DE TRABALHADORES, UNINDO TODO O POVO SOVIÉTICO, QUE SOB A ÉGIDE POLÍTICA DE STALINE E MILITAR DE JUKOV, DERROTOU A BESTA NAZI!

Martinho Júnior | Luanda  

A memória da Vitória celebrada no dia 9 de Maio de cada ano (este é o 73º aniversário), é um património de toda a humanidade, por que sem ela muitos milhões de seres não existiriam por que a besta nazi teria eliminado, além daquelas baixas que provocou, muitos mais milhões de nossos progenitores!

O sacrifício desse povo trabalhador soviético em prol da Vitória sobre o nazismo em Berlim, foi portanto uma dádiva inestimável para grande parte da humanidade, uma pedra angular em direcção à civilização com a derrota da barbárie!

Teria sido assim em África, em relação à qual chamo a atenção para o caminho percussor que foi seguido no colonizado Sudoeste Africano, com o Iº genocídio do século XX em tempo da Prússia (anos de 1904 a 1907), eliminando mais de 2/3 das comunidades de hereros e namaquas, algo que tendo sido impune como outras barbaridades entre a Iª e a IIª Guerras Mundiais, também inspirou o nazismo para a agressão massiva e o holocausto, apenas 33 anos mais tarde (entre 1940 e 1945).

Se a besta nazi tivesse ganho, a vida para os africanos teria sido insuportável, regressando aos piores tempos da escravatura conforme ao tráfico negreiro e jamais teria sido possível levar a cabo a libertação contra o colonialismo e o "apartheid" nos termos em que foram concebidas as páginas de história contemporânea mais brilhantes de África!

Viva o Dia da Vitória, património memorável de toda a humanidade!

Martinho Júnior - Luanda, 9 de Maio de 2018


Fotos:
- A bandeira heroica içada sobre Berlim, no Reichtag;
- Os estandartes nazis tomados pelas forças soviéticas em todas as frentes de batalha, desfilam na Praça Vermelha em Moscovo, no 1º aniversário do Dia da Vitória.
- O general von Trotta, comandante do IIº Reich no Sudoeste Africano e seu estado maior, comandou o genocídio dos hereros e namaquas, percussor dos métodos nazis que se tornaram evidentes depois da afirmação do IIIº Reich alemão 33 anos depois.

A BATALHA DE BERLIM PÔS FIM À IIª GUERRA MUNDIAL!...

POR MUITO QUE A PROPAGANDA "OCIDENTAL" FUSTIGUE, CONTRA FACTOS OS ARGUMENTOS NÃO PASSAM DE PROVA DE CINISMO E MESQUINHEZ, DANDO CONTINUIDADE AO QUE É DA BARBARIDADE E CONTRA O QUE DEVERIA SER DA CIVILIZAÇÃO!

São Tomé e Príncipe: Patrice Trovoada defende exoneração de juízes do Supremo


Primeiro-ministro diz que aprovação da resolução parlamentar de exoneração e reforma compulsiva dos juízes conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça é uma decisão para "atacar o cancro" no sistema judiciário do país.

"Os representantes do povo decidiram atacar o 'cancro', uma doença que quando se ataca cedo ainda pode se salvar o corpo e quando se ataca tarde, acabamos, de facto, por morrer", disse Patrice Trovoada, que regressou este sábado (05.05) ao país de uma visita de trabalho aos Estados Unidos da América.

O Parlamento são-tomense aprovou na sexta-feira, com 31 votos a favor e seis contra, um projeto de resolução que "exonera e aposenta compulsivamente" três juízes do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), incluindo o presidente.

Os juízes em causa são Silva Cravid, presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), e os juízes conselheiros Frederico da Gloria e Alice Vera Cruz, todos os que decidiram em acórdão sobre a devolução da Cervejeira Rosema ao empresário angolano Mello Xavier.

No mesmo dia o presidente do STJ disse que "não vai acatar de forma alguma" a resolução aprovada pelo Parlamento.

"Sempre soube que querem tirar-me daqui. Aliás, o poder nunca teve receio de dizê-lo. Mas eu não vou acatar nenhuma resolução da Assembleia que seja ilegal, eu não acato. Vou usar todos os mecanismos à minha disposição para contrariar isso", disse Silva Gomes Cravid em declarações aos jornalistas.

"É uma decisão que tem uma força política importante e que eu acho, irá ajudar a melhorar definitivamente a justiça em São Tomé. É uma tomada de consciência muito importante", explicou, por sua vez, o chefe do Executivo de São Tomé.

Em comunicado enviado a Lusa, o Conselho Superior de Magistratura Judicial disse que "não acatará tal resolução por esta padecer de vícios e violações das normas constitucionais e demais leis da República". 

Trovoada critica justiça

Patrice Trovoada garante que mesmo ausente do país "acompanhou passo-a-passo tudo o que se passou", considerando a questão da cervejeira Rosema como "mais um episódio da justiça que funciona mal".

