sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Brasil | Os ratos que saem dos porões da civilização

Paulo Guedes, o economista da Escola de Chicago, que Bolsonaro escolheu para orientar a economia brasileira
José Martins [*]

As classes dominantes brasileiras e imperialistas estão em festa. Mandaram muito bem no espetáculo da democracia e da eleição encerrada na data de ontem.

Mais do que eleger o candidato com a sua cara, seu nível mental e cultural, elas conseguiram outras importantes vitórias. Efêmeras, é verdade. Mas pouco importa. Na política, muito mais que na economia, é o imediato que conta.

E exatamente neste imediato do processo que os parasitas conseguiram a grande vitória política de transformar uma eleição totalmente irrelevante para a solução dos problemas nacionais em um alucinante espetáculo de alienação da sociedade civil. Com cenas chocantes para os espíritos menos preparados para a realidade democrática.

A burguesia impôs sua agenda política a todos os partidos democráticos e demais organizações burocráticas da sociedade civil. Inclusive seus notórios colaboracionistas da esquerda, que sempre legitimam bovinamente a agenda burguesa.

Por mais de seis meses, desde a grande greve dos caminhoneiros, em Maio, a luta de classes ficou abafada por imunda e inócua disputa eleitoral.

Mas, no final da trama, que prometia à família burguesa pelo menos a esperança de recuperação de sua dilacerada governabilidade, a montanha pariu um rato.

O espetáculo da eleição do novo presidente da República foi na verdade uma armadilha para controlar os movimentos da classe trabalhadora, mas que ainda dará incontornáveis contrariedades para as próprias classes que a montaram.

O custo será alto para a burguesia. Seus próprios ideólogos melhor preparados confessam que o folclórico candidato vencedor das eleição para presidente da República foi uma surpresa altamente indesejável.

Um salto no escuro. Esse foi o título do editorial, no dia seguinte à eleição, de O Estado de São Paulo, o mais tradicional e mais programático jornal brasileiro das classes dominantes imperialistas e nacionais.

Veja uma ilustrativa passagem de má consciência burguesa frente ao nascimento desse mais novo filho bastardo da democracia:

"Se há um ano alguém dissesse que Jair Bolsonaro tinha alguma chance de se eleger presidente da República, provavelmente seria ridicularizado. Até pouco tempo atrás, o ex-capitão do Exército era apenas um candidato folclórico, desses que de tempos em tempos aparecem para causar constrangimentos nas campanhas – papel cumprido mais recentemente pelo palhaço Tiririca, aquele que se elegeu dizendo que "pior do que está não fica". Pois a "tiriricarização" da política atingiu seu ápice, com a escolha de um presidente da República que muitos de seus próprios eleitores consideram completamente despreparado para chefiar o governo e o Estado. O eleitor escolheu Bolsonaro sem ter a mais remota ideia do que ele fará quando estiver na cadeira presidencial. Não é um bom augúrio, justamente no momento em que o País mais precisa de clareza, competência e liderança." (editorial de O Estado de São Paulo, 29/10/2018) .

Defrontamo-nos aqui com um problema de ponto de vista de classe. Embora os ideólogos do jornal procurem esconder em seu editorial, a verdade é que o rebento Jairzinho nasceu com a cara da burguesia brasileira, seu mesmo nível mental e cultural.

De Macunaíma a Tiririca, a alma burguesa brasileira sempre será representada com muita distinção. Principalmente a sua incontrolável índole autoritária entranhada geneticamente em todas as elites cucarachas (e brancas, por supuesto ) da América Latina.

Entretanto, o problema dos poucos analistas políticos sérios da burguesia, como os que escreveram o editorial doEstadão acima, é saber, neste momento, as possibilidades de sobrevivência do governo desse novo Tiririca com cara de miliciano fascistóide.

Melhor dizendo, o escroto grupo de milicianos eleito democraticamente no último domingo e que ocupará o Palácio do Planalto poderá se manter na nova residência por muito tempo? Esse é o problema central da situação política.

Se o problema fosse apenas político, ideológico, etc, a resposta seria sim. Imaginando – como fazem os "analistas políticos" e seus fantasiosos cenários para o novo governo – que o processo político atual fosse mera sucessão de governos, como ocorria desde 1988, esse "novo governo" poderia curtir o palácio real pelo menos até o fim do seu mandato, sem grandes rupturas institucionais.

Acontece que a realização dessa possibilidade absolutamente irreal de normalidade politica depende de duas coisas solidamente materiais. A primeira é o que fará (ou não fará) esse indivíduo "completamente despreparado para chefiar o governo e o Estado", para usar a mesma avaliação do Estadão, para tirar a economia do buraco.

O fato determinante para quem vê criteriosamente a economia brasileira é que o ministro da Economia do novo governo aplicará exatamente a mesma política econômica de austeridade dos governos Dilma/Levy e Temer/Meirelles. Uma mera e trágica continuidade.

Sem tirar nem por. Apenas, talvez, com algumas pitadas a mais de requintes de crueldade. No resto, apenas o conhecido saco de maldades já conhecido de todo mundo.

Reforma da Previdência; reforma tributária para aumentar a taxação sobre os assalariados pobres e para diminuir sobre a alta classe média e grandes fortunas; manutenção do teto de gastos correntes da União; mais cortes de gastos sociais e de infraestrutura; mais arrocho salarial no setor público e privado; mais privatizações (na verdade doações) do que ainda restam de empresas estatais como Petrobras, Caixa, Banco do Brasil, etc. Esse saco de maldades não tem fim…

Entretanto, até os próprios generais que já tutelam o novo governo – começando pelo seu vice-presidente eleito pelo voto democrático e popular – já afirmaram que sua governabilidade dependerá dramaticamente da solução do problema econômico.

Concretamente falando: a economia precisa voltar a crescer bastante e o desemprego diminuir muito mais. Senão a ingovernabilidade política aumentará celeremente. E a impopularidade do novo presidente cairá em menos de doze meses para os mesmos níveis do simpático, elegante e admirado Sr. Michel Temer.

É exatamente por isso que os meios de comunicação (imprensa, comentaristas econômicos, instituições econômicas imperialistas, sindicatos patronais, grandes consultorias, bancos, financeiras, etc.) já aumentaram o volume de suas desafinadas bandas, da sua barulhenta torcida organizada pela recuperação da economia.

A partir dos resultados da eleição recomeça a batalha mediática para propagandear que "a economia já apresenta sinais de recuperação", que "a confiança dos investidores externos está voltando" e toda aquela ladainha de bobagens que todo mundo já conhece de outros carnavais.

Tudo exatamente igual ao sangrento carnaval que fizeram no atual governo dos falastrões Temer e Meirelles. De novo teremos que travar a mesma batalha teórica e prática para demonstrar que não conseguirão tirar a economia do buraco que essa tenebrosa dupla meteu.

