SONDAGEM DIÁRIA
Rafael Barbosa | Jornal de Notícias | Ontem (30.9) às 20:00 horas
Demorou, mas chegou: os
estilhaços de Tancos atingem o PS (35,3%) e, simultaneamente, dão impulso ao
PSD (28,9%). Mas há mais novidades, ao décimo dia de sondagem da Pitagórica
para o JN, TSF e TVI: o BE desce (9,1%) e a CDU cresce (7,8%).
É um dia de recordes, quando
vamos na décima entrega desta sondagem diária. Nunca um partido teve uma queda
tão abrupta (os socialistas perdem 2,4 pontos percentuais de um dia para o
outro); nunca o PS esteve tão em baixo (o pior resultado tinham sido os 36% de
24 de setembro); nunca o PSD esteve tão em cima (ganha 1,2 pontos de um dia
para o outro e soma 2,5 pontos em dois dias).
O efeito conjugado da implosão
socialista e do novo fôlego social-democrata traduz-se no acentuar de uma
tendência que soma cinco dias: a distância entre os dois primeiros reduz-se e
também bate um novo recorde: são agora 6,4 pontos percentuais. É verdade que o
PS ainda tem uma larga vantagem, mas convém recordar que, no arranque desta "tracking poll", eram 14 pontos. Ainda não é o
"taco a taco" que anunciou Rui Rio, mas está quase.
A prova dos nove de que António
Costa está em queda e Rui Rio em alta faz-se através de outras perguntas. Por
exemplo, na avaliação à prestação dos diferentes líderes partidários (saldo
entre quem melhorou e piorou a sua opinião durante a campanha), o secretário-geral
socialista afunda-se num saldo que foi sempre negativo (de 5 para 11 pontos),
enquanto o presidente social-democrata cresce num saldo que foi sempre positivo
(de 14 para 17 pontos).
Para perceber até que ponto é que
o caso Tancos está a interferir nos resultados da sondagem é preciso voltar a
cruzar o calendário político com o da recolha dos inquéritos. Desde logo, ter
em conta que, de acordo com a metodologia da "tracking poll", embora
a amostra se mantenha estável nos 600 indivíduos, todos os dias se juntam 150
novas entrevistas, retirando-se as 150 mais antigas. A renovação total da
amostra leva quatro dias. Por aqui se percebe que um acontecimento importante,
como a acusação de Tancos, teria sempre um efeito diferido no tempo.
Com a divulgação dos resultados
de domingo, parecia não haver qualquer efeito Tancos: o PSD subiu, mas também o
PS. É preciso ter em conta que, nessa altura, cerca de metade da amostra (os
150 que foram inquiridos na quarta-feira e os 150 que foram entrevistados na
quinta-feira) teve uma exposição limitada ao tema e já não testemunhou o clamor
que se seguiu. Foi apenas ao princípio da noite de quinta-feira que Rio dirigiu
o seu primeiro e violento ataque contra Costa (um primeiro-ministro que, ou foi
"conivente" ou "não tem autoridade" para chefiar o Governo,
disse o líder do PSD).
Com a divulgação dos resultados
desta segunda-feira, os 150 inquiridos de quarta-feira (dia em que o tema
esteve centrado em Marcelo Rebelo de Sousa) já não fazem parte da amostra,
sendo substituídos por 150 que seguiram todo o folhetim subsequente. Pela mesma
lógica, é possível que, com a divulgação dos resultados de terça-feira, a
tendência se aprofunde. Ou não, uma vez que entretanto António Costa aceitou
falar sobre a sua participação no caso, em entrevista à RTP, para repetir, de
forma enfática, que não estava a par da encenação para a recuperação das armas,
o episódio que fez cair o ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, que agora é
acusado de abuso de poder, entre outros crimes.
Seja por causa do abalo
socialista com Tancos, seja porque Rui Rio saiu reforçado dos confrontos
televisivos, seja porque está a conseguir impor o seu estilo e as suas ideias
em campanha, certo é que PS e PSD nunca estiveram tão perto. E é útil olhar para
os diferentes segmentos (por idade, rendimento e região), para perceber onde é
que os alicerces sociais-democratas se fortalecem, ou os socialistas tremem.
Lembrando, como sempre, que a análise aos segmentos deve ser lida com reservas,
uma vez que são amostras com um número reduzido de inquiridos.
Quando o que está em causa é a
idade, o grupo a ter em conta é dos eleitores com 55 ou mais anos. Porque são
os mais numerosos e porque, segundo os estudos de opinião mais recentes, são os
mais participativos (taxas de abstenção mais baixas). E mais uma vez é este
grupo de eleitores que faz a diferença na relação de forças entre PS e PSD: os
socialistas ainda lideram mas a diferença passou de 21 para 8 pontos
percentuais de um dia para o outro. Nas restantes faixas etárias, mantém-se a
relação de forças, com a exceção dos mais novos (18/34 anos), em que o PS ganha
algum ascendente.
Relativamente aos escalões de
rendimento, não há comportamentos excecionais. Mas, ao nível da geografia, o
PSD volta a liderar no Porto e está taco a taco na região Norte, reforçando a
tendência dos últimos dias. Em Lisboa, a vantagem socialista continua a ser
grande, embora desça de 18 para 16 pontos. O PSD continua estacionado nos 18%.