"Do comportamento de muita gente que não ignora a lei, conhece a lei, sabe o que é justo e não é justo, mas que põe acima de tudo os seus interesses particulares", acrescentou.

"Tivemos o que tivemos, cenas que nós vimos, declarações de uns e de outros, muito triste, mas eu quero dizer que a Rosema é o segundo maior contribuinte do país, tem compromissos para com o estado e o estado não deixará que se faça qualquer tipo de bandalha com a Rosema", explicou.

"É preciso que as regras sejam respeitadas e o estado, perante uma empresa que pesa na economia do país, com a influência na estabilidade macroeconómica, o estado tomará todas as suas responsabilidades", acrescentou Patrice Trovoada.

Patrice Trovoada promete falar "brevemente sobre tudo isso", mas apela à "calma e bom senso para que as coisas se arrumem da melhor maneira".

Lusa | em Deutsche Welle

"É uma aberração": Críticas à exoneração de juízes do Supremo Tribunal são-tomense


O Supremo Tribunal e o Governo são-tomense estão de costas voltadas devido à exoneração de juízes conselheiros. Presidente exonerado pede mediação internacional. Oposição e funcionários dos tribunais estão solidários.

O presidente exonerado do Supremo Tribunal de Justiça de São Tomé e Príncipe, Silva Gomes Cravid, diz que a destituição dos três juízes conselheiros do órgão é ilegal.

"O que está a acontecer neste momento é uma atrocidade, uma aberração, é algo nunca antes visto num Estado de Direito democrático. Vamos agir em conformidade com as disposições legais que temos, porque somos aplicadores da lei", afirma Gomes Cravid em entrevista à DW África.

A exoneração foi anunciada na última sexta-feira (04.05), depois da aprovação no Parlamento de uma resolução com 30 votos dos deputados do partido no poder, Acão Democrática Independente (ADI), um voto do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social Democrata (MLSTP/PSD) e seis contra.

Gomes Cravid diz, no entanto, que, sozinha, a Assembleia Nacional não tem competência para nomear e exonerar os juízes conselheiros - deve basear-se em propostas apresentadas pelo Conselho Superior dos Magistrados Judiciais, composto por representantes de juízes de direito, representantes de juízes conselheiros, representante do Presidente da República e representante da Assembleia Nacional.

Cervejeira Rosema no centro da polémica 

A decisão de exonerar os três juízes conselheiros do Supremo Tribunal veio na sequência do acordão divulgado a 28 de abril que devolveu a cervejeira Rosema ao seu antigo proprietário, o angolano Melo Xavier.

Em declarações à imprensa no sábado, o primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, considerou a aprovação da resolução parlamentar como uma decisão para "atacar o cancro" no sistema judiciário do país.

O juiz Silva Gomes Cravid frisa, porém, que não tem dúvidas que a decisão tomada sobre a devolução da cervejeira ao seu proprietário tenha sido a mais acertada: "Eu gostaria de pedir a qualquer país que quisesse vir a São Tomé e Príncipe fazer uma auditoria, uma inspeção ao processo Rosema, que viesse pegar no processo e analisar a nossa decisão, e analisasse folha por folha se há algum ato menos lícito", afirmou.

Juiz teme pela vida

Gomes Cravid acrescenta que teme pela sua vida. Por isso, iniciou contactos para que haja uma mediação internacional sobre este caso.

"Falámos com alguns colegas de outros países, no âmbito do fórum dos presidentes do Supremo Tribunal de Justiça dos países da língua oficial portuguesa, para tomarem parte desta ocorrência. Eu, enquanto presidente do Supremo, tenho a minha vida em risco. Já me ameaçaram de morte várias vezes. Sei que há grande vontade de porem termo à minha vida", diz Gomes Cravid.

Oposição e funcionários defendem Supremo 

Esta segunda-feira, partidos com e sem assento parlamentar mostraram-se solidários com o Supremo Tribunal. Jorge Bom Jesus, vice-presidente do MLSTP/PSD, disse à DW África que os direitos fundamentais estão em declínio no arquipélago.

"A nossa democracia está em perigo", afirmou. "Não podemos, de forma nenhuma, estar a assistir, impávidos e serenos, ao desmoronamento de todo esse edifício democrático - sobretudo porque há uma tendência para uma deriva totalitária no sentido de todos os ovos estarem na mesma cesta."

O dirigente dos sociais-democratas sublinha que existe um clara intenção "de todo o poder estar nas mãos de único homem e isto nós não podemos de forma nenhuma aceitar. A Assembleia Nacional não tem competências para proceder como fez. Portanto, é uma usurpação do poder."

Por seu turno, Olegário Tiny, membro da comissão política do Partido da Convergência Democrática, classificou esta decisão do Parlamento como sendo um golpe institucional.

