sexta-feira, 1 de junho de 2018

Angola | EVIDÊNCIAS PATRIÓTICAS


Martinho Júnior | Luanda 

1- Em Angola, no momento em que o mês em que se assinala o Dia de África chega ao fim, a comunidade de membros da ex-Segurança do Estado está de parabéns, por que tem demonstrado estar, década após década, acima de qualquer suspeita que manche o seu dever patriótico, que contra ela possa existir, interna ou externamente!

Num estado cuja superestrutura ideológica fez uma deriva entre um carácter socialista que a 11 de Novembro de 1975 se inspirava no marxismo-leninismo (foi “sob o olhar silencioso de Lenin” que se proclamou o Partido do Trabalho), a um estado tão vulnerável aos impactos do capitalismo neoliberal como o de hoje, com todos os traumas acumulados para além dos inerentes às trajectórias de guerra e por que essa deriva se reflectiu de forma muito sensível no ambiente humano que compunha os instrumentos do poder (onde se inseriam quer as FAPLA, quer a Segurança do Estado), provas sobejas de fidelidade e coerência para com os juramentos então feitos, ganham outra evidência, fazendo parte do seu percurso em vida!

O patriotismo tornou-se para essa franja de angolanos, uma constante prova de vida, face a todo o tipo de adversidades, quando até em relação às preocupações correntes, a esmagadora maioria desses camaradas mancha alguma de corrupção tiveram ao longo de sua vida!

É verificável que essa fidelidade e essa coerência substantiva se alimentam dum vínculo único, duma sociologia e duma antropologia que em Angola é um caso aparte, quer se queira ou não e, pelos sacrifícios silenciosos que têm sido sobejamente exigidos, é um património comum que é muito pouco conhecido pela maioria, embora mereça respeito e se tenha tornado já, por si, um exemplo de dignidade!

Esse percurso comporta uma outra narrativa que não sendo a oficial, suscita uma radiografia de transparência inerente aos dilemas internos vividos pelo MPLA e pelo estado angolano, (em grande parte um dossier por abrir pelos próprios autores de história), desde o 11 de Novembro de 1975, também ela, a narrativa, acima de qualquer suspeita, pelas evidências patrióticas de que se nutre!

Quanto mais não seja por essa razão, a comunidade de membros da ex-Segurança do Estado, continua a ser um assunto de estado, quanto ao seu papel, quanto aos seus sacrifícios, quanto a tantas falências que se foram acumulando e de que têm sido directas vítimas, algo que acabou por encurtar a vida de muitos dos seus componentes… tudo isso num abandono de tal ordem que muitos dos dirigentes que passaram pelas chefias de então, se alhearem dessa comunidade evocando todo o tipo de justificações e argumentos, acabando por, de facto, não terem mexido uma palha em prol da reinserção social e do apoio solidário que agora em tempo de paz e democracia é devida a todos os angolanos!

É legítimo perguntar-se: se alguns dos antigos membros da ex-Segurança do Estado estão a ser tratados desse modo, o que se esperar nas obrigações humanas e solidárias para com o resto da sociedade?

Antes de alguma vez se alcançar por parte do estado angolano o reconhecimento dos próprios direitos à dignidade inerentes a essa comunidade, direitos tão duramente conquistados, essa comunidade cumpriu e cumpre silenciosamente com deveres patrióticos jurados desde outras épocas, ainda que pela lei da vida, em função dos traumas, do desamparo e em muitos casos da miséria, muitos dos seus membros tenham vindo mais rapidamente a desaparecer, ou estejam a desaparecer!...


2- No mês em que se comemora o Dia de África, faleceu entre outros membros da Acção Social Para Apoio e Reinserção, ASPAR, (a associação que representa os membros do ex-MINSE) o camarada 1º sargento das Tropas Guarda Fronteira de Angola, TGFA, que em vida dava pelo nome de Tomás Afonso, mais conhecido por Bravo.

O malogrado, era natural de Quimbele, nasceu a 5 de Julho de 1956, estudou no Uíge e em 1976 ingressou na Juventude do MPLA ainda no Quimbele (o município mais a leste da Província).

Em 1978, com 22 anos, incorporou-se nas fileiras da Tropa Guarda Fronteira de Angola, TGFA, então enquadrada nos organismos do Ministério da Segurança do Estado.

Teve cursos de formação que concluíram em 1979, passando a integrar o efectivo da 4ª Região das TGFA, percorrendo os mais diversos postos fronteiriços da Província do Uíge, além do período que esteve ao serviço do próprio Comando Regional: Quicua, Camuanga, Cuango, Quibiengue, Quissacandica…

O seu trabalho na maior parte dos casos esteve adstrito à Logística, onde era um quadro bem conhecido na área de fardamento, pois tinha ganho habilitações de alfaiate e tinha-se tornado valioso para fazer face às exigências de então.

Em 2002 foi vítima de doença e para recuperar foi dispensado, não voltando contudo mais às fileiras.

Preencheu assim 24 anos ao serviço das TGFA, todos esses anos em tempo de guerra.

O 1º sargento Tomás Afonso foi desmobilizado, recebeu a quantia que lhe era devida pela desmobilização, mas como não havia mais qualquer tipo de apoio e vivia em Luanda, fazendo uso de sua profissão de alfaiate, passou a ganhar assim o seu sustento e o de sua vasta família (10 filhos e 20 netos).

Segundo os relatos de sua família, foi agarrado à máquina de costura que acabou por falecer, pelas 17H00 do dia 9 de Maio de 2018, num ignoto e modesto exemplo de abnegação, trabalho e dignidade, desde logo para com as suas próprias obrigações familiares e sociais.

Quando chegou ao conhecimento da ASPAR o seu falecimento, solicitou-se um apoio para a sua família, quer para os gastos do seu funeral, quer do seu óbito, aos serviços de competência, que resultou num suporte financeiro, num gesto que toda a comunidade, por ter sido pouco frequente, muito tem publicamente a agradecer!


3- A comunidade de membros do ex-MINSE, que na sua juventude obedeceu ao MPLA e aos juramentos então feitos em tempo de guerra, malgrado os exemplos patrióticos que tem vindo a dar apesar dos enormes sacrifícios e abandono a que tem sido sujeita, apesar do seu suporte em final de vida ser ainda um malparado assunto de estado, continua a aguardar que sejam passadas à execução todas as orientações que não foram cumpridas de há cerca de 8 anos a esta parte e afectam uma parte substancial dos seus membros!


Não faz sentido, entre outras coisas, que se captem investimentos externos, sem melhor “arrumar a casa” e este caso merece ser atendido de acordo com as políticas de reconstrução, reconciliação nacional e reinserção social.

A ASPAR, coerente com seus deveres, tem exortado o estado angolano ao cumprimento dessas decisões, que efectivamente, são um assunto de estado e estão a ser proteladas com uma factura humanamente pesada para pessoas que estão na ponta final de sua existência e mesmo assim em silêncio e disciplinadamente vão aguardando pelo socorro à sua própria dignidade.

Tem acontecido episódios humanos dos mais degradantes por falta de apoio de alguns: desde famílias que se desagregam, a pais que são escorraçados dos seus lares e morreram na rua, no mais completo desamparo.

Quando a crise económica e financeira se agudiza, a precariedade tem vindo logicamente a aumentar!


