sábado, 29 de dezembro de 2018

A ladainha: "Feliz Natal e Próspero Ano Novo"

Cid Simões [*]

E com esta frase, que se pretende mágica, vamos despachando, a torto e a direito, amigos e conhecidos ou mesmo aquele em quem tropeçámos e para reforçar as devidas desculpas, desejamos-lhe "um feliz natal e um próspero ano novo". 

Nascemos a ouvir esta ladainha e como se estivéssemos programados a expressão sai-nos assim, fria, sem conteúdo como qualquer slogan publicitário que, por obsessivo, bloqueia a sua percepção.

Das prateleiras retiram-se os bolorentos cartões de "boas-festas" com as já fastidiosas árvores de natal alindadas, despidas ou iluminadas e ainda o bonacheirão pai natal de trenó, com ou sem renas e, mais recentemente, a caixa do correio electrónico fica entulhada de megabytes de bonequinhos saltitantes ou música celestial com o mesmo refrão em todas as línguas: "feliz natal e próspero ano novo".

A comunicação social reedita os clichés poeirentos dos anos anteriores, "o amor às criancinhas e aos velhinhos, os doentinhos retidos no leito e os detidos nos calabouços, os imigrantes e emigrantes longe dos entes queridos, os sem abrigo e os mal abrigados…" enfim, um nunca acabar de piedosas referências que nos pretendem enternecer.

E, no entanto, todos sabem que para milhões de portugueses esses votos caem em urna sem fundo. O Natal sonhado passa distante da felicidade que nos desejam e quanto ao próximo ano a prosperidade não terá lugar, principalmente para a maioria dos que trabalham, dos que se encontram em risco de serem despedidos e muito menos para os desempregados.

Este modo supérfluo de comportamento reflecte o desapego que, cada vez mais, se radica na relação para com os que nos rodeiam.

É indispensável mudar de discurso, deixar cair o bla-blá-blá das boas intenções, encarar a realidade de frente. Garantir a todos a quem nos dirigimos que podem contar connosco para encontrar um caminho justo às dificuldades que nos soçobram.

Afirmar-lhes que não baixaremos os braços na luta contra a injustiça provocada pelas classes que se apropriaram da nossa força de trabalho e com essa mais-valia nos oprimem.

Garantir-lhes que tudo faremos para travar o passo aos partidos da direita e aos mascarados de esquerda que nos têm roubado, consoada após consoada, e que, de ano para ano, nos arrastam para o fosso social que é urgente recusar.

Comprometermo-nos que seremos solidários não com palavras que o vento leva, mas com acções que ficam gravadas no tempo, abrindo caminho para um futuro de dignidade, rompendo esta sociedade desumana onde milhões de concidadãos vegetam com rendimentos de fome para que crápulas se conspurquem com milhões.

Não podemos esperar sentados por um Natal ou um Novo Ano à nossa dimensão, se humanos nos quisermos afirmar.

Ver também:
Estes natais sinistros , de Gabriel García Márquez 

[*] Cronista, fcidsimoes@sapo.pt . Lido na Rádio Baía.

Esta crónica encontra-se em http://resistir.info/

Nas dívidas, o declínio do Ocidente


Por não conseguir revê-las ou anulá-las periodicamente, nossa civilização mergulha em desigualdade e caos agudos – como os de agora. Há 3 mil anos, sumérios tinham uma saída

Alastair Crooke, no Strategic Culture | em Outras Palavras |  Tradução: Felipe Calabrez

A liderança da União Europeia (UE) está tentando conter uma crise que emerge em velocidade crescente: este desafio compreende a ascensão de Estados desobedientes (ou seja, o Reino Unido, Polônia, Hungria e Itália) ou de “blocos culturais” históricos desafiadores (ou seja, Catalunha). Todos estes estão explicitamente desencantados com a noção de alguma convergência forçada para uma “ordem” uniforme administrada pela UE, com suas “disciplinas” monetárias austeras. Eles até mesmo ignoram a pretensão da UE de ser, de alguma maneira, parte de uma ordem civilizacional de valores morais superiores.

