Robert Schwartz*
Com nepotismo e corrupção,
social-democratas da Romênia cavaram a própria cova. O presidente liberal foi
reeleito com dois terços dos votos, e nunca houve um momento tão bom para um
recomeço, opina Robert Schwartz.
Clima de enterro na central do
partido PSD – social-democrata de nome – cuja candidata, Viorica Dancila,
perdeu no segundo
turno das eleições presidenciais da Romênia. Deprimidos, as
companheiras e companheiros olham vazio para as câmeras, como se tivessem
entendido que essa derrota fulminante foi a última pazada de cal da cova
política aberta para a legenda pós-comunista. Que descansem em paz, pensarão
alguns críticos.
"Eles quiseram assim, se
apoderaram do partido e o levaram à ruína", é o que se ouvia de uma ou
outra voz social-democrata na noite deste domingo (24/11). "Eles" são
a camarilha do ex-líder do Partido Social Democrata, Liviu Dragnea, e Dancila,
sua vice.
Primeira-ministra, ela assumiu
também a liderança do PSD quando seu mentor Dragnea foi encarcerado por corrupção
e abuso de poder. Poucas semanas atrás, o governo dela teve que renunciar,
antigos correligionários lhe voltaram as costas, declarando sua confiança no
Partido Liberal Nacional (PNL).
A candidatura de Viorica Dancila
à presidência deveria dar novo impulso aos social-democratas, esperavam os
estrategistas da sigla. O cálculo não deu certo, Dancila fracassou
fragorosamente. Não só nepotismo e corrupção, mas também a desmontagem do
Estado social em curso acarretaram a implosão do PSD. Nem a propaganda nacional-populista,
nem a difamação do presidente liberal-conservador Klaus Iohannis foram capazes
de impedir a queda livre do partido.
Sobretudo a classe média e os
romenos mais jovens e cultos, no país e no exterior, se recusaram a deixar de
ver em Iohannis seu candidato por uma Romênia europeia normal, neste segundo
turno da eleição presidencial, apesar dos erros cometidos em seu primeiro
mandato, por pressão do PSD e das instituições controladas por ele.
Iohannis mostrou ter aprendido
com os erros do primeiro mandato. O ex-professor de física e ex-prefeito-mor de
Sibiu, na Transilvânia, redescobriu a tempo seus eleitores, demonstrou
pragmatismo e paciência. No fim das contas, essa foi a mistura ideal para
neutralizar politicamente seus adversários do PSD.
A grande maioria dos romenos
deseja um país normal, com políticos normais – a esmagadora voz das urnas é
mais uma prova disso: 65,9% para Iohannis contra 34,1% para Dancila. Os
cidadãos querem um Estado de direito europeu, uma Justiça independente e homens
e mulheres de bem na política.
Numa campanha – admita-se –
extremamente maçante, Iohannis prometeu o retorno à normalidade: agora ele tem
que cumprir. Sua postura por vezes hesitante perante um governo que lhe era
hostil deixou marcas. Junto com o novo governo liberal-conservador de seu PNL,
que o apoia politicamente, o presidente reeleito precisa reverter imediatamente
o desmantelamento das estruturas democráticas empreendido pelo PSD.
Isso é o que esperam não só os
romenos em casa, mas também os mais de 4 milhões que vivem no estrangeiro,
tendo deixado seu país para trás por falta de perspectivas. Se Klaus Iohannis
quiser sustar o contínuo êxodo de cérebros e trazer de volta seus compatriotas
emigrados, que em sua maioria absoluta votaram nele, então deve transformar
logo suas palavras em atos.
Só um recomeço autêntico,
envolvendo todas as forças pró-europeias do país, poderá trazer a Romênia de
volta a águas mais navegáveis. Nunca foram tão positivos os sinais de que a
empreitada pode ter sucesso.
*Robert Schwartz | Deutsche Welle
| opinião
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