terça-feira, 25 de dezembro de 2018

O cabaz indigesto da UE


Manuel Carvalho da Silva | Jornal de Notícias | opinião

Tudo o que os responsáveis políticos da União Europeia (UE) e os dirigentes do Reino Unido (RU) disseram até agora sobre as suas posições limite na gestão do Brexit é provisório. Uma e outra parte já têm em marcha planos de contingência. Isto significa que o Brexit sem acordo, à partida catalogado de catastrófico, tenderá a ser cada vez menos inconcebível e cada vez mais provável, ou seja, uma coisa no início considerada impensável, torna-se progressivamente possível a partir do momento em que as suas implicações passam a ser encaradas, abertamente discutidas e acauteladas.

O desenvolvimento desses planos de contingência colocará em evidência muitas das contradições e perversões que, no caminhar do "projeto europeu", foram sendo plasmadas nos conteúdos dos tratados, ou adotadas nos objetivos e condicionantes da moeda única (o RU nunca lá esteve), na estruturação de poderes e nas suas práticas políticas. Estamos longe de poder projetar, com um mínimo de segurança, o que poderão ser as perdas para cada uma das partes, sendo que a parte UE é composta por 27 países com condições distintas, logo sujeitos a impactos diferenciados, provavelmente mais pesados para os povos dos países periféricos.

A UE apresenta-se hoje em situação de pré-caos. O Brexit constitui a expressão mais evidente, mas há outras bem fortes: o distanciamento dos cidadãos que se vai aprofundando; o desarmar de condições para a afirmação do Estado social de direito democrático; a acomodação ao avanço de forças da extrema-direita e fascistas; o desrespeito pela soberania dos países que integram a União; a incapacidade de um relacionamento externo equilibrado e de respeito recíproco entre estados e povos.

Apesar do processo do Brexit já estar bem quente, a política dualista dos dirigentes europeus prossegue. Engolem violações de critérios do Pacto de Estabilidade para acomodar as opções tomadas pela Itália e pela França, mas não desencadeiam a sua indispensável reforma. Continuarão a impô-lo a países como Portugal e a tratar-nos com pouco respeito.

Como se sabe, o Governo português deu prioridade ao pagamento antecipado da linha de crédito contraída junto do FMI. Depois de ter amortizado cerca de 82% do capital em dívida, pretendeu agora pagar os restantes 4,7 mil milhões de euros. As autoridades europeias, que deviam apoiar a opção do nosso país, aproveitaram o "direito" de se pronunciar - estabelecido quando o Estado português, em 2011, recorreu ao financiamento da troika - para nos imporem mais cinco condições contratuais gravosas nas linhas de crédito que ainda se mantêm com os credores oficiais europeus. E o nosso ministro das Finanças (o Governo) "acertou", à socapa, tais condições. Tudo isto é indecoroso.

As imposições a que fomos sujeitos têm efeitos negativos imediatos sobre a vida dos portugueses e podem ter outros a prazo. O país, ao ser obrigado a criar uma "confortável" almofada financeira, cativa recursos que poderia usar para estimular a economia, para melhorar a prestação de direitos sociais fundamentais ou repor direitos dos trabalhadores. As condições renegociadas retiram graus de liberdade a uma gestão prudente da dívida em situação de crise dos mercados financeiros, e incluem outros condicionalismos. Num contexto de crise financeira e de subida das taxas de juros no mercado, as consequências podem ser pesadas para a nossa despesa com juros. Aí estão, mais uma vez, os dirigentes europeus a proteger os mercados e os credores oficiais e a castigar o povo.

Ao não submeter as condições desta renegociação à discussão e aprovação do Parlamento, o ministro das Finanças não acautelou o interesse público nacional e não respeitou as instituições democráticas. É escandaloso que se tenha tomado consciência dessa renegociação através da divulgação do acordo que o Parlamento alemão lhe concedeu.

A complexidade e profundidade das implicações do Brexit deviam levar a UE a uma mudança de rumo. Isso não está a ser assumido, nem se perspetiva que a relação de forças existente e aquela que se imagina para depois das eleições do próximo verão propiciem condições políticas para tal objetivo. A União Europeia vai mesmo em direção errada.

