Juízes conselheiros indicados
esta terça-feira (08.05) pelo Governo são-tomense para assumirem as funções dos
colegas exonerados no Supremo Tribunal de Justiça recusaram ocupar o cargo. A
tomada de posse foi adiada.
O Governo são-tomense, através de
um comunicado divulgado esta terça-feira (08.05) indicou três juízes reformados
- José Paquete D'Alva Teixeira, Flaviano Costa e Fortunato Pires - para
ocuparem as funções dos seus colegas exonerados do Supremo Tribunal de
Justiça pela Assembleia Nacional. Mas os juízes escolhidos pelo Governo
aceitaram a proposta de forma cautelosa e no encontro com o presidente da
Assembleia Nacional, José da Graça Diogo, os magistrados recusaram entrar em
funções por considerarem que a destituição dos seus colegas foi
inconstitucional.
Fortunato Pires diz que está
disponível, mas fez saber que "a destituição dos magistrados em
função depende do processo a ser instaurado pelo órgão competente - que é o
Conselho Superior da Magistratura. Uma vez feito isto, há que se aguardar o
desfecho do processo. Os outros colegas foram unânimes."
A posição de Fortunato Pires,
ex-presidente da Assembleia Nacional, ministro da Justiça e antigo presidente
do Tribunal de Contas, contraria a iniciativa do Governo de Patrice Trovoada
que considerou a resolução que destituiu os três juízes do Supremo Tribunal
vinculativa. Recorde-se que os juízes exonerados decidiram devolver a
cervejeira Rosema ao empresário angolano Melo Xavier, um assunto que tinha
transitado em julgado há cerca de sete anos.
O jurista jubilado
sublinhou que a "destituição dos magistrados não se faz sem processo.
Tem de haver um processo que comece no órgão competente e que culmine com
a destituição dos magistrados".
Sistema judiciário defende
Supremo
A exoneração compulsiva, na
semana passada, dos magistrados do Supremo Tribunal de Justiça "fere o
estado de direito democrático", afirma Célia Posser, bastonária
da ordem dos advogados de São Tomé e Príncipe. Posser garante que a exoneração
"só poderia ser feita após um processo disciplinar". Em seguida,
acrescenta, o parecer teria de "ser remetido ao conselho superior da
magistratura e, finalmente, à Assembleia Nacional para que os magistrados
eventualmente fossem exonerados, mas não foi feito".
A bastonária foi mais longe:
"Para nós, é um ato inexistente".
Segundo observadores no
arquipélago, o cenário é imprevisível em São Tomé e Príncipe. Os partidos
políticos com e sem assento parlamentar, com exceção do partido no poder, ADI
(Ação Democrática Independente), estão do lado dos tribunais, enquanto os
juízes exonerados não reconhecem a decisão da Assembleia Nacional e agora
recusam demitir-se das suas funções.
Célia Posser entende que só
o Presidente da República poderá mediar o conflito entre o Supremo
Tribunal de Justiça e o Governo.
"A sociedade civil faz a sua
parte, mas só o Presidente da República, como mais alto magistrado da Nação,
tem poderes para mediar este conflito e ver se efetivamente saímos deste
imbróglio", sublinhou.
Sindicato dos magistrados anuncia
greve
Entretanto, o Sindicato dos
Magistrados Judiciais, que suspendeu a greve geral iniciada na segunda-feira,
em solidariedade com os colegas do Supremo, anunciou que a qualquer
momento os trabalhos no sistema judiciário poderão vir a paralisar em função
das próximas decisões que serão anunciadas pelo Governo.
"Estamos a desencadear um
conjunto de ações no sentido de defender a nossa posição, se for possível
partimos para uma greve geral, porque nós entendemos que a atuação da
Assembleia Nacional não é a mais correta. Ainda não sabemos exatamente a data,
mas estamos a ponderar a hípótese de fazermos nos próximos dias", disse
Leonel Pinheiro, presidente do Sindicato dos Magistrados Judiciais, depois do
encontro com a UGT/CS (União Geral dos Trabalhadores de São Tomé e
Príncipe-Central Sindical).
O projeto de reforma da justiça
do décimo sexto Governo constitucional que nomeia os juízes conselheiros foi
aprovado na Assembleia Nacional no final de abril passado e dentro de dias será
discutido, antes de entrar em vigor ainda este ano.
Ramusel Graça | Deutsche
Welle
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