"Adotaram um plano devidamente orientado e arquitetado para a captura e concentração de todos os poderes de todos os órgãos de soberania na esfera do partido do Governo. Não tenho dúvidas em afirmar-lhe de que, sim, o Estado de Direito democrático está em perigo iminente."

Descontentes com a situação reinante em São Tomé e Príncipe, os funcionários dos tribunais decidiram paralisar os trabalhos por tempo indeterminado até que a situação seja clarificada.

Ramusel Graça | Deutsche Welle

São Tomé e Príncipe: Novos Juízes do Supremo Tribunal recusam posse ilegal


Juízes conselheiros indicados esta terça-feira (08.05) pelo Governo são-tomense para assumirem as funções dos colegas exonerados no Supremo Tribunal de Justiça recusaram ocupar o cargo. A tomada de posse foi adiada.

O Governo são-tomense, através de um comunicado divulgado esta terça-feira (08.05) indicou três juízes reformados - José Paquete D'Alva Teixeira, Flaviano Costa e Fortunato Pires - para ocuparem as funções dos seus colegas exonerados do Supremo Tribunal de Justiça pela Assembleia Nacional. Mas os juízes escolhidos pelo Governo aceitaram a proposta de forma cautelosa e no encontro com o presidente da Assembleia Nacional, José da Graça Diogo, os magistrados recusaram entrar em funções por considerarem que a destituição dos seus colegas foi inconstitucional.

Fortunato Pires diz que está disponível, mas fez saber que "a destituição dos magistrados em função depende do processo a ser instaurado pelo órgão competente - que é o Conselho Superior da Magistratura. Uma vez feito isto, há que se aguardar o desfecho do processo. Os outros colegas foram unânimes."

A posição de Fortunato Pires, ex-presidente da Assembleia Nacional, ministro da Justiça e antigo presidente do Tribunal de Contas, contraria a iniciativa do Governo de Patrice Trovoada que considerou a resolução que destituiu os três juízes do Supremo Tribunal vinculativa. Recorde-se que os juízes exonerados decidiram devolver a cervejeira Rosema ao empresário angolano Melo Xavier, um assunto que tinha transitado em julgado há cerca de sete anos.

O jurista jubilado sublinhou que a "destituição dos magistrados não se faz sem processo. Tem de haver um processo que comece no órgão competente e que culmine com a destituição dos magistrados".

Sistema judiciário defende Supremo

A exoneração compulsiva, na semana passada, dos magistrados do Supremo Tribunal de Justiça "fere o estado de direito democrático",  afirma Célia Posser, bastonária da ordem dos advogados de São Tomé e Príncipe. Posser garante que a exoneração "só poderia ser feita após um processo disciplinar". Em seguida, acrescenta, o parecer teria de "ser remetido ao conselho superior da magistratura e, finalmente, à Assembleia Nacional para que os magistrados eventualmente fossem exonerados, mas não foi feito".

A bastonária foi mais longe: "Para nós, é um ato inexistente".

Segundo observadores no arquipélago, o cenário é imprevisível em São Tomé e Príncipe. Os partidos políticos com e sem assento parlamentar, com exceção do partido no poder, ADI (Ação Democrática Independente), estão do lado dos tribunais, enquanto os juízes exonerados não reconhecem a decisão da Assembleia Nacional  e agora recusam demitir-se das suas funções.

Célia Posser entende que só o Presidente da República poderá mediar o conflito entre o Supremo Tribunal de Justiça e o Governo.

"A sociedade civil faz a sua parte, mas só o Presidente da República, como mais alto magistrado da Nação, tem poderes para mediar este conflito e ver se efetivamente saímos deste imbróglio", sublinhou.

Sindicato dos magistrados anuncia greve

Entretanto, o Sindicato dos Magistrados Judiciais, que suspendeu a greve geral iniciada na segunda-feira, em solidariedade com os colegas do Supremo, anunciou que a qualquer momento os trabalhos no sistema judiciário poderão vir a paralisar em função das próximas decisões que serão anunciadas pelo Governo. 

"Estamos a desencadear um conjunto de ações no sentido de defender a nossa posição, se for possível partimos para uma greve geral, porque nós entendemos que a atuação da Assembleia Nacional não é a mais correta. Ainda não sabemos exatamente a data, mas estamos a ponderar a hípótese de fazermos nos próximos dias", disse Leonel Pinheiro, presidente do Sindicato dos Magistrados Judiciais, depois do encontro com a UGT/CS (União Geral dos Trabalhadores de São Tomé e Príncipe-Central Sindical).

O projeto de reforma da justiça do décimo sexto Governo constitucional que nomeia os juízes conselheiros foi aprovado na Assembleia Nacional no final de abril passado e dentro de dias será discutido, antes de entrar em vigor ainda este ano.