4- No mesmo mês de Maio, e em cima das comemorações do Dia de África, uma delegação importante de antigos membros do Batalhão Búfalo e das South Africa Defence Forces, SADF, que prestaram serviço ao “apartheid”, estiveram de visita às Províncias do Cuando Cubango e do Cunene, onde foram recebidas pelas autoridades, tendo até em jeito de boas-vindas, havido um almoço no Palácio do Governo em Ondjiva.

Em nome da paz, da reconciliação e da busca pela melhoria das condições de vida, tudo se torna possível, até por que muitos membros dessa delegação manifestaram interesse em investir em Angola, particularmente nas áreas dos Parques Naturais Transfronteiriços do sudeste angolano, integrados no Kavango and Zambeze Trans Frontier Conservation Area, KAZA-TFCA.

É evidente que este fluxo, é redundante das iniciativas do cartel de diamantes, que a partir do estatuto ganho no Botswana tem vindo a encarar o espaço físico-geográfico-ambiental , no seu relacionamento com o homem, de forma a implementar equilíbrios, também por que tem os olhos no turismo dos endinheirados de todo o mundo que são atraídos pelo exotismo africano, bem como à originalidade e à criatividade do acolhimento.

Essa iniciativa contrasta contudo com o tratamento no mínimo negligente a que tem sido sujeita a comunidade representada pela ASPAR e não se pode deixar de ter como referência, que o Governador do Cunene, general Kundi Pahiama, que passou pela direcção da Segurança do Estado, do Interior, dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, etc., uma pessoa que poucos sinais deu no sentido da resolução dos problemas humanitários, mantendo-se ausente da solidariedade institucional que neste caso afectam a comunidade de membros do ex-MINSE, em nome da paz, da reconciliação e dos investimentos recebe oficialmente, antigos combatentes do Batalhão Búfalo e das SADF!...

Disse o general Kundi Pahiama na altura:

“Estamos irmanados. Devemos estar unidos a partir de agora, não só com políticas, mas sobretudo com trabalho prático. Por isso, convido os sul-africanos a investirem cá, nos mais variados domínios”.

É evidente que, sem ferir as políticas de paz, de concórdia e de investimentos no espaço da SADC, há contudo bastos motivos internos para levar a cabo a ingente tarefa de “corrigir o que está mal e melhorar o que está bem”!

Luanda, 1 de Junho de 2018 - Martinho Júnior

Fotos:
- O 1º sargento Tomás Afonso, membro da Acção Social Para Apoio e Reinserção;
- Foto do acto de entrega de valores do apoio do estado angolano ao funeral e óbito do 1º sargento Tomás Afonso;
- Visita ao Cuando Cubango e Cunene, de membros dos ex-Búfalos e ex-SADF que prestaram serviço ao “apartheid”;
Desfile comemorativo do 40º aniversário da independência nacional, a 11 de Novembro de - 2015, em que uma delegação da ASPAR representou a comunidade de membros da ex-Segurança do estado.

Angola| Crianças que vivem da exploração de pedras


Hoje é Dia Mundial da Criança. Em Angola, relatório do jornalista Domingos Cruz denuncia que muitas crianças trabalham "no limite" no negócio da extração de pedras. E não só.

João Alfredo* tem 13 anos. Vive fora da casa dos pais e, para sobreviver, engraxa sapatos numa rua de Luanda. Vestido com uma camisola e calções pretos, conta que não tem registo de nascimento. Por isso, nunca foi à escola. Mas tem esperança.

"Há alguns irmãos da igreja do bairro Palanca que disseram que me vão tratar cédula. Já pediram todos os meus dados e estamos a espera que eles tragam", afirma.

Como João Alfredo há milhares de crianças em Angola sem documentos, fora do sistema de ensino e que trabalham no duro para sobreviver. É o que revela um relatório do jornalista angolano Domingos da Cruz, publicado esta sexta-feira (01.06) na capital angolana.

Exploração infantil

"O relatório aborda a situação das crianças que se dedicam ao garimpo de areia e pedras em diferentes regiões de Angola, e, claro, fazem-no em diferentes locais. Uns em rios, outros no deserto, como é o caso da província do Namibe, e outros em terreno normal", refere Domingos da Cruz.

Intitulado "Eu Vivo das Pedras", o estudo de 88 páginas baseia-se em entrevistas a crianças nas províncias do Bengo, Benguela, Namibe e Huambo.

"Há crianças que confirmaram durante as entrevistas que há adultos que se aproveitam delas", indica.

Domingos da Cruz não revela em concreto no relatório quantas crianças se dedicam ao garimpo de pedras em Angola, mas lança o debate. O pesquisador lembra que o Direito ao Desenvolvimento da pessoa humana foi consagrado pelas Nações Unidas em 1986 e é inalienável.

"O que eu coloquei no relatório é uma amostra, que, no meu ponto de vista, é suficiente para lançar o debate e alcançar o objetivo central de chamar a atenção da sociedade e das autoridades para o problema", afirma.

Que soluções?

Em Angola, a Constituição da República protege os direitos da criança, mas muitas delas continuam a trabalhar. Para inverter este cenário, o relatório "Eu Vivo das Pedras" deixa recomendações ao Governo angolano.

"Por exemplo, a criação de consultórios de psicologia comunitária para recuperar crianças que certamente estão traumatizadas, fruto da atividade que realizam. Propõe igualmente um rendimento minímo para estas crianças e para as famílias, com vista a ajudá-las a recuperar e a reintegrar-se na sociedade. Só assim vamos ter uma sociedade diferente e contar com a contribuição delas para um país melhor."

Há dez anos, o Governo angolano adotou 11 compromissos para a proteção das crianças. Dois dos compromissos são possibilitar o "registo de nascimento" e garantir que todas as crianças vão à escola primária. Este ano, o Dia Mundial da Criança em Angola decorre sob o lema: "Reforçar a municipalização dos 11 compromissos para garantir a proteção integral da criança". O ato central para assinalar este Dia da Criança foi na Huíla.

* nome fictício

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

Moçambique | Como acabar com o trabalho infantil?


Esta sexta-feira, 1 de junho, assinala-se o Dia Mundial da Criança. Mas há muitas crianças que vão passar o dia de hoje a trabalhar. São obrigadas a fazê-lo por causa da pobreza.

António dos Anjos - nome fictício - é uma das centenas de crianças na província do Niassa que trabalham para conseguir mais algum dinheiro para a família.

"Não tive dinheiro para me matricular. Então, viajei da Zambézia para aqui para poder arranjar dinheiro e para me matricular no próximo ano. Com o dinheiro que ganho, consigo comprar baldes, panelas e roupa para a minha mãe", afirma.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) estima que mais de 22% das crianças moçambicanas entre os 5 e os 14 anos trabalham, sobretudo na agricultura e na pecuária. A maior parte tenta contornar a sua situação de pobreza.

"Temos entrevistado as crianças para saber porque se encontram na rua e o problema que temos encontrado, na maioria das vezes, é o problema da pobreza", explica Lino Cristóvão, presidente do Parlamento Infantil no Niassa.

Cristóvão diz que a situação é preocupante. Na província, o trabalho infantil é sobretudo visível nas maiores cidades, Lichinga e Cuamba, e nas zonas de exploração de recursos minerais.

