sexta-feira, 22 de novembro de 2019

“PINOCHETAZZO” SOBRE A AMÉRICA LATINA! - Martinho Júnior


 Martinho Júnior, Luanda 

O imperial fantasma do “Chicago boy” Pinochet, paira como um monstruoso condor sobre toda a América Latina e Caraíbas, do Rio Grande ao Cabo Horn!

Essa sulfúrica espada de Dâmocles manipulada pelo império da hegemonia unipolar, pende sobre as nações, os estados e os povos, irremediavelmente suspensa e pronta a abater, desenhando-se em todos e quaisquer horizontes e só Cuba Revolucionária, assim como a Venezuela Bolivariana, criaram organicamente escudos e anticorpos vitais, graças à lucidez e às frutíferas experiências dos Comandantes Fidel de Castro e Hugo Chavez e seus dignos povos, com capacidade e pujança para vencer e vencer e vencer o monstro, apesar do ódio desse monstro e apesar da barbaridade das sanções e bloqueios!...

01- O universo progressista continua a produzir suas próprias ilusões, não podendo ainda escapar a elas, pelo que está condenado a alimentar ainda muitas utopias irrealizáveis nos seus horizontes: apesar da sua clarividência e identidade, cada vez coloca mais raposas nos seus próprios galinheiros e, com a proliferação das raposas, as galinhas acabam sempre por estar à mercê do seu trágico destino!

Explico-me:

. Na superestrutura ideológica o fantasma fascizante de Pinochet flui em seu éter fundamentalista e radicalista, formatado no sopro da “civilização judaica-cristã ocidental”, no prolongamento transatlântico do sopro do “Le Cercle”, tão experimentado em transversalidades ao sabor das “redes stay behind” da NATO, como das “revoluções coloridas” e “primaveras árabes” de última geração;

. Nos instrumentos de poder de estado, os oficiais das Forças Armadas são “formados” geração após geração, na Escola das Américas, assim como os oficiais das Polícias, “aprendem” em escolas do FBI, de forma a garantir a matriz do jogo do império por toda a América Latina e Caraíbas;

. No aparelho da Justiça, são as Universidades dos Estados Unidos a chancela para curriculuns doutrinários “bem-sucedidos”, indispensáveis para se dar caça àqueles que alguma vez ousarem desafiar o imperial fantasma;

. Na economia, as oligarquias formadas sobretudo ao sabor da tão primária indústria extractivista, animam seu próprio destino embaladas pelas correntes neoliberais que escancaram as portas de todos os mais vulneráveis países às transnacionais entre si concorrentes e também por isso ávidas de matérias-primas baratas e de mão-de-obra escrava, dócil e submissa;

. Nas relações internacionais as disputas entre hegemonia unipolar e multilateralismo, faz-se indexada a um capitalismo que pouco espaço dá às nações e aos povos que aspiram legitimamente à civilização e não à barbárie, a um mundo efectivamente melhor e respeitador quer da humanidade, quer do próprio planeta!...


02- Não basta aos progressistas esmerarem seus programas eleitorais e de governo respeitadores das camadas sociais que têm composto os 99% dos condenados globais, respeitadores da humanidade e respeitadores da própria Mãe Terra!

Não basta identificarem-se com cada vez mais organizações sociais que se identifiquem com as camadas mais marginalizadas, oprimidas ou exploradas da Terra!

Não basta abrir a janela da democracia participativa e “protagónica” que timidamente vai ripostando a uma tão tóxica quão adversa representatividade!

Está-se longe de vencer os fundamentalismos seculares injectados pelas camadas mais retrógradas e ultraconservadoras das ideologias “judaico-cristãs ocidentais”, enquanto fenómenos decorrentes da própria colonização da América!

Está-se longe de encontrar soluções alternativas para a formação de oficiais e juristas fora dos mecanismos aglutinadores das escolas “veiculares” dos Estados Unidos!

Quaisquer transnacionais podem prover a mobilização, o recrutamento e a formatação egoísta de seus quadros para, num universo propício e difuso, os aplicarem em função de seus próprios interesses, conveniências e subtis ingerências e manipulações!

Os “timings” previstos para os exercícios governamentais em tempo de “democracia representativa” estão a demonstrar ser incompatíveis com reeleições de progressistas, por muito bom trabalho que possam ter feito em suporte de todo o seu povo e até dessas oligarquias!