Ramusel Graça | Deutsche Welle

Governo angolano reconhece não saber quanto nem onde está o dinheiro desviado para o estrangeiro


Economista tem opinião contrária e deputado pede esclarecimentos ao PR

O Governo angolano diz desconhecer a quantidade de dinheiro desviado para o exterior do país, nem o valor a recuperar depois de entrar em vigor a nova lei sobre o repatriamento de capitais actualmente em discussão.

O secretário do Presidente da República para os Assuntos Políticos, Constitucionais e Parlamentares, Marcy Lopes, afirmou que "ninguém sabe quanto dinheiro existe lá fora” porque, se assim fosse, “o Estado teria meios necessários para o ir buscar ”sem necessidade da aprovação da legislação".

Marcy Lopes respondia às preocupações dos deputados da Assembleia Nacional durante a discussão na especialidade da proposta de Lei do Repatriamento de Recursos Financeiros Domiciliados no Exterior do país, de iniciativa do Governo.

Relativamente ao que se espera da recuperação desses valores, Marcy Lopes disse que tal não passa de uma "expectativa" porque "ninguém sabe quanto dinheiro existe" e manifestou a esperança de que a lei a ser aprovada venha a garantir “mecanismos jurídicos para se ir buscar o dinheiro que está lá fora".

Entretanto, o economista Faustino Mumbika considera a revelação como sendo uma “teoria que pretende ludibriar a opinião pública pelo facto de, segundo afirmou, “os implicados serem os mesmos que estão no actual Governo”.

Aquele especialista diz que o Estado angolano sabe o valor do dinheiro subtraído do erário público, incluindo o local onde se encontra.

Por seu turno, o líder da bancada parlamentar da CASA-CE, André Mendes de Carvalho, interroga-se se não é “um exercício fútil e uma perda de tempo” discutir leis sobre matérias em que se saiba quanto dinheiro foi levado ilegalmente para o estrangeiro.

O deputado apela ao Executivo a partilhar essa informação com os parlamentares, reforçando que se o Presidente da República iniciou esse exercício "é porque tem alguma expectativa".

VOA

OPERAÇÃO FIZZ | Tribunal remete processo de Manuel Vicente para Angola


Ex-vice-presidente angolano será julgado em Angola no âmbito da Operação Fizz.
O Tribunal da Relação de Lisboa decidiu esta quinta-feira que o processo do ex-vice-presidente angolano, Manuel Vicente, arguido na Operação Fizz, deve ser enviado para Angola.

A decisão foi comunicada à Lusa pelos seus advogados, que se mostraram satisfeitos com o facto de o juiz desembargador Cláudio Ximenes dar razão ao recurso da defesa de Manuel Vicente, também ex-presidente da Sonangol.

"A equipa de advogados (...) deseja apenas manifestar publicamente para já a sua satisfação com a decisão, não só por reconhecer razão ao nosso recurso e ao que sempre defendemos como podendo ser uma solução juridicamente adequada", lê-se no comunicado enviado pela defesa à agência Lusa.

A decisão de enviar para Angola o processo de Manuel Vicente, que em Portugal foi acusado de corrupção ativa e branqueamento de capitais, "pode contribuir para afastar qualquer possível clima ou ideia de desconfiança ou desconsideração entre sistemas jurídicos de Estados soberanos e cooperantes", entende a equipa de advogados, liderada por Rui Patrício.

No comunicado é reiterado que as questões relacionadas com os mecanismos de cooperação entre Estados e com as imunidades "não constituem prerrogativas ou privilégios pessoais", sendo matéria de Direito e de Estado, às quais o ex-vice-Presidente de Angola está vinculado.

A Operação Fizz assenta na acusação de que Manuel Vicente corrompeu o ex-procurador Orlando Figueira, com o pagamento de 760 mil euros, para que este arquivasse dois inquéritos, um dos quais envolvia a empresa Portmill, relacionado com a aquisição de um imóvel de luxo no Estoril, em 2008.

Após a separação da matéria criminal que envolve Vicente, o processo tem como arguidos Orlando Figueira, o empresário Armindo Pires e Paulo Blanco.

O ex-procurador do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) está pronunciado por corrupção passiva, branqueamento de capitais, violação de segredo de justiça e falsificação de documentos.

O advogado Paulo Blanco responde por corrupção ativa em coautoria, branqueamento também em coautoria, violação de segredo de justiça e falsificação de documento em coautoria e Armindo Pires por corrupção ativa, branqueamento capitais e falsificação de documentos, em coautoria.

Lusa | em TSF | Foto: Carlo Allegri/Reuters

PORTUGAL | Sigilo bancário, o abrigo da corrupção


Pedro Filipe Soares | Diário de Notícias | opinião

Conhecer os grandes caloteiros dos nossos bancos? Jamais, disse Carlos Costa, governador do Banco de Portugal. A afirmação terá sido indignada - credo! - e levou logo à utilização do argumento nuclear do "enquadramento legislativo europeu, incluindo o regulamento do mecanismo único de supervisão".