Contra o trabalho infantil

Para acabar com o trabalho infantil é preciso envolver vários actores - a começar pelos locais onde há crianças a trabalhar, refere Victor Maulana, coordenador provincial da Associação Amigos da Criança Boa Esperança.

"Nós, como organização, estamos a tentar ver qual será a estratégia para implementar um projeto de sensibilização de associações, nomeadamente associações de garimpeiros. Pretendemos fazer um trabalho de capacitação em matéria dos direitos da criança, para que eles não admitam crianças, porque aquelas crianças que se encontram naqueles lugares estão-se a perder", afirma.

Maulana diz que é preciso despertar consciências, integrar as crianças e lutar contra a pobreza com mais educação. As crianças precisam de ir à escola, estudar e aprender ofícios - é o seu futuro que está em causa, alerta.

"As crianças que praticam trabalho infantil não têm condições nas suas casas. Se perguntar, a sua resposta é que não têm mãe ou pai e vivem com as tias ou as irmãs. Então, são crianças carenciadas, que dependem delas próprias. É preciso inserir essas crianças."

Casamentos prematuros

Outro problema em Moçambique são os casamentos de menores de idade. Este ano, o país assinala o Dia Mundial da Criança sob o lema "Vamos pôr um ponto final aos casamentos prematuros".

"Façamos da família o laboratório que molda o cidadão de amanhã, [em que as crianças] tenham um processo de crescimento sadio e sem perturbações", apelou o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, numa mensagem alusiva à efeméride.

Nyusi sublinhou que o Governo continuará a fazer incidir as intervenções em prol da educação, formação e desenvolvimento da criança.

Em Moçambique, metade das mulheres com idades entre os 20 e 24 anos casaram-se quando eram menores, segundo a UNICEF, que em conjunto com o Governo lançou uma Estratégia Nacional de Prevenção e Combate aos Casamentos Prematuros, que deverá vigorar até 2019.

A presidente do Parlamento moçambicano, Verónica Macamo, anunciou na terça-feira (29.05) que o órgão está a estudar o fim de uma exceção que legaliza os casamentos a partir dos 16 anos. A responsável disse que "deveria ser obrigatório que [os jovens] se casassem depois dos 18 anos", em vez de se permitir que o possam fazer a partir dos 16 anos, com o consentimento dos pais ou dos encarregados de educação, como prevê a lei atual.

Manuel David (Lichinga), Agência Lusa ! Deutsche Welle

Itália volve mais à direita, Espanha faz que muda mas não muda. Vende-se Cinemágico

Itália e Espanha têm hoje as atenções de Ricardo Costa, homem da SIC do tio Bilderberg Balsemão, como o Expresso e por aí adiante do que é letras, voz e imagens… O melhor é fazer um parentesis porque…

Anda a bailar na minha mente fazer uma proposta ao senhor Balsemão, muito dono do que vimos, ouvimos e lemos. É que passa-me  pela cabeça vender o meu Cinemágico e Balsemão é homem que também compra quase tudo o que mexe nessa coisa de imagens… E não será que ele quererá comprar esse belo Cinemágico que construí e tenho por propriedade desde os meus 7 anos? Consiste numa caixa de sapatos da Sapataria 28, ali entre o Martim Moniz e a Praça da Figueira, em que depois de vazia construí um cinema cujos filmes são quadradinhos do Mosquito, do Condor, do Mundo de Aventuras e outros mais. Quadradinhos que após cientificamente recortados foram colados uns aos outros à laia de fita de celulóide e deslizam num ecrã recortado à medida exata na tampa da caixa de sapatos. Caixa que por trás é iluminada e nos deixa vivenciar as mais espantosas aventuras e etc. Coisa muito melhor que as saturantes conferências de imprensa do Bruno de Carvalho e outros programas rascas apresentados na SIC e noutras Tvs… Pois. Bem, é só uma ideia. Balsemão poderá até estar interessado em comprar aquela maravilha já com quase 70 anos. Açambarcador como ele é, o mais provável é fazermos negócio. Fico esperando. Porque não?

Chega de caixa de sapatos e Cinemágico. Avancemos.

Reparo que o texto já está a sair das marcas e que se me distraio vai alongar-se e parvar sem controlo. Íamos na Itália e em Espanha com o mano do primeiro-ministro, os Costas. O do senhor Balsemão é Ricardo, o PM é António. Bonitos nomes. Adiante.

Adiantando, o melhor é terminar aqui e com vénia dar lugar à prosa do Expresso Curto. Pois. Hoje até é Dia Mundial da Criança e o melhor é deixar tudo e todos livres o mais possível para viverem o dia com os filhos, se estiverem de férias, de folga, desempregados, acamados, paralisados e etc… De resto, eu sei, raramente vêem os filhos porque quando chegam a casa já eles saíram para a escola ou então é noite e eles dormem. Um amigo meu diz que ama os patrões mais que tudo porque são a pessoas que vê mais na vida… Ele há cada coisa esquisita. Pois, mas é a verdadinha. Lamentemos. Bom resto de dia e de noite. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Un gobierno Frankenstein, il governo gialloverde e para a semana logo vemos

Ricardo Costa | Expresso

No início da semana, Itália caminhava para um período de caos que redundaria em eleições antecipadas, enquanto Espanha se preparava para debater uma moção de censura que deveria deixar tudo na mesma e as eleições a uma distância considerável. Pois bem, ontem tudo mudou e Itália vai mesmo ter um governoformado pela mistura explosiva da Liga e do Movimento 5 Estrelas, enquanto Espanha deverá ver o fim abrupto de sete anos de executivo Rajoy, trocado por um governo inviável liderado pelo PSOE e que deve acabar… em eleições antecipadas.

No início da semana, o italiano Paolo Savona viu o seu nome ser vetado para ministro da Economia e Finanças, por ser anti-Euro, provocando uma crise institucional. Ontem surgiu de novo como ministro do novo governo, agora na pasta do Assuntos Europeus, e já está tudo ok.

No início da semana, o espanhol Pedro Sanchéz era aquele em que ninguém acreditava que chegaria a primeiro-ministro, mas que aproveitou a sentença judicial de um gravíssimo escândalo de corrupção que envolve o PP, para lançar uma moção de censura e esperar que os astros se alinhassem. Os astros são muito contraditórios – nacionalistas bascos, independentistas catalães, Podemos, etc – mas alinharam-se e chegam para acabar com o governo de Mariano Rajoy ao fim da manhã de hoje.

Em Espanha chamam a esta experiência o governo Frankenstein, em Itália os nomes ainda se ficam pelo simpático “gialloverde” (amarelo-verde), para normalizar uma experiência populista sem precedentes na terceira maior economia da zona euro.

A política italiana nunca foi para princesas, desculpem, para meninos, mas a de hoje só serve a quem vive um dia de cada vez. A espanhola é menos dada a mudanças rápidas e a soluções arriscadas, mas a verdade é que hoje vai ver nascer o governo com menor base de apoio parlamentar de sempre.

A moral desta história de dois países do Sul da Europa é… bem, é melhor esperar e não fazer piadas porque a capacidade de nos surpreenderem é sempre grande. A pressão dos mercados continua acesa em Itália, dado o extremo populismo da solução governamental, mas é natural que se estenda a Espanha caso a incerteza política seja grande. E tudo isto nos dirá respeito, claro, porque agitação nos países do Sul é coisa que costumaafetar Portugal.

