segunda-feira, 8 de julho de 2019

O Curto num grande Mar Grego com outras considerações e bitates


Hoje trazemos ao PG o Curto do Expresso, lavrado por Pedro Cordeiro, editor do internacional daquele burgo balsemanês, conservado em formol a cem por cento, com patrocínio do Bilderberg – o tal grupo global que é de muitíssimas desconfianças nos segredos que por lá discutem e guardam segredo das tramas e camas que nos fazem no panorama geopolítico, geoeconómico, geoestratégico e tudo o mais que não se sabe mas imaginamos.

Cordeiro abre o Curto com a política grega, talvez porque não sabe fazer renda e então compra na retrosaria mais próxima a dita grega que embeleza tudo onde é aplicada. Por nós embelezamos este espaço com a imagem a crescer de Poseidon (mitologia grega), parecendo querer invadir-nos a alma submergindo-nos nos mares de múltiplos tridentes... Ai este deus do mar, tão atrevido.

Com destaque para as eleições gregas elabora o Curto balsemista-bildeberguiano. Atenção porque esta parte matinal é sempre de ler no Expresso. Ficamos esclarecidos relativamente a algumas quantas “coisas”.

Nos tempos salazaristas se lêssemos o jornal próregime fascista Diário da Manhã, ou outros da mesma estirpe, sabíamos que interpretar ao contrário o que dispunham nas laudas publicadas era solução quase correta e fidedigna… Ler o Expresso não é o que devemos fazer mas dá jeito, por vezes, ponderar e “passear” noutras fontes e fazermos o nosso próprio juízo do “deglutido”. Os tempos que correm recomendam tais técnicas de mais-valia para melhor esclarecimento e capital de conhecimento sobre imensas “modalidades” de fazer jornalismo.

Dito. Vamos lá ao Curto, sem mais, atirando-nos de cabeça num mar grego e de outras estroinices úteis e inúteis… Bom dia. Boa semana. Boa vida… Bem, isso é coisa reservada só às elites eleitas e ainda mais afincadamente às que nos são impostas – onde abundam muitos vigaristas e até ladrões do que é de todos os portugueses. Pois.

Redação PG // MM


Bom dia este é o seu Expresso Curto

Entre epopeia e tragédia

Pedro Cordeiro | Expresso

Καλημέρα! Kalimera! Bom dia! Sugiro que o leitor comece por pôr a tocar esta faixa, para criar ambiente. “Τα Παιδιά του Πειραιά”, ou “As crianças do Pireu”, composta pelo enorme Manos Hadjidakis (que assina toda a banda sonora), ganhou o óscar de melhor canção em 1960, na voz de Melina Merkouri (mais tarde ministra da Cultura). A canção surge no filme “Nunca ao Domingo”, de Jules Dassin, mas foi precisamente num domingo que o poder sorriu a Kyriakos Mitsotakis. O vencedor das eleições legislativas de ontem toma posse esta manhã como novo primeiro-ministro da Grécia, depois de a sua Nova Democracia (ND, centro-direita), ter conquistado uma maioria absoluta (40% dos votos e 158 dos 300 deputados).

O Pireu, para quem não sabe, é o porto de Atenas, que os anos da crise levaram a ser vendido a firmas detidas pelo Estado chinês. “Portugal não é a Grécia”, bramava-se há anos. Não é, não foi, mas isso não significa que não haja semelhanças. Avalie o próprio leitor, indo à Grécia se tiver ocasião, ou lendo o testemunho de quem lá foi, isto é, do meu camarada Micael Pereira, enviado do Expresso a Atenas nos dias que antecederam as eleições.

“Comprometo-me com menos impostos, muito investimento para que haja novos e bons empregos, e crescimento que propiciará melhores salários e pensões mais altas, num Estado eficiente”, afirmou Mitsotakis. Neste texto defendo que a bitola está alta. Segundo o “Financial Times”, o novo governante tem “um longo caminho pela frente”. “The Guardian” mostra parte do seu discurso, legendado. E o jornal grego “Kathimerini” resume, em inglês, o comentário às eleições pelos principais candidatos.