O recrutamento de cérebros, usando a captação capitalista e consumista, permanece uma constante nas estratificadas sociedades da América, tal como a atracção “soft power” e hollyhoodesca ao “sonho americano”, apesar da época protecionista inaugurada pela brutal administração republicana de Donald Trump!

03- O campo progressista na América, face ao império da hegemonia unipolar tem, em especial na América Latina, tudo a rever em relação ao carácter dos seus estados, ao carácter das suas ideologias (ainda que alimentadas em contraditórios aparentemente latentes), dos instrumentos de poder que têm sido instalados geração após geração, do raio de acção da representatividade em prejuízo da participação e do protagonismo, da modelagem de suas oligarquias e de sua inserção nos respectivos espaços nacionais, das alianças, abertas ou clandestinas que têm vindo a gerar cada vez mais complexos “sistemas em rede”, ao abrigo do poder dominante da aristocracia financeira mundial e seus tentaculares instrumentos de domínio!...

Ao fazer essa abordagem devem melhor saber equacionar o seu enquadramento no processo embrionário de sua vocação progressista, face a um desafio histórico, antropológico e até físico-geográfico (quando existirem regionalismos enquistados nos espaços nacionais) tudo ambientes hostis e inseridos num universo ainda mais hostil!…

A nível internacional não serão os emergentes multilateralistas que farão objecção a novos actores, ainda que fundamentalistas ou radicais, por razão de seus próprios negócios, interesses e conveniências!

Essas potências emergentes e multilaterais, têm capacidades para se adaptar num quadro de crises em geometria variável e tocar em frente!

Os Comandantes Fidel de Castro e Hugo Chavez foram homens que tiveram a humildade da clarividência e da inteligência em relação às dialéticas e dinâmicas das sociedades e de sua correlação não só com as instituições derivadas do estado colonial, como também em correlação com o ambiente físico-geográfico dos seus países e espaço regionais, fundamentando sua solidariedade nessa clarividência e inteligência que souberam conduzir até à plataforma duma nova cultura civilizacional simultaneamente internacionalista e militante!

Eles foram para além do activismo elementar e básico, para além da identidade para com os pobres e os desprotegidos que são a maioria em qualquer eleitorado da América, para além da capacidade de luta contra as tentações de qualquer tipo de corrupção, para além dos paradigmas impostos por outros, pois ao os receber como herança, os progressistas acabam quase sempre por ficar sujeitos à sua lógica e à força de sua inércia!

Os Comandantes foram homens que geraram o embrião duma tão enérgica quão saudável cultura rebelde, animada de lógica com sentido de vida e de segurança vital, num ambiente oxigenado com pernas de educação, de saúde, de participação, de protagonismo, de inteligência, de solidariedade, de internacionalismo e duma paz nunca antes experimentada!

O campo de acção ideológica da Igreja Católica Apostólica Romana, com sede no Vaticano, uma igreja cúmplice da colonização e da escravatura, foi colocada em causa no seu ultraconservadorismo pelos Comandantes, sem dar espaço a ambiguidades, muito menos ao cinismo e à hipocrisia tipicamente feudal e “ocidental” de que essa igeja e as suas concorrentes se nutrem!

A Teologia da Libertação que o Vaticano excomungou, é hoje um incontornável desafio aos fantasmas de Pinochet na superestrutura ideológica da própria igreja, mas de “pinochetazzo” em “pinochetazzo”, o domínio bárbaro do império da hegemonia unipolar possui um imenso campo de disponibilidade subversiva que ainda lhe é favorável, de tal modo que para os progressistas o maior desafio é não só vencer as suas próprias debilidades, vulnerabilidades e ilusões, mas encontrar o caminho viável para uma equação cívico-militar capaz de assumir ruptura, mas sobretudo rumo civilizacional, no meio de tanta turbulência global de natureza bárbara, retrógrada e rarefeita à vida, que envolve as nações, os estados e os povos da Terra!

A luta tem que ser feita no sentido de não dar mais espaço de animação e projecção ao fantasma-condor de Pinochet, erradicá-lo do mapa das tentações de ingerência e manipulação do império da hegemonia unipolar e de seu inesgotável cortejo de vassalagens e vassalos!

Martinho Júnior -- Luanda, 20 de Novembro de 2019

Imagem: Comandantes Fidel e Chavez, desses sábios, desses fortes e de suas notáveis experiências de colectiva vida social, narrará a história!

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