Novos protestos contra o governo
eclodem no Egito, e o regime de Sisi mostra que aprendeu com a queda de Mubarak
ao usar suas forças de forma brutal para reprimir as manifestações, opina
Rainer Hermann, do jornal "FAZ".
As razões que
motivaram protestos em massa no Cairo e em muitas outras cidades do Egito
em 2011 não diminuíram. Pelo contrário, elas aumentaram de tal forma que apenas
um detalhe surpreende sobre as novas manifestações: elas ocorrem novamente
apesar de uma repressão que não ocorrera sequer durante o mandato do presidente
Hosni Mubarak, derrubado em 2011. O sofrimento dos egípcios atingiu
seu limite.
A classe média gastou suas
reservas nos últimos anos, e as pessoas não conseguem mais ajudar
umas as outras. Os grandes projetos do regime de Abdel Fatah al-Sisi não
auxiliam os pobres, já que eles se tornaram ainda mais pobres. E nunca
antes na história do Egito houve tantos presos políticos, de modo que as
prisões estão superlotadas e novas estão sendo construídas.
Mais de 60 mil egípcios estão
presos por razões políticas, e o regime os chama de "terroristas".
Os novos protestos em massa, que começaram em 20 de setembro, se tornam cada
vez maiores. A nova onda de detenções também tem como alvo membros das Forças
Armadas egípcias críticos ao governo, os quais Sisi aparentemente quer
eliminar antes que se tornem perigosos.
Tal como nos protestos de 2011, o
empurrão veio de um canto que ninguém esperava: Mohamed Ali, um construtor
civil que não era pago pelos militares há anos, partiu para a Espanha. De lá,
com uma frequência regular, ele conta histórias da rotina diária de corrupção
dos militares egípcios. Para isso, ele mostra documentos originais à câmera –
como correspondências escritas e extratos bancários – e apela aos egípcios para
que digam o que eles próprios sabem sobre esquemas dos generais. O que
preocupa o regime é que mais e mais pessoas estão fazendo isso.
Seus apelos para a realização de
protestos e a derrubada de Sisi não seriam bem-sucedidos se não houvesse
insatisfação generalizada sobre as condições atuais na sociedade. Para
muitos egípcios, Mohamed Ali é confiável porque vem de uma família pobre e,
agora, é como um Robin Hood contra o enriquecimento de uma classe que já está
acostumada a privilégios: os militares.
Mohamed Ali construiu numerosos
projetos civis para os generais, como hotéis e palácios modernos, que não
têm absolutamente nada a ver com as responsabilidades militares de um
exército.
Ele cresceu nos arredores do
distrito de Agouza, no Cairo, em um dos bairros mais pobres da metrópole, não
frequentou a escola regular e tudo que conquistou foi por seu
próprio mérito. Hoje, Mohamed Ali diz que age pelos pobres: mesmo
como milionário, não esqueceu como eles vivem.
O país está em crise, e o
empreiteiro ataca em particular o presidente Sisi e sua mulher, que, assim como
ele próprio, vêm de famílias pobres. Muitos egípcios estão hoje indignados com
a forma com que a primeira-dama mostra sua riqueza – seja com joias ou com
regalias, como a reforma de um palácio construído para ela e que Mohamed Ali
apresentou agora aos seus compatriotas.
Sisi aprendeu com a queda de
Mubarak: hoje, as forças de segurança estão brutalmente tentando impedir que
uma massa crítica se reúna novamente nas ruas e praças do Egito, o que poderia
desencadear a queda do presidente. Por isso, ele deve estar extremamente
preocupado. Caso contrário, sua mídia também não dispararia todos os canhões
contra o novo movimento de protestos e seus apoiadores.
Um nome que poderia substituir
Sisi já circula no país: Sami Anan, que foi chefe do Estado-Maior de 2005 a 2012. Quando quis
concorrer contra Sisi nas eleições presidenciais de 2018, ele foi detido. Anan
pode contar com o apoio de muitos oficiais que foram demitidos nos últimos
meses.
A tensão aumenta não só na praça
Tahrir, mas também no Exército egípcio, mostrando que a pressão no
caldeirão egípcio está aumentando novamente.
Rainer Hermann (fc) | Deutsche
Welle
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