Líder da ND há três anos, Kyriakos é filho de Konstantinos Mitsotakis (primeiro-ministro nos anos 90), irmão de um ex-ministro e tio do novo presidente da Câmara de Atenas. O seu apelido é, com outros como Papandreou ou Karamanlis, cíclico na política grega. Vindo da banca, conseguiu “limpar” a imagem do partido, que partilhou com o socialista PASOK responsabilidades pela criação da crise que levou a Grécia a quase sair do euro no início da década. Onde aquele soçobrou, a ND ressurgiu.

Cabe agora a Mitsotakis espicaçar uma economia que cresceu 1,3% no primeiro trimestre de 2019 mas cujo banco central faz previsões mais tímidas do que as do Executivo. O desemprego está nos 18%, o mais alto da Zona Euro. A situação helénica estará decerto em foco na reunião desta tarde do Eurogrupo (ministros das Finanças dos países com moeda única), em Bruxelas. Vale a pena ler a entrevista do Micael Pereira a um homem que chegou a ter muito poder na Grécia no auge da crise: Evangelos Venizelos, ministro das Finanças e, depois, dos Negócios Estrangeiros no último Executivo socialista, que frisa que a governação do Syriza “foi a completa e total negação do populismo e da demagogia antimemorando” que o levara ao poder.

É que a vitória de Mitsotakis (cujo perfil é aqui traçado pelo EuroNews) é a inegável derrota de Alexis Tsipras, que chegou ao poder há quatro anos, ao leme do Syriza (Coligação da Esquerda Radical), quebrando o bipartidarismo e prometendo fazer frente à austeridade imposta pelos credores internacionais da Grécia. Reza a História que não foi bem assim. Vergado sob o peso de dois resgates vindos dos tempos dos socialistas e conservadores, o país acabou por pedir outro no mandato de Tsipras, que aplicou diligentemente as medidas de recuperação financeira ditadas pela troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia). Dediquemos-lhe a segunda sugestão musical do dia, “Η Μελαγχολία της Ευτυχίας” (A tristeza do sucesso), também de Hadjidakis.

Derrotado, o primeiro-ministro cessante não morreu politicamente, como frisa o Politico.eu.Com 32% dos votos e 86 deputados, o Syriza cai mas não é esmagado. Tsipras não pensa demitir-se, antes prometendo oposição “responsável, mas dinâmica”. O “Financial Times” alerta que, livre das responsabilidades do poder, é provável que o esquerdista, “domado” enquanto governava, se mostre mais agressivo. Como uma conhecida e suína personagem cómica nesta versão que parodia a primeira canção que aqui referi.

Resistência feroz à ortodoxia europeia promete também Yannis Varoufakis, que foi ministro das Finanças com Tsipras e rompeu com o chefe por rejeitar a obediência deste aos credores. A sua recém-formada Frente Realista da Desobediência Europeia (MeRA25) entra no Parlamento com nove deputados e juras de “quebrar o muro de silêncio, a política sob o peso da troika, dominada pela troika, neste país e mesmo na Europa”.

Na oposição ficam ainda os diminuídos socialistas, os comunistas e o novo partido de extrema-direita Solução Grega (nome que me arrepia). Esta formação, aqui escalpelizada pelo Micael Pereira, substitui nesse campo político a neonazi Aurora Dourada, que falhou o limiar de 3% para ter representação parlamentar.

Aberto um novo ciclo (mas não uma nova era, antevê o enviado do Expresso), terminemos esta parte do Expresso Curto com mais música. Recupero uma cena conhecida de “Zorba, o Grego”, filme do cipriota Micahel Cacoyannis, com o grande Anthony Quinn. Um homem pede a outro que o ensine a dançar e o resultado é, aos olhos de yours truly, comovente. Como o é a banda sonora de Mikis Theodorakis, outro colosso.

OUTRAS NOTÍCIAS

COPAS DE E PARA A AMÉRICA Ontem disputaram-se as finais de dois-torneios-de-futebol-dois. Na Copa América, que reuniu as dez seleções da América do Sul (membros do CONMEBOL) e os convidados Japão e Qatar, a vitória sorriu ao anfitrião Brasil, que derrotou o Peru por 3-1. Em França chegou ao fim o Mundial de Futebol Feminino, com vitória dos Estados Unidos por 2-0 sobre a Holanda (relatada, como a anterior, na Tribuna Expresso pelo camarada Diogo Pombo) e a criação de novo ídolo desportivo na pessoa da médio Megan Rapinoe.