A Crítica da Economia, com o claro, preciso e invariante ponto de vista da classe operária, já venceu essas batalhas teóricas nos dois últimos governos. Vencerá também agora.

Comprovaremos mais uma vez que os economistas dos parasitas do sistema são incapazes teórica e praticamente de recuperar a economia brasileira. Que eles vão continuar quebrando a cara ao aplicar as mesmas diretivas econômicas dos dois últimos governos. E que a economia continuará estagnada, aguardando outros acontecimentos externos para então desabar profundamente.

Não há nenhuma possibilidade que qualquer governo garanta a governabilidade do Estado brasileiro aplicando essa inevitável e parasitária política econômica. Uma política de muita simplicidade: arrocho sobre a população trabalhadora e de "austeridade fiscal" para salvar o pagamento dos juros da dívida pública aos trinta milhões de parasitas (menos de 15% da população do país) que compõem as famílias das classes dominantes brasileiras.

Como se essa barreira material à ingovernabilidade ainda fosse insuficiente, a segunda coisa também solidamente material que impedirá a hospedagem do grupo de milicianos no Palácio do Planalto por muito tempo é que a explosão dos mercados externos está mais madura do que nunca.

É aquele acontecimento externo que mencionamos acima. É por isso que, não por acaso, portanto, analisamos continuamente em nossos boletins essa situação do mercado mundial. Nos dois últimos, por exemplo.

A aproximação deste robusto choque global do capital, que deve ser o mais devastador dos últimos setenta anos, fechará a tampa do caixão do podre Estado brasileiro.

E interromperá crucialmente o esporte favorito da burguesia brasileira de continuar matando a classe operária que é empregada nas fábricas, minas e plantações, que é desempregada nas noites e noites do trágico vazio da civilização, que passa fome com seus filhos, que morrem de "balas perdidas" dos guardiões da ordem e do progresso.

A impotência das classes dominantes brasileiras para escapar à vingança da sua própria economia – exatamente neste momento em que a "tiriricarização" da política brasileira atingiu seu ápice, para repetir o conceito perfeitamente elaborado no editorial do Estadão – abrirá reais e promissoras possibilidades de que os verdadeiros revolucionários possam abandonar para sempre as ilusões democráticas burguesas, e cerrar fileira em pelotões de proletários unidos no caminho da revolução.

Resumindo o que foi escrito, transcrevemos abaixo mensagem recebida de uma jovem revolucionária, na noite de ontem, que, evidentemente, nos inspirou bastante para escrever este boletim:

"Os ratos hoje estão em festa por terem armado a ratoeira…

…só aguardando esses risos na hora em que eles caírem na própria armadilha." (Caroline Franco) 

30/Outubro/2018

[*] Economista.

O original encontra-se em criticadaeconomia.com.br/os-ratos-que-saem-dos-poroes-da-civilizacao/ 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

Brasil | A metáfora que explica a trajetória de Sergio Moro


Sergio Moro começa a receber os despojos de uma rapina que está longe de acabar. Juiz de primeira instância percebeu entre seus surtos de grandeza que estaria na política, e não no direito, a sua maior oportunidade de brilhar num país sedento de salvadores

Carlos Fernandes, DCM*

Minha avó costumava dizer que formiga quando quer voar, cria asas. Essa metáfora da sabedoria popular talvez seja a que melhor explica todos os esforços de um juiz outrora desconhecido que acabou sendo alçado à incompatível condição de herói nacional.

Inebriado pelos holofotes do qual foi imediatamente submetido pela grande imprensa, o juiz de primeira instância percebeu entre seus surtos de grandeza que estaria na política, e não no direito, a sua grande oportunidade de brilhar num país sedento de salvadores.

A operação Lava Jato, que a princípio não passava de tão somente mais uma investigação entre tantas outras, transformou-se no seu grande passaporte para o estrelato.

Infestada de políticos corruptos de todas as estaturas e agremiações partidárias, não tardou para que o magistrado enxergasse na específica criminalização do PT, o foco de toda a sua atuação para que os despojos de uma grande rapina também lhe fosse devido.

Unidos a fome com a vontade de comer, o partidarismo ululante de Sérgio Moro achou o respaldo necessário para que abdicasse de vez da condição de juiz e passasse a engrossar as fileiras dos seus detratores.

A caçada que se deu a partir daí ao grande troféu a ser exibido nas primeiras páginas dos jornalões, escandalizou juristas de todas as tendências garantistas ao redor do mundo.

Moro sabia que se Lula não fosse condenado, preso e inabilitado de concorrer às eleições que se avizinhavam, o seu trabalho não estaria completo e sua parte no butim não lhe seria dado.

Aqui cabe um esclarecimento preliminar. Dinheiro, por si só, é para principiantes, o que a malta que tomou de assalto a presidência da República queria mesmo era o poder, fonte, entre tantas outras coisas, de recursos financeiros praticamente inesgotáveis.

Definidos dessa forma os despojos a serem faturados, bastaria a legitimação do golpe de 2016 via processo democrático.

A eleição de Jair Bolsonaro é o resultado maior, até aqui, de todo o trabalho realizado pela “República de Curitiba” encabeçada pelo sempre lustroso Sérgio Moro.

Mercadoria entregue, chega a hora da recompensa.

Os tratamentos para o seu cargo – acordados ainda em período de campanha como deu com a língua nos dentes o vice-presidente eleito, Hamilton Mourão – escandalizaram, mais uma vez, o universo jurídico nacional e internacional.

A conversa oficial e a consequente e completamente esperada aceitação do magistrado das alterosas, coroaram um acordo prévio firmado há um bom tempo atrás.

Moro, para quem em sua primeira entrevista pós-Lava Jato havia afirmado categoricamente que “jamais entraria para a política”, estreará como um super-ministro no mais autoritário e intolerante governo brasileiro desde o fim da ditadura militar de 64.

Sua atração irremediável pelas câmeras poderá a partir de agora ser saciada diariamente ao lado de baluartes da corrupção nacional como Magno Malta e Onyx Lorenzoni, além, é claro, do seu agora superior imediato, o próprio Jair Bolsonaro.

Como se vê, o voo da formiga se mostra promissora e mira outros horizontes. O STF, cujo o presidente eleito poderá ter a oportunidade de nomear dois novos ministros em seu mandato, é uma de suas metas mais escancaradas.

Mas a ninguém pode ser dado o direito de duvidar: uma vez político, sempre político. E como, provado está, fazer cumprir a lei não lhe apetece, ser um dia presidente é sempre uma alternativa a se avaliar.

E enquanto tudo isso acontece, o mais famoso preso político da atualidade continua a cumprir a sua prisão injusta (e agora oficialmente comprovada sobre a que termos se deu) sob os olhares estupefatos de toda a comunidade jurídica mundo afora.

