Martinho Júnior, Luanda
O imperial fantasma do “Chicago
boy” Pinochet, paira como um monstruoso condor sobre toda a América Latina
e Caraíbas, do Rio Grande ao Cabo Horn!
Essa sulfúrica espada de Dâmocles
manipulada pelo império da hegemonia unipolar, pende sobre as nações, os
estados e os povos, irremediavelmente suspensa e pronta a abater, desenhando-se
em todos e quaisquer horizontes e só Cuba Revolucionária, assim como a
Venezuela Bolivariana, criaram organicamente escudos e anticorpos vitais,
graças à lucidez e às frutíferas experiências dos Comandantes Fidel de Castro e
Hugo Chavez e seus dignos povos, com capacidade e pujança para vencer e vencer
e vencer o monstro, apesar do ódio desse monstro e apesar da barbaridade das
sanções e bloqueios!...
01- O universo progressista
continua a produzir suas próprias ilusões, não podendo ainda escapar a elas,
pelo que está condenado a alimentar ainda muitas utopias irrealizáveis nos seus
horizontes: apesar da sua clarividência e identidade, cada vez coloca mais
raposas nos seus próprios galinheiros e, com a proliferação das raposas, as
galinhas acabam sempre por estar à mercê do seu trágico destino!
Explico-me:
. Na superestrutura ideológica o
fantasma fascizante de Pinochet flui em seu éter fundamentalista e radicalista,
formatado no sopro da “civilização judaica-cristã ocidental”, no
prolongamento transatlântico do sopro do “Le Cercle”, tão experimentado em
transversalidades ao sabor das “redes stay behind” da NATO, como
das “revoluções coloridas” e “primaveras árabes” de última
geração;
. Nos instrumentos de poder de
estado, os oficiais das Forças Armadas são “formados” geração após
geração, na Escola das Américas, assim como os oficiais das Polícias, “aprendem” em
escolas do FBI, de forma a garantir a matriz do jogo do império por toda a
América Latina e Caraíbas;
. No aparelho da Justiça, são as
Universidades dos Estados Unidos a chancela para curriculuns doutrinários “bem-sucedidos”,
indispensáveis para se dar caça àqueles que alguma vez ousarem desafiar o
imperial fantasma;
. Na economia, as oligarquias
formadas sobretudo ao sabor da tão primária indústria extractivista, animam seu
próprio destino embaladas pelas correntes neoliberais que escancaram as portas
de todos os mais vulneráveis países às transnacionais entre si concorrentes e
também por isso ávidas de matérias-primas baratas e de mão-de-obra escrava,
dócil e submissa;
. Nas relações internacionais as
disputas entre hegemonia unipolar e multilateralismo, faz-se indexada a um
capitalismo que pouco espaço dá às nações e aos povos que aspiram legitimamente
à civilização e não à barbárie, a um mundo efectivamente melhor e respeitador
quer da humanidade, quer do próprio planeta!...
02- Não basta aos progressistas
esmerarem seus programas eleitorais e de governo respeitadores das camadas
sociais que têm composto os 99% dos condenados globais, respeitadores da
humanidade e respeitadores da própria Mãe Terra!
Não basta identificarem-se com
cada vez mais organizações sociais que se identifiquem com as camadas mais
marginalizadas, oprimidas ou exploradas da Terra!
Não basta abrir a janela da
democracia participativa e “protagónica” que timidamente vai
ripostando a uma tão tóxica quão adversa representatividade!
Está-se longe de vencer os
fundamentalismos seculares injectados pelas camadas mais retrógradas e
ultraconservadoras das ideologias “judaico-cristãs ocidentais”, enquanto
fenómenos decorrentes da própria colonização da América!
Está-se longe de encontrar
soluções alternativas para a formação de oficiais e juristas fora dos
mecanismos aglutinadores das escolas “veiculares” dos Estados Unidos!
Quaisquer transnacionais podem
prover a mobilização, o recrutamento e a formatação egoísta de seus quadros
para, num universo propício e difuso, os aplicarem em função de seus próprios
interesses, conveniências e subtis ingerências e manipulações!
Os “timings” previstos
para os exercícios governamentais em tempo de “democracia representativa” estão
a demonstrar ser incompatíveis com reeleições de progressistas, por muito bom
trabalho que possam ter feito em suporte de todo o seu povo e até dessas
oligarquias!