* Investigador e professor universitário

Benfica e Guimarães tiveram presentes de Natal, Braga e Sporting nem por isso


Foi no domingo, 23, vésperas de natal e uma prenda das melhores para todos os benfiquistas, com um amargo de boca para o Braga, que perdeu por 6-2 e rumou do segundo para o terceiro lugar na classificação. Também o Sporting perdeu com o Guimarães por 1-0 nesse mesmo dia. Natal um pouco mais triste para os sportinguistas, depois de virem desde há semanas a ter resultados muito positivos. O "menino Jesus" não quis nada com os leões. Vitória de Guimarães em alta e com um bom natal. De Notícias ao Minuto retirámos parciais de textos referentes a ambos os encontros e também o Top 10 da classificação, liderada pelo F.C. Porto, a 4 pontos do Benfica, que se aproxima dos pupilos de Sérgio Conceição. Eis, a seguir, o que conta para a história relativamente aos principais clubes cimeiros. (PG)

Não há fome que não dê em fartura: Benfica goleia e ultrapassa Sp. Braga

Encarnados deixaram para trás as dificuldades sentidas nos últimos jogos e humilharam os arsenalistas por 6-2.

Após quatro jogos consecutivos a vencer por 1-0, o Benfica ‘tirou a barriga de miséria’ e goleou o Sporting de Braga, no estádio da Luz, por 6-2, em partida referente à 14.ª jornada do campeonato nacional.

Pizzi, Jardel, Grimaldo, Jonas, Franco Cervi e André Almeida fizeram os golos desta vitória ‘gorda’ dos homens de Rui Vitória. Já para a equipa de Abel Ferreira, Dyego e João Novais assinaram os golos de honra.

Golos, espetáculo e polémica na Luz

Benfica e Sporting de Braga entraram em campo algo ‘amarrados’, jogando na expetativa e deixando antever que o jogo-cartaz da 14.ª jornada poderia, afinal, não corresponder àquilo que se augurava. Um cenário que, no entanto, acabou por não se confirmar.

Os encarnados foram os primeiros a libertar-se de preconceitos e, na primeira oportunidade de que dispuseram, fizeram o golo. Pizzi recebeu a bola no lado esquerdo do ataque, fletiu para dentro e, com um belo pontapé colocado, inaugurou as ‘hostilidades’ no estádio da Luz.

O golo sofrido acabou por fazer bem aos arsenalistas. Os homens de Abel Ferreira ‘acordaram’ para o jogo e, no espaço de dez minutos, dispuseram de três chances claras para repor a igualdade. Primeiro, Fransérgio atirou uma ‘bomba’ à trave. Depois, Dyego Sousa acertou na malha lateral. E, por fim, foi Odysseas Vlachodimos a fazer a ‘mancha’ para negar o golo a Ricardo Horta.

O Benfica parecia estar metido em apuros, mas, ainda antes do apito para o intervalo, pôde respirar de alívio. Num lance recheado de polémica, Jardel foi às alturas e cabeceou para golo uma bola que parecia já estar controlada por Tiago Sá. Artur Soares Dias auscultou o vídeo-árbitro e acabou por validar o lance.
Uma segunda parte de ‘loucos’

No regresso dos balneários, Benfica e Sporting de Braga protagonizaram um autêntico festival de futebol ofensivo. Grimaldo fez o 3-0 aos 48 minutos, mas Dyego Sousa respondeu de imediato, dando alguma esperança aos visitantes.

Mas os encarnados não queriam das margem para dúvidas e, pouco depois, repuseram a vantagem de três golos. Após uma bela jogada coletiva, Franco Cervi atrasou para Jonas, que, sem oposição, só teve de encostar para o 4-1. Nem dez minutos depois, foi o argentino a assumir os louros, ao desferir um ‘míssil’ que agravou a humilhação aos arsenalistas.

Mas o ‘banquete’ não estava encerrado. Até final, ainda houve tempo para André Almeida marcar um golo de bandeira, e para João Novais reduzir, mais uma vez, para o Sporting de Braga. Que melhor maneira para a despedida ao estádio da Luz em 2018?

Com este triunfo, o Benfica passa a somar 32 pontos e ascende, à condição, ao segundo lugar do campeonato, com mais um ponto do que o Sporting – que parte para o jogo com o Vitória de Guimarães no terceiro lugar – e mais dois do que o Sporting de Braga, que cai para o quarto posto.

Carlos Pereira Fernandes | Noticias ao Minuto (texto parcial) – Imagens Global Notícias


Avalanche ofensiva esbarrou no 'Castelo'. Sporting cai aos pés do Vitória

Golo solitário de Tozé aos 26 minutos valeu o triunfo do Vitória. Sporting cai para o 3.º lugar na I Liga.