Se no Pós-Guerra a UE representava uma tentativa de escapar da hegemonia anglo-americana, esses novos e desafiadores blocos de “ressurgência cultural”, que buscam se situar como espaços soberanos interdependentes, são, por seu turno, um tentativa de escapar de outra hegemonia: a de uma UE uniformemente administrada.

Para sair dessa ordem europeia particular (que, esperava-se originalmente, diferiria do império anglo-americano), a UE foi, porém, forçada a apoiar-se na arquetípica noção de “liberdade” como justificação do império (agora metamorfoseada nas quadro liberdades da UE) em que se apoiaram as “uniformidades” estritas da UE (igualdade de condições, regulação de todos os aspectos da vida, harmonização fiscal e económica). O projeto europeu passou a ser visto, por assim dizer, como algo que esvazia os distintos e antigos “modos de ser”.

O próprio fato de haver estes ensaios , em diferentes níveis e em distintas regiões geográficas culturais, indica que a hegemonia da UE já enfraqueceu a tal ponto que ela pode não ser capaz de conter totalmente o surgimento dessa nova onda. O que está em causa precisamente para a UE é saber se pode retardar e reprimir, em todos os sentidos, a emergência deste processo de “re-soberanização” cultural – que, obviamente, ameaça fragmentar a propalada “solidariedade” da UE e fragmentar sua matriz de uma união aduaneira e área de comércio comum perfeitamente reguladas.

Foi Carl Schmitt – o filósofo político – quem, no entanto, alertou veementemente contra a possibilidade do que ele chamou de “acelerador Katechon negativo”, o que parece se aplicar exatamente à situação em que a UE se encontra no presente. Trata-se de uma noção, sustentada pelos antigos, de que os eventos históricos frequentemente têm uma “dimensão de fundo contrária”, isto é, que uma dada “intenção” ou ação (por exemplo, por parte da UE) pode acabar acelerando precisamente os processos que ela visava desacelerar ou estancar. Para Schmitt, isto explica o paradoxo através do qual uma “ação de frear” (como a que está sendo realizada pela UE) pode na verdade se reverter em uma aceleração indesejada dos próprios processos a que a UE pretende se opor. Schmitt chamou isso de processo “involuntário”, uma vez que produz efeitos opostos à intenção original. Para os antigos, isso simplesmente lembrava que nós, humanos, muitas vezes somos meros objetos da história, e não seus sujeitos causais.

É possível que a “ação de frear” imposta à Grécia, à Grã-Bretanha, à Hungria – e agora à Itália – possa deslizar precisamente em direção ao fenômeno Katechon de que fala Schmitt. A Itália permaneceu no limbo económico por décadas: seu novo governo sente-se obrigado a aliviar, de alguma forma, o estresse econômico acumulado nos últimos anos e a tentar retomar o crescimento. Mas o Estado tem um alto nível de endividamento, diante do que a UE insiste que a Itália deve sofrer as consequências: deve obedecer às “regras”.

O professor Michael Hudson, em livro recente, explica como a “ação de frear” da UE em relação à dívida italiana representa uma certa vertente europeia de rigidez psíquica que ignora totalmente a experiência histórica e pode resultar precisamente em Katechon: o oposto do que se pretende. Entrevistado por John Siman, Hudson diz:

“Nas antigas sociedades mesopotâmicas, entendia-se que a liberdade era preservada protegendo-se os devedores. Um modelo corretivo de fato existiu e floresceu no funcionamento económico das sociedades mesopotâmicas, durante o terceiro e segundo milénios a.C. Pode ser chamada de Anistia de Pratos Limpos… Consistia no necessário e periódico cancelamento das dívidas de pequenos agricultores. Necessário porque tais agricultores estão inevitavelmente sujeitos – em qualquer sociedade em que se contabilizam juros sobre empréstimos – a ser empobrecidos, destituídos de sua propriedade, e, no limite, submetidos à servidão … por seus credores”.

