Vinte e quatro horas após a
detenção de cinco arguidos do processo instaurado pela justiça moçambicana em
ligação com as dívidas ocultas continua a constituir manchete e a dominar as
conversas nas redes sociais e não só.
Um total de cinco pessoas foram
detidas na quinta-feira (14.02.) em ligação às chamadas dívidas ocultas, que
lesaram o Estado moçambicano em mais de dois mil milhões de dólares, na
sequência de empréstimos concedidos ilegalmente a três empresas.
As autoridades moçambicanas ainda
não fizeram qualquer pronunciamento público sobre estas detenções, as primeiras
que acontecem no âmbito de um processo instaurado em 2015 pela Procuradoria
Geral da República (PGR) moçambicana.
Figuram entre os detidos o
Administrador delegado das três empresas, António do Rosário, o ex-Director do
Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE), Gregório Leão, e Bruno
Tandade, operativo daquele serviço da secreta moçambicana.
O grupo inclui Teófilo
Nhangumele, alegado promotor junto de Moçambique da ideia de criar as empresas
e contratar o financiamento e Inês Moiane, Secretária pessoal do ex-Presidente
Armando Guebuza na altura da contração dos empréstimos.
Formalização da detenção
Os cinco deverão ser ouvidos por
um juiz até segunda-feira (18.02.) para a formalização da detenção.
O analista Fernando Lima
considera que estas detenções podem constituir uma operação de teatro.
"A questão é que a PGR em
Moçambique caiu num grande descrédito". Afirmou Lima a DW África para
acrescentar "mesmo que isto seja um passo na direção correta há muito
ceticismo e pessimismo em relação a esta detenção".
Para o analista, a detenção em si
não significa muito porque "também assistimos há alguns meses atrás a
detenção de três suspeitos de envolvimento num caso de corrupção em relação a
compra de aviões para a companhia estatal de aviação aqui em Moçambique e uns
dias depois estes três suspeitos foram soltos e até hoje nem sequer há data
marcada para o seu julgamento".
Por seu turno, o analista
Alexandre Chiure vê, igualmente, nestas detenções alguma encenação teatral.
"Primeiro, o processo que
envolve estes cinco e mais outros treze ainda não fechou... está na fase
preparatória ou primária, segundo, esse processo para ter pernas para andar
precisa de um tipo de informação que a Procuradoria Geral da República pediu
aos Estados Unidos da América, a Inglaterra e aos Emiratos Árabes Unidos para
poder fechar o processo. Essa informação ainda não está nas mãos da
Procuradoria".
Caso Manuel Chang
Várias vozes têm associado estas
detenções à captura na África do Sul a pedido da justiça norte-americana do
ex-ministro das Finanças de Moçambique, Manuel Chang, em ligação com as dívidas
ocultas.
O analista Fernando Lima afirma
que "claramente que as autoridades moçambicanas estão numa luta contra
relógio para impressionar as autoridades quer sul-africanas quer
norte-americanas de que estão a fazer qualquer coisa em relação a esta questão
nomeadamente para tentarem assegurar que Manuel Chang seja extraditado para
Moçambique".
As autoridades sul-africanas têm
sobre a mesa dois pedidos de extradição de Manuel Chang nomeadamente de
Moçambique e dos Estados Unidos da América.
Chang está a ser ouvido num
tribunal em Joanesburgo e nesta sexta-feira (15.02.) viu recusado um pedido
para responder em liberdade provisória mediante o pagamento de caução.
Sem surpresa decisão do tribunal
sul-africano
O analista Alexandre Chiure
afirma não ter ficado surpreendido com a decisão do tribunal tendo em conta as
alegações do Ministério Público que manifestava receios de que Chang pudesse
fugir.
"Esta recusa dá algum sinal
de que as coisas poderão ser muito complicadas do ponto de vista de termos
Chang aqui em
Moçambique. Estou a falar de extradição a favor de
Moçambique".
Para Fernando Lima a decisão
demonstra que o tribunal tem reservas sobre as iniciativas das autoridades
judiciais moçambicanas para conseguir a extradição de Chang mas também
"demonstra que o caso elaborado pelo tribunal de Nova York é um caso sério
e que impressionou favoravelmente as autoridades judiciais sul-africanas, neste
caso o tribunal de Kempton Park".
Leonel Matias (Maputo) | Deutsche
Welle
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