Resumo: O Vitória estudou bem a lição e isso viu-se desde o início da partida. A equipa de Luís Castro limitou a construção do Sporting, não deu espaço aos leões nas zonas interiores, e a formação verde e branca ressentiu-se. Apesar do Sporting também querer dominar, não conseguiu e foi o Vitória a controlar a maior parte do primeiro tempo.

O Sporting viu-se em desvantagem, algo que não foi novidade para os pupilos de Keizer. Contudo, a resposta dada foi diferente dos jogos, por exemplo frente ao Aves e diante do Nacional. Os leões não conseguiram criar oportunidades de real perigo nos primeiros 45 minutos e isso deixou o técnico holandês em alerta. Keizer mexeu ao intervalo e lançou Raphinha para o lugar de Jovane para tentar mudar o rumo dos acontecimentos.

Notícias ao Minuto (texto parcial)

Conto de Natal | Maria e José na Palestina em 2010


James Petras

Os tempos eram duros para José e Maria. A bolha imobiliária explodira. O desemprego aumentava entre trabalhadores da construção civil. Não havia trabalho, nem mesmo para um carpinteiro qualificado. 

Os colonatos ainda estavam a ser construídos, financiados principalmente pelo dinheiro judeu da América, contribuições de especuladores de Wall Street e donos de antros de jogo.

"Bem", pensou José, "temos algumas ovelhas e oliveiras e Maria cria galinhas". Mas José preocupava-se, "queijo e azeitonas não chegam para alimentar um rapaz em crescimento. Maria vai dar à luz o nosso filho um dia destes". Os seus sonhos profetizavam um rapaz robusto a trabalhar ao seu lado… multiplicando pães e peixes.

Os colonos desprezavam José. Este raramente ia à sinagoga, e nas festividades chegava tarde para fugir à dízima. A sua modesta casa estava situada numa ravina próxima, com água duma ribeira que corria o ano inteiro. Era mesmo um local de eleição para a expansão dos colonatos. Por isso quando José se atrasou no pagamento do imposto predial, os colonos apropriaram-se da casa dele, despejaram José e Maria à força e ofereceram-lhes bilhetes só de ida para Jerusalém.

José, nascido e criado naquelas colinas áridas, resistiu e feriu uns tantos colonos com os seus punhos calejados pelo trabalho. Mas acabou abatido sobre a sua cama nupcial, debaixo da oliveira, num desespero total.

Maria, muito mais nova, sentia os movimentos do bebé. A sua hora estava a chegar.

"Temos que encontrar um abrigo, José, temos que sair daqui… não há tempo para vinganças", implorou.

José, que acreditava no "olho por olho" dos profetas do Antigo Testamento, concordou contrariado.

E foi assim que José vendeu as ovelhas, as galinhas e outros pertences a um vizinho árabe e comprou um burro e uma carroça. Carregou o colchão, algumas roupas, queijo, azeitonas e ovos e partiram para a Cidade Santa.

O trilho era pedregoso e cheio de buracos. Maria encolhia-se em cada sacudidela; receava que o bebé se ressentisse. Pior, estavam na estrada para os palestinos, com postos de controlo militares por toda a parte. Ninguém tinha avisado José que, enquanto judeu, podia ter-se metido por uma estrada lisa pavimentada – proibida aos árabes.

Na primeira barragem José viu uma longa fila de árabes à espera. Apontando para a mulher muito grávida, José perguntou aos palestinos, meio em árabe, meio em hebreu, se podiam continuar. Abriram uma clareira e o casal avançou.

Um jovem soldado apontou a espingarda e disse a Maria e a José para se apearem da carroça. José desceu e apontou para a barriga da mulher. O soldado deu meia volta e virou-se para os seus camaradas. "Este árabe velho engravida a rapariga que comprou por meia dúzia de ovelhas e agora quer passar".

José, vermelho de raiva, gritou num hebreu grosseiro, "Eu sou judeu. Mas ao contrário de vocês… respeito as mulheres grávidas".

O soldado empurrou José com a espingarda e mandou-o recuar: "És pior do que um árabe – és um velho judeu que violas raparigas árabes".

Maria, assustada com o caminho que as coisas estavam a tomar, virou-se para o marido e gritou, "Pára, José, ou ele dispara e o nosso bebé vai nascer órfão".

Com grande dificuldade, Maria desceu da carroça. Apareceu um oficial do posto da guarda, a chamar por uma colega, "Oh Judi, apalpa-a por baixo do vestido, ela pode ter bombas escondidas".