É realmente atordoante a inacreditável capacidade desse país de se reinventar para que se apresente sempre como um terrível e melancólico território fadado ao empoderamento de uns poucos ao custo da mais absoluta expropriação e pobreza de seu povo.

E como tudo nesse país sempre pode piorar, é ao som dos aplausos dos ignorantes que a rapina continua e não tem data para acabar.

* em Pragmatismo Político

Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook

Brasil | Moro, juiz sem credibilidade. Ministro por recompensa

Dia de todos os santos finados, não é? Um feriado que não é mas que está a valer como tal para alguns. Desfrutem porque a vida é curta e filha de uma megera que merece ser arrastada por um possante cavalo a galope. 

Há os que fazem fim de semana prolongado devido a terem feito “a ponte” por benesse do feriado de ontem, dia 1 de Novembro. E há os que até nem sabem o que é isso de parar de trabalhar, dos feriados e fins de semana. E mesmo assim são sempre pobres por via dos salários de miséria que anafados e cheirosos patrões lhes entregam no final dos meses com aqueles olhos penosos por terem de se desfazer de umas míseras centenas (p’rái 4,5 ou no máximo 6). São os feios, porcos e maus do empresariado que abunda mas se refastela na permanente exploração que lhes alimenta os vícios e as chulices. Não são todos os patrões mas é facto que esses tais são demasiados. Está mais que provado.

Adiante que se faz tarde.

Então e o que dizem sobre as “novidades” acerca daquele trapaceiro apelidado de Moro e se embrenhou no golpe fascista que vai de vento em popa lá pelos brasis?

Moro, o trapaça de juiz que “encanou” Lula e outros daquela coisa chamada “lava jato” afinal vai ser um recompensado super ministro do super fascista, racista e outros istas e ismos que dá pelo nome de Bolsonaro. E esta, hem!? Isso não é novidade, é a paga. A retribuição pelos “trabalhos” de Moro. Golpistas mesmo, hem!

No Curto de hoje, de autoria do jornalista do Expresso, Valdemar Cruz, vão desembocar na abertura que salienta categoricamente que “Moro não resistiu a dar o golpe de misericórdia na credibilidade da justiça brasileira”. Mas que credibilidade, senhor Valdemar Cruz? Isso já foi, se é que alguma vez foi digna de credibilidade, a justiça brasileira. Quanto a Moro está tudo visto. O mundo olha-o abaixo de uma minhoca conspurcada, malcheirosa e indigna dos da sua espécie.

Que houve nepotismo e corrupção durante os governos do PT não ponhamos dúvidas, mas também Moro e outros “justiceiros” aproveitaram os erros e a boleia para empolar e usar lupas aumentativas das realidades que poderiam cair justificadamente nas teias de violação das leis e merecedoras de serem submetidas à apreciação da Justiça. Não de “justiceiros” de pequenez de carater e, também por isso, imerecidos saladistas juízes-políticos que nos seus âmagos ainda devem idolatrar fascistas europeus, latino-americanos e de outras paragens deste planeta. Além do mais a corrupção, os roubos, vão acelerar - como é carecteristica da direita. Sempre assim foi.

Que raio. Lá estamos nós novamente a fazer pronuncia sobre o Brasil da pequenez que ficamos a poder mirar no espelho com a tristeza da oportunidade confirmada eleitoralmente e que revelou a iliteracia, as manipulações religiosas, a beatice tresloucada, bacoca e fanática, a ausência de consciência de classe e a estupidez com o dobro do tamanho do tal Pão de Açúcar de braços abertos para, talvez, enxotar insectos da espécie de Moros, Bolsonaros e outros que tais.

“Puxa vida! Não enche mais o saco, rapaz!” Como dirão além Atlântico. Por mares tão poluídos e navegados.

Adeus. Depois de todas as nuvens negras, da repressão, da mortandade institucionalizada, de todas as desgraças do povoléu... O sol brilhará para todos vós - é o que desejamos.

Até ao nosso regresso. Adeus Pobre Brasil. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto


Moro. Num País Tropical

Valdemar Cruz | Expresso

Já está. Moro não resistiu a dar o golpe de misericórdia na credibilidade da justiça brasileira. Demasiado cheio de si próprio para evitar cair na tentação de dar o salto que ,em nome da decência, não devia, não podia dar, assume em definitivo o papel de justiceiro. De caudilho providencial. De iluminado num país de trevas. Sérgio Moro vê-se a si próprio como o guardião mor das virtudes abastardadas. Para isso, e ao aceitar o cargo de ministro da Justiça, junta-se a uma encarnação tosca de aprendiz de fascista.

Moro é o juiz que tripudiou todas as regras para precipitar a prisão de Lula da Silva, de modo a impedi-lo de se candidatar a Presidente da República do Brasil quando liderava todas as sondagens. Abriu assim uma larga estrada para a vitória de Bolsonaro. O mesmo a propósito de quem, na sua última edição, e num editorial raro, o Expresso sentiu a necessidade de reafirmar o seu posicionamento em defesa dos valores essenciais da democracia e “contra o fascismo”. Moro abandona 22 anos de magistratura para se colocar ao serviço do homem que mais beneficiou com as suas decisões na “Operação Lava-Jato”. Tudo isso o descredibiliza.

Gleisi Hofman, presidente do Partido dos Trabalhadoresdenunciou o que apelidou como a “fraude do século”.

Moro agora em transição para ministro, é o mesmo Moro que hás anos, numa entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, negava com todas as letras a hipótese de poder vir a entrar na política. “Não, jamais. Jamais. Sou um homem de Justiça e, sem qualquer demérito, não sou um homem da política", disse. Como em política dois anos podem ser muito tempo, em junho do ano passado, em entrevista a Christiana Martins, do Expresso, quando questionado sobre se mantinha a recusa em entrar na política, respondeu: “Sim, já repeti várias vezes. Não existe nenhuma possibilidade”. Como definição de caráter, estamos conversados.

A jornalista, escritora e documentarista brasileira Eliane Brum, multipremiada, inclusive com o Inter American Associated Press Award, escreveu um twiitt a dizer que a decisão de Moro “é indecente de tantas maneiras diferentes que precisaremos encontrar palavras novas. Por enquanto, escolho uma: obscenidade. O ego de Sérgio Moro ainda vai levá-lo à latrina da História”.

O anúncio da participação de Moro no Governo de Bolsonaro fez a Bolsa de Valores de São Paulo bater recordes históricos. Os investidores mostraram-se eufóricos com o nome do novo ministro.

Tudo isto é Moro. Num país tropical que ameaça transformar-se num novo tipo de República das Bananas.