Para Carlos Costa é aceitável a banca pedir dinheiro às pessoas para tapar os seus buracos. Na Caixa Geral de Depósitos foram injetados 2 mil e 800 milhões de euros; a fatura do BPN já vai em mais de 5 mil e 500 milhões de dinheiro público e o fim ainda não está à vista; a falência do BES já nos custou mais de 5 mil milhões de euros e, novamente, a conta ainda está por fechar; para o Banif, já contribuímos com 4 mil e 800 milhões de euros de dinheiro de todos nós; BCP e BPI levaram de empréstimos mais de 4 mil milhões de euros no período da troika, enquanto salários e pensões estavam a ser cortados.

O impensável para o governador do Banco de Portugal é conhecerem-se os protagonistas dos negócios ruinosos que criaram os buracos nas contas dos bancos. O buraco financeiro é público, a responsabilidade é incógnita. Pagamos e não bufamos, sem saber porquê, defende Carlos Costa. Creio que o absurdo desta afirmação indigna a grande parte da população que foi sacrificada para que aos bancos nunca faltasse dinheiro.

É sabido que os grandes incumpridores de créditos bancários, que somam centenas de milhões em negócios ruinosos, beneficiaram muitas vezes de favores políticos de quem dirigia o banco. O BPN, por exemplo, não deixa dúvidas, dado o seu conselho de administração facilmente poder ser confundido com um conselho de ministros de um governo do PSD. O BES, sabemos cada vez melhor, esteve envolvido até à medula no escândalo de José Sócrates e era gerido pelo Dono Disto Tudo Ricardo Salgado, cujos tentáculos chegavam a todos os governos dos últimos 25 anos. O Millennium BCP foi, na década passada, caso de polícia na disputa do seu controlo.

Alguns exemplos conhecidos, alguns segredos que ainda estarão escondidos, mas a verdade é que a relação entre a política e os negócios foi sempre intermediada pela banca. Manter o segredo dos grandes devedores é manter no anonimato os negócios que afundaram a banca nacional e que sacrificaram as contas públicas. Carlos Costa pode ser o seu advogado de defesa, mas não tem aprovação pública para a manutenção desse privilégio.

Tornar público quem são os grandes devedores é um primeiro passo para garantir um escrutínio popular aos desmandos da banca e um motivo para maior exigência na atuação do sistema financeiro. O combate à corrupção também passa por aqui.

O segundo passo para reforçar o combate à corrupção é o levantamento do sigilo bancário. Esta medida não serve para promover o voyeurismo fiscal, antes é um pilar essencial para combater a fraude e a evasão fiscais - que tanto dinheiro rouba aos serviços públicos - e garantir que se pode seguir o rasto do dinheiro para prevenir rendimentos indevidos e ilícitos.

Há quase dois anos o Presidente da República vetou uma iniciativa do governo para levantamento do sigilo bancário. Na altura, Marcelo Rebelo de Sousa disse que se vivia uma instabilidade financeira que tornava "inoportuna" esta mudança legislativa. Foi uma opção que considero errada. Se não o tivesse feito, estaríamos hoje em melhor posição para combater a corrupção e a evasão fiscal. Contudo, como o tempo não anda para trás, acautele-se o futuro.

A proposta de levantamento do sigilo bancário é para contas bancárias com valor superior a 50 mil euros, permitindo à Autoridade Tributária cruzar dados com os rendimentos declarados e detetar oscilações de património inexplicáveis. Porque é essencial combater a corrupção e a evasão fiscal, o Bloco de Esquerda anunciou que levará o tema a debate e votação no próximo dia 17 de maio. Em boa hora foi feito esse anúncio, dado que o Presidente da República rapidamente veio admitir que os tempos são outros e demonstrou abertura para esse processo.

No debate parlamentar, António Costa desafiou o Bloco de Esquerda a convencer o Presidente da República. A facilidade da resposta presidencial torna difícil compreender o ceticismo do primeiro-ministro. Em todo o caso, se a dúvida existia, está ultrapassada.

O repto está agora lançado aos partidos na Assembleia da República: estão disponíveis para acabar com o sigilo bancário e dar um passo fundamental no combate à corrupção e à evasão ​​​​​​​fiscal? Ou querem continuar a dar cobertura à corrupção?

FORAM CRAVOS FORAM PROSAS | "José Sócrates conseguiu controlar a Justiça"


REGRESSO À LIÇA | Manuela Moura Guedes defende investigação a Pinto Monteiro

Manuela Moura Guedes deixou ontem um apelo, pedindo ao Ministério Público (MP) que abra um inquérito ao antigo Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro - A jornalista afirmou que o ex-responsável terá “abafado investigações” relacionadas com o antigo primeiro-ministro José Sócrates.