"Que se passa? Já não gostas de ser tu a apalpá-las?" respondeu Judith num hebreu com sotaque de Brooklyn. Enquanto os soldados discutiam, Maria apoiou-se no ombro de José. Por fim, os soldados chegaram a um acordo.

"Levanta o vestido e o que tens por baixo", ordenou Judith. Maria ficou branca de vergonha. José olhava para a espingarda desmoralizado. Os soldados riam-se e apontavam para os peitos inchados de Maria, gracejando sobre um terrorista ainda não nascido com mãos árabes e cérebro judeu.

José e Maria continuaram a caminho da Cidade Santa. Foram frequentes vezes detidos nos postos de controlo durante a caminhada. Sofriam sempre mais um atraso, mais indignidades e mais insultos gratuitos proferidos por sefarditas e asquenazes, homens e mulheres, leigos e religiosos – todos soldados do povo Eleito.

Já era quase noite quando Maria e José chegaram finalmente ao Muro. Os portões já estavam fechados. Maria chorava em pânico, "José, sinto que o bebé está a chegar. Por favor, arranja qualquer coisa depressa".

José entrou em pânico. Viu as luzes duma pequena aldeia ali ao pé e, deixando Maria na carroça, correu para a casa mais próxima e bateu à porta com força. Uma mulher palestina entreabriu a porta e espreitou para a cara escura e agitada de José. "Quem és tu? O que é que queres?"

"Sou José, carpinteiro das colinas do Hebron. A minha mulher está quase a dar à luz e preciso de um abrigo para proteger Maria e o bebé". Apontando para Maria na carroça do burro, José implorava na sua estranha mistura de hebreu e árabe.

"Bem, falas como um judeu mas pareces mesmo um árabe", disse a mulher palestina a rir enquanto o acompanhava até à carroça.

A cara de Maria estava contorcida de dores e de medo; as contracções estavam a ser mais frequentes e intensas.

A mulher disse a José que levasse a carroça de volta para um estábulo onde se guardavam as ovelhas e as galinhas. Logo que entraram, Maria gritou de dor e a palestina, a que entretanto se juntara uma parteira vizinha, ajudou rapidamente a jovem mãe a deitar-se numa cama de palha.

E assim nasceu a criança, enquanto José assistia cheio de temor.

Aconteceu que passavam por ali alguns pastores, que regressavam do campo, e ouviram uma mistura de choro de bebé e de gritos de alegria e se apressaram a ir até ao estábulo levando as suas espingardas e leite fresco de cabra, sem saber se iam encontrar amigos ou inimigos, judeus ou árabes. Quando entraram no estábulo e depararam com a mãe e o menino, puseram de lado as armas e ofereceram o leite a Maria que lhes agradeceu tanto em hebreu como em árabe.

E os pastores ficaram estupefactos e pensaram: Quem seria aquela gente estranha, um pobre casal judeu, que chegara em paz com uma carroça com inscrições árabes?

As novas espalharam-se rapidamente sobre o estranho nascimento duma criança judia mesmo junto ao Muro, num estábulo palestino. Apareceram muitos vizinhos que contemplavam Maria, o menino e José.

Entretanto, soldados israelenses, equipados com óculos de visão nocturna, reportaram das suas torres de vigia que cobriam a vizinhança palestina: "Os árabes estão a reunir-se mesmo junto ao Muro, num estábulo, à luz das velas".

Abriram-se os portões por baixo das torres de vigia e de lá saíram camiões blindados com luzes brilhantes, seguidos por soldados armados até aos dentes que cercaram o estábulo, os aldeões reunidos e a casa da mulher palestina. Um altifalante disparou, "Saiam cá para fora com as mãos no ar ou disparamos". Saíram todos do estábulo, juntamente com José, que deu um passo em frente de braços virados para o céu e falou, "A minha mulher Maria não pode obedecer às vossas ordens. Está a amamentar o menino Jesus".