Recorde-se que, ao contrário das projeções a nível nacional, a análise por
segmentos se faz com intenção direta de voto, sem distribuição de indecisos.
O prémio de combatividade não vai
apenas para os sociais-democratas. A CDU até dá um salto maior (ganha ponto e
meio de um dia para o outro); chega a um novo máximo na sondagem diária (7,8%);
aproxima-se do resultado que conseguiu em 2015 (8,2%); e entra na batalha pelo
terceiro lugar, com o BE. Para um dia só, não está mal.
Os bloquistas fazem o percurso
inverso, quebrando uma tendência de regularidade que os manteve sempre acima
dos dez pontos. Em dois dias perderam 1,3 pontos e estão agora nos 9,1%. Ou
seja, regressem praticamente ao ponto de partida desta "tracking
poll", mas com uma vantagem de apenas 1,3 pontos sobre os comunistas.
Quando se faz a análise micro aos
segmentos da amostra (sempre com o alerta para a sua reduzida dimensão),
percebe-se melhor o que mudou. Nas faixas etárias, a CDU leva cinco pontos de
vantagem sobre o BE entre os eleitores mais velhos (55 e mais anos), que
constituem o maior contingente. Os bloquistas lideram nos restantes, com a
maior diferença (nove pontos) a registar-se entre os mais novos (18/34 anos).
A análise aos escalões de
rendimento mostra que há uma fronteira clara entre a metade com maiores
rendimentos (os dois escalões mais altos), em que o BE lidera com clareza; e a
metade que vive com mais dificuldades (os dois escalões mais baixos), que
favorece a CDU.
Finalmente, ao nível regional,
também há mudanças. A CDU já liderava no Sul do país e reforça a sua posição,
mas talvez seja mais importante perceber que os comunistas ultrapassam os
bloquistas na região metropolitana de Lisboa (que inclui os círculos de Lisboa
e Setúbal), embora apenas por algumas décimas e empatando com o CDS. O BE vai à
frente no Centro, no Norte e no Porto, onde obtém o seu melhor resultado, seis
pontos percentuais à frente dos comunistas.
Entre os dois restantes partidos
com assento parlamentar, as alterações são mínimas. O CDS estabiliza numa
projeção nacional de 4,5% (intenção direta de voto com distribuição de
indecisos), mas sofre algumas oscilações nos diferentes segmentos. Reforça o
seu peso entre os eleitores mais velhos (compensando perdas entre os mais
novos), cresce nos dois extremos dos escalões de rendimento (e perde na classe
média), e sobretudo melhora em Lisboa (empata com a CDU no terceiro lugar).
No que diz respeito ao PAN, a
estabilidade é a regra desde o arranque da sondagem diária (nunca desce abaixo
dos três pontos, nunca chega aos quatro). Marca agora 3,2% na projeção
nacional. O seu apoio é maior quanto mais novo for o eleitor (o que não é necessariamente
uma boa notícia, uma vez que a abstenção é maior entre os mais jovens), recolhe
um voto transversal a todos os escalões de rendimento e é em Lisboa e Porto que
reside a sua expectativa de formar um grupo parlamentar.
Fechamos esta análise com os
resultados dos partidos que aspiram a chegar, pela primeira vez, à Assembleia
da República. O maior destaque vai para o Livre de Rui Tavares: volta a subir,
marcando agora 1,5% a nível nacional. Mas é mais importante confirmar que teve
uma trajetória ascendente ao longo destes dez dias. A sua melhor hipótese
continua a ser Lisboa, onde marca 2% (sem distribuição de indecisos).
Logo a seguir espreita o
Iniciativa Liberal de Carlos Guimarães Pinto (1,3%). O novo partido de Centro-Direita
tem sofrido maiores oscilações que outros (chegou a ter 2% na projeção
nacional). Na análise por segmentos, no entanto, o padrão mantém-se: são
homens, sobretudo entre 35 e 44 anos, com rendimentos mais elevados. O círculo
da capital (o maior do país) continua a ser o mais prometedor, mas também tem
apoio visível no Porto.
O Chega de André Ventura
estacionou nos 1,1% há quatro dias, enquanto o Aliança de Santana Lopes volta a
perder algumas migalhas e fica nos 0,6%.
11%
O PSD é o partido que mais
surpreende os eleitores pela positiva. Acresce que a trajetória é ascendente
desde o arranque da "tracking poll" da Pitagórica para o JN. O PS
recolhe 5% das respostas nesta pergunta (uma percentagem que se manteve estável
nestes dez dias). Mas é preciso ter em conta que quase dois terços dos
inquiridos, ou responde "nenhum partido" ou recusa fazer uma escolha.
8,7%
O PS é o partido que mais
surpreende os eleitores pela negativa e piorou três pontos nos últimos dias. O
PSD marca 6,8% nesta pergunta, mas é verdade que, com algumas oscilações, tem
vindo sempre a melhorar. São 44% os inquiridos que responde "nenhum
partido" ou que recusam fazer uma escolha.
19%
O número de indecisos continua a
baixar, quando falta menos de uma semana para as eleições. Como sempre, as
mulheres (21,2%) são mais indecisas do que os homens (16,6%). Os mais novos
(18/34 anos) resistem a fazer uma escolha (26,1% de indecisos) do que os mais
velhos (55 ou mais anos), em que a indecisão é bastante menor (14,4%).
Foto: Mário Cruz/Lusa
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