Estudo revela que Huíla, Fimo e
Taca estão entre as regiões angolanas mais afetadas. Analistas e organizações
pedem investimento reforçado numa agricultura em estado "preocupante".
Mais de um milhão e trezentas
famílias na região sul de Angola continuam a ser vítimas da seca, de acordo com
o Programa de Fortalecimento da Resiliência e da Segurança Alimentar e
Nutricional em Angola. A
aposta na agricultura é apontada por muitos analistas, como a possível solução
para resolver os problemas da fome e da seca.
A organização não-governamental
Construindo Comunidades chama a atenção para a situação dramática das
populações rurais da Huíla. Em declarações à DW, Domingos Fingo,
diretor da ONG, confirma a situação delicada por que passam as comunidades
rurais da Huíla. "O município dos Gambos é o mais difícil de todos os
municípios. Na região do Fimo, da Taca e noutras regiões, as pessoas estão a
viver de frutos silvestres. E o mais complicado é que o acesso a
estas localidades é extremamente difícil", sublinha.
Ainda segundo o mesmo estudo, os
problemas da seca e da fome estendem-se também às províncias
de Namibe e Cunene. Associa-se a esta realidade, a má
nutrição que, em 2018, matou mais de trinta crianças, no Cunene.
O analista Agostinho
Sicatu diz que a situação não é nova e surpreende-o o facto dos
governos provinciais e centrais não tomarem medidas preventivas para
se mitigar o problema. "É um problema que vem de tempos remotos. Todos os
governantes que passaram por cá sabem perfeitamente
que deveriam ter planos estratégicos, que visem solucionar estes
problemas. Aquela zona do Cunene, por exemplo, é uma zona plana. Então, já
poderia estar resolvido há muito tempo. Parece-me que não há vontade política
por parte daqueles que realmente têm o poder para resolver", critica.
Interesses ocultos?
Agostinho Sicatu desconfia que,
nas zonas afetadas pela estiagem, existam alguns interesses ocultos de um
pequeno grupo de cidadãos. "Acho que alguém ganha com a pobreza deste
povo, com a morte destes cidadãos. Acho que alguém tem interesse em que
haja seca naquela região, porque vai ganhar com isso. Não é normal que, quando
há cheias, vejamos o governo, no mesmo dia, com sacos de comida. Quando há
seca, deixa-se sempre para a última da hora, para depois as autoridades governamentais
aparecerem como se de salvadores daquele povo se tratassem."
Quanto à solução para
a seca e fome, o politólogo angolano defende a realização de um
estudo por técnicos especializados na matéria. "Deve-se ouvir os cidadãos,
mandar uma equipa de estudo e não equipas de militantes. Devem ser profissionais
especializados nestas matérias e depois estes, por sua vez, elaboram um estudo
aprofundado e deste estudo, vai-se encontrar uma solução", sugere.
A aposta na agricultura é,
também, apontada por muitos analistas, como outra saída para se resolver o
problema da fome e da seca, que se vive no sul.
Mas, segundo a comissária para a
Economia Rural e Agricultura da União Africana, a angolana Josefa
Sacko, "Angola é um dos países que não progride na agricultura",
afirma. Sacko caracterizou ainda a situação agrícola do país como "preocupante".
Domingos Fingo, da ONG
Construindo Comunidades, diz que a União Europeia vai disponibilizar uma verba,
para que que as populações do sul de Angola pratiquem a agricultura familiar.
"O valor que está para ser disponibilizado para a região sul de
Angola é um valor extremamente exíguo para fazer a cobertura das três
províncias, nomeadamente Huíla, Namibe e Cunene, que neste momento, estão a
sofrer com problemas da seca, fruto do fenómeno El niño. Poderá minimizar
as consequências, mas será impossível acabar com as dificuldades que
existem na região", conclui.
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche
Welle
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