UNITA aponta dedo ao Presidente
João Lourenço afirmando que, dois anos depois de ter tomado posse, ainda se
está a "assentar", o que é um perigo para estabilidade do país.
Friends of Angola fala em "descredibilização".
Uma notícia avançada, a semana
passada, pelo portal Maka Angola, deu conta do cancelamento da construção do
controverso projeto do Bairro dos Ministérios. De acordo com este portal
angolano, Rafael Marques, autor do artigo, terá recebido uma nota de agradecimento
assinada pelo diretor de gabinete da Presidência, dando conta que o Chefe de
Estado João Lourenço ficou sensibilizado com as revelações contidas no artigo
que havia escrito anteriormente sobre o tema, e que por isso, "não
haverá mais Bairro dos Ministérios", lê-se.
A União Nacional para a
Independência Total de Angola (UNITA), o maior partido da oposição em Angola,
foi uma das vozes
mais críticas ao projeto.
Por isso, e em entrevista à DW
África, Raul Danda, vice-presidente do partido, afirma que "foi bom [da
parte do governo] desistir de fazer uma despesa que, neste momento, não se
justifica". "Não nos parece de facto oportuno fazer um Bairro dos
Ministérios quando há outras prioridades [no país], quando há pessoas a
morrerem de fome, quando há falta de água e de luz, quando não temos condições
de saúde condignas", justifica.
No entanto, para Raul Danda, este
recuo prova que "o Presidente João Lourenço está a ter grandes
dificuldades de governar": "Não está a ter sabedoria, não está a
aconselhar-se bem, continua com pessoas que o estão a enganar e está a aceitar
ser enganado. O que está a acontecer nós não sabemos, mas a verdade é que as
coisas não andam bem",diz.
"O que anda o Presidente
João Loureço a fazer?"
O vice-presidente da UNITA lembra
ainda que João Lourenço chegou ao governo há dois anos e que,
"praticamente a meio do seu mandato, ainda está a "assentar".
Aos olhos da UNITA, estes avanços e recuos são "perigosos" para o
país, pois podem ameaçar a sua "estabilidade sócio-económica".
Também Rafael Morais, diretor da
associação Friends of Angola, nota que estes recuos não são novidade e que
já aconteceram antes. Raul Danda "assina por baixo". Afirma que os
recuos acontecem desde que o Presidente tomou posse e dá um exemplo:
"quando fretou um avião a gastar cerca de sete mil dólares por hora quando
o país já tinha comprados dois aviões presidenciais" e "depois veio
dizer que não sabia quanto é que aquilo estava a custar".
"Coisas que não
encaixavam" no projeto
Segundo o Maka Angola, a compra
do terreno onde se iria erguer este mega projeto é duvidosa, uma vez que a
empresa detentora do terreno, a Sodimo, "é uma sociedade anónima detida
pelas empresas Suninveste S.A., Banco Angolano de Investimentos (BAI),
Dar-Angola Lda., Sansul S.A. e Sommis S.A" e com comprovadas ligações ao
MPLA.
Também Raul Danda nota que era
tudo "muito confuso". "Não fazia sentido que o governo gastasse
centenas de milhares de dólares para comprar um terreno que pertencia a si
próprio, é uma aberração. Havia uma série de coisas que não encaixavam. Para
além do facto de que o governo não estava a revelar quanto é que isso ia custar
a Angola", notou.
O Bairro dos Ministérios foi
desde o início um projeto muito criticado no país, tanto pela oposição como por
várias organizações da sociedade civil e ativistas,
por não ser considerado uma prioridade para Angola. Por isso, o seu
cancelamento, escreveu Rafael Marques no artigo do Maka Angola, demonstra
"a seriedade do compromisso de João Lourenço com a justiça no país".
Também Rafael Morais tira o chapéu à decisão do Presidente de cancelar o
projeto, no entanto, acrescenta que "combater a corrupção vai ser
muito difícil". O ativista "elogia a coragem de João Lourenço",
mas nota que "será difícil combater [a corrupção] porque a maior
parte das pessoas envolvidas na corrupção estão dentro do partido e continuam
no governo".
O responsável da Friends of
Angola diz ainda que, depois do sucedido, o ministro da Construção e Obras
Públicas, fortemente criticado pelas justificações que deu a favor da
construção do projeto, "deve colocar o seu lugar à disposição". E
neste âmbito acrescenta: "há uma coisa muito importante que estamos a ver
no Presidente João Lourenço. É não permitir brincadeira em tempo de trabalho. De
acordo com alguns artigos que saíram, o ministro das Obras Públicas é amigo de João
Lourenço antes dele ser Presidente e vimos que ele [não está a olhar a
isso]. Demonstra coragem".
Raquel Loureiro | Deutsche Welle
1 comentário:
O Presidente João Lourenço por diversas vezes estimulou críticas construtivas aos actos de sua própria governação, o que é um sinal de coerência e humildade, mas também de sabedoria, de responsabilidade e de sentido de estado vocacionado para a democracia que os angolanos pretendem erigir!
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