[…] [E também necessária porque] a dinâmica constante da história tem sido o impulso das elites financeiras para centralizar o controle em suas próprias mãos e administrar a economia de forma predatória e extrativista. Sua ostensiva liberdade [vem] às custas da autoridade governante e da economia em geral. Como tal, é o oposto da liberdade – como concebida no tempo sumério …

Por isso, foi inevitável (nos séculos posteriores) que, na história grega e romana, um número crescente de pequenos agricultores tenha se tornado irremediavelmente endividado e perdido suas terras. Da mesma forma como foi inevitável que seus credores tenham acumulado enormes propriedades de terra e se estabelecido em oligarquias parasitárias. Essa tendência inata à polarização social – decorrente da noção de dívida como algo imperdoável – – é a maldição original e incurável de nosso pós-século VIII. É a marca de nascença escabrosa da Civilização Ocidental, que não pode ser lavada ou extirpada.

Hudson argumenta que o longo declínio e queda de Roma começa, não como quer Gibbon, com a morte de Marco Aurélio, mas quatro séculos antes, após a devastação de Aníbal no campo italiano durante a Segunda Guerra Púnica (218-201 aC). Depois daquela guerra, os pequenos agricultores da Itália nunca mais recuperaram suas terras, que foram sistematicamente engolidas pela prædia, as grandes propriedades oligárquicas, como Plínio, o Velho, observou. [É claro que hoje são as pequenas e médias empresas italianas que estão sendo engolidas por corporações oligárquicas e pan-europeias.]

Mas entre os estudiosos modernos, como aponta Hudson, “Arnold Toynbee está quase sozinho ao enfatizar o papel da dívida na concentração da riqueza romana e da propriedade” (p. xviii) — e assim explicar o declínio do Império Romano…

“As sociedades mesopotâmicas não estavam interessadas em igualdade”, ele disse ao entrevistador, “mas elas eram civilizadas. E possuíam a sofisticação financeira para entender que, uma vez que os juros sobre empréstimos aumentam exponencialmente, enquanto o crescimento económico segue, na melhor da hipóteses, uma curva S, isso significa que os devedores, se não protegidos por uma autoridade central, tornam-se servos permanentes de seus credores. Assim, os reis da Mesopotâmia resgatavam regularmente os devedores esmagados por suas dívidas. Eles sabiam que precisavam fazer isso. Repetidas vezes, século após século, eles proclamavam a “Amnistia dos Pratos Limpos”.

A UE puniu a Grécia por seu desregramento – e deve punir a Itália se ela burlar as regras fiscais da UE. A UE está fazendo o que Scmith denominou de “ação de frear” para manter sua hegemonia.

É, no entanto, um caso concreto em que a UE enxerga o pequeno cisco nos olhos da Itália, porém ignora a estaca em seu próprio olho. Lakshman Achutan, do Instituto de Estudos do Ciclo Económico, escreve:

“A soma da dívida dos EUA, da Zona do Euro, do Japão e da China aumentou mais de dez vezes em relação ao PIB no ano passado. É notável que a economia global – desacelerando em sincronia, apesar do endividamento galopante – encontre-se em uma situação remanescente do Efeito Rainha Vermelha. Como esta personagem diz em Alice em Através do Espelho, de Lewis Carroll, “Agora, aqui, você vê, é preciso correr o bastante para continuar no mesmo lugar. Se quiser chegar em outro lugar, você deve correr pelo menos duas vezes mais rápido que isso!”

Mas isso – correr mais rápido, assumir mais dívidas – só pode, ao final, ser resolvido com um grande calote (ou com medidas inflacionárias). Olhemos para os EUA: seu PIB está crescendo em 2,5%; a dívida federal está em 105% do PIB; o Tesouro está gastando US$ 1,5 bilhão em juros por dia, e a dívida está crescendo em 5-6% do PIB. Não é sustentável.