"José Sócrates conseguiu controlar a Justiça. O Procurador-Geral da República é indicado pelo primeiro-ministro e nomeado pelo Presidente da República. Indicou Pinto Monteiro que tudo fez para abafar os casos complicados de José Sócrates, ele e Cândida Almeida, que estava no DCIAP, com a ajuda de quem estava a investigar em Setúbal o caso Freeport, a inspetora Alice", disse Manuela Moura Guedes, durante uma entrevista na SIC Notícias, ontem à noite.

A jornalista afirma que, na altura, existiam "demasiados casos e demasiados indícios de aldrabices" relacionados com o ex-primeiro-ministro. Moura Guedes disse ainda que "o regime esteve em perigo" devido ao controlo excessivo do antigo governante."Os Procuradores-gerais devem ser o garante da legalidade e devem ser os mais escrutinados", defende.

Sócrates tinha "o controlo da Justiça, do sistema financeiro, com o amigo Vara no BCP e CGD, e no meio empresarial com a PT e Ricardo Salgado, com a comunicação social. O que não estava controlado [por Sócrates] era abafado", acrescentou.

Durante a entrevista, Manuel Moura Guedes disse ainda temer que estivessem a "querer colocar os patins" em Joana Marques Vidal, a atual Procuradora-Geral da República. “[Joana Marques Vidal] tem provado que as coisas com ela são completamente diferentes”, defendeu a jornalista.

Recorde-se que o Jornal Nacional da TVI, apresentado por Mora Guedes, foi suspenso em 2009, após uma polémica em torno de investigações relacionadas com José Sócrates: o caso da licenciatura, da Cova da Beira e Freeport, entre outros. O antigo primeiro-ministro terá alegadamente pressionado a administração da TVI para acabar com aquele noticiário.

Jornal i

Portugal | ESTE COIO DE LADRÕES E CORRUPTOS IMPUNES

Retardatários somos nós no PG. Trazemos por esta hora tardia o Expresso Curto também para os outros nossos colegas retardatários. Neste Curto a lavra é de Miguel Cadete. Claro que sabem muito bem que o Expresso/Impresa é do tio Balsemão da Marinha Bilderberg. Um luxo, não um lixo - cada letra no seu galho. Dito.

Corrupção, corrupção, investigação, investigação e fartum, fartum, desta treta. Condenações quase não há mas os milhares e milhões estão em jogo e quem paga e não bufa são os portugueses, nos impostos e no corpo. São sevícias que este regime de podridão, de vigaristas e gatunos nos infligem a partir dos governos e das respetivas ilhargas. Sabemos, mas não lhes damos os devidos pontapés nos traseiros e é aí que eles se convencem que somos uns lorpas e que eles são uns sacanas e ladrões iluminados e premiados com completa impunidade ou até umas “medidinhas de coação” que lhes permite fazerem mais do mesmo e terem vidas ricas e ricas vidas. Há o envelope azul do tal Salgado, um índice de corrupção de políticos, empresários, jornalistas e etc. Lendo aquilo logo daria para a PGR querer investigar… e está a investigar? A sério? Olhem, não damos por nada. O pó da bronca dos Panamá Papers assentou e eles agora andam pé ante pé (para não fazerem mais pó) mas continuando a tramar as vidas das gentes. Quanto ao Salgado continua por aí, na maior, nos negócios e “negócios”. Por esta hora talvez esteja de molho, numa das suas piscinas privadas, a curtir o dia de mais ou menos calor… 

Até cheira mal continuarmos a falar disto porque depois perguntamos por essa tal justiça e nada. Na volta também andam a usufruir das piscinas e envelopes azuis. Nunca se sabe. Aliás, neste país, Portugal, nada se sabe sobre o que realmente faz a justiça pela justiça de facto, o que descredibiliza o regime democrático. Sem justiça não existe democracia, nem com miséria, nem com subnutridos, nem com enormes fossos sociais nos rendimentos, nos ordenados, no trato, nas oportunidades. Vivemos num regime de podridão em que o que prevalece é o conluio, a corrupção, o nepotismo. Pior é que depois começamos a considerar todos os políticos e gentes dos vários poderes do mesmo modo, uns bandidos. Por causa de uns quantos vígaros pagam também os honestos porque o grau de desconfiança já ultrapassa o inadmissível. E assim lá se vai a democracia.

Basta por hoje desta cansativa triste e abominável lenga-lenga. Senhores(as) retardatários(as) vão para o Curto e fiquem a saber sobre o que desconheciam. Esperamos estar a ser úteis. Muito boa tarde e um perfeito resto de dia neste país que é um coio de ladrões, corruptos, ‘dótores’, engenheiros e etc. Parece que os advogados e os dos direitos (tortos) são a maioria… Ora, ora! (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

O mecanismo à portuguesa

Miguel Cadete | Expresso

Mais dois ministros dos Governos de José Sócrates estão envolvidos noutro caso judicial. Quem se lembra do caso das PPP rodoviárias? Bem, segundo a revista “Sábado”, a investigação está prestes a terminar e dela fazem parte escutas e informações recolhidas em buscas às casas e escritórios de Mário Lino(ministro das Obras Públicas entre 2005 e 2009), António Mendonça (seu sucessor entre 2009 e 2011) e Paulo Campos(secretário de Estado das Obras Públicas do XVII Governo Constitucional).