OUTRAS NOTÍCIAS

A administração norte-americana inicia hoje formalmente uma guerra comercial com a União Europeia, ao decidir que acabaram as exceções temporárias às tarifas que Washington aplicou às importações de aço e alumínio. Bruxelas já prometeu que irá retaliar, tal como o Canadá e o México, que, perdoem a expressão, levaram pela mesma tabela. Estas três economias representam mais de 40% das importações americanas de aço e alumínio.

A decisão mereceu o aplauso de algumas indústrias nos EUA, mas fortes críticas e preocupações de outros, desde a indústria automóvel à agricultura, que já está a sofrer sérias retaliações chinesas. O comércio mundial é um enorme sistema de vasos comunicantes e sempre que há uma guerra por causa do produto x, acaba por haver impacto no produto y, seja no preço, seja na capacidade de produção, seja nos empregos que gera ou faz perder.

Para a retórica interna, Trump agrada de imediato a uma boa parte dos seus eleitores, que pensam que fronteiras mais fechadas significam mais emprego e maior segurança nacional. Mas, como os chineses já mostraram ao aumentar as tarifas sobre a soja, há muitas formas de retaliar junto dos mesmíssimos eleitores do presidente americano, que sempre disse gostar de guerras comerciais.

Depois de França, Áustria e Bélgica, agora foi a vez de a Dinamarca vetar a utilização da burca e do niqab, uma medida que se junta a uma série que pretende apertar a política de imigração naquele país nórdico. O uso de vestes que tapem integralmente a cara é relativamente raro naquele país – não haverá duzentas mulheres a fazê-lo – mas o parlamento avançou com a lei.

A capa da edição da Vogue para a Arábia Saudita está a provocar uma onda de espanto e de protestos porque retrata uma princesa saudita ao volante de um descapotável vermelho, toda vestida de branco, saltos altos incluídos, e luvas de cabedal preto. A capa surge para assinalar o fim da proibição das mulheres sauditas poderem conduzir, mas é absolutamente invulgar naquelas paragens e recebeu fortes protestos por causa das muitas ativistas femininas que estão presas por lutarem pelos seus direitos.

Zidane disse adeus ao banco do Real Madrid, numa conferência de imprensa surpreendente que deixou os adeptos do clube em estado de choque. Acabado de vencer a Champions, o treinador francês segue o seu caminho – não se sabe para onde – e o Real está a procurar treinador, com Mauricio Pochettino à cabeça, segundo a Marca.

O português Marco Silva vai treinar o Everton na próxima época. O ex-treinador do Sporting teve um mau ano na Premier League, depois de ter sido despedido do Watford em Janeiro, mas o bom futebol que as suas equipas costumam praticar agradou muito ao principal acionista do Everton, que já tinha tentado contratar Silva no ano passado e que agora conseguiu o pretendido.

Os desportivos portugueses andam às voltas com a venda falhada de Rui Patrício ao Napóles, as contratações do Benfica e o aparente fim do sufoco financeiro do F.C. Porto, depois de várias vendas de jogadores.

Na frente “Bruno de Carvalho”, a guerra jurídica teve mais um volte-face. Agora, a direção do Sporting anunciou que substituiu a Mesa da Assembleia Geral demissionária e Jaime Marta Soares por uma Comissão Transitória e que a Assembleia Geral de destituição não se irá realizar. Ninguém sabe como tudo isto vai acabar, apenas que vai demorar e ter muitas surpresas…

FRASES

“Solo siento orgullo de haber sido tu jugador, Míster, gracias por tantísimo.”. Cristiano Ronaldo, no Instagram, a agradecer a Zinedine Zidane

"Onde se pode poupar é nos salários da Função Pública". Alfredo Cuevas, chefe da missão do FMI para Portugal, em entrevista ao Jornal de Negócios

“Um frankenstein espanhol não é uma geringonça portuguesa”. Leonídio Paulo Ferreira, num artigo de opinião no DN

O QUE EU ANDO A LER

O que eu ando a ler é o mesmo que andava a ler quando escrevi, vai para quinze dias, o meu último Expresso Curto. Conto acabar nos próximos dias o Jogos de Raiva, do Rodrigo Guedes de Carvalho, que entretanto subiu tops acima e merecidamente se alcandorou ao primeiro lugar da ficção, nacional e traduzida, justa categoria e justo lugar para este belíssimo romance.

Não fazendo sentido repetir recomendações, vamos ao que se segue na minha cabeceira, neste caso um livro de que agora se fala muito por se estarem a assinalar os 50 anos sobre a data em que aterrou com estrondo entre nós em 1968, entre o fim do salazarismo e um marcelismo que não se sabia o que viria a ser.

Foi nesse ano em que muita coisa mudou mundo fora, que O Delfim chegou às livrarias, para confirmar José Cardoso Pirescomo um escritor maior da língua portuguesa e este romance em particular como uma obra-prima. Com raras exceções da crítica – entre os quais José Saramago, que mais tarde corrigiu o tiro, e Luiz Pacheco, que não veio a mundo para corrigir coisa alguma -, o livro foi recebido com todos os superlativos que os grandes críticos como Óscar Lopes, Alexandre Pinheiro Torres ou Mário Dionísio tinham à sua disposição.

Bruno Vieira do Amaral publicou esta semana um belíssimo texto sobre este livro e os tempos em que foi publicado. 50 anos de “O Delfim”: José Cardoso Pires e a autópsia de uma sociedade.

Fiquem com o último parágrafo desse artigo:

“Hoje, cinquenta anos após a publicação, o livro, esse, continua a pairar sobre nós, menos esquecido do que alguns pensam, como retrato lúcido do estertor de uma sociedade com sonhos apodrecidos de um lado e privilégios moribundos do outro.”

E agora juntem estas linhas do prefácio que Gonçalo M. Tavares escreveu para a reedição na Relógio D’Água:

“Ler a prosa de Cardoso Pires é ter a sensação de que aquelas páginas surgiram naturalmente assim, já impressas. Como se o emissor das letras fosse a própria página, e o seu instinto natural, e não uma figura exterior”.

É a leitura que se segue, com um enorme atraso da minha parte, mas um grande livro nunca perde com o tempo. Das notícias não se pode dizer o mesmo, é melhor ir vendo o que se passa. Hoje pelo Expresso online, amanhã com mais tempo temos Expresso nas bancas, com textos que nos acompanham toda a semana. Tenha um bom dia.

Adeus Rajoy | Pedro Sánchez é o novo Presidente do Governo espanhol


Sai Rajoy, entra Sánchez. 180 votos a favor, 169 contra e uma abstenção foi o resultado da votação da moção de censura ao Governo de Mariano Rajoy. O socialista Pedro Sánchez vai, assim, chefiar o Governo espanhol

A moção de censura ao Governo de Mariano Rajoy passou com 180 votos a favor, 169 contra e uma abstenção, o que significa que o socialista Pedro Sánchez é o novo Presidente do Governo espanhol.

Rajoy só entrou no hemiciclo no final da discussão da moção de censura e antes da pausa de meia hora que precedeu a votação. “Foi uma honra deixar uma Espanha melhor do que a que encontrei", disse então (ver vídeo da despedida abaixo).