OUTRAS NOTÍCIAS

A EDP Distribuição não estava a aplicar a lei para proteção da floresta em Pedrógão Grande, noticia a TSF. A empresa defende que não podia aplicar a legislação e culpa o Plano Municipal de Defesa da Floresta contra Incêndios (PMDFCI), que neste concelho estava caducado, à data do fogo, há seis anos.

A partir de 2019, a Proteção Civil e as câmaras municipais vão passar a poder enviar alertas às populações, no caso de existirem riscos graves para a saúde pública, em particular em situações de acidentes graves e catástrofes.

A associação pediátrica do Hospital de São João, no Porto, está a estudar a apresentação de uma queixa-crime contra quem mandou “parar a obra da ala pediátrica” daquela unidade. A queixa poderá incluir políticos, por manterem crianças internadas em contentores “miseráveis” desde 2011.

O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, é ouvido na Assembleia da República, esta sexta-feira, durante a apreciação na especialidade do Orçamento do Estado para 2019. Os professores vão concentrar-se no exterior e realizar um plenário de protesto.

O Bloco de Esquerda quer saber o que se passa com a regulamentação da canábis. Com a lei aprovada em junho e publicada a 18 de julho, o prazo de regulamentação, de 60 dias, foi largamente ultrapassado. .

A Torre do Tombo vai comprar um pergaminho do século XIV no sítio de vendas OLX. A notícia é do Público e refere que o documento regista a escritura da entrega do Castelo de Lisboa ao Conde de Barcelos em Janeiro de 1383.

Se estiver na região do Porto, não perca o espetáculo que vi na noite de ontem no Teatro Rivoli. "A Love Supreme" é um quarteto criado pelas coreógrafas belgas Salva Sanchis e Anne Teresa De Keersmaeker. Keersmaeker. Até domingo, tem no Teatro do Campo Alegre "Boudoir - 7 Diálogos Libertinos", de Martim Pedrosa/Nova Companhia, a partir de "A Filosofia de Alcova", do Marquês de Sade.

Helena Ramos, apresentadora da RTP, morreu ontem aos 64 anos. Era uma das caras mais conhecidas do canal público. Morreu vítima de um cancro contra o qual lutava há quasecinco anos.

LÁ FORA

No Dia Internacional de Proteção aos Jornalistas não será desajustado recordar como Bolsonaro está empenhado numa campanha de descredibilização e ataque aos principais órgãos de comunicação social brasileiros. Em linha, de resto, com a atuação de Donald Trump.

Na Foreign Affairs está um artigo sintomaticamente intitulado “Trumpismo chega ao Brasil”, no qual se fala do momento em que perante apoiantes que gritavam “EUA! EUA!”, Bolsonaro, “quebra uma tradição de independência”, vira-se e saúda “uma imagem de TV com uma bandeira americana a ondular”. Na esteira de Trump, já anunciou a mudança da embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém.

Donald Trump revelou ter dito aos militares destacados para a fronteira com o México que se os imigrantes da América Central lhes atirarem pedras, devem agir como se as pedras fossem "espingardas".

O novo governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel afirmou à imprensa brasileira que a melhor maneira de combater a criminalidade no Estado é matar os "bandidos que estejam de arma". A polícia, disse, “vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e... fogo! Para não ter erro".

Os EUA anunciaram novas e "pesadas" sanções contra a Venezuela, acusada de fazer parte, com Cuba e a Nicarágua, de uma "troika da tirania" na América Latina.

A Toyota vai chamar à revisão mais de um milhão de automóveis em todo o mundo devido a um problema nos "airbags" que podem inflar sem haver um choque ou não funcionar em caso de acidente.

A Ryanair está a aplicar, desde ontem, dia 1 de novembro, uma taxa de cinco a oito euros para permitir a entrada de bagagens de mão na cabine dos seus aviões. A empresa alega que pretende, assim, diminuir os atrasos no embarque de passageiros. Até agora, levar na cabine malas até dez quilos era gratuito.

PRIMEIRAS PÁGINAS

Saúde vai telefonar a 65 mil idosos para avaliar a sua “fragilidade” – Público

Fundos europeus fechados na gaveta há cinco anos – JN

“Bomba.relógio na habitação” – I

Valor das pensões antecipadas caiu 10% em dez anos – Negócios

Despedimento (de Peseiro) custa 800 mil ao Sporting – Correio da Manhã

Governo lançará um plano de choque contra o desemprego juvenil– El País

Salvini devora Di Maio. Para os italianos é ele o verdadeiro chefe do governo – La Republicca

Comparando pedras com fuzis – Trump aumenta a retórica anti-imigrante na casa Branca – The Guardian

Juiz que derrubou Lula premiado por Bolsonaro – Libération

Trump fez um discurso falso sobre a imigração na casa Branca – New York Times

FRASES

“O único objetivo de Centeno é reduzir o défice”. Manuela Ferreira Leite, ex-líder do PSD, na TVI

“Não me vejo a ocupar as Finanças”. Vieira da Silva, ministro do Trabalho, na TSF

“É este tipo de intolerâncias que cria os Bolsonaros”. Manuel Alegre no Público a propósito de declarações da ministra da Cultura sobre touradas

“Os alimentos orgânicos não são, nem mais seguros, nem mais nutritivos”. Bernhard Url, diretor da Agência Europeia de Segurança Alimentar no El País

O QUE ANDO A LER

A primeira figura da literatura mundial a sublinhar a importância de um bom serviço de informações foi Deus. A afirmação, embora possa parecer atrevida, tem a sustentá-la um imenso saber acumulado por Christopher Andrew, antigo presidente da Faculdade de História da Universidade de Cambridge e o primeiro historiador do MI5, o célebre serviço secreto inglês. É com aquela afirmação que abre o seu monumental “O Mundo Secreto”, cujo primeiro volume acaba de ser editado pela D. Quixote, e promete conduzir-nos através de uma fascinante viagem ao universo dos espiões, desde a Bíblia até a atualidade.

Embora ainda vá no início de uma leitura longa, deu já para perceber duas ideias centrais defendidas pelo autor. Desde logo a constatação de que a espionagem vem de tempos imemoriais. A primeira menção literária à espionagem aparece no Livro do Êxodo, quando Deus ordena a Maomé que envie espiões para as terras de Canaã.

Depois põe a nu a surpreendente ignorância dos serviços secretos sobre o seu próprio passado, o que terá feito com que estes homens cuja especialidade é roubar segredos, como dizia um antigo diretor da CIA, tenham passado o tempo a inventar a roda. Por exemplo, os historiadores e investigadores que decifraram as transmissões secretas de Hitler ignorariam que antecessores seus tinham já decifrado os códigos de Filipe II e Napoleão. Quando os militares dos EUA usam a técnica de simulação de afogamento nos interrogatórios a que submetem os prisioneiros do 11 de setembro em Guantanamo, desconheceriam que o processo fora inventado 500 anos anos pela Inquisição espanhola.