(NÃO) SOU COMO UM RIO José Manuel Bolieiro é o novo vice-presidente do PSD, na sequência da demissão de Manuel Castro Almeida. Este foi um homem muito próximo do líder Rui Rio, mas saiu na sequência de divergências aqui explicadas pelo camarada David Dinis, que não auguram nada de bom para o maior partido da oposição a três meses menos um dia das legislativas de 6 de outubro.

RACISMO E LIBERDADE DE EXPRESSÃO Um artigo de Maria de Fátima Bonifácio no “Público” criou polémica e cusações de racismo, por incluir generalizações muito questionáveis. Igualmente questionável é, a meu ver, que se defenda a censura das opiniões da historiadora. O diretor do jornal, Manuel Carvalho, fez um mea culpa após protestos externos e internos contra o texto. Outros preferiram responder a Bonifácio e discutir as suas ideias, como Marta Mucznik no “Observador”. No mesmo jornal, Helena Matos retoma uma palavra grega.

(DES)PROTEÇÃO DE DADOS A Assembleia da República aprovou duas leis que parecem contradizer o espírito do Regulamento Geral de Proteção de Dados da UE, que Portugal foi um dos primeiros países a aplicar. O camarada Paulo Paixão conta o que se passa.

DEUTSCHE SPANK Nos próximos três anos o Deutsche Bank vai despedir 18 mil funcionários (20% da sua força laboral), desinvestir em certas áreas de negócio e reduzir outras. O presidente executivo do banco, Christian Sweing, fala de “transformação radical”. O camarada Diogo Cavaleiro traz os detalhes.

FRASES

“Não vejo uma dificuldade significativa no cenário macro apresentado pelo PSD desse ponto de vista. Já a mesma coisa não penso em relação à sua razoabilidade orçamental, onde, do pouco que sabemos daquele programa, me parece que falha ali quase tudo” Mário Centeno, ministro das Finanças, em entrevista ao “Público”

“A mais recente expansão do programa nuclear do Irão levará a mais isolamento e sanções. Os países devem restaurar o antigo padrão de não enriquecimento para o programa nuclear do Irão. O regime iraniano, munido de armas nucleares, representará um perigo ainda maior para o mundo” Mike Pompeo, secretário de Estado dos EUA, no Twitter

“O embaixador não serviu bem o Reino Unido, isso posso dizer-vos. Não somos grandes fãs desse homem... posso dizer coisas sobre ele, mas não vou dar-me ao trabalho” Donald Trump, falando aos jornalistas sobre Kim Darroch, embaixador de Sua Majestade em Washington, que descreveu o Presidente americano como “unicamente disfuncional” e “inepto” em telegramas confidenciais divulgados à imprensa

O QUE ANDO A LER E O QUE VOU VER

“Estar em casa”, de Adília Lopes. Um livro de poesias, fotos, memórias de quem anuncia que precisa de cismar. Fico com vontade de ler “Bandolim” e “Manhã”, seus antecessores numa trilogia que esta obra vem fechar. Histórias e episódios da vida da poetisa (que prefere este termo a poeta, diz Carlos Vaz Marques na TSF).

Também irei, sem dúvida, visitar a exposição não autorizada de Banksy na Cordoaria Nacional. Não autorizada pelo artista anónimo britânico, entenda-se. Já agora, o Vida Extra perscruta a mais recente teoria sobre a identidade deste mestre da ironia.

Por fim, duas propostas teatrais. Têm em comum glosarem temas escoceses mas serem falados em línguas nada britânicas. Expliquemo-nos... desafiado por um amigo, disponho-me a assistir a Shakespeare em idioma sardo (falado na Sardenha). “Macbettu” é a encenação da tragédia “Macbeth”, sobre o cruel rei da Escócia, por Alessandro Serra, que o Teatro Nacional D. Maria II leva à cena a 10 e 11 de julho (com legendas!). A produção recebeu o prémio UBU em 2017.

No Centro Cultural de Belém e no âmbito do Festival de Teatro de Almada, sobe ao palco a gigante Isabelle Huppert, para reviver a vida de Maria Stuart, rainha da Escócia, em “Mary said what she said”, texto de Darryl Pinckney, com música de Ludovico Einaudi e encenação de Robert Wilson. A camarada Alexandra Carita falou com a atriz francesa, para quem os tempos da malograda monarca não eram mais loucos do que os nossos.

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