Tradução de Margarida Ferreira

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
 

Macau visto de Hong Kong | Constituição chinesa e leis básicas


David Chan* | Hoje Macau | opinião

No início deste mês, a comunicação social de Hong Kong divulgou uma entrevista com o Professor Wang Zhenmin. Professor de Direito da Universidade Tsinghua, Wang Zhenmin afirmou na entrevista que, após o regresso de Hong Kong à soberania chinesa, a Constituição chinesa deverá inevitavelmente vir a ser aplicada com carácter vinculativo. A promulgação da Lei Básica de Hong Kong (LBHK) não teve como objectivo a criação de uma outra “constituição”. A Constituição chinesa aplica-se sempre que na LBHK não exista legislação específica, ou nos casos em que a legislação não seja suficientemente clara. Não houve necessidade de incluir a Constituição chinesa no Anexo III da LBHK, porque esta é, por natureza, aplicável em Hong Kong.

Rao Geping, professor de Direito da Universidade de Pequim, defende que a Constituição chinesa e a LBHK são os alicerces que consolidam o princípio “um País, dois sistemas”. As duas formam um todo e, de forma alguma, se deve sobrepôr a constitução chinesa à LBHK. No entanto, há quem apenas mencione a Lei Básica e ignore a Constituição. Esta é geralmente a atitude daqueles que se lhe opõem, com base numa determinada argumentação. Rao Geping acredita que é preciso estar vigilante. Em relação a Macau, este especialista considera que o trabalho de esclarecimento nesta área, está a ser mais bem feito do que na própria China continental.

Shen Chunyao, Presidente da Comissão dos Assuntos Parlamentares do Comité Permanente do Congresso Nacional do Povo e Presidente do Comité Legislativo de Hong Kong, participou no simpósio dedicado ao “Dia da Constituição Nacional”, realizado no passado dia 4, em Hong Kong. Nessa ocasião, declarou que a Constituição chinesa é o simbolo da China, e que o seu alcance cobre o território nacional, incluindo Hong Kong. A Constituição e a LBHK constituem no seu conjunto a estrutura política e operacional da Região Admnistrativa Especial de Hong Kong (RAEHK). Sendo a Lei Básica de Hong Kong a autoridade máxima do sistema legal da cidade, qualquer lei, incluindo as leis originais de Hong Kong ao abrigo da lei comum, não podem , em circunstância alguma, entrar em conflito com ela.

Shen afirmou ainda que a Constituição Chinesa é a lei fundamental e suprema de toda a China, e que o País tem uma só Constituição, cujo alcance cobre o território de Hong Kong. Após o regresso de Hong Kong à soberania chinesa, foi implementado o princípio “um País, dois sistemas”. Ou seja “dois sistemas” dentro de “um País”, princípio que incorpora a essência do estado de direito na China e dos valores consagrados na sua Constituição. A Constituição chinesa é detentora do supremo estatuto, e da suprema autoridade e supremos efeitos legais. Os povos de todas as nacionalidades, incluindo os habitantes de Hong Kong, terão de respeitar a dignidade da Constituição chinesa e garantir a sua implementação.

Os artigos 31 e 62 da Constituição providenciam a base constitucional para a formulação da Lei Básica de Hong Kong, bem como a implementação das políticas subjacentes ao princípio “Um País, Dois sistemas”. Do ponto de vista legal, existe uma relação hierárquica entre a Constituição e a LBHK. A Constituição é a “lei mãe”; a LBHK derivou dela e estabelece um conjunto de princípios legais que lhe estão subordinados.

Por outras palavras, as declarações destes peritos deixam bem claro que o estatuto da LBHK é inferior ao da Constituição da China. A Constituição prevalece sempre sobre qualquer outra Lei, em qualquer parte do País. Por este motivo, o seu efeito estende-se a Hong Kong, e deverá ser também implementada na RAEHK.

Estas ressalvas legais centraram-se em Hong Kong. Quanto a Macau, a primeira questão centra-se na implementação da Constituição chinesa na cidade e também nas eventuais diferenças que este processo possa vir a ter nas duas RAEs.

Em segundo lugar, se as duas Regiões Administrativas Especiais implementarem a Constituição chinesa, vir-se-ão a deparar com alguma legislação que não é considerada nas suas respectivas Leis Básicas? Esta é provavelmente uma das questões que preocupa um maior número de pessoas. Que tipo de lei é implementada, e como é implementada, é sem dúvida uma questão pertinente. A lei é um padrão que baliza o comportamento das pessoas, e também um fasquia que eleva a responsabilidade de cada um.

O amor à Pátria decorre do sentimento de pertença. Orientadas por uma relação de confiança e de amor mutúos, sob a bandeira da implementação da lei, iremos sem dúvida ver a China e as RAEs tornarem-se cada vez mais harmoniosas, estáveis e prósperas.

*Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado
do Instituto Polotécnico de Macau
Blog: http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk

Indonésia | Número de mortos em tsunami sobe para 429. Há ainda 154 desaparecidos


A chuva intensa dificultou hoje os trabalhos das equipas de resgate na Indonésia que percorrem o litoral do estreito de Sonda arrasado no sábado por um tsunami, cujo último balanço de vítimas aumentou para 429 mortos e 154 desaparecidos.

Com luvas para evitar cortes, uma patrulha de oficiais da Agência Nacional de Gestão de Catástrofes (BNPB) levanta um a um os destroços de madeira e ramos que há três dias formavam uma cabana turística na praia Carita, na parte noroeste da ilha de Java, noticia a agência EFE.

"Hoje, até ao momento, não encontrámos qualquer cadáver. Ontem [segunda-feira] encontrámos dois entre os escombros. Revisitamos a zona para ver se nos escapou algum ou se o mar devolve algum corpo sem vida", declarou à agência espanhola o responsável da brigada, Hawasi, que como muitos indonésios só tem um nome.

O oficial encara como escassas as possibilidades de encontrar algum desaparecido com vida, apesar de acreditar que "os milagres existem".

Centenas de casas humildes ficaram reduzidas a um amontoado de escombros, enquanto os edifícios construídos com melhores materiais suportaram, na maioria, o embate das águas.

A violenta erupção do vulcão Anak Krakatau, a cerca de 50 quilómetros mar dentro desde a praia Carita, provocou na noite de sábado um deslizamento de terra que criou as ondas de dois e três metros de altura e que demoraram 25 minutos a chegar à costa.

O tsunami surpreendeu muitos visitantes nas praias deste enclave, promovido como destino turístico pelo Governo.

Lusa | em Notícias ao Minuto | Foto Reuters

A jovem de Dili que cantava para os refugiados e levou Xanana ao The Voice


A presença de Xanana Gusmão no programa da RTP para apoiar a concorrente de Timor é reveladora do "estatuto" de estrela conquistado pela jovem nascida em Díli. Marvi diz estar a viver um duplo sonho: apurada para as galas ao vivo e muito perto de assegurar uma bolsa para estudar música em Portugal.

Em português são poucas as palavras que Maria Vitória - "não sei porque tenho este nome" - consegue soletrar. Música, obrigado e Deus são das poucas que diz com facilidade, mas promete que, em breve, muito breve, as suas conversas vão dispensar a tradutora, que é ao mesmo tempo a sua tutora, gestora, agente e amiga.

Nascida em Díli, Marvi, como é conhecida, tem 17 anos e é uma das oito concorrentes apuradas para as galas ao vivo do The Voice Portugal. Mas mais do que vencer o programa, a ambição maior, como revelou ao Plataforma, passa por estudar música e canto em Portugal e tornar-se cantora profissional. Uma situação que está prestes a concretizar-se uma vez que o governo timorense já lhe transmitiu a possibilidade de a ajudar atribuindo-lhe uma bolsa de estudo.

É que em Timor, Marvi já é uma estrela. Um estatuto que conquistou no ano passado, depois de conseguir chegar à meia-final do concurso promovido por uma das televisões indonésias mais vistas. Foi recebida em Díli por cerca de 12 mil pessoas e vários membros do governo, depois foi homenageada no Parlamento e conseguiu ajuda do ministério da saúde para que a mãe, que sofre de um cancro na mama, fosse tratada num hospital da Indonésia.

Em Portugal também tem surpreendido no programa da RTP, onde integra a equipa de Marisa Liz. A sua participação tem conhecido episódios marcantes, como o da presença, entre o público, de Xanana Gusmão. "Uma honra e um orgulho", como confessou ao Plataforma a menina que chegou a vender fruta na rua, e que cantava para quem se refugiava na igreja durante o período de crise política e militar do país (2006).

"Estar em Portugal é um sonho, daqueles que parecem impossíveis de concretizar", revela Maria Vitória. Convidada para atuar em eventos, festas e cerimónias mais oficiais, a jovem vai ganhando "algum dinheiro", que entrega em casa para ajudar mãe e os quatro irmãos. É que o salário do pai, catequista, "não dá para sustentar toda a família."

Vencer o The Voice é, naturalmente, uma "ambição", mas se não passar na gala deste domingo, 23 de dezembro, poderá ser compensada com uma viagem para passar o Natal em família. Mas o futuro de Maria Vitória passará sempre por Portugal.

Sílvia Freches | Plataforma

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