Sempre me cativaram as histórias reais de espiões. Sempre me deliciei com os estereótipos difundidos pela literatura e pelo cinema assentes na fábula do bom espião, em geral sedutor, atraente e inteligente, por oposição ao espia do outro lado, por definição carrancudo, mal cheiroso e mau. De alguma forma, como dizia o historiador Sherman Kent, a espionagem era a única profissão que carecia de literatura séria. Christopher Andrew dá um contributo decisivo, não para a melhoria da percepção literária da segunda mais antiga profissão do mundo, mas para que melhor se consiga perceber como a História é também condicionada pelas pequenas histórias tecidas por estes homens e mulheres que fazem do segredo uma profissão e conseguem, por vezes, mudar o curso da História.

Tenha um bom dia e um excelente fim de semana na companhia das muitas leituras proporcionadas pelo Expresso, on line ou em papel.

Portugal | Populismo bancário


Rafael Barbosa | Jornal de Notícias | opinião

Vai por aí uma justa preocupação com o populismo. No princípio, era a preocupação com o populismo de extrema-esquerda que vinha da Grécia. Nos dias mais recentes, é a preocupação com o populismo de extrema-direita que vem do Brasil.

Independentemente das opiniões sobre qual é o tipo de populismo que faz mais estragos, é certo que não tem fronteiras. Nem ideológicas, nem geográficas. Talvez porque uma das principais características do populismo, ou melhor, dos populistas, segundo os entendidos da ciência política, seja o facto de proporem soluções simples para problemas complexos. Coisas do género: a dívida é demasiado grande, não se paga (populismo à grega); há muito crime, atira-se a matar (populismo à brasileira).

Aqui chegados, aproximamo-nos do cerne da questão. Portugal dificilmente será ameaçado por esta praga. Ao contrário, por aqui promovem-se soluções complexas para problemas simples. Veja-se o caso da falência de bancos e o seu impacto nas contas públicas. No Orçamento do Estado para 2019 agora aprovado, lá estão mais 885,8 milhões de euros à conta de sociedades veículo de dois bancos falidos (BPN e Banif). E mais 400 milhões de euros à conta da operação de troca de um banco falido (BES) por um banco quase falido (Novo Banco). Não querendo tornar a explicação sobre a solução demasiado complexa, convém lembrar que o BPN, só até 2016 (diz o Tribunal de Contas), sugou 3,7 mil milhões de euros aos contribuintes.

Quanto à troca do BES pelo Novo Banco, começou por custar 3,9 mil milhões ao erário público. Já depois da venda à Lone Star, deu-se mais uma injeção de 792 milhões dos portugueses. E para o caso de continuar a correr mal, estão assegurados mais 3,9 mil milhões à conta de um tal de mecanismo de capital contingente. Pago pelos do costume. Às vezes apetece ser populista, não apetece? Coisas do género: o banco faliu, que paguem os gestores e os acionistas; houve gestão danosa, que ponham os banqueiros na cadeia.

*Chefe de redação do JN

Leia em Página Global

Angola e Cabo Verde assinam memorando nas áreas dos transportes aéreo e marítimo


Os ministros dos Transportes de Angola e Cabo Verde vão assinar esta sexta-feira, na Praia, um memorando de entendimento nos domínios dos transportes aéreos e marítimos para “definir e consolidar a cooperação nestes sectores estratégicos para os dois países”.

Segundo uma nota do governo cabo-verdiano, o memorando será assinado durante a visita oficial que o ministro dos Transportes de Angola, Ricardo Viegas D'Abreu, realiza sexta-feira a Cabo Verde, a convite do Ministro do Turismo e Transportes e Ministro da Economia Marítima cabo-verdiano, José da Silva Gonçalves.

No horizonte desta visita oficial está “a reabertura das ligações aéreas directas entre Praia e Luanda, incluindo a fixação de uma data para a retomada das operações de voos entre os dois países”, prossegue a informação oficial.

Ricardo Viegas D'Abreu começa o programa da visita com uma audiência com o primeiro-Ministro, Ulisses Correia e Silva, seguida de vários encontros sectoriais focados nos acordos específicos de cooperação e desenvolvimento.

O ponto alto desta visita do governante angolano será a assinatura de um Memorando de Entendimento entre os ministérios dos Transporte dos dois países que “preconiza as áreas específicas e as formas de cooperação em prol do desenvolvimento de programas, projectos e acções concretos nos domínios dos transportes aéreos e marítimos”.

Os programas deverão ser desenvolvidos por “entidades e instituições específicas de cada um dos países, com o objectivo de definir e consolidar a cooperação nestes dois sectores estratégicos para os dois países”.

O memorando de entendimento é válido por um período de cinco anos.

Além deste memorando, serão assinados “os instrumentos de cooperação entre a Cabo Verde Airlines e a TAAG, a Agência da Aviação Civil, e o Instituto Nacional da Aviação Civil (INAVIC) de Angola”.

Cabo Verde | Do islamismo político-terrorista

Islamismo por país
Será que os cabo-verdianos recentemente convertidos ao Islão ambicionam adoptar e impor essas reivindicações, ou estarão completamente equivocados?

Arsénio Fermino de Pina* | A Nação | opinião

Já publiquei vários artigos sobre o islamismo, e volto ao assunto ao saber de patrícios que se têm convertido ao Islão nos últimos tempos. Vou acrescentar, esclarecendo, o que já publiquei das minhas investigações, com factos colhidos na obra do professor jubilado do ISEG e membro da Academia Internacional da Cultura Portuguesa, Adelino Torres, “Vozes do Sul no Mundo Global, África, Médio Oriente e Outros Lugares”, Ed. Colibri, que viveu largos anos num país muçulmano da África do Norte.

A visão retrógrada do islamismo político que transpõe o quadro tradicional do século VII, do tempo dos quatro califas (califa significa representante ou sucessor de Maomé) para a vida moderna do século XXI, esconde, subrepticiamente, fins políticos não explícitos, numa primeira fase, e só serão revelados à luz do dia, geralmente sob a forma violenta, aquando da futura tomada do poder, como aconteceu com o chamado “Estado Islâmico” ou Daesh, no Irão com o Ayatola Khomeini após o derrube do Xá, e no Egipto, após o derrube de Mubarak e eleição de um elemento da seita sunita “Irmãos Muçulmanos”, o que levou as forças armadas a retomarem o poder.

