quinta-feira, 15 de maio de 2025

Portugal | A POLÍTICA EM MODO DE BATALHA NAVAL

Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias, opinião

1. E de repente, a quatro dias das eleições legislativas, a notícia política mais importante do dia nada tem a ver com a governabilidade do país, com promessas de subir pensões ou baixar impostos ou com garantias de um Serviço Nacional de Saúde sem listas de espera e médicos com fartura. A notícia do dia é que foi oficializada, pelo próprio, a candidatura de Gouveia e Melo à Presidência da República. E pelo menos numa afirmação o almirante foi certeiro, era "um segredo muito mal guardado". Quanto ao resto, foi um desastre de comunicação, esgotando-se na explicação para o anúncio apressado: a necessidade de enviar os convites para a cerimónia oficial, que será a 29 de maio. Se a política fosse um jogo de batalha naval, poderíamos dizer que o almirante acertou na água. É que nem ao menos num submarino.

2. Está a terminar a campanha eleitoral. Um alívio, certamente, para a maior parte dos portugueses. Não deixará saudades pela profundidade, como se confirma pelo tema que domina esta reta final. Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos reivindicam a necessidade de uma vitória, não pelo valor das suas propostas, Deus nos livre, mas em nome da estabilidade, conceito que na verdade não rima com o percurso político recente de nenhum deles. O social-democrata por se ter envolvido numa trapalhada que atirou o país para eleições apenas um ano depois das últimas. O socialista por ter sido figura central das frequentes trapalhadas de um Governo que desperdiçou uma maioria absoluta (com o empurrão final, é verdade, a ser dado pelo Ministério Público). É por isso divertido ouvi-los em pungentes apelos ao voto útil. Porque é difícil perceber a quem é que isso possa ser útil. Dentro de dias saberemos se foram tiros na água, ou se algum acertou por acaso no porta-aviões.

* Diretor-adjunto

Sem comentários:

Mais lidas da semana