A ausência de Rajoy durante toda a manhã foi muito notada. Na quinta-feira, também tinha estado ausente depois de sair para comer e não mais voltar.

“Espanha não merece um Presidente do Governo que não está aqui”, disse a porta-voz do PSOE, Margarita Robles. A socialista abriu os trabalhos no hemiciclo às nove da manhã de Madrid (oito da manhã em Lisboa) numa votação que, como se previa, entregou a chefia do Governo espanhol ao socialista Pedro Sánchez.

Rajoy insistiu que não renunciava e acusou Sánchez de apresentar uma moção “porque nunca ganhará uma eleição”. O líder socialista prometeu respeitar os orçamentos de Rajoy se vencesse a moção.


Hélder Gomes | Expresso

Foto: Juan Carlos Hidalgo/Getty Images | com fotomontagem PG

Como transformar as leis do Trabalho, no século 21


Velhas normas e lógicas da era fordista já não servem, mas o neoliberalismo propõe uma regressão feudal. É hora de buscar alternativa que combine autonomia, desalienação e dignidade

Alain Supiot | Outras Palavras | Tradução: Inês Castilho | Imagem: Charles Mourin, A Aurora do Trabalho (1891)

Seria necessário ser cego para negar a necessidade fundamental de reforma das leis trabalhistas. No decorrer da história, os avanços tecnológicos sempre levaram à reestruturação das instituições. Foi o caso nas revoluções industriais do passado, que depois de derrubar a velha ordem – ao abrir as comportas para a proletarização, a colonização e a industrialização da guerra e do extermínio — resultaram na reconstrução de instituições internacionais e na invenção do Estado de bem-estar social. O período de paz e prosperidade desfrutado por países europeus no pós-II Guerra pode ser creditado a esse novo tipo de Estado e às fundações sobre as quais ele foi construído: serviços públicos integrados e eficientes, uma rede de segurança social cobrindo toda a população e leis trabalhistas que garantiam aos trabalhadores um nível mínimo de proteção.

Essas instituições, nascidas na segunda revolução industrial, foram agora colocadas em questão, minadas por políticas neoliberais que levam a uma corrida social, fiscal e ambiental de rebaixamento entre as nações; e pela revolução digital, que está tragando o mundo do trabalho – manual ou do conhecimento [1]. Não se espera que trabalhadores “conectados” sigam ordens como robôs mas que, ao contrario, respondam em tempo real à informação que recebem. Esses fatores políticos e tecnológicos trabalham juntos. Ainda assim, eles não poderiam ser associados, porque o neoliberalismo é uma escolha política reversível, enquanto a revolução digital é um fato irreversível que pode servir a diferentes fins políticos.

As mudanças tecnológicas que alimentam os atuais debates sobre automação, fim do trabalho e “uberização” têm duplo sentido. Podem tanto aprofundar a desumanização do trabalho engendrada pelo taylorismo quanto levar à adoção de “condições humanas de trabalho” estipuladas na Declaração de Filadélfia, o documento essencial da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Este texto propõe-se a assegurar empregos em que os trabalhadores tenham “a satisfação de dar a mais completa medida de sua habilidade e realização e façam sua maior contribuição ao bem-estar comum” [2]. Essa perspectiva seria um aprimoramento do modelo de trabalho assalariado, ao invés de um retorno à “mercantilização do trabalho”.

Emprego no século 21: um acordo em evolução

Até os anos 1970, o emprego envolvia uma barganha: obediência em troca de segurança. Os empregados renunciavam a qualquer tipo de autonomia sobre seu trabalho em troca de um número limitado de horas de trabalho, negociação coletiva e proteção contra a perda do emprego. Esse modelo, implementado de várias formas legais em todas as nações industrializadas, reduziu a justiça social aos termos quantitativos da troca de trabalho e segurança física no trabalho e liberdade aos sindicatos. Mas o trabalho em si – seu conteúdo e conduta – era excluído dessa barganha. Tanto na sociedade capitalista como nos países “comunistas”, o trabalho era considerado uma questão de “organização científica” – ou o chamado taylorismo. Não havia lugar para a autonomia, que existia somente para executivos sênior e autoempregados.

A revolução digital oferece uma chance a todos os trabalhadores de adquirir maior autonomia. Mas, ao mesmo tempo, ameaça sujeitar todo o mundo – incluindo os autoempregados, executivos e categorias profissionais – a formas agravadas de desumanização do trabalho. Essa revolução não é limitada à difusão das novas tecnologias. Ela está mudando o centro de gravidade do poder econômico, agora menos concentrado na propriedade material dos meios de produção do que na propriedade intelectual dos sistemas de informação. Hoje, esse poder não é exercido principalmente por meio de ordens a serem seguidas – mas de objetivos a serem alcançados.

Ao contrário de revoluções industriais anteriores, não são as habilidades físicas que as novas tecnologias poupam e superam – mas as ações mentais. Mais precisamente, as capacidades de memorização e cálculo, que podem ser usadas para a execução de qualquer tarefa programável. Estas tecnologias são incrivelmente poderosas, rápidas e obedientes mas também, como diz o cientista da computação Gérard Berry, totalmente estúpidas [3]. Elas possibilitariam aos humanos concentrar-se no lado “poético” do trabalho – aquele que requer imaginação, detalhe e criatividade, e portanto não é programável.

A revolução digital será também uma fonte de novos perigos se, ao invés de colocar computadores a serviço dos humanos, organizar o trabalho humano no modelo de trabalho dos computadores. Ao invés da subordinação dar lugar a maior autonomia, o trabalho tomaria a forma de subordinação a números. Equivaleria a estender à mente a garra que o taylorismo mantinha sobre o corpo.

Essa tentativa quixotesca de programar seres humanos aliena-os da experiência da realidade. Ela explica o crescimento de problemas de saúde mental e o aumento do mesmo tipo de fraude contábil já vista nas economias planejadas da União Soviética. Encarregado de atingir metas impossíveis, um trabalhador tem pouca escolha: ou se afunda em depressão, ou joga com o sistema para satisfazer indicadores de desempenho fora da realidade. A fantasia cibernética subjacente à governança por números adequa-se perfeitamente à promessa neoliberal de globalização. Mais precisamente à autorregulação de uma “grande sociedade aberta” pelas forças de um mercado que tudo abarca. Essa é a razão por que esse tipo de governo está se espalhando, em detrimento do que a Declaração Universão de Direitos Humanos define como Estado de Direito.

Não é, portanto, nas velhas fórmulas do neoliberalismo que podemos busca as ferramentas legais para dominar a tecnologia de informação e civilizar seu uso de modo a libertar, ao invés de alienar, a mente humana. Essas fórmulas, administradas em doses maciças no decorrer dos últimos quarenta anos, ajudaram a formatar o mundo em que vivemos. Um mundo de uso abusivo dos recursos naturais e dominação da economia pelas finanças, gerando nitidamente o crescimento de desigualdades de todos os tipos, a migração em massa de pessoas que fogem da guerra e da pobreza, a volta da violência religiosa e do nacionalismo, o declínio da democracia e o crescimento do poder de homens fortes com ideias fracas. Diria o senso comum que, ao invés de insistir no erro, aplicando mecanicamente as “reformas estruturais” prescritas pelos responsáveis por esse desastre, deveríamos aprender com esses erros, particularmente no campo das leis.