No Islão, o “homem ideal”, o que chamam de “Homo islâmico” é o que representa a submissão total a Deus (Allah), aos preceitos sagrados, a uma religiosidade afinal mutilada. No centro do islamismo político, onde o político é manipulado pelo religioso, está o conceito de Jihad (=guerra santa ou, mais correctamente, “guerra legal”). “No catolicismo, durante a Inquisição, ou no protestantismo, o recurso à violência era claramente identificável com uma deriva, ou como uma traição temporal”.

O problema do islamismo político só se resolverá com drásticas reformas internas nesses países, a começar pela retirada do aparelho educativo das mãos dos religiosos e pela restauração da verdadeira democracia e aplicação de reformas económicas profundas. Se os governantes árabes pudessem aplicar algumas das medidas levadas a cabo por Mustapha Kemal, na Turquia, e Burguiba, na Tunísia, verificar-se-ia então que o “fanatismo” no Médio Oriente se desmoronaria como castelos de cartas. Infelizmente é o contrário que se vê, como, por exemplo, um Erdogan na Turquia a desfazer tudo quanto Kemal construiu, a valorizar o islamismo político, o rei, príncipes e banqueiros milionários da Arábia Saudita a financiarem os movimentos terroristas e o ayatola do Irão a bloquear as ações moderadas do presidente da república.

Esmiucemos um pouco os sustentáculos desse islamismo político e do consequente terrorismo.

A corrente radical do islamismo tem reivindicações peculiares mesmo arrepiantes: regresso a uma ordem social definida pela aplicação da Charia (=direito muçulmano clássico, um corpo de regras jurídicas tratando todos os problemas da vida da sociedade, inspirado em grande parte no Levítico – incompatível com os Direitos Humanos); interpretação literal do Corão e da Charia tal como essa leitura era concebida durante os 3 primeiros séculos depois da Hégira (=expatriação de Maomé de Meca para Medina por volta do ano 622), na Arábia da Idade Média até ao século X; pretensão de estender o conceito de Jihad à eventual reconquista e dominação de territórios não islamizados; exclusão da mulher da vida pública e a sua mutilação genital sistemática (excisão do cliptoris para diminuir ou eliminar o prazer sexual, somente justificável no homem); regresso do sistema do califado e ao delírio medieval de conversão forçada; matança de “infiéis” – os que não são muçulmanos – e de “apóstadas”; exaltação da figura de “mártir” numa interpretação indicada num único versículo do Corão sobre o tema, com a caução da maioria dos ulemas (=doutores da lei); aplicação de castigo corporal previsto na Charia; corte da mão dos ladrões, chicoteamento de ”prevaricadores” que desrespeitam os “bons costumes”; apedrejamento até à morte de adúlteras, etc., etc.

Será que os cabo-verdianos recentemente convertidos ao Islão ambicionam adoptar e impor essas reivindicações, ou estarão completamente equivocados?

O conceito de “mártir” está subvertido no islamismo político-terrorista. Mártir é aquele que é morto, assassinado, por defender as suas crenças, as suas ideias, a sua fé, sem se desdizer, não aquele que, utilizando um cinto de explosivos, o acciona no meio da multidão matando os chamados “infiéis”, inocentes e até crentes, ou que mata os tais “infiéis”, e, a seguir, é morto pela polícia. Estes são terroristas, assassinos, que, mesmo segundo o Islão, vão para o Inferno e não para o Paraíso, ao contrário do que dizem os extremistas islâmicos que garantem que, no Paraíso, aguardam os “mártires” setenta virgens. Um teólogo e historiador tunisino, Mohamed Talbi, esclarece que, afinal, não são 70 virgens; houve erro na tradução do termo, pois significa 70 bagos de uvas. O mesmo Talbi avança que se viveu bem durante dois séculos sem Charia (antes de 804), por ser de aparecimento tardio; somente o Corão é que obriga.

O declínio científico dos países do Médio Oriente começou a partir do século XIV, a seguir à expulsão dos árabes (mouros) do Sul da Península Ibérica e da França, às cruzadas, às ofensivas mongóis (sec. XII-XIII), e, finalmente ao desvio das rotas comerciais para o Atlântico com a descoberta do caminho marítimo para a Índia e a descoberta das Américas.

O domínio colonial europeu do Médio Oriente provocou traumas, agravados pela questão palestiniana e israelo-árabe. Todos esses traumas criaram ressentimentos e um sentimento de vingança que favoreceu o predomínio do religioso sobre o temporal desacreditado, com interpretações enviesadas do Corão e da Sunna (=maneiras de agir do Profeta Maomé) como arma contra os chamados “infiéis”. O tunisino Ali Abderrazig (1888-1947), autor de um trabalho importante sobre os fundamentos do poder político do Islão, é taxativo quanto à necessidade de separar o político do religioso, tanto no Corão como em relação ao próprio Profeta. O mesmo Abderrazig escreve que “a maior parte dos profetas que conhecemos eram unicamente mensageiros de Deus” e não reis, como Jesus, filho de Maria, que era enviado de Deus (para os muçulmanos, Jesus era um profeta, como Maomé, sendo este o último profeta) encarregado da predicação cristã. Isso não o impediu de pregar obediência a César e de crer na sua autoridade – “a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”- que corresponde a uma distinção clara entre o poder temporal e o espiritual.

Intelectuais famosos como Averróis, Avicena ou Ibn Khaldun, entre muitos outros, são ainda negligenciados nos países muçulmanos, e raramente se ouve referência ao facto de o mundo ter tido conhecimento dos sábios e civilizações grega e romana graças aos árabes que pagaram a judeus para essa investigação, traduzindo para árabe textos antigos dessas civilizações, numa época em que os árabes eram muito mais evoluídos e racionais do que os europeus.

Houve alguns reformadores árabes obrigados a calar-se para evitar serem mortos, outros mesmo sacrificados, como o sudanês Mohamed Taha, que tentou, com os seus escritos, reformar a Charia; devido a isso foi condenado à morte, recusando ser agraciado se renunciasse às suas ideias liberais. Foi enforcado em 1985, sendo ministro da justiça do Sudão Hassen Turabi, no governo de Noumeiry. Por esse “feito” este foi felicitado pela Universidade Al Ashar, no Egipto, e pela Liga do Mundo Árabe, que tem a sua sede em Meca. Há tantas barbaridades cometidas pelo islamismo político (terrorista) nos nossos dias que me escuso de os enumerar por serem do conhecimento de todo o mundo.

Parece-me óbvio que as actividades dos terroristas islâmicos exigem dinheiro para serem preparadas, levadas a cabo e para pagar aqueles angariadores dos chamados “mártires” – cerca de 20.000 dólares por cabeça, segundo um ex-islamita que abandonou a causa – e aos familiares destes. Grande parte do zakat recolhido (=esmola semelhante ao dízimo recolhido por certas seitas evangélicas), avaliado em cerca de dez mil milhões de dólares anuais, serve igualmente para financiar o projecto político de propaganda do Islão, assegurar a influência ou dominação da Arábia Saudita wahabita sobre o mundo sunita (seita muçulmana que se opõe ao xiismo) e árabo-muçulmano, alimentar financeiramente organizações integristas e/ou terroristas nas mais diversas regiões do mundo, da América ao Sudoeste da China passando pela Europa, África do Norte, Paquistão, Filipinas, Indonésia e África subsaariana.