Na edição que hoje chegou às bancas, a “Sábado” noticia que dentro das próximas semanas serão constituídos vários arguidos por corrupção e gestão danosa, tráfico de influências e branqueamento de capitais. O caso é investigado há sete anos. Além desta investigação do Ministério Público, em maio de 2012tinha sido constituída uma comissão parlamentar de inquérito “à contratualização, renegociação e gestão de todas as PPP do sector rodoviário e ferroviário”, segundo noticiou a Lusana altura. Essa comissão resultava de iniciativas do PSD/CDS e do BE. Em setembro desse mesmo ano, era noticiado que também tinham sido feitas buscas na casa de uma vogal do conselho de administração das Estradas de Portugal e ex-adjunta de António Mendonça.

Em causa estarão a construção e concessão de 11 auto-estradasentre as quais as dos Alto Douro, Trás-os-Montes, Litoral Oeste e Baixo Alentejo e ainda o processo de portagens das SCUTs (sem custos para o utilizador) da Grande Lisboa assinados em 2009 e 2011. A notícia sobre esta investigação da “Sábado” foi ontem à noite divulgada pela SIC. Ao inquérito judicial foi junto um relatório do Tribunal de Contas quedemonstrava a impossibilidade daqueles contratos respeitarem o interesse público e a CREDIP, uma comissão pública formada para acompanhar aqueles processos, garantia que a Estradas de Portugal não tinha capacidade para assumir os encargos das PPP ao longo de 30 anos. Uma carta de conforto de José Sócratesassumiu que o Estado português ajudaria a Estradas de Portugal a pagar. Em breve existirão arguidos, ainda que a investigação hoje divulgada não revele quais.

Vale a pena lembrar que nos últimos dias vários dirigentes do PS se descolaram do processo em que está envolvido o ex-primeiro-ministro, como foi o caso do líder da bancada parlamentar Carlos César e do presidente da Câmara de Lisboa Fernando Medina, de Jorge Seguro Sanches, secretário de Estado da Energia, Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta e do deputado João Galamba e que culminaram na desfiliação do PS de José Sócrates que quis colocar um ponto final num “embaraço mútuo”. Também o atual ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, se revelou “não só embaraçado como traído”, em declarações à revista “Visão”, caso se provem os comportamentos criminosos.

O timing escolhido para esta decisão, quando nenhum dado novo foi acrescentado, era misterioso ainda que Carlos César tenha admitido que com o caso de Manuel Pinho se “adensou o nível de intolerância”. Com a notícia de hoje, a intolerância voltou a “adensar-se”.

Também o “misterioso” discurso do Presidente da Repúblicanas celebrações do 25 de Abril parece ganhar uma nova luz com estas revelações. No Parlamento, Marcelo Rebelo de Sousa alertou para uma realidade – que a “a corrupção se tenha entranhado” - sem que “a classe política tenha interesse em a travar”. Naquele mesmo dia, o primeiro-ministro António Costa disse, ao comentar o discurso do Presidente, que “nem sempre é possível interpretar os discursos modernos”.

Neste Expresso Curto vale ainda antecipar a seção O QUE ANDO A VER. A série “O Mecanismo”, realizada por José Padilha(“Tropa de Elite”, “Narcos”, “Autocarro 174”), em que o caso Lava Jato é tratado como uma doença endémica do Brasil. Esqueça as fantasias de “A Casa de Papel”.

O som não é excelente mas as legendas em português podem ajudar a perceber o que se passa entre governantes e um consórcio de construtores civis que manietaram todo um país. A cena que eventualmente é mais relevante sucede não com Lula, Dilma, dirigentes partidários (de qualquer cor) ou mesmo com os poderosos construtores civis do Brasil. Acontece quando o polícia-herói pretende contratar alguém para consertar um cano de esgoto e percebe que a corrupção alastrou a todas as classes sociais levando consigo a separação entre o poder político e o poder judicial.

Ontem, Manuela Moura Guedes, na SIC Notícias, voltou para triunfar. Falou das investigações a José Sócrates em que se envolveu enquanto jornalista – sendo por isso afastada - e de outras como o caso dos submarinos e dos sobreiros. E acusou Pinto Monteiro, o PGR que teve à sua responsabilidade o arquivamento de vários casos em que José Sócrates esteve envolvido. Para avisar: “tenho medo que queiram pôr os patins a Joana Marques Vidal”.

OUTRAS NOTÍCIAS

Marcelo vetou mudança de género aos 16 anos. O PR não promulgou o diploma que permite a mudança de género sem relatório médico, aconselhando os deputados a alterar a lei nesse sentido. Sublinhou que a sua opinião pessoal não pesou na decisão, aludindo à forma como irá analisar a lei da eutanásia.