As demandas da Grécia e da Itália pelo alívio da dívida podem ser consideradas por alguns como um favorecimento, na esteira da má gestão económica do passado; mas as demandas dos sumérios e babilónios não se baseavam nisso – mas em uma tradição conservadora baseada em rituais de renovação do calendário-cosmo e suas periodicidades, nos diz Hudson. A ideia mesopotâmica de reforma estava longe do sentido daquilo que chamamos de “progresso social”. Em vez disso, as medidas instituídas pelo rei sobre as dívidas, em seus “jubileus” eram destinadas a restaurar uma ordem subjacente na sociedade, um maat. “As regras do jogo não eram alteradas, mas todos recebiam uma nova cartada”.

Hudson observa que “os gregos e os romanos substituíram a ideia cíclica de tempo e renovação social pela de tempo linear” [com a convergência em direção a um “fim dos tempos”]: “A polarização económica tornou-se irreversível, não meramente temporária”, assim como a ideia de renovação se perdeu. Hudson poderia ter acrescentado que o tempo linear e a perda do imperativo de despertencimento e renovação desempenharam um papel importante na sustentação de todos os projetos universalistas da Europa que buscavam um itinerário linear rumo à transformação humana (ou, o utopismo).

Esta é a contradição fudamental: a inelutável defasagem económica e polarização está transformando a Europa em um continente dilacerado por uma contradição interna insolúvel. Por um lado, castiga a Itália por suas dívidas; por outro, o Banco Central Europeu (BCE) buscou a “repressão” da taxa de juros, até reduzi-la abaixo de zero e transformou em moeda viva [por meio do “quantitative easing”] um volume de dívida equivalente a um terço da produção global da Europa. Como a UE não poderia prever que os bancos e as empresas carregassem sua dívida “positiva”? Como poderia esperar que os bancos não inflassem seus balanços com “dívida livre” a ponto de se tornarem “grandes demais para falir”?

A explosão global da dívida é um macro-problema que transcende vastamente o microcosmo da Itália. Tal como o antigo Império Romano, a UE atrofiou-se na sua “ordem” para se tornar um obstáculo à mudança. Sem alternativa, mantém uma “ação de frear” que acabará por produzir efeitos completamente contrários à intenção original; e por provocar um Katechon involuntário e negativo.

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Moçambique | 2018, um ano para esquecer?


@Verdade | Editorial

Sem sombras de dúvidas, 2018 foi mais um ano atípico para o povo moçambicano. Aliás, diga-se em abono da verdade que o cidadão moçambicano tem motivos mais do que suficientes para afirmar que 2018 foi um péssimo ano em todas as vertentes.

A começar pela forma como é conduzido o processo eleitoral (referente às eleições autárquicas) que, mais uma vez, se provou que é intrinsecamente uma trapaça, uma vez que não se vislumbrou o pleno exercício da cidadania e democracia. Ou seja, como sempre, voltámos a brincar às eleições, demonstrando que ainda prevalece um grande défice democrático no país provocado por instituições como o STAE, a CNE e o Conselho Constitucional, que na verdade foram os organismos que elegeram os presidentes de alguns dos 53 municípios deste país.

Além disso, ao longo do ano 2018, os indivíduos que dirigem o país mostraram que estão mais preocupados com o seu umbigo, relegando o bem- -estar dos moçambicanos para último plano. E um exemplo disso foi a facilidade que o Banco de Moçambique criou para as empresas multinacionais que se preparam para explorar o petróleo e o gás existente no país. Ou seja, para além de toda as estúpidas isenções e regimes especiais de tributação, as multinacionais conseguiram do Governo da Frelimo uma legislação privilegiada para movimentarem os biliões de dólares que irão ganhar no pais.