O que é particular no neoliberalismo – e o diferencia do liberalismo clássico – é o modo como ele trata as leis em geral, e as leis trabalhistas em particular. Elas passam a ser vistas como um produto legislativo em competição num mercado internacional de regulações em que reina suprema a corrida para rebaixar os padrões sociais, fiscais e ambientais. O Estado de Direito é portanto substituído pelo “shopping” legal, subordinando a lei a cálculos econômicos ao invés do contrário.

Redesenhar as leis trabalhistas, olhando além do emprego

Como os governos não querem mais assumir nenhuma das principais alavancas macroeconômicas que afetam o emprego (controle de moeda e das fronteiras, taxa de câmbio, gasto público), eles empurram com mais força a última alavanca que restou: as leis trabalhistas, que são tidas como um obstáculo ao emprego. Isso embora nenhum estudo sério dê suporte a esse argumento.

Como os limites ao “direito” de demitir foram abolidos, as promessas extraordinárias que acompanham cada nova desregulação do mercado de trabalho nunca se materializaram. As taxas de desemprego continuam muito altas [4]. Mas não tem havido revisão das leis empresariais (elas permitem, por exemplo, recompra de ações que levam ao enriquecimento dos acionistas sem dar nada em troca, destruindo o capital e minando o investimento), das leis contábeis, ou das leis sobre finanças (tais como a existência de bancos privados que são “muito grandes para falir” e que portanto usufruem de uma inviolabilidade negada a Estados endividados) [5]. Os efeitos negativos de tais mudanças, nos investimentos e no emprego, estão provados. No noticiário atual, reduzir a indenização por demissão injusta é visto como “reforma corajosa”, enquanto limitar os ganhos de opções de ações que um executivo pode receber em razão de tais demissões é tido como “demagogia”.

Qualquer reforma séria das leis trabalhistas deveria ter como alvo mais democracia econômica – ou a própria democracia política continuará a se dissolver. Idealmente, reformas verdadeiras deveriam dar a todo mundo mais autonomia e controle sobre suas vidas profissionais, criando mais salvaguardas ativas, que permitam às pessoas tomar iniciativas, e complementar as salvaguardas passivas herdadas do modelo fordista. Mas isso não pode ser feito sem levar em conta as profundas mudanças na organização das empresas e do trabalho que vêm ocorrendo desde os anos 1980.

A primeira condição para tal reforma seria estender as leis do trabalho para além do emprego, de modo a que protejam todos os tipos de trabalho economicamente dependente. Hoje, a revolução digital e o modelo de start-up estão ressuscitando esperanças de empoderamento por meio do autoemprego e pequenas cooperativas. Mas na realidade as linhas entre autoemprego independente e autoemprego dependente estão sendo apagadas, com os trabalhadores presos por laços de fidelidade que reduzem sua autonomia em vários graus. Do mesmo modo, a ideia de que plataformas digitais que reúnem trabalhadores e usuários de seus serviços beneficiará o autoemprego não é confirmada pelos fatos, como demonstram as ações coletivas apresentadas por motoristas da Uber, com algum sucesso, para forçar a empresa a reconhecê-los como empregados.

Face a essa mudança, a dependência econômica deveria ser o critério essencial para um contrato de emprego, como recomendado por uma série de propostas provocadoras elaboradas por um grupo de acadêmicos franceses [6]. Adotar esse critério simplificaria as leis do trabalho, e ligaria o grau de proteção recebido pelos trabalhadores à sua dependência. A gestão de resultados tem sido acompanhada pelo retorno da velha estrutura legal da “propriedade feudal”, na qual um arrendatário garantiria lealdade ao dono da terra em troca do direito de trabalhar um lote de terra. O ressurgimento de tais laços tornou-se possível devido a ferramentas digitais que permitem aos proprietários controlar o trabalho de outros sem lhes dar ordens.

Esses laços de lealdade formam a estrutura legal da economia de rede e são encontrados, de diferentes modos, em todos os níveis de trabalho: dos chefes executivos sujeitos aos caprichos dos acionistas ou clientes até os empregados assalariados, de quem é demandada flexibilidade – eles têm de estar disponíveis o tempo inteiro. Os debates sobre a uberização iluminam a necessidade de uma estrutura legal que possa manter as promessas (de autonomia) e mitigar os riscos (de exploração) inerentes a essas situações de lealdade.

Reformas visionárias

Neste novo contexto, qualquer reforma que coloque no centro das relações de trabalho as negociações diretas entre patrões e empregados é irrelevante. Este enfoque pode ter sido adequado nos Estados Unidos em 1935, quando a Lei Nacional de Relações de Trabalho foi adotada como parte do New Deal. Mas ele não resolve os problemas colocados pela organização atual do trabalho – interconectada e transnacional.

A primeira questão é: que mecanismos permitem aos trabalhadores recuperar algum grau de controle sobre o sentido e o conteúdo de seu trabalho? Na França, o direito dos asssalariados à expressão coletiva, consagrado nas Leis Auroy, de 1982, inauguraram este processo, que poderia ter prosseguido se a concepção e a organização do trabalho tivessem se transformado em ponto de negociação coletiva e consciência individual. Hoje, este tema é tratado apenas de modo negativo, quando o trabalho, sob a ordem atual, leva a suicídios ou distúrbios psicossociais. É preciso voltar a tratá-lo de modo propositivo.

É preciso que haja condições de conduzir negociações coletivas nos níveis corretos, não apenas no de cada indústria ou empresa. Dois destes níveis merecem atenção particular: o da cadeia produtiva e o do território. Tal tipo de negociação permitiria que aflorassem, por exemplo, os interesses específicos de empresas hoje dependentes. Elas poderiam articular-se os empregados, diante do poder das companhias de que todos dependem. Também permitiria envolver todas as parts interessadas no dinamismo de uma dada região. O cara-a-cara dinâmico entre empregador e empregado, numa empresa ou num ramo de produção, deixou de ser adequado. É preciso convocar a presença de outras partes, em torno da mesa de negociação.

Uma terceira ideia para uma reforma verdadeira tem a ver com a partilha de responsabilidades no interior das redes de empresas. Estas redes permitem que quem as controla exerça poder econômico intenso, mas exima-se de suas responsabilidades em relação a subordinados. Trata-se, portanto, de ligar a responsabilidade de cada membro da rede ao grau de autonomia de que de fato desfruta [7]. Tal reforma permitiria clarear as áreas cinzentas existentes em torno do conceito contemporâneo de “responsabilidade social” – que representa, para o neoliberalismo, o que o paternalismo foi para o liberalismo. Onde necessário, a mudança obrigaria a empresa dominante a responder conjuntamente por danos causado pelas organizações que ela cria e controla.

No plano internacional, deverámos assumir por inteiro a sentença inscrita na Carta de Filadélfia da OIT. “O fracasso de qualquer nação em assegurar condições humanas para o trabalho é um obstáculo no caminho de outras nações, que desejam melhorar as condições em seus próprios países”. E deveríamos levar em conta que a divisão internacional do trabalho e nosso impacto ambiental sobre o planeta são temas inseparáveis.