Um relatório dirigido ao Conselho de Segurança das Nações Unidas inclui uma lista nominal de sete importantes personalidades sauditas que, comprovadamente financiaram a Al Qaeda, constituído por banqueiros, homens de negócio e envolvimento de importantes instituições de caridade sauditas. Noutro relatório oficioso intitulado “O Financiamento do Terrorismo”, publicado em 2002, um ano após o ataque às Torres Gémeas, o “Council on Foreign Relations of New York”, constava que “é tempo de dizer claramente o que as autoridades oficiais recusam dizer até aqui: desde há anos que pessoas e organizações caritativas instaladas na Arábia Saudita têm sido uma fonte de financiamento para o Al Qaeda”. Os 4.000 príncipes que dirigem o Reino Saudita financiam os movimentos islamitas como outrora se compravam indulgências, como, por exemplo, o milionário saudita Youssef Djamil Abdelatif que ofereceu um milhão de dólares ao movimento terrorista argelino FIS, também apoiado pelo Banco Islâmico Internacional, com o nome, em França, de Groupement Islamique de Frnace. Há tanta pouca vergonha e ganância de banqueiros que, há anos, a União de Bancos Suiços e o Crédito Suiço abriram no Próximo Oriente, na Malásia e Filipinas, Islamic Banks, que funcionavam especificamente segundo as regras do direito muçulmano. O mesmo aconteceu com o Citibank que abriu, em 1996, no Bahrein, a sua primeira “agência islâmica”.

É a Arábia Saudita, com a sua seita religiosa Wahabismo (sunita), que surge cada vez mais como o verdadeiro núcleo duro da nebulosa islamita e terrorista.

Mais de 263 organismos foram oficialmente designados como financiadores do terrorismo e foram excluídos do sistema financeiro mundial, embora a confiscação de capitais de origem criminosa pelos EUA se tenha limitado a bloquear 130 milhões de dólares destinados ou pertencendo a terroristas, parecendo não haver grande vontade política de levar às últimas consequências confiscação de capitais e de pôr de quarentena países como a Arábia Saudita, o Qatar e outros, que toleram, financiam e/ou albergam terroristas, tal o poder financeiro desses países e o comprometimento com estes do país que poderia resolver o problema. Esta realidade leva a que este poder mafioso financeiro consiga colocar os seus homens à frente de Estados, os quais se encarregam de bloquear tudo que não lhes convém. Parece, como afirmou Ana Gomes, eurodeputada portuguesa do partido socialista, vice-presidente da comissão especial Paradise Papers, estar “Cada vez mais convencida de que alguns Estados-membros (da EU) não querem consequentemente combater o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo; querem só fingir que o fazem”.

Apresentam-se cenas televisivas revoltantes de terrorismo de Estado na Síria, Líbia, Iraque, Estado Islâmico (Daech), Coreia do Norte, Birmânia e Irão, jamais no Yémen onde a Arábia Saudita, apoiada pelos EUA, bombardeia cidades matando civis, nem dos julgamentos na Arábia Saudita com enforcamentos e apedrejamento de adúlteras até à morte, numa terra onde a mulher é uma coisa e os Direitos Humanos nunca foram respeitados, isso porque houve um acordo especial entre os EUA e a família Saoud para a criação do Estado da Arábia Saudita (com o nome da família Saoud) quando aí descobriram petróleo, garantindo protecção ao Estado desde que o petróleo só pudesse ser vendido em dólares. Recentemente, dois Estados que decidiram vender o seu petróleo noutras moedas, viram-se invadidos, destruídos e liquidados os seus presidentes, Iraque e Líbia, onde agora reina a anarquia e o caos totais.

Sem bloquear os santuários territoriais onde se refugia o terrorismo e os recursos de que dispõe, prevalecendo os oligarcas no poder numa teocracia islâmica que se sobrepõe aos interesses da comunidade internacional, a ameaça terrorista poderá aumentar, deixando antever o pior.

Parede, Setembro de 2018   
                                                          
*Pediatra e sócio honorário da Adeco

Presidente guineense quer eleições ainda este ano


Autoridades da Guiné-Bissau deverão adiar as eleições legislativas, marcadas para 18 de novembro, mas ainda não se sabe para quando. Presidente José Mário Vaz rejeita, no entanto, que se adie a votação para 2019

O Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, disse esta segunda-feira (30.10) que quer eleições legislativas em 2018 e recusou acusações sobre querer fazer eleições gerais em 2019.

"Isso não corresponde à verdade e não tem fundamento. Eu quero eleições de acordo com a lei", afirmou José Mário Vaz.

O Presidente guineense falava no encerramento da reunião de cerca de nove horas que fez com o primeiro-ministro, partidos políticos, sociedade civil e autoridades eleitorais.

José Mário Vaz pediu um entendimento e um compromisso, porque tem de informar o chefe de Estados da Comunidade Económica da África Ocidental sobre as razões pelas quais o dia 18 de novembro não é possível e apresentar as "soluções encontradas internamente".

Nova reunião na sexta-feira

"A minha proposta é de que façam um esforço durante esta semana para uma solução para o recenseamento e para a data das eleições", disse José Mário Vaz aos intervenientes do encontro.

O Presidente marcou uma reunião para sexta-feira (02.11) para serem apresentadas as propostas para ultrapassar a atual situação.

O processo eleitoral para as legislativas, marcadas para 18 de novembro na Guiné-Bissau, tem sido bastante criticado pelos partidos políticos e pela sociedade civil, principalmente o recenseamento, que começou, atrasado, a 20 de setembro.

Recentemente, o Governo anunciou que o recenseamento eleitoral se deveria prolongar até 20 de novembro e terminar dois dias depois da data marcada para a realização das legislativas, que deverão ter de ser adiadas.

O primeiro-ministro, Aristides Gomes, apresentou ao chefe de Estado três datas possíveis para a realização de legislativas: 16 ou 30 de dezembro e 27 de janeiro.

Agência Lusa | em Deutsche Welle

São Tomé | PR Evaristo é conivente com o vazio de poder que reina no país - oposição


Os partidos da oposição acusam o Presidente da República Evaristo Carvalho de ser conivente com a actual situação de vazio de poder reinante no país. Segundo a oposição, a conivência do Chefe de Estado para com a situação que considera ser de ingovernabilidade, ficou evidente com o pronunciamento de Evaristo Carvalho à nação na quarta – feira.