O recrutamento de cérebros,
usando a captação capitalista e consumista, permanece uma constante nas estratificadas
sociedades da América, tal como a atracção “soft power” e
hollyhoodesca ao “sonho americano”, apesar da época protecionista
inaugurada pela brutal administração republicana de Donald Trump!
03- O campo progressista na
América, face ao império da hegemonia unipolar tem, em especial na América
Latina, tudo a rever em relação ao carácter dos seus estados, ao carácter das
suas ideologias (ainda que alimentadas em contraditórios aparentemente
latentes), dos instrumentos de poder que têm sido instalados geração após
geração, do raio de acção da representatividade em prejuízo da participação e
do protagonismo, da modelagem de suas oligarquias e de sua inserção nos
respectivos espaços nacionais, das alianças, abertas ou clandestinas que têm
vindo a gerar cada vez mais complexos “sistemas em rede”, ao abrigo do
poder dominante da aristocracia financeira mundial e seus tentaculares
instrumentos de domínio!...
Ao fazer essa abordagem devem
melhor saber equacionar o seu enquadramento no processo embrionário de sua
vocação progressista, face a um desafio histórico, antropológico e até
físico-geográfico (quando existirem regionalismos enquistados nos espaços nacionais)
tudo ambientes hostis e inseridos num universo ainda mais hostil!…
A nível internacional não serão
os emergentes multilateralistas que farão objecção a novos actores, ainda que
fundamentalistas ou radicais, por razão de seus próprios negócios, interesses e
conveniências!
Essas potências emergentes e
multilaterais, têm capacidades para se adaptar num quadro de crises em
geometria variável e tocar em frente!
Os Comandantes Fidel de Castro e
Hugo Chavez foram homens que tiveram a humildade da clarividência e da
inteligência em relação às dialéticas e dinâmicas das sociedades e de sua
correlação não só com as instituições derivadas do estado colonial, como também
em correlação com o ambiente físico-geográfico dos seus países e espaço
regionais, fundamentando sua solidariedade nessa clarividência e inteligência
que souberam conduzir até à plataforma duma nova cultura civilizacional
simultaneamente internacionalista e militante!
Eles foram para além do activismo
elementar e básico, para além da identidade para com os pobres e os
desprotegidos que são a maioria em qualquer eleitorado da América, para além da
capacidade de luta contra as tentações de qualquer tipo de corrupção, para além
dos paradigmas impostos por outros, pois ao os receber como herança, os
progressistas acabam quase sempre por ficar sujeitos à sua lógica e à força de
sua inércia!
Os Comandantes foram homens que
geraram o embrião duma tão enérgica quão saudável cultura rebelde, animada de
lógica com sentido de vida e de segurança vital, num ambiente oxigenado com
pernas de educação, de saúde, de participação, de protagonismo, de
inteligência, de solidariedade, de internacionalismo e duma paz nunca antes
experimentada!
O campo de acção ideológica da
Igreja Católica Apostólica Romana, com sede no Vaticano, uma igreja cúmplice da
colonização e da escravatura, foi colocada em causa no seu ultraconservadorismo
pelos Comandantes, sem dar espaço a ambiguidades, muito menos ao cinismo e à
hipocrisia tipicamente feudal e “ocidental” de que essa igeja e as
suas concorrentes se nutrem!
A Teologia da Libertação que o
Vaticano excomungou, é hoje um incontornável desafio aos fantasmas de Pinochet
na superestrutura ideológica da própria igreja, mas de “pinochetazzo” em “pinochetazzo”,
o domínio bárbaro do império da hegemonia unipolar possui um imenso campo de
disponibilidade subversiva que ainda lhe é favorável, de tal modo que para os
progressistas o maior desafio é não só vencer as suas próprias debilidades,
vulnerabilidades e ilusões, mas encontrar o caminho viável para uma equação
cívico-militar capaz de assumir ruptura, mas sobretudo rumo civilizacional, no
meio de tanta turbulência global de natureza bárbara, retrógrada e rarefeita à
vida, que envolve as nações, os estados e os povos da Terra!
A luta tem que ser feita no
sentido de não dar mais espaço de animação e projecção ao fantasma-condor de
Pinochet, erradicá-lo do mapa das tentações de ingerência e manipulação do
império da hegemonia unipolar e de seu inesgotável cortejo de vassalagens e
vassalos!
Martinho Júnior -- Luanda, 20 de Novembro de 2019
Imagem: Comandantes Fidel e Chavez,
desses sábios, desses fortes e de suas notáveis experiências de colectiva vida
social, narrará a história!
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