Padrões sociais e ambientais devem ter, portanto, a mesma força legal que as normas que regem o comércio internacional. Isso exigirá a criação de um órgão para disputas internacionais com poder de autorizar os países que asseguram trabalho digno e proteção do ambiente a fechar seus mercados para os que não os respeitam [8]. No plano regional, blocos como a União Europeia poderiam recuperar legitimidade política liderando tal reforma e renovando um compromisso adotado em seus tratados – em relação a “condições melhres de vida e trabalho, para tornar possível sua harmonização”, ao inveś de encorajar uma corrida social e fiscal rumo ao fundo do poço, como ocorre hoje.

Uma reforma ambiciosa das leis trabalhistas deveria incluir também o trabalho hoje não pago – como o cuidado com as crianças e os parenes idosos, vital para a sociedade e hoje ignorado pelos indicadores econômicos. Desde que a luz artificial tornou possível o trabalho durante as 24 horas do dia, as leis trabalhistas ofereceram uma estrutura espacial e temporal compatível com nosso relógio biológico e o direito humano ao respeito pela vida privada e familiar. Esta estrutura é agora ameaçada pelo neoliberalismo e pela tecnologia da informação, que juntas estendem o trabalho assalariado para todos os lugares e todas as horas [9]. O preço, particularmente em termos de vida familiar, é exorbitante – mas nunca reconhecido por aqueles obcecados com o trabalho aos domingos e às noites. Exatamente o que está destruindo os últimos vestígios de tempo social que escaparam à mercantilização da vida humana.

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[1] Michel Volle (2017). Anatomie de l’entreprise. Pathologies et diagnostic. In Pierre Musso (Ed.), L’Entreprise contre l’État?Manucius, Paris.
[2] Declaração de Filadélfia (1944).
[3] Gérard Berry (2008). Pourquoi et comment le monde devient numérique. Annuaire du Collège de France.
[4] A taxa oficial de desemprego é de 11,1% na Itália, 17,8% na Espanha e 21,8% na Grécia.
[5] Ao substituir um antigo princípio de contabilidade, este padrão indexa o valor dos ativos de uma empresa a seu preço de mercado estimado, destacando o que é riqueza puramente hipotética. Ver, de Jacques Richard (2005). “Une comptabilité sur mesure pour les actionnaires”. Le Monde diplomatique, Novembro de 2005.
[6] Emmanuel Dockès (2017). Proposition de code du travail. Dalloz, Paris.
[7] Alain Supiot e Mireille Delmas-Marty (2015). Prendre la responsabilité au sérieux. PUF, Paris.
[8] O uso de novas formas de ação coletiva, incluindo o boicote a certos produtos, também deveria ser reconhecisdo com ou direito inerente à liberdade de associação e ao direito de organização.
[9] Laurent Lesnard (2009). La famille désarticulée. Les nouvelles contraintes de l’emploi du temps. PUF, Paris.

Mais da metade das crianças do mundo ameaçadas por pobreza, guerra e discriminação


Cerca de 1,2 bilhão de crianças, mais da metade das que existem no mundo, estão ameaçadas pela guerra, pela pobreza ou pela discriminação sexual, revelou a organização Save the Children em um relatório divulgado nesta quarta-feira (30).

Intitulado "As muitas faces da exclusão", o relatório classifica 175 países segundo três ameaças: trabalho infantil, exclusão da educação e casamento infantil (com o risco de gravidez precoce).

O estudo da ONG com sede no Reino Unido conclui que 1,2 bilhão de crianças correm perigo de serem atingidas por algum desses três fatores.

Oito dos 10 países com pior classificação estão no oeste ou no centro da África, enquanto os países com menor incidência desses problemas são Singapura e Eslovênia.

A Espanha é o 14º melhor país do mundo para fugir dessas ameaças, enquanto o primeiro latino-americano é o Chile (58º) e o pior é a Guatemala (152º).

"Mais da metade das crianças do mundo começa suas vidas com um lastro porque são meninas, pobres, ou crescem em zona de guerra", explicou Helle Thorning-Schmidt, diretora executiva da ONG.

"Os governos podem e devem fazer mais para dar a todas as crianças o melhor começo de vida possível", acrescentou.

"O fato de existirem países com os mesmo níveis de renda que produzem resultados tão diferentes para as crianças demonstra que as políticas, o financiamento e o compromisso político marcam a diferença".

O relatório afirma que mais de um bilhão de crianças vivem em países afetados pela pobreza e 240 milhões em países afetados por conflitos.

Mais de 575 milhões de meninas vivem em países onde a discriminação de gênero é "um tema grave".

Em 20 países, entre eles Sudão do Sul, Iêmen e Afeganistão, 153 milhões de crianças vivem ameaçadas pelos três parâmetros de risco usados pela Save the Children, sendo Níger o pior avaliado do mundo.

AFP | em EM

Confusão no Iraque por possíveis fraudes em eleições legislativas


Quase três semanas depois das eleições legislativas, a confusão reina no Iraque, onde, apesar das acusações de fraude eleitoral cada vez mais numerosas, as negociações para formar um novo governo já estão em curso.

Várias personalidades da política iraquiana, vítimas das listas independentes e antissistema, reclamam uma recontagem dos votos e algumas, inclusive, uma anulação da votação.

As autoridades aceitaram reexaminar os resultados, mas ainda não tomaram nenhuma medida concreta.

De acordo com especialistas, as acusações de fraude obedecem mais a uma última tentativa dos políticos frustrados por sua expulsão do poder do que a um potencial terremoto político em um país decidido a virar a página após três anos de luta contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI).

Em 12 de maio, para surpresa geral, a lista do clérigo xiita Moqtada Sadr, aliado com os comunistas, venceu os ex-combatentes contra o EI, próximos ao Irã xiita.

"Não é possível anular esses resultados, iria supor uma crise e até confrontos armados", diz à AFP o cientista político Essam al-Fili.

As forças xiitas "não estão dispostas a abandonar o que conseguiram" enquanto estiverem em uma posição de força nas negociações do governo, que começaram um dia após a votação, acrescenta.

Com o avanço eleitoral dos novos atores, muitas personalidades quase inabaláveis desde a queda da ditadura de Saddam Hussein há 15 anos, perderam seu assento.

São eles - com o presidente do Parlamento, Salim al-Jabouri, no comando - os que hoje apontam a controvérsia eleitoral.

'12.000 votos'

Esses políticos, que têm até quinta-feira para formalizar as reclamações, conseguiram votar na segunda-feira no Parlamento a anulação dos resultados do voto de expatriados e deslocados.

Também votaram por uma recontagem manual de 10% das urnas que, se diferir em mais de 25% dos resultados anunciados pela comissão eleitoral, dará lugar a uma recontagem manual de 11 milhões de cédulas.

Não vinculante, esta votação deveria ser simbólica.

Diante das acusações de fraude, os serviços de Inteligência asseguraram que testaram as máquinas de voto eletrônico e conseguiram mudar os resultados, parecendo acreditar nas chances de fraude.

O governo ordenou retomar a análise dos resultados, enquanto a mídia e as redes sociais não param de desmentir as acusações, que concernem principalmente às zonas eleitorais no exterior, parte minoritária dos eleitores.

