Pela primeira vez em Portugal
foram estudadas as chamadas partículas ultrafinas
Um estudo inédito em Portugal
avaliou as concentrações de partículas ultrafinas nas imediações do Aeroporto
de Lisboa e nas zonas da cidade sobrevoadas pelos aviões, detetando níveis
considerados, pelos investigadores, como preocupantes.
O trabalho agora publicado na
revista científica da especialidade Atmospheric Pollution Research revela que
as concentrações de partículas ultrafinas são 18 a 26 vezes mais elevadas em
áreas influenciadas pelos movimentos aéreos em Lisboa.
"Há uma relação clara entre
os movimentos aéreos e os níveis de partículas ultrafinas, numa influência que
se estende de forma significativa a zonas como as Amoreiras", detalha à
TSF a principal autora do estudo desenvolvido no Departamento de Ciências e
Engenharia do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade
Nova de Lisboa e no Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade.
Margarida Lopes acrescenta que as
chamadas "partículas ultrafinas", que têm um tamanho 700 vezes
inferior ao da espessura de um fio de cabelo, são um fenómeno poluente que só
foi detetado neste século, pelo que está pouco estudado.
A nanociência é muito recente,
mas, no entanto, já se sabem que estas partículas afetam a saúde, apesar de
ainda não serem alvo, na lei, de valores-limite para a qualidade do ar.
"Até há poucos anos nem se
suspeitava que existissem partículas tão minúsculas e com impacto tão grande
sobre a saúde (...). A sua medição e reconhecimento dos efeitos prejudicais
para a saúde pública é recente, sendo uma preocupação crescente pela sua mais
direta absorção pelo organismo através do sistema respiratório [por serem tão
pequenas são mais facilmente absorvidas]", explica a investigadora da
Universidade Nova.
O estudo confirma "os níveis
de concentração de partículas ultrafinas nas imediações de um aeroporto
localizado praticamente dentro de uma cidade e com elevada população
exposta".
Margarida Lopes explica que
outros estudos internacionais já tinham mostrado demasiadas partículas
ultrafinas perto de aeroportos, sendo que agora, em Lisboa, também se nota essa
tendência num raio de um quilómetro à volta do aeroporto ou em zonas mais
sobrevoadas como as Amoreiras, havendo uma clara relação causa-efeito com a
passagem dos aviões.
"Esta é uma área de
investigação recente, mas já se sabe que estas partículas têm efeitos bastante
nocivos para saúde, pior que as partículas de maior dimensão que já estão
legisladas, provocando mais doenças respiratórias, mas também sendo associadas
a doenças neurológicas como o Alzheimer e Parkinson", conclui a Margarida
Lopes, que diz que não gostaria de morar em várias das zonas onde fez medições,
perto do aeroporto de Lisboa.
Nuno Guedes | TSF
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