O discurso do Presidente da República foi considerado pela oposição como, vazio e sem novidades. «Esperava-se que no mínimo o Presidente da República, pudesse informar a nação sobre o paradeiro certo do Primeiro Ministro, que numa atitude de manifesto desprezo e desrespeito pelo nosso povo abandonou o país há 20 dias sem dar qualquer explicação», refere a declaração conjunta das forças da oposição, lida pelo Presidente da coligação, o médico Arlindo Carvalho.

Numa altura em que o país, vive uma situação económica, social e política degradante e sem precedentes, a oposição diz que não encontrou qualquer medida urgente na declaração de Evaristo Carvalho à Nação. «É ainda de se lamentar o facto do senhor Presidente da República no seu pronunciamento ter tentado branquear a responsabilidade do Governo de Patrice Trovoada pela crise energética jamais vivida no país», sublinha a oposição.

«Compreendemos a revolta e indignação dos cidadãos mas apelamos a calma e a ponderação no sentido de se evitar que o património colectivo seja destruído», acrescentam as forças políticas da oposição.

Evaristo Carvalho está a ser conivente com a situação de vazio do poder, denunciou a oposição. «Fugiu claramente as suas responsabilidades ao não cumprir as suas atribuições constitucionais demonstrando assim ser conivente com a intolerável situação de ingovernabilidade que vive o país», frisa a oposição.

A conivência entre o Presidente da República, o partido ADI e o seu Governo rejeitado nas urnas, é sustentada pela oposição, com base no texto constitucional. «Não se vislumbra em parte alguma da constituição política, que a formação do governo esteja condicionada à tomada de posse dos deputados a Assembleia Nacional. Refutamos esta interpretação feita por sua excelência senhor Presidente da República e exortamo-lo a iniciar imediatamente contactos com os partidos políticos para formação do governo de acordo com os preceitos constitucionais, de modo a por cobro ao vaio de poder e as consequências que poderão advir do prolongamento desta situação», conclui a declaração conjunta das forças da oposição.

A conferência de imprensa da oposição, decorreu na sede do partido MLSTP. Jorge Bom Jesus, enquanto líder da oposição, detalhou que o actual governo em funções, «é um governo moribundo em fim de mandato. Esta indefinição permite a este governo assumir prerrogativas que já não deveria ter. Ouvimos dizer que engajamentos em nome do Estado estão a ser assumidos, contratos estão a ser assinados. Há muitos dossiers a serem deslocados, incluindo nas câmaras distritais há computadores a serem levados para casas de pessoas».

Jorge Bom Jesus, deixou claro que o país está nesta altura a saque.«Os que estão neste momento em final de mandato aproveitam para em alguns casos, queimarem documentos e praticarem outros actos ilícitos de saque do Estado. Exortamos o Presidente da República a tomar medidas urgentes para por cobro a esta situação, porque São Tomé e Príncipe já não aguenta mais. O Governo está decapitado», precisou o líder da oposição.

Tensão política persistente após as eleições legislativas, em que o povo retirou maioria absoluta ao partido no poder a ADI.

Abel Veiga | Téla Nón

São Tomé | ADI denuncia xenofobia em STP e diz que Patrice Trovoada é o político mais rejeitado


Abnildo Oliveira(na foto) porta voz do partido ADI residente em São Tomé, à saída do encontro de diálogo com o pastor da Igreja Maná, fez declarações surpreendentes para a maioria dos são-tomenses.

O porta voz residente que lidera o processo de diálogo abrangente da ADI, acusou os são-tomenses de serem xenófobos. « É triste na medida em que nós, num clima de xenofobia, insultamos outras nacionalidades, sobretudo a gabonesa. Nós, do ADI, pedimos a todos os são-tomenses para pararem com esse clima de xenofobia e de ameaças», declarou Abnildo Oliveira, a saída do encontro com o pastor da Maná.

Uma declaração bombástica, tendo em conta que os são-tomenses são tradicionalmente reconhecidos pelos seus visitantes como sendo um povo acolhedor.

Patrice Trovoada, Presidente do partido ADI, nasceu no Gabão, mas foi sempre bem acolhido pelo povo são-tomense. O momento áureo do acolhimento são-tomense ao Presidente da ADI, foi em outubro de 2014, quando vários milhares de são-tomenses, foram receber Patrice Trovoada no aeroporto internacional, e o apelidaram de “Messias”.

A denúncia xenófoba que Abnildo Oliveira fez contra os são-tomenses, parece não ser inocente. Pois, na sua comunicação à nação são-tomense na tarde de quarta feira, o Presidente da República Evaristo Carvalho, também condenou os comportamentos xenófobos, que segundo o Chefe de Estado, marcaram os últimos acontecimentos no país. «instigando à violência, à xenofobia e até mesmo ao ódio contra determinados cidadãos», referiu Evaristo Carvalho, numa das passagens da sua declaração à nação, onde atacou os comportamentos sociais dos últimos dias.

Xenofobia entra assim no discurso político em São Tomé e Príncipe, país cujo povo durante toda a sua história, foi considerado como acolhedor, e de comportamento fraterno para com o estrangeiro.

Os são-tomenses na sua maioria desconhecem quem são os gaboneses que foram vítimas de acções xenófobas no país. São Tomé e Príncipe não tem nenhuma comunidade de imigrantes gaboneses. Mas o porta voz da ADI, que denuncia a xenofobia dos são-tomenses para com gentes de nacionalidade gabonesa, lançou um alerta ao país. «É necessário dizer que muitos dirigentes do MLSTP estiveram em Libreville. É necessário dizer que nós, em São Tomé e Príncipe, temos uma comunidade considerável em Libreville. Vamos imaginar se os gaboneses começarem a enxovalhar ou a insultar ou a escorraçar os são-tomenses em Libreville, por serem são-tomenses», advertiu Abnildo Oliveira.

Sem nunca indicar que cidadão ou cidadãos gaboneses foram vítimas da xenofobia são-tomense, o porta voz da ADI, colocou uma questão preocupante. São Tomé e Príncipe não tem capacidade para acolher os milhares de seus filhos que residem há mais de 40 anos no vizinho Gabão.

Um caso sério, despoletado no Diálogo abrangente da ADI com o pastor da Maná. Mas antes de denunciar a xenofobia são-tomense, o porta voz da ADI, falava do seu chefe. Patrice Trovoada o Presidente da ADI. «É preciso todos termos a consciência de que o político mais odiado nos últimos tempos, em São Tomé e Príncipe, é Patrice Trovoada e o político mais ameaçado em São Tomé e Príncipe, nos últimos tempos é Patrice Trovoada, e o político mais rejeitado é Patrice Trovoada», pontuou Abnildo Oliveira.

Abel Veiga | Téla Nón

Mais lidas da semana