Como se essa situação não bastasse, também vimos o Governo de Filipe Nyusi anunciando que chegou a um acordo com grande parte dos credores da fantoche empresa de pesca de atum, a EMATUM, para reestruturar a dívida. Resumindo, Nyusi e os títeres decidiram fazer um acordo que vai custar o futuro de milhões de moçambicanos. O mais caricato ainda foram os deputados da bancada parlamentar da Frelimo que, no exercício das suas funções como mandatário do povo, revelaram a ignorância mórbida por que ainda se regem. Ao longo do ano, os moçambicanos foram brindados com situções bastantes preocupantes e lamentáveis, aprovando tudo e mais nada contrariando a vontade do povo que os elegeram.

E, por último, uma das situações que mexeu com a vida dos moçambicanos foi o exorbitante custo de vida. Quase todos os dias, o custo de vida agravou-se e, consequentemente, o poder de compra deteriorou-se sob olhar do Governo que passou o ano a fingir estar preocupado com a situação. Como quem zombasse do sofrimento da população, o Governo da Frelimo não perdia a oportunidade de mostrar ao país e aos moçambicanos a sua contínua falta de bom senso, falando da confiança no futuro.

Portanto, 2018 foi um ano para esquecer!

São Tomé | Nova Maioria – Reposição da legalidade nos Tribunais


Uma nota da mesa da Assembleia Nacional, que o Téla Nón teve acesso, convoca os deputados para uma sessão plenária nesta sexta feira, a partir das 10 horas.

Mas, a sessão plenária de hoje, tem uma agenda especial. No primeiro ponto do período da ordem do dia, destaca-se a necessidade do ex-ministro da defesa e administração interna Arlindo Ramos, actualmente deputado da nação, ser autorizado pela Assembleia Nacional a comparecer no Tribunal da Primeira Instância, para ser interpelado pelo Juiz como testemunha num processo que não é citado no programa parlamentar.

Informações recolhidas pelo Téla Nón, indicam que o ex-ministro da Defesa e Administração Interna, está a ser procurado pelo Tribunal da Primeira Instância, para ajudar no esclarecimento de um dos golpes de Estado, que foi denunciado pelo próprio ministro a cerca de 6 meses.

Depois, a sessão plenária desta sexta feira, pode ter efeito de uma HECATOMBE legal para a justiça são-tomense, mais concretamente os Tribunais. É que os deputados vão analisar o projecto de resolução que revoga as resoluções números 106, 107 e 110 de 2018 da Assembleia Nacional.

As tais resoluções que agora poderão ser revogadas pela nova maioria parlamentar(MLSTP-Coligação), estão relacionadas com a exoneração e aposentação compulsiva dos 4 juízes do Supremo Tribunal de Justiça, que foram afastados do sistema, em julho de 2018, após terem subscrito no dia 27 de Abril de 2018, o Acórdão que devolveu a cervejeira Rosema, ao empresário angolano Melo Xavier.

A revogação das tais resoluções aprovadas pela antiga maioria parlamentar da ADI(na foto em cima), porá também fim ao mandato dos Juízes do Supremo Tribunal Excepcional, criado pela  ex-maioria parlamentar da ADI, e que tomou posse em  julho passado sob a presidência do Juiz Conselheiro Roberto Raposo.

Se a nova maioria parlamentar(na foto) aprovar a resolução revogatória, o exonerado e compulsivamente aposentado Juiz conselheiro Manuel Silva Gomes Cravid, regressará as suas funções como Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, e acompanhado pelos seus pares, nomeadamente os juízes conselheiros exonerados pela antiga maioria parlamentar da ADI, Alice Carvalho, Frederico da Glória e Silvestre Leite.

Aliás, o documento da Assembleia Nacional diz que a sessão plenária de hoje, será para analisar a resolução que revoga as anteriores resoluções, e «consequente recondução dos 4 juízes conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça», lê-se no documento.

O terceiro ponto da ordem do dia da sessão plenária desta sexta feira, confirma a limpeza da alegada ilegalidade que a anterior maioria parlamentar, realizou nos Tribunais. Pois diz o documento que nesta sexta – feira, os deputados vão analisar também o projecto de resolução que «revoga a resolução número 89 de 2018 da Assembleia Nacional  e consequente cessação de funções dos juízes do Tribunal Constitucional».