O polêmico deputado em fim de mandato, Mechaan al-Joubouri, derrotado, assegurou ter visto em Damasco "o responsável da comissão eleitoral de Síria e Jordânia vender a um dirigente político 12.000 votos de expatriados iraquianos na Síria e 4.000 votos em outro país".

Joubouri também denunciou fraudes em Amã, onde vive sua família e onde assegura ter feito uma intensa campanha para, finalmente, não conseguir mais do que 19 votos.

"Tenho a impressão de que há um claro complô contra mim", declarou, afirmando que as máquinas de voto só lhe creditaram 5.000 dos 24.000 votos que assegura que pode comprovar que recebeu.

AFP

Foto: Iraquiano segura imagem do clérigo Moqtada Sadr e uma bandeira do Iraque, em Bagdá, em 14 de maio de 2018

ONU adverte que Gaza está à beira da guerra


A última escalada de confrontos entre Israel e os palestinos está levando a Faixa de Gaza para a beira de uma guerra, advertiu nesta quarta-feira o enviado especial da ONU para o Oriente Médio.

"Esta última série de ataques é uma advertência para todos do quanto estamos perto de uma guerra todos os dias", disse Nickolay Mladenov em uma comunicação com o Conselho de Segurança da ONU por um vídeo de Jerusalém.

O Conselho teve uma sessão de urgência a pedido dos Estados Unidos, que pediu ao organismo que condenasse os recentes ataques do Hamas e a Jihad Islâmica contra Israel.

Mas o Kuwait, integrante não permanente do Conselho que representa os países árabes, bloqueou o projeto de declaração promovido por Washington, argumentando que iria apresentar nesta semana seu próprio projeto para superar a crise com medidas de proteção aos palestinos.

Uma série de foguetes e morteiros lançados contra Israel de Gaza fez que Israel respondesse com ataques a 65 locais na Faixa de Gaza.

Esta escalada de violência é a maior desde a guerra de 2014 entre Israel e Gaza acontece após semanas de mobilizações palestinas em protesto contra a transferência da embaixada dos Estados Unidos em Israel para Jerusalém, que deixaram um saldo de 100 palestinos mortos nas mãos das forças de segurança israelenses.

A calma voltou a Gaza nesta quarta-feira, mas o enviado especial da ONU advertiu que a continuidade dos protestos previstos poderiam gerar mais violência.

"Ninguém em Gaza pode permitir outra guerra", disse Mladenov.

Em um e-mail à delegação dos Estados Unidos, o Kuwait afirmou: "Não podemos concordar com o texto que sua delegação apresentou, especialmente porque estamos considerando um rascunho de resolução que aborda a proteção de civis nos territórios palestinos ocupados e na Faixa de Gaza".

Os Estados Unidos, que têm direito a veto no Conselho, se oporá a essa proposta, disse à imprensa o embaixador israelense na ONU Danny Danon.

"O povo de Gaza não precisa de proteção de uma fonte externa. O povo de Gaza precisa ser protegido do Hamas", disse a representante americana na ONU Nikki Haley.

O embaixador francês, Francois Delattre, advertiu que a incapacidade do Conselho para adotar uma resposta diante da crise de Gaza prejudica as Nações Unidas.

O silêncio "não é aceitável para as populações palestina e israelense, afetadas por este conflito. Não é aceitável para o mundo, que está nos observando", disse.

AFP

Foto: Um campo isralense perto da fronteira com Gaza pega fogo após lançamento de artefatos por palestinos, em 15 de maio de 2018 em Mefalsim

Pompeo e general norte-coreano preparam cúpula Trump-Kim


O braço direito de Kim Jong Un, general Kim Yong Chol, e o chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, jantaram nesta quarta-feira, em Nova York, em um encontro destinado a preparar a cúpula entre Donald Trump e o líder norte-coreano.

Os dois homens, que já tinham se reunido duas vezes na Coreia do Norte, mantiveram durante a tarde um encontro em um prédio próximo à sede da Organização das Nações Unidas.

Pompeo esteve acompanhado por Andrew Kim, chefe da seção para a Coreia do Norte da CIA.

Posteriormente, Pompeo e o general participaram de um jantar de trabalho no apartamento de um diplomata americano no leste de Manhattan, que durou aproximadamente uma hora e meia.

Para a quinta-feira estão programadas outras duas reuniões.

Ao sair do jantar, Pompeo disse a jornalistas que o encontro "foi genial" e revelou que comeram "carne americana".

O general Kim Jong Chol é o representante de mais alto nível da Coreia do Norte a pisar em solo americano nos últimos 18 anos, desde a visita do vice-marechal Joe Myong Rok, que se reuniu em 2000 com o presidente Bill Clinton.

O objetivo dos encontros será a conclusão do planejamento da cúpula prevista para 12 de junho em Singapura e acelerar os preparativos, uma semana depois de Trump ter escrito a Kim Jong-Un para comunicar a suspensão da cúpula por causa da "hostilidade" do governo norte-coreano.

Kim Yong Chol, vice-presidente do comitê central do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte e que 2009 a 2013 esteve à frente do serviço de espionagem do país.

Desnuclearização

Kim Yong Chol é alvo de sanções americanas desde 2010. Para sua chegada a Nova York essas sanções provavelmente foram suspensas. "Imagino que o necessário tenha sido feito", se limitou a comentar a respeito a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert.

No domingo, os negociadores americanos, liderados pelo embaixador de Washington nas Filipinas, Sung Kim, começaram a se reunir com seus homólogos norte-coreanos na localidade de Panmunjom, na zona desmilitarizada que separa as duas Coreias.

O secretário-geral adjunto da Casa Branca, Joe Hagin, se encontra em Singapura visando os preparativos logísticos da cúpula. Um fotógrafo da AFP pôde ver nesta terça-feira Kim Chang Son, um assessor muito próximo de Kim Jong-Un, na cidade-estado da Ásia.

Finalmente, Trump se reunirá em 7 de junho na Casa Branca com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, pouco antes da cúpula do G7 no Canadá.

Os diplomatas têm apenas duas semanas para concluir a preparação logística da cúpula e definir a agenda.

Washington exige de Pyongyang uma "desnuclearização completa, verificável e irreversível" antes de qualquer suspensão das pesadas sanções internacionais que afetam a Coreia do Norte em represália por seus programas nuclear e balístico.

Mas Pyongyang nunca aceitou pagar esse preço, considerando seu arsenal uma garantia da sobrevivência do regime.

Kim Yong Chol é parte do entorno próximo de Kim Jong-Un e desempenhou um papel importante na aproximação diplomática que levou à distensão na península coreana nos últimos meses. Em fevereiro, na cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos da Coreia do Sul, estava sentado atrás da filha de Donald Trump Ivanka.

Além disso, acompanhou Kim Jong-Un em suas duas viagens recentes à China.

O general é uma figura muito controversa na Coreia do Sul, onde o acusam de ter autorizado o ataque, em 2010, contra a corveta sul-coreana "Cheonan", incidente no qual 46 marinheiros morreram. A Coreia do Norte nega ser responsável pelo caso.

Legisladores da oposição sul-coreana protestaram em fevereiro contra a visita de Kim, a quem chamaram de "criminoso de guerra diabólico".

AFP

Foto: General norte-coreano Kim Yong Chol (centro) em Paju, na zona desmilitarizada, em 27 de fevereiro de 2018

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