O PR vai também vai reavaliar a lei do sigilo bancário.Marcelo vetou a lei que o Governo propôs em 2016, para que fossem conhecidas informações sobre depósitos com mais de 50 mil euros. No debate parlamentar de ontem, António Costa pediu ajuda ao BE para convencer Marcelo a voltar ao tema - e Marcelo respondeu que sim, menos de uma hora depois do fim dos trabalhos. Relembrou em nota no site da Presidência que vetou o diploma do Governo em setembro de 2016, que permitia “a troca automática de informação financeira [entre os bancos e a Autoridade Tributária] sobre depósitos bancários superiores a 50 mil euros, invocando como principal razão a situação particularmente grave vivida então pela banca portuguesa”.

João Vasconcelos acusado de fraude. O ex-secretário de Estado da Indústria foi constituído arguido por suspeitas de fraude na obtenção de subsídio. Uma das suas empresas, a Go Big or Go Home terá usado fundos comunitários (do programa Finova) para investir 260 mil euros na empresa da sua mulher, Isabel Domingues Santos, também constituída arguida. Os seus cinco sócios, onde se conta Francisco Maria Balsemão, filho do fundador do Expresso, Francisco Pinto Balsemão, também passaram à condição de arguidos.

Proteção de Dados autoriza SMS em caso de catástrofe. A Comissão Nacional de Proteção de Dados autorizou a Proteção Civil a enviar SMS de alerta a todos os que estejam em área de risco em caso de catástrofes como os incêndios. O parecer tinha sido pedido pela Proteção Civil.

Subsídios de viagens para os deputados vão mudar. A notícia do Expresso levou a que a Subcomissão de Ética do Parlamento altere as regras dos pagamentos de viagens. Estas devem ser marcadas pelo próprio Parlamento e não pode existir dupla remuneração desses custos.

Coordenador do Centro Nacional de Cibersegurança demite-se. Pedro Veiga, um dos pioneiros da internet em Portugal, abandonou o cargo que ocupava desde 2016, quando foi criado sob a tutela do Ministério da Presidência e da Modernização Administrativa. O seu sucessor, garantiu a ministra Maria Manuel Leitão Marques, será conhecido em breve.

Dom Quixote vai passar em Cannes. A providência cautelar interposta pelo produtor português Paulo Branco que visava impedir que o filme de Terry Gilliam, “O Homem Que Matou Dom Quixote”, na sessão de encerramento do festival francês não surtiu efeito. A decisão foi proferida, ontem, num tribunal de Paris. A batalha pelos direitos do filme prossegue dentro de momentos, estando em causa a sua exibição comercial em todos os territórios.

FRASES

“Preferia não ir à Eurovisão um ano depois, confesso”. Salvador Sobral, vencedor da Eurovisão em 2017, na “Visão”

“Mentir com todos os dentes”. Ex-procurador Orlando Figueirasobre o depoimento do banqueiro Carlos Silva no âmbito da Operação Fizz, no jornal “i”

“Não nos respeitaram”. Herrera, jogador do FC Porto ao explicar os festejos do golo do título, no “Record”

“O PS mudou de vida. Já não gosta de José Sócrates e de Manuel Pinho. Gostos não se discutem, mas mudanças de gosto tão dramáticas não são emocionais. São absolutamente racionais”. Nuno Garoupa, no “Público”

O QUE ANDO A LER

O Expresso começa a oferecer a todos os seus leitores, já na próxima edição que chega às bancas, a obra magna de Simon Sebag Montefiore.

“Jerusalém” custou três anos de sono ao seu autor (ver entrevista no sábado passado) mas é um tratado sobre a cidade que, depois de tudo e de todos, continua a ser para uma enorme parte da população o centro do mundo. Cultor de uma história de divulgação que, ao jeito britânico é capaz de conquistar adeptos, Montefiore não se ficou pelo emparelhamento de vários trabalhos já publicados tendo investigado profundamente a cronologia do lugar que é capital para as religiões monoteístas.

A narrativa é envolvente, por vezes até picante, sem que se afaste um milímetro do rigor que também se exige. Tudo para concluir uma ideia não tão simples assim: Jerusalém é uma cidade na Terra e no Céu, existe na realidade e espiritualmente. Indispensável agora que passam 70 anos sobre a fundação do Estado de Israel e a tensão no Médio Oriente volta a crescer.

A coleção estende-se ao longo de sete semanas e conta com uma atualização do texto produzida por Simon Sebag Montefiore para o Expresso.

Por hoje é tudo. Acompanhe toda a informação atualizada no site do Expresso. Lá pelas 18 horas chega o Expresso Diário com análise e comentário dos acontecimentos do dia. Amanhã estará por cá o Ricardo Costa para servir mais um Expresso Curto.

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