sábado, 29 de dezembro de 2018

Um ano de João Lourenço, o "exonerador implacável" de Angola


A DW África saiu à rua para saber o que pensam os angolanos sobre os primeiros 365 dias do Presidente JLo no poder. As opiniões dividem-se: há quem destaque o combate à corrupção e quem o acuse de "artimanhas políticas".

João Lourenço tomou posse há precisamente um ano, a 26 de setembro de 2017. Quando assumiu funções, o terceiro chefe de Estado angolano assumiu o compromisso de "tratar" dos "problemas da nação" ao longo do mandato de cinco anos com uma "governação inclusiva".

"Neste novo ciclo político, legitimado nas urnas, a Constituição será a nossa bússola de orientação e as leis o nosso critério de decisão", apontou na altura João Lourenço, falando pela primeira vez como novo Presidente de Angola.

Desde aí, a administração de JLo, como é conhecido, continua a surpreender angolanos com discursos e algumas ações tais como as exonerações de vários gestores públicos, onde foram alvos figuras como a empresária Isabel dos Santos e José Filomeno dos Santos (Zenú), ambos filhos do ex-Presidente José Eduardo dos Santos. Zenú está em prisão preventiva pelo envolvimento numa transferência ilícita de 500 milhões de dólares e pela má gestão no Fundo Soberano de Angola.

Exonerações implacáveis

Em apenas um ano de governação, cidadãos angolanos, na sua maioria jovens, começam a acreditar num futuro melhor para o país, tudo devido algumas aberturas que estão se verificar no mandato de João Lourenço.

Os populares entrevistados nas ruas de Luanda deram nota positiva às exonerações e também às recentes detenções de ex-governantes. No último ano, o Presidente angolano afastou pelo menos 230 governantes, administradores de empresas públicas e altas chefias militares - e o povo passou a chamar-lhe "exonerador implacável".

O estudante de medicina Áureo dos Santos diz que agora já se pode falar de combate à corrupção em Angola. "Ele está trabalhar para as questões sobre a corrupção no nosso país. Está a forçar as pessoas a acabar com as práticas de suborno, afirma o jovem, que elogia também as políticas de investimento privado no setor do turismo.

"O país estava dependente do petróleo e ele quer diversificar a nossa economia, dando oportunidade aos empresários estrangeiros. E isso é importante para o desenvolvimento do país", sublinha Áureo dos Santos.

Política externa mais aberta

Para Sidney Jorge, estudante de Relações Internacionais, neste primeiro ano de governação o Presidente da República procurou conquistar a confiança da comunidade internacional. "A política externa do país está num processo de mais abertura para com outros atores internacionais. O Presidente está nos Estados Unidos, onde vai tratar vários assuntos para o país, e isso é vantajoso", diz.

António Pinto e Quintas Francisco, ambos funcionários públicos, apontam as exonerações como o ponto mais alto da governação. E defendem que João Lourenço deve trabalhar com pessoas comprometidas com o país. "O Presidente tirou certas pessoas que não estavam a fazer nada nos cargos que ocupavam", lembra António Pinto. "Se continuar assim, tirando aqueles que não fazem nada, acho que vamos ter uma Angola boa para viver e sentir orgulho de sermos angolanos", sublinha Quintas Francisco.

Mas também há quem quem não veja melhorias com o mandato de João Lourenço. O estudante Jair Pedro entende que o Presidente angolano só quer ganhar a confiança do povo com exonerações e discursos de combate à corrupção, para que votem nele no próximo mandato.

"Não acho que ele está a tentar fazer o que é certo, combatendo a corrupção. É só mais uma artimanha para ele ter mais credibilidade que o Zedú (José Eduardo dos Santos) e para recuperar a confiança de outros países", afirma o jovem angolano.

"Ninguém é perfeito"

A verdade é que ainda não há nada de relevante na política social da administração JLo, fora os concursos públicos para admissão de novos professores e enfermeiros. Ainda assim, alguns cidadãos acreditam que o Presidente poderá cumprir as promessas.

"Já se notam alguns passos, mas não é suficiente porque sente-se ausência da resolução das questões sociais como o saneamento básico e a saúde", afirma Sidney Jorge.

"Ninguém é perfeito. Estamos todos sujeitos a errar. Se ele se levantou e disse que é a capaz de ajudar a melhorar o país, acho que vai fazer o melhor", acredita Quintas Francisco.

António Pinto afirma que João Lourenço precisa de mais tempo para mudar o país. "As pessoas devem entender que não é em apenas um ano que ele vai dar emprego a todos", alerta o funcionário público.

Borralho Ndomba (Luanda) | Deutsche Welle

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