quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Seca ainda afeta mais de um milhão de famílias angolanas


Estudo revela que Huíla, Fimo e Taca estão entre as regiões angolanas mais afetadas. Analistas e organizações pedem investimento reforçado numa agricultura em estado "preocupante".

Mais de um milhão e trezentas famílias na região sul de Angola continuam a ser vítimas da seca, de acordo com o Programa de Fortalecimento da Resiliência e da Segurança Alimentar e Nutricional em Angola. A aposta na agricultura é apontada por muitos analistas, como a possível solução para resolver os problemas da fome e da seca. 

A organização não-governamental Construindo Comunidades chama a atenção para a situação dramática das populações rurais da Huíla. Em declarações à DW, Domingos Fingo, diretor da ONG, confirma a situação delicada por que passam as comunidades rurais da Huíla. "O município dos Gambos é o mais difícil de todos os municípios. Na região do Fimo, da Taca e noutras regiões, as pessoas estão a viver de frutos silvestres. E o mais complicado é que o acesso a estas localidades é extremamente difícil", sublinha.

Ainda segundo o mesmo estudo, os problemas da seca e da fome estendem-se também às províncias de Namibe e Cunene. Associa-se a esta realidade, a má nutrição que, em 2018, matou mais de trinta crianças, no Cunene.

O analista Agostinho Sicatu diz que a situação não é nova e surpreende-o o facto dos governos provinciais e centrais não tomarem medidas preventivas para se mitigar o problema. "É um problema que vem de tempos remotos. Todos os governantes que passaram por cá sabem perfeitamente que deveriam ter planos estratégicos, que visem solucionar estes problemas. Aquela zona do Cunene, por exemplo, é uma zona plana. Então, já poderia estar resolvido há muito tempo. Parece-me que não há vontade política por parte daqueles que realmente têm o poder para resolver", critica.

Interesses ocultos?

Agostinho Sicatu desconfia que, nas zonas afetadas pela estiagem, existam alguns interesses ocultos de um pequeno grupo de cidadãos. "Acho que alguém ganha com a pobreza deste povo, com a morte destes cidadãos. Acho que alguém tem interesse em que haja seca naquela região, porque vai ganhar com isso. Não é normal que, quando há cheias, vejamos o governo, no mesmo dia, com sacos de comida. Quando há seca, deixa-se sempre para a última da hora, para depois as autoridades governamentais aparecerem como se de salvadores daquele povo se tratassem."

Quanto à solução para a seca e fome, o politólogo angolano defende a realização de um estudo por técnicos especializados na matéria. "Deve-se ouvir os cidadãos, mandar uma equipa de estudo e não equipas de militantes. Devem ser profissionais especializados nestas matérias e depois estes, por sua vez, elaboram um estudo aprofundado e deste estudo, vai-se encontrar uma solução", sugere.

A aposta na agricultura é, também, apontada por muitos analistas, como outra saída para se resolver o problema da fome e da seca, que se vive no sul.

Mas, segundo a comissária para a Economia Rural e Agricultura da União Africana, a angolana Josefa Sacko, "Angola é um dos países que não progride na agricultura", afirma. Sacko caracterizou ainda a situação agrícola do país como "preocupante".

Domingos Fingo, da ONG Construindo Comunidades, diz que a União Europeia vai disponibilizar uma verba, para que que as populações do sul de Angola pratiquem a agricultura familiar. "O valor que está para ser disponibilizado para a região sul de Angola é um valor extremamente exíguo para fazer a cobertura das três províncias, nomeadamente Huíla, Namibe e Cunene, que neste momento, estão a sofrer com problemas da seca, fruto do fenómeno El niño. Poderá minimizar as consequências, mas será impossível acabar com as dificuldades que existem na região", conclui.

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

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