A nova maioria parlamentar, composta pelo MLSTP e a Coligação PCD-MDFM-UDD, poderá nesta sexta feira, por fim ao Tribunal Constitucional Autónomo, que foi criado apenas e só pelo partido ADI, e sob intervenção dos Ninjas da Administração Interna de Arlindo Ramos.
Sob ordens do Governo da ADI, os Ninjas invadiram o parlamento no dia 15 de Janeiro de 2018, para expulsar os deputados da oposição, que contestavam a modalidade de constituição do Tribunal Constitucional, só com pessoas indicadas pelo ADI.

O povo mudou a regra do jogo no dia 7 de Outubro. A anterior oposição minoritária é hoje a nova maioria em São Tomé e Príncipe. E tudo indica que hoje, por vontade do povo, a Nova Maioria, vai reformar as reformas a mão armada (Ninjas), que Patrice Trovoada e a ADI realizaram nos Tribunais Judicial e Constitucional.

Abel Veiga | Téla Nón

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Angola | Lucapa era uma terra de estrangeiros ilegais


Cerca de 316 mil cidadãos estrangeiros, maioritariamente da República Democrática do Congo (RDC) em situação migratória ilegal, que se dedicavam à exploração e tráfico ilícito de diamantes no município do Lucapa, Lunda-Norte, foram repatriados no âmbito da Operação Transparência.

A informação foi avançada quinta-feira, na cidade do Dundo, pelo administrador municipal do Lucapa, Rogério Fangana, durante o encontro com a sociedade civil da Lunda-Norte, promovido pelo governador Ernesto Muangala, que serviu para reforçar as acções de sensibilização e conjugação de esforços para o combate à imigração ilegal. 

Rogério Fangana disse que a quantidade de pessoas repatriadas para os países de origem evidencia que mais da metade da população que residia na região era composta por estrangeiros ilegais. 

Apontou que o diamante extraído no Lucapa é de alto valor comercial no mercado internacional, salientando ter sido a causa dos altos índices de imigração ilegal na região. 

Dos 316 mil estrangeiros repatriados, referiu, 32 mil saíram de forma voluntária. No município do Lucapa, acrescentou, foram encerradas 32 casas de compra e venda de diamantes, que funcionavam ilegalmente. 

O administrador do Lu-capa informou que as autoridades policiais, militares e civis do município estão a cumprir com todas as indicações deixadas pelas estruturas centrais, que visam libertar todas as áreas de ga-rimpo, e manter o controlo das mesmas. 

Rogério Fangana garantiu que três meses após o lançamento da Operação Transparência, o município do Lucapa, tido como o epicentro do garimpo de diamantes, está agora desafogado. O administrador confirmou o retorno gradual de estrangeiros às zonas de exploração de diamantes, e declarou que oficialmente as forças de defesa e segurança ainda não confirmaram a detenção de imigrantes que retornaram às áreas de garimpo.

Armando Sapalo, Dundo | Jornal de Angola

Imagem: Garimpeiros em actividade numa das localidades da Lunda-Norte / Fotografia: Edições Novembro

Um ano de João Lourenço, o "exonerador implacável" de Angola


A DW África saiu à rua para saber o que pensam os angolanos sobre os primeiros 365 dias do Presidente JLo no poder. As opiniões dividem-se: há quem destaque o combate à corrupção e quem o acuse de "artimanhas políticas".

João Lourenço tomou posse há precisamente um ano, a 26 de setembro de 2017. Quando assumiu funções, o terceiro chefe de Estado angolano assumiu o compromisso de "tratar" dos "problemas da nação" ao longo do mandato de cinco anos com uma "governação inclusiva".

"Neste novo ciclo político, legitimado nas urnas, a Constituição será a nossa bússola de orientação e as leis o nosso critério de decisão", apontou na altura João Lourenço, falando pela primeira vez como novo Presidente de Angola.

Desde aí, a administração de JLo, como é conhecido, continua a surpreender angolanos com discursos e algumas ações tais como as exonerações de vários gestores públicos, onde foram alvos figuras como a empresária Isabel dos Santos e José Filomeno dos Santos (Zenú), ambos filhos do ex-Presidente José Eduardo dos Santos. Zenú está em prisão preventiva pelo envolvimento numa transferência ilícita de 500 milhões de dólares e pela má gestão no Fundo Soberano de Angola.

Exonerações implacáveis

Em apenas um ano de governação, cidadãos angolanos, na sua maioria jovens, começam a acreditar num futuro melhor para o país, tudo devido algumas aberturas que estão se verificar no mandato de João Lourenço.

Os populares entrevistados nas ruas de Luanda deram nota positiva às exonerações e também às recentes detenções de ex-governantes. No último ano, o Presidente angolano afastou pelo menos 230 governantes, administradores de empresas públicas e altas chefias militares - e o povo passou a chamar-lhe "exonerador implacável".

O estudante de medicina Áureo dos Santos diz que agora já se pode falar de combate à corrupção em Angola. "Ele está trabalhar para as questões sobre a corrupção no nosso país. Está a forçar as pessoas a acabar com as práticas de suborno, afirma o jovem, que elogia também as políticas de investimento privado no setor do turismo.

"O país estava dependente do petróleo e ele quer diversificar a nossa economia, dando oportunidade aos empresários estrangeiros. E isso é importante para o desenvolvimento do país", sublinha Áureo dos Santos.

Política externa mais aberta

Para Sidney Jorge, estudante de Relações Internacionais, neste primeiro ano de governação o Presidente da República procurou conquistar a confiança da comunidade internacional. "A política externa do país está num processo de mais abertura para com outros atores internacionais. O Presidente está nos Estados Unidos, onde vai tratar vários assuntos para o país, e isso é vantajoso", diz.

António Pinto e Quintas Francisco, ambos funcionários públicos, apontam as exonerações como o ponto mais alto da governação. E defendem que João Lourenço deve trabalhar com pessoas comprometidas com o país. "O Presidente tirou certas pessoas que não estavam a fazer nada nos cargos que ocupavam", lembra António Pinto. "Se continuar assim, tirando aqueles que não fazem nada, acho que vamos ter uma Angola boa para viver e sentir orgulho de sermos angolanos", sublinha Quintas Francisco.

Mas também há quem quem não veja melhorias com o mandato de João Lourenço. O estudante Jair Pedro entende que o Presidente angolano só quer ganhar a confiança do povo com exonerações e discursos de combate à corrupção, para que votem nele no próximo mandato.

"Não acho que ele está a tentar fazer o que é certo, combatendo a corrupção. É só mais uma artimanha para ele ter mais credibilidade que o Zedú (José Eduardo dos Santos) e para recuperar a confiança de outros países", afirma o jovem angolano.

"Ninguém é perfeito"

A verdade é que ainda não há nada de relevante na política social da administração JLo, fora os concursos públicos para admissão de novos professores e enfermeiros. Ainda assim, alguns cidadãos acreditam que o Presidente poderá cumprir as promessas.

"Já se notam alguns passos, mas não é suficiente porque sente-se ausência da resolução das questões sociais como o saneamento básico e a saúde", afirma Sidney Jorge.

"Ninguém é perfeito. Estamos todos sujeitos a errar. Se ele se levantou e disse que é a capaz de ajudar a melhorar o país, acho que vai fazer o melhor", acredita Quintas Francisco.

António Pinto afirma que João Lourenço precisa de mais tempo para mudar o país. "As pessoas devem entender que não é em apenas um ano que ele vai dar emprego a todos", alerta o funcionário público.

Borralho Ndomba (Luanda